Israel foi abençoado com os profetas de Deus, homens santos movidos pelo Espírito Santo. Mas havia igualmente profetas falsos entre os povos, e tiveram que ser examinados para ver se eram genuínos. Hoje não precisamos ter cuidado com profetas falsos: quem tentar profetizar será logo considerado um mentiroso e ridicularizado. Naturalmente, fere a causa de Cristo quem faz isso.
Mas precisamos de conferir os falsos mestres, assim como se fazia com os profetas entre os israelitas, pois sempre haverá professores falsos na igreja: são mencionados como no futuro aqui (versículo 1), e adiante como no presente (versículo 17), e no passado (versículo 15).
Historicamente, podemos ver que heresias sérias, destrutivas da fé cristã e da conduta santa, foram introduzidas ao longo dos séculos. Como na parábola, onde o fermento foi colocado pela mulher na massa de trigo: a massa é a palavra de Deus, mas cada vez mais ensino falso lhe é acrescentado que acaba se transformando em um produto inteiramente diferente, o pão. Estão ainda conosco, como:
A negação da divindade eterna e perfeita do Senhor Jesus, ou da sua humanidade perfeita, ou da sua santidade perfeita.
A negação do seu nascimento de uma mulher virgem; do Seu conhecimento perfeito (onisciência); da Sua ressurreição.
O dogma da supremacia e da infalibilidade do “papa”; o culto de Maria, dos anjos, dos apóstolos e dos “santos”; o purgatório e as doutrinas da missa.
A Salvação ou a santidade obtida com o cumprimento da lei mosaica, ou simplesmente mediante a “regra de ouro”, que é um evangelho novo na moda hoje em alguns lugares; a “liberdade” do cristão de viver no pecado.
A negação da inspiração completa e da infalibilidade das Escrituras Sagradas; a negação da morte e punição eterna.
O rei Acabe manteve Micaías na prisão porque este profeta verdadeiro de Deus nunca disse qualquer coisa boa dele: Acabe preferia ouvir os profetas falsos (1 Reis 22). Hoje muita gente não gosta de um pregador a não ser que ele se limite a dizer apenas coisas que lhes sejam agradáveis todo o tempo.
Os professores falsos são o maior perigo para a igreja hoje. O Senhor disse, “Guardai-vos dos falsos profetas, que vêm a vós disfarçados em ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores.” (Mateus 7.15). Estes lobos disfarçados de ovelhas destruirão por completo o rebanho, dispersando as ovelhas. Aparecerão como membros da igreja, reivindicando ser cristãos, e trabalharão secretamente escondidos pela hipocrisia. Sabem a verdade, mas deliberadamente mentem por algum motivo egoísta, ou para agradar o povo, ou por dinheiro. Pregam e dizem o que o povo quer que falem, embora sabendo que não é verdadeiro.
Os professores falsos desprezam a santidade porque eles próprios são mundanos e nunca se converteram; proclamam o mundanismo, a auto-satisfação e se dão a práticas religiosas formais. Têm muitos seguidores, cujo mau comportamento traz vergonha sobre o nome de Cristo que tomam sobre si; organizam as “ordens religiosas” e as seitas, que controlam para benefício próprio, pois procuram riquezas e autoridade para si.
Entretanto, os eleitos de Deus não podem ser iludidos permanentemente. Como a Bíblia diz, “importa que haja entre vós facções, para que os aprovados se tornem manifestos entre vós.” (1 Coríntios 11.19), e o Senhor disse, “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu as conheço, e elas me seguem”. (João 10.27). Aqueles que seguem esses mestres falsos são iludidos por ignorância, ou de propósito porque ouvem o que querem acreditar.
Versículo 3: as “palavras fingidas” vêm de uma palavra grega “plastos”, de onde temos o nosso “plástico”: os pregadores plásticos abundam hoje, que são moldados na forma desejada pelo povo a quem servem.
Mas Deus não fica indiferente a tudo isto: Seu julgamento está pronto para aqueles que devastam Seu rebanho.
Temos aqui três exemplos do julgamento de Deus no passado:
Sobre os anjos rebeldes. Não nos é revelado como, ou quando, mas houve uma revolta promovida por anjos, e esses rebeldes foram encarcerados no Tártaro, ou abismo de trevas, onde ainda estão agora, esperando seu julgamento final.
O mundo no dia de Noé. Foi destruído completamente pelo dilúvio porque “era grande a maldade do homem na terra, e toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era má continuamente” (Gênesis 6.5). Mas Deus “preservou a Noé, pregador da justiça, com mais sete pessoas”. Este é um tipo da salvação fornecida pela fé em Cristo.
