Este capítulo começa com a palavra "portanto" ou "consequentemente" claramente vinculando a base da exortação do capítulo com o conteúdo do capítulo anterior. Assim, tendo estabelecido os membros do "corredor da fé", o autor agora se refere a eles como a "grande nuvem de testemunhas" que rodeia os destinatários.
Hebreus foi escrito tendo especialmente em vista judeus que deixaram o judaísmo para seguir a Cristo, e por isso sofriam forte oposição dos seus compatriotas. Era possível que viessem a pensar que seu sofrimento resultava de desagrado de Deus, desanimassem e desistissem, podendo até mesmo ser tentados a voltar para o templo e suas cerimônias.
Eles não deviam pensar que seus sofrimentos eram excepcionais. Muitas das “testemunhas” descritas no capítulo 11 sofreram severamente, como resultado de sua fidelidade ao Senhor, no entanto mantiveram-se firmes. Se sua perseverança foi inabalável com as suas prerrogativas menores, quanto mais firmes devemos ser, já que recebemos melhores bênçãos ainda do cristianismo.
Somos como que rodeados por uma grande nuvem de testemunhas. Isto não significa que são espectadores do que acontece na terra. O testemunho que deram durante as suas vidas de fé e de resistência é que estabeleceu um padrão elevado para alcançarmos também.
Este versículo, mal entendido, dá motivo para a pergunta: “Então os santos no céu podem acompanhar as nossas vidas na terra e saber o que está acontecendo por aqui?" A única coisa que sabemos é que há alegria no céu por um pecador que se arrepende (Lucas 15:7).
A vida cristã é como uma corrida que requer disciplina e resistência. Devemos despir-nos de tudo que nos atrapalhe. Isto inclue coisas que em si próprias podem ser inofensivas, mas impedem o progresso, como bens materiais, laços de família, o amor ao conforto, a falta de mobilidade, etc. Nas corridas olímpicas não há nenhuma regra proibindo carregar um suprimento de alimentos e bebidas, mas o corredor nunca irá ganhar a corrida assim.
O que nos atrapalha vai além de meras distrações ou preocupações. O pecado é que faz com que o corredor cristão tropece. O palavra traduzida "pecado" possui o artigo definido, que pode ser entendido como um conceito geral ao invés de pecados específicos, mas no contexto de Hebreus, ele provavelmente indica o pecado específico que ameaçava a comunidade dos Hebreus ali, o de um retorno ao judaísmo como um sistema de nos relacionarmos com Deus. Devemos também deixar de lado o pecado que tão facilmente nos enreda. Pode ser qualquer forma de pecado, mas especialmente o pecado da incredulidade. Temos que ter total confiança nas promessas de Deus e plena confiança de que a vida de fé é a certeza de vencer.
Temos de nos proteger da ideia que a corrida é fácil, que tudo na vida cristã é róseo. Ao contrário, devemos estar preparados para avançar com perseverança através de provações e tentações.
Ao longo da corrida, devemos nos distanciar de todos os outros objetos que nos atraem e manter nossos olhos focalizados sobre Jesus, o corredor principal. Ele é o autor, ou pioneiro da fé, tendo nos proporcionado o perfeito exemplo de como é a vida de fé.
Nosso Senhor também é o consumador da nossa fé. Ele não só começou a corrida, mas terminou triunfalmente. O percurso da sua corrida partiu do céu até a pequena cidade de Belém, dali passando da infância até a maturidade para chegar ao jardim de Getsêmani e entregar seu corpo humano à morte no Calvário, em seguida vencer a morte ressuscitando seu corpo, e voltar para a Sua glória no céu.
Ao lermos esta passagem, devemos refletir na agonia da morte pela crucificação, sem dúvida a forma mais desprezada de morte no Império Romano, reservado para os piores criminosos e da qual os cidadãos romanos estavam isentos. O resultado da resistência fiel de Jesus à pior das circunstâncias foi o gozo da melhor das circunstâncias: Sua exaltação. Em nenhum momento hesitou ou quis voltar atrás, mas fixou Seus olhos na glória vindoura quando todos os Seus redimidos serão reunidos com Ele eternamente. Hoje "está assentado à direita do trono de Deus" à testa da Sua igreja.
O texto de Hebreus exorta seus leitores a "considerar" a resistência