Ao contrário dos seres superiores, como os anjos, alguns mestres falsos são como criaturas viventes inferiores, tais como animais selvagens. Embora não sejam descendentes de animais (como é ensinado extensamente pelos ateus de hoje), desceram ao nível desamparado e sem esperança de animais selvagens. São como as pragas que devem ser destruídas por causa do dano que causam.
São néscios que falam alto e se fazem de peritos em matérias das quais são ignorantes. Alguns que não são crentes podem ser muito inteligentes, mas não entendem de forma nenhuma a Palavra de Deus.
Diz-se que Edmund Burke, um dos grandes políticos ingleses, mas incrédulo, foi levado por William Wilberforce, um membro do parlamento, para ouvir um dos grandes pregadores da Escócia. Mais tarde, Burke deu sua reação ao sermão: “Esse homem é um orador brilhante, mas sobre o que é que estava falando?” Esses mestres falsos também podem ser oradores brilhantes, mas falam sobre assuntos espirituais que eles mesmos não compreendem.
Em contraste com o crente verdadeiro, que escapou da corrupção no mundo (capítulo 1.4), eles não escaparam dessa corrupção e perecerão nela, recebendo a recompensa pelo mal que fizeram. Embora alguns deles tenham chegado ao ponto de escapar da maior parte da poluição do mundo, não escaparam à corrupção produzida pelo pecado neles próprios.
Por fora são religiosos, passam por rituais, fazem determinados trabalhos e dizem coisas piedosas, mas o seu coração não é nada reto diante de Deus. Ainda têm um coração corrupto, e nada fizeram sobre isso. Exaltam-se em vez de exaltar Cristo. Raramente usam a Palavra de Deus fora alguns poucos textos de referência para ornar o seu ensino. Estão interessados em fazer dinheiro, ponto final!
Quando o coração está ainda corrupto, os pensamentos são impuros, e isto aparecerá no comportamento. Essa gente debochará de dia, transformando a comunhão cristã, que naquele tempo se comemorava com uma refeição, em uma orgia de comer, beber e liberdades. São chamados “nódoas e máculas”: a igreja se livra deles lavando-se com a água da Palavra (Efésios 5:27).
No versículo 14 temos um retrato vívido do homem que não pode ver uma mulher sem pensamentos lascivos para com ela (ver Mateus 5:28). É incapaz de parar deste pecado: sua luxúria é insaciável. Alguns mestres falsos são culpados disto, e de engodar, ou tentar, almas inconstantes. São “filhos da maldição”.
Estão se desviando continuamente ou saíram definitivamente do caminho direito da verdade (versículo 2), seguindo o caminho de Balaão que amou o prêmio da injustiça (subornos em seu caso). Balaão, profeta venal típico, ansioso apenas para mercadejar o seu dom, é mencionado três vezes nos últimos livros do Novo Testamento.
Aqui é o caminho de Balaão, em Judas é o erro de Balaão (Judas 11) e no livro do Apocalipse é a doutrina de Balaão (Apocalipse 2.14). Cada um é diferente. Balaão sabia que não devia ir e profetizar contra Israel, mas gostou do preço que lhe era oferecido. Portanto, “o caminho de Balaão” é a cobiça de alguém que faz trabalho religioso para conseguir lucro pessoal. (O erro de Balaão foi que, raciocinando com base na moralidade natural e vendo o mal em Israel, supôs que um Deus justo iria maldizê-los; estava cego à moralidade mais elevada da Cruz, através da qual Deus mantém e reforça a autoridade e as sanções terríveis de Sua lei, de modo que possa ser justo e o justificador do pecador. A doutrina de Balaão foi a que ensinou a Balaque: corromper o povo que Balaão não podia maldizer, tentando-os a se casarem com as moabitas, e assim manchar a sua separação, e abandonar o seu caráter de peregrino. Essa união do mundo com a igreja é a impureza espiritual que a faz inimiga de Deus (Tiago 4.4)).
Balaão estava louco para ir, e foi repreendido por um asno, uma besta de carga comum, por causa da sua avidez. A avareza é uma das maneiras pelas quais um mestre religioso falso pode ser identificado, e Deus vai julgá-lo por isto.
Eles são como as fontes sem água: uma experiência comum e decepcionante dos viajantes no Oriente Médio. O vazio dos mestres falsos é uma zombaria contra a alma sedenta que deseja sinceramente aprender deles os caminhos de Deus. São também como névoas, ou nuvens, levadas embora por uma tempestade, que pareciam oferecer chuva mas se foram sem trazer qualquer benefício. Os mestres falsos podem ser como nuvens, nuvens bonitas, e é tremendo ver e ouvir essa gente. São muito impressionantes, mas não há nenhuma água no poço, e não há nenhuma chuva nas nuvens. O povo está sedento hoje em dia pela Palavra de Deus, no entanto esta não lhes está sendo dada.
Expressam linguagem bonita, florida, subindo às alturas da oratória; é uma religião que apela à vista, uma religião que apela aos ouvidos, e até mesmo ao nariz (diz-se que alguns pregadores são conhecidos por aspergir seu templo aos domingos de manhã com perfume). Naturalmente o lugar deve ter uma boa aparência, a música deve ser agradável, e um cheiro perfumado ajuda a fazê-lo confortável, mas não se deve confiar nestas coisas. São carnais, sensuais.
