Houve um intervalo de cerca de seis meses desde os eventos do último capítulo. “Ele caminhou” é um quadro literal do ministério itinerante do Senhor, do qual há mais detalhes nos outros Evangelhos.
Depois das ocorrências no capítulo 5 Ele tinha evitado ir para a Judéia, sabendo que os judeus buscavam matá-lo (capítulo 5:18). A festa dos tabernáculos começava no 15º dia do mês Tisri (fim de setembro) e foi aumentada de sete para oito dias nos tempos após o exílio (Neemias 8:18). Era uma das festas principais dos judeus.
Os irmãos de Jesus (meio-irmãos de fato, Tiago, José, Simão e Judas - Mateus 13:55) não acreditavam nas Suas suposições messiânicas, embora provavelmente tenham sido informados sobre as circunstâncias do Seu nascimento. Talvez não levavam a sério o que lhes foi dito? Isto parece ser confirmado pela atitude deles, mas no início eram amigáveis (João 2:12).
O seu conselho impertinente a Jesus para que fosse para a Judéia para mostrar-Se abertamente ao mundo era claramente irônico. Ele tinha muitos discípulos na Judéia no início (capítulo 2:23; 4:1), e tinha saído de lá por causa do ciúme dos fariseus do sucesso d’Ele (capítulo 4:3). Os Seus irmãos teriam ouvido sobre a deserção na sinagoga em Cafarnaum (capítulo 6:66), e que desde então o Senhor tinha ido para Genezaré, Tiro e Sidom, e para a região da Judéia além do Jordão (Mateus 14:34,21,19:1), assim Ele tinha estado longe da Galiléia durante alguns meses e da Judéia por um ano e meio (Mateus 15-18, Marcos 7 - 9 e Lucas 9). Agora Ele estava em casa.
Não sabemos a que obras eles se referiam, e parecia ser boa a sua sugestão que Jesus procurasse ser conhecido e fosse Se manifestar ao grande público para que todos tivessem oportunidade de ver as coisas que fazia. Mas Seus próprios irmãos não criam n’Ele. Todos tinham a obrigação judia de subir à festa, mas o exato dia da ida não importava muito.
O Senhor, porém sabia quando teria que se manifestar publicamente às autoridades como sendo o Messias (isso seria quando fosse condenado à morte, que era o único propósito da Sua vinda à terra: seria na hora da páscoa, seis meses mais tarde, quando Ele substituiria o cordeiro do sacrifício que era um símbolo d’Ele).
Os Seus irmãos nada tinham a temer, porque estavam do lado do mundo infiel e inimigo d’Ele, o qual Ele já havia exposto (capítulo 5:42, 45), e que se ressentiu pela revelação (capítulo 3:19). O Senhor ordenou que fossem à festa e disse que ainda não ia porque a hora não era apropriada para Ele: sabemos que ao invés de ir abertamente com os Seus discípulos como líder do grupo para ser visto por todos os que iam para a festa, Ele faria uma entrada triunfal em Jerusalém em cumprimento da profecia.
Ele permaneceu na Galiléia durante alguns dias, depois foi também. O segredo seria mantido somente na viagem para Jerusalém, não o Seu ensino público depois de chegar lá (capítulo 7:26,28; 18:20). Os líderes religiosos em Jerusalém buscavam atacá-lo, mas não as multidões vindas da Galiléia (João 7:12) ou a populaça em Jerusalém (capítulo 7:25).
O Senhor estivera em duas festas durante o Seu ministério (a Páscoa do capítulo 2:12 e possivelmente outra Páscoa no capítulo 5:1), mas evitara ir na Páscoa precedente (capítulo 6:4; 7:1). Os líderes em Jerusalém se mantiveram informados sobre o trabalho de Cristo na Galiléia e antecipavam que haveria uma crise em Jerusalém.
Havia murmuração a respeito d’Ele entre as multidões. Eram grupos diferentes vindos da Galiléia e outros lugares e a sua opinião de Jesus era dividida, como era também a dos galileus (capítulo 6:66). Algum achavam que Ele era puro em seus motivos (Marcos 10: 17; Romanos 5:7) mas outros discordavam dizendo que Ele havia desviado a multidão (depois da Sua morte os principais sacerdotes e fariseus o chamaram de “embusteiro” - Mateus 27:63). O povo realmente temia os líderes judeus e evidentemente não queria envolver Jesus ou eles próprios divulgando abertamente a sua opinião.
No meio da festa, o Senhor entrou no templo e começou a ensinar, mesmo debaixo dos olhos dos líderes religiosos. A Sua erudição os surpreendeu muito: mostrou-se hábil em usar os métodos literários daquele tempo para expor os seus ensinamentos sem ter frequentado qualquer uma das escolas teológicas rabínicas em Jerusalém (Hillel, Shammai). Ele não era um rabino profissional, mas um carpinteiro, no entanto ultrapassou os rabinos mais importantes nos seus debates (veja o mesmo espanto do sinédrio dom respeito a Pedro e João - Atos 4:13).
Provavelmente o desdenho ao Senhor veio de alguns professores nos seminários de Jerusalém, porque aos olhos dos judeus Ele não podia ser mais do que um autodidata entusiasta.
O Senhor negou que o Seu ensino originasse de Si próprio, ou fosse produto das escolas: a doutrina dele veio “daquele que me enviou” (capítulo 4:34; 5:23,24,30,37; 6:38-40,44; 7:16,18,28, etc.) significando assim que o Seu ensino era superior em caráter e origem ao dos rabinos.