As duas cidades de Sodoma e de Gomorra, destruídas pelo fogo “como um exemplo” àqueles que mais tarde viveriam impiamente; Ló, entretanto, “um homem justo, atribulado pela vida dissoluta daqueles perversos” foi livrado com a sua esposa e duas filhas. Este é um tipo do arrebatamento da igreja antes da tribulação: no Dia do Senhor, que é o assunto da maior parte do livro do Apocalipse, a ira de Deus será desencadeada sobre este mundo que não O reconhece. Seus filhos, porém, serão livrados: o Senhor Jesus virá buscar a Sua igreja para estar com Ele, antes que aconteça.
Estes exemplos mostram como o Senhor sabe livrar os fieis e íntegros das tentações: não somos tentados acima das nossas forças, e com as provações vem a libertação. Noé e a sua família foram salvos por meio da arca; Ló, que era fraco mas não era ímpio, foi livrado por um anjo. Assim, portanto, os crentes fiéis ao Senhor e à doutrina apostólica não serão submetidos à tribulação, e os justos e fieis estão livres da punição eterna.
Sendo Deus justo, Ele mantém os que se revoltam contra Ele sob castigo para o dia de julgamento, quando a sentença final do Senhor será promulgada sobre eles. O grande julgamento final virá sobre todo o “injusto”, seja ele um ser humano ou anjo. Grandes desastres e castigos acontecem de vez em quando, como terremotos, inundações, fome, doença, mas são apenas avisos da tribulação que virá, bem como da punição que sofrerão todos os pecadores que não se arrependerem, com os ímpios, os rebeldes e os hereges (Lucas 13.1-5).
Entre estes, e os principais entre eles, estão os mestres atrevidos, arrogantes, ordinários, vis, e maldosos que perturbam a paz entre grupos cristãos. Suas caraterísticas são:
Desprezam toda autoridade. A autoridade suprema é de Deus ou de Cristo (Colossenses 1.16; Efésios 1.21). Em Efésios a autoridade é aquela dos governos espirituais. Ou seja estes mestres falsos desprezam o que é espiritual, que Deus colocou acima de nós: os anjos e a maneira em que Deus está governando o Seu universo, e Cristo dirige as Suas igrejas na terra.
São presunçosos: ultrapassam sua própria posição e ousam criticar uma autoridade superior, mesmo ao ponto de blasfemar. Faz com que se sintam grandiosos e importantes ao usarem essa linguagem.
São arrogantes: atrevidos, não se submetem à autoridade e fazem o que bem entendem.
Não receiam blasfemar das dignidades: a palavra traduzida como “dignidades” é realmente “glórias”. Falam mal daquilo que é sagrado, daquilo que é santificado, e da ordem que Deus estabeleceu no universo. Estas dignidades incluem anjos, também os maus (Judas 1.8, 9). Os anjos não ousam fazer o que fazem. Judas dá um exemplo específico disto quando Miguel o arcanjo disputava com Satanás sobre o corpo de Moisés. Miguel não traria uma acusação ofensiva ao diabo, mas limitou-se a dizer, “o Senhor te repreenda”. Este é o espírito que também devemos manifestar, um espírito de humildade, no sentido que deixamos tudo isso com Deus. Se Miguel o arcanjo, exaltado como é, não usaria palavras ofensivas contra o diabo, um pequeno ser humano aqui em baixo na terra precisa ser muito cuidadoso.
1 Mas houve também entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá falsos mestres, os quais introduzirão encobertamente heresias destruidoras, negando até o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição.
2 E muitos seguirão as suas dissoluções, e por causa deles será blasfemado o caminho da verdade;
3 também, movidos pela ganância, e com palavras fingidas, eles farão de vós negócio; a condenação dos quais já de largo tempo não tarda e a sua destruição não dormita.
4 Porque se Deus não poupou a anjos quando pecaram, mas lançou-os no inferno, e os entregou aos abismos da escuridão, reservando-os para o juízo;
5 se não poupou ao mundo antigo, embora preservasse a Noé, pregador da justiça, com mais sete pessoas, ao trazer o dilúvio sobre o mundo dos ímpios;
6 se, reduzindo a cinza as cidades de Sodoma e Gomorra, condenou-as à destruição, havendo-as posto para exemplo aos que vivessem impiamente;
7 e se livrou ao justo Ló, atribulado pela vida dissoluta daqueles perversos
8 (porque este justo, habitando entre eles, por ver e ouvir, afligia todos os dias a sua alma justa com as injustas obras deles);
9 também sabe o Senhor livrar da tentação os piedosos, e reservar para o dia do juízo os injustos, que já estão sendo castigados;
10 especialmente aqueles que, seguindo a carne, andam em imundas concupiscências, e desprezam toda autoridade. Atrevidos, arrogantes, não receiam blasfemar das dignidades,
11 enquanto que os anjos, embora maiores em força e poder, não pronunciam contra eles juízo blasfemo diante do Senhor.
Segunda carta de Pedro, capítulo 2, versículos 1 a 11