Mas estes pregadores vão ainda mais longe do que isto: ao provocar desejos lascivos (luxúria, sensualidade) atraem para si os que estão escapando do erro do mundo. Muita gente diz hoje, “oh, sou muito religioso. Pertenço a uma determinada igreja. Não acreditamos que toda a Bíblia é literalmente a palavra de Deus, mas falamos muito sobre o amor e a fraternidade, o amor a Deus e uns aos outros, fazendo o que julgamos ser bom, e fazemos vista grossa a diferenças de doutrina. Temos uma igreja bonita e um culto encantador que nos faz sentirmos felizes.” Eles escaparam da poluição do mundo. Ficam horrorizados quando lêem sobre o crime e a violência no jornal.
Conhecem a verdade mas não têm nenhum amor pela verdade. Escaparam à poluição do mundo mas não da corrupção. Não é que não tenham ouvido o evangelho, mas não acreditam em nada; alguns até mesmo duvidam que haja um Deus. Conhecem o Evangelho mas não acreditam nele. Não são crentes, embora se chamem de “cristãos”.
Quando essa gente é capturada por estes mestres falsos, que pervertem a verdade de Deus fazendo-se cegos à sua instrução e ensinando o que é contrário à Palavra de Deus, ou o que não está nela, seu último estado sob seus novos líderes novos será pior do que aquele em que estavam antes de “vir para a igreja”. Seria melhor para eles se não tivessem conhecido o caminho da retidão do que, ao conhecê-lo, virar-se contra o Evangelho. Alguns pregadores fiéis terminam a sua mensagem dizendo: ”Meu amigo, se você veio aqui hoje sem a salvação e vai embora sem ela, eu sou o pior inimigo que você já teve, porque você ouviu o Evangelho e nunca poderá ir diante de Deus dizendo que nunca ouviu o Evangelho. Você ouviu, e vai ser pior para você quando Deus pronunciar a Sua sentença, do que para qualquer pagão mergulhado nas maiores trevas espirituais da terra hoje.”
Os mestres falsos prometem “a liberdade pessoal” significando a libertinagem, como também os promotores das drogas e das bebidas alcoólicas, não a liberdade da verdade em Cristo (João 8:32 e Gálatas 5:1,13). No entanto esse líderes são, eles próprios, escravos da corrupção e do pecado (Romanos 6:20).
Aqueles que retornaram à poluição do mundo seriam como:
Um cão que volta para o seu próprio vômito (Provérbios 26:11): voltarão a gostar das práticas abomináveis que haviam deixado para trás.
A porca lavada que volta a se revolver na lama: não é um provérbio do Velho Testamento, mas entende-se que era um provérbio comum quando esta carta foi escrita. Os escritores clássicos gostavam de aplicar moralmente o hábito do suíno de se banhar em poças de lama. Alguém sugeriu, com certa propriedade, que esta é a parábola do “porco pródigo” de Simão Pedro: é como a parábola do filho pródigo às avessas. O porco sai do chiqueiro e vai para a casa do dono, que então lhe dá um bom banho de mangueira ou chuveiro e lhe trata bem, como animal de estimação. Limpo da sua sujeira externa, ele deixa os maus hábitos, fica religioso e até faz algum trabalho na igreja. Parece tão bonito por fora, que ninguém suspeita que por dentro tem um coração de porco. Mas o porco gosta da lama, e se for estimulado por um falso mestre, ficará feliz em voltar ao chiqueiro.
12 Mas estes, como criaturas irracionais, por natureza feitas para serem presas e mortas, blasfemando do que não entendem, perecerão na sua corrupção,
13 recebendo a paga da sua injustiça; pois que tais homens têm prazer em deleites à luz do dia; nódoas são eles e máculas, deleitando-se em suas dissimulações, quando se banqueteiam convosco;
14 tendo os olhos cheios de adultério e insaciáveis no pecar; engodando as almas inconstantes, tendo um coração exercitado na ganância, filhos de maldição;
15 os quais, deixando o caminho direito, desviaram-se, tendo seguido o caminho de Balaão, filho de Beor, que amou o prêmio da injustiça,
16 mas que foi repreendido pela sua própria transgressão: um mudo jumento, falando com voz humana, impediu a loucura do profeta.
17 Estes são fontes sem água, névoas levadas por uma tempestade, para os quais está reservado o negrume das trevas.
18 Porque, falando palavras arrogantes de vaidade, nas concupiscências da carne engodam com dissoluções aqueles que mal estão escapando aos que vivem no erro;
19 prometendo-lhes liberdade, quando eles mesmos são escravos da corrupção; porque de quem um homem é vencido, do mesmo é feito escravo.
20 Porquanto se, depois de terem escapado das corrupções do mundo pelo pleno conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, ficam de novo envolvidos nelas e vencidos, tornou-se-lhes o último estado pior que o primeiro.
21 Porque melhor lhes fora não terem conhecido o caminho da justiça, do que, conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado.
22 Deste modo sobreveio-lhes o que diz este provérbio verdadeiro; Volta o cão ao seu vômito, e a porca lavada volta a revolver-se no lamaçal.
Segunda epístola de Pedro, capítulo 2, versículos 12 a 22