Só quem deseja fazer a vontade do Senhor pode saber se a doutrina ensinada pelo Senhor Jesus é de Deus (como origem), ou d’Ele próprio - os judeus, é claro, só O consideravam como um ser humano (João 5:46; 18:37). Os ateus de todos os tipos não têm nenhum ponto de contato para entender os ensinos de Cristo. Esse fato não prova a inexistência de Deus, mas simplesmente que os ateus não estão sintonizados com o seu Criador, o Deus Infinito.
O professor que promove as suas próprias idéias busca posição e glória para si. O Senhor Jesus só buscou a glória de Quem o enviou: Ele era verdadeiro, não havendo injustiça n’Ele (veja o contraste entre os dois em 2 Tessalonicenses 2:10; 1 Coríntios 13:6).
Eles se gabavam do seu próprio conhecimento da lei de Moisés, no entanto violavam aquela lei por não praticá-la. Como ilustração do fracasso deles em obedecer a lei de Moisés perguntou: “Por que procurais matar-me?” Era uma pergunta súbita e surpreendente.
Ele já sabia que os judeus na realidade rejeitavam o ensino de Moisés enquanto professavam crer nela (João 5:39, 45-47. Naquela mesma ocasião tinham procurado matá-lo (João 5: 18), a mesma linguagem, usada aqui. Parece que Jesus não tinha estado em Jerusalém desde então e sem dúvida aludiu à sua conduta naquela ocasião e os acusou do mesmo propósito agora.
O povo aparentemente desconhecia o empenho dos judeus em matar Jesus (capítulo 5:18). É importante neste capítulo distinguir claramente os vários grupos, como os líderes judeus(versículos 13, 15, 25, 26, 30, 32, etc.), a multidão da Galiléia e outros lugares (versículos 10-13, 20, 31, 40 49), as pessoas comuns de Jerusalém (versículo 25) e os soldados romanos (versículo 45).
A multidão fez a mesma acusação contra Jesus que tinha sido feita havia muito tempo pelos fariseus contra João Batista (Mateus 11:18; Lucas 7:33). Foi uma saída fácil lançar uma acusação dessas. Em linguagem moderna significava: “Ele é um monomaníaco labutando sob a alucinação que as pessoas querem matá-lo”.
O Senhor aludiu diretamente à cura do homem paralítico quando esteve antes em Jerusalém (João 5:1-16). Ele tinha feito outras obras antes (João 2:23; 4:45), mas esta foi no sábado sagrado e causou os líderes a tentar matá-lo (João 5: 18). Tinha feito alguns duvidar, outros a se irar.
Se sob a lei de Moses eles podiam operar num homem, circuncidando-o, como podiam se irar por curar um homem? Eles deveriam julgar com justiça, não superficialmente.
1 Depois disto andava Jesus pela Galiléia; pois não queria andar pela Judéia, porque os judeus procuravam matá-lo.
2 Ora, estava próxima a festa dos judeus, a dos tabernáculos.
3 Disseram-lhe, então, seus irmãos: Retira-te daqui e vai para a Judéia, para que também os teus discípulos vejam as obras que fazes.
4 Porque ninguém faz coisa alguma em oculto, quando procura ser conhecido. Já que fazes estas coisas, manifesta-te ao mundo.
5 Pois nem seus irmãos criam nele.
6 Disse-lhes, então, Jesus: Ainda não é chegado o meu tempo; mas o vosso tempo sempre está presente.
7 O mundo não vos pode odiar; mas ele me odeia a mim, porquanto dele testifico que as suas obras são más.
8 Subi vós à festa; eu não subo ainda a esta festa, porque ainda não é chegado o meu tempo.
9 E, havendo-lhes dito isto, ficou na Galiléia.
10 Mas quando seus irmãos já tinham subido à festa, então subiu ele também, não publicamente, mas como em secreto.
11 Ora, os judeus o procuravam na festa, e perguntavam: Onde está ele?
12 E era grande a murmuração a respeito dele entre as multidões. Diziam alguns: Ele é bom. Mas outros diziam: não, antes engana o povo.
13 Todavia ninguém falava dele abertamente, por medo dos judeus.
14 Estando, pois, a festa já em meio, subiu Jesus ao templo e começou a ensinar.
15 Então os judeus se admiravam, dizendo: Como sabe este letras, sem ter estudado?
16 Respondeu-lhes Jesus: A minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou.
17 Se alguém quiser fazer a vontade de Deus, há de saber se a doutrina é dele, ou se eu falo por mim mesmo.
18 Quem fala por si mesmo busca a sua própria glória; mas o que busca a glória daquele que o enviou, esse é verdadeiro, e não há nele injustiça.
19 Não vos deu Moisés a lei? no entanto nenhum de vós cumpre a lei. Por que procurais matar-me?
20 Respondeu a multidão: Tens demônio; quem procura matar-te?
Joh 7:21 Replicou-lhes Jesus: Uma só obra fiz, e todos vós admirais por causa disto.
Joh 7:22 Moisés vos ordenou a circuncisão (não que fosse de Moisés, mas dos pais), e no sábado circuncidais um homem.
Joh 7:23 Ora, se um homem recebe a circuncisão no sábado, para que a lei de Moisés não seja violada, como vos indignais contra mim, porque no sábado tornei um homem inteiramente são?
Joh 7:24 Não julgueis pela aparência mas julgai segundo o reto juízo.
Evangelho de João capítulo 7, versículos. 1 a 24