Introdução. Continuando o assunto do seu apostolado e da imposição de certas leis judaicas sobre os crentes gentios, Paulo recorda a decisão tomada pela igreja em Jerusalém e também uma conversa com Pedro em Antioquia.
1. Em Jerusalém. Parece quase certo, pelo intervalo de tempo mencionado aqui ("catorze anos depois") que esta visita a Jerusalém com Barnabé e Tito se refere à reunião descrita em Atos 15:1-29, onde Paulo, guiado especialmente pelo Senhor ("uma revelação" v. 2), consultou com os outros apóstolos e os presbíteros da igreja em Jerusalém, primeiramente para acertarem que ele e os outros apóstolos pregavam o mesmo Evangelho, e também para se entenderem com respeito à posição dos crentes gentios nas igrejas em geral.
a) 0 pregador gentio Tito, que acompanhou Paulo e Barnabé a Jerusalém, não foi obrigado a circuncidar-se. A circuncisão era o sinal na carne que obrigou os judeus e os seus prosélitos a guardarem a Lei mosaica na sua totalidade ( v. 1-3).
b) Falsos ensinadores tinham-se infiltrado nas igrejas, querendo pôr os crentes debaixo da Lei mosaica, assim nulificando o Evangelho da salvação pela graça, sem as obras da Lei. Paulo e os demais apóstolos rejeitaram o ensino daqueles judaizantes (v. 4-5).
c) 0 apostolado de Paulo (e de Barnabé) não foi dado, mas sim reconhecido alegremente pelos outros apóstolos que estavam em Jerusalém, porém reconheceram a sua missão especial aos gentios, sem a imposição nestes da Lei; mas pediram que se lembrassem dos pobres em Jerusalém, como Paulo sempre fazia (v. 6-10).
2. Em Antioquia. Eis a terceira vez que Paulo se encontrou com Pedro (veja 1:18): esta vez em Antioquia, algum tempo depois da conferência em Jerusalém (veja Atos 15:35) e antes da segunda viagem missionária de Paulo (Atos 15:36-40).
Ali estava também Pedro, primeiramente convivendo com os gentios (conforme foi ensinado em Atos 10:28,34,35). Porém, ele cessou de fazer assim com a chegada de alguns crentes judaicos de Jerusalém, por medo de ser criticado por estes. Essa vacilação da parte de Pedro foi um mau exemplo para os outros crentes judaicos, os quais também se separaram da convivência com os crentes gentios; até o próprio pregador Barnabé (companheiro de Paulo na sua primeira viagem, Atos 13 a 14) caiu neste erro tão grave.
Paulo, então, repreendeu-os, falando francamente a Pedro na presença de todos: eles (Pedro, Paulo e os demais crentes judaicos), que tinham sido criados debaixo da Lei, nunca podiam guardar a Lei e tinham sido salvos pela simples fé em Cristo (v. 15-16). Por costume, eles continuavam a guardar certos preceitos da Lei, mas isto não Lhes era obrigatório e não podia salvá-los e não tinham direito algum de criticar ou de separar-se dos cristãos gentios, os quais tinham sido salvos pela fé em Cristo, assim como os próprios cristãos judaicos.
Tirando os judeus da "escravidão" da Lei, Cristo estava justificando o pecado? (v. 17). De modo algum! Nem os judeus, nem os gentios guardavam a Lei; eram igualmente pecadores, e igualmente salvos pela fé em Cristo, o Qual expiou os seus pecados na Cruz. O crente, judeu ou gentio, "morreu com Cristo" e não está sujeito à Lei para a justificação, mas vive para Deus (v. 17-19).
3. Conclusão. Note-se que é difícil, senão impossível, distinguir até onde vai a conversa de Paulo com Pedro e onde começa a instrução geral da Epístola. Devemos reconhecer que o "eu" deste trecho representa não só Paulo como também todo crente em Cristo.
a) O crente "morreu" para a Lei e Cristo vive nele. Esta vida vem pela fé em Cristo como Filho de Deus o Salvador que morreu na Cruz por amor ao pecador.
b) Se não fosse assim, e se o crente estivesse ainda debaixo da Lei, ou se a salvação viesse por cumprir-se a Lei, então a morte de Cristo seria debalde e nem os judeus, nem os gentios seriam salvos.
Resumo:
a) Paulo não era inferior aos outros apóstolos.
b) Nenhum crente está obrigado a observar os ritos judaicos.
c) Nenhum crente está debaixo da Lei.
1 Depois, passados catorze anos, subi outra vez a Jerusalém com Barnabé, levando também comigo Tito.
2 E subi por uma revelação e lhes expus o evangelho que prego entre os gentios e particularmente aos que estavam em estima, para que de maneira alguma não corresse ou não tivesse corrido em vão.
3 Mas nem ainda Tito, que estava comigo, sendo grego, foi constrangido a circuncidar-se.
4 E isso por causa dos falsos irmãos que se tinham entremetido e secretamente entraram a espiar a nossa liberdade que temos em Cristo Jesus, para nos porem em servidão;
5 aos quais, nem ainda por uma hora, cedemos com sujeição, para que a verdade do evangelho permanecesse entre vós.
6 E, quanto àqueles que pareciam ser alguma coisa (quais tenham sido noutro tempo, não se me dá; Deus não aceita a aparência do homem), esses, digo, que pareciam ser alguma coisa, nada me comunicaram;
7 antes, pelo contrário, quando viram que o evangelho da incircuncisão me estava confiado, como a Pedro o da circuncisão
8 (porque aquele que operou eficazmente em Pedro para o apostolado da circuncisão, esse operou também em mim com eficácia para com os gentios),
9 e conhecendo Tiago, Cefas e João, que eram considerados como as colunas, a graça que se me havia dado, deram-nos as destras, em comunhão comigo e com Barnabé, para que nós fôssemos aos gentios e eles, à circuncisão;
10 recomendando-nos somente que nos lembrássemos dos pobres, o que também procurei fazer com diligência.
11 E, chegando Pedro à Antioquia, lhe resisti na cara, porque era repreensível.
12 Porque, antes que alguns tivessem chegado da parte de Tiago, comia com os gentios; mas, depois que chegaram, se foi retirando e se apartou deles, temendo os que eram da circuncisão.
13 E os outros judeus também dissimulavam com ele, de maneira que até Barnabé se deixou levar pela sua dissimulação.
14 Mas, quando vi que não andavam bem e direitamente conforme a verdade do evangelho, disse a Pedro na presença de todos: Se tu, sendo judeu, vives como os gentios e não como judeu, por que obrigas os gentios a viverem como judeus?
15 Nós somos judeus por natureza e não pecadores dentre os gentios.
16 Sabendo que o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo, temos também crido em Jesus Cristo, para sermos justificados pela fé de Cristo e não pelas obras da lei, porquanto pelas obras da lei nenhuma carne será justificada.
17 Pois, se nós, que procuramos ser justificados em Cristo, nós mesmos também somos achados pecadores, é, porventura, Cristo ministro do pecado? De maneira nenhuma.
18 Porque, se torno a edificar aquilo que destruí, constituo-me a mim mesmo transgressor.
19 Porque eu, pela lei, estou morto para a lei, para viver para Deus.
20 Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e se entregou a si mesmo por mim.
21 Não aniquilo a graça de Deus; porque, se a justiça provém da lei, segue-se que Cristo morreu debalde.
Gálatas capítulo 2:1 a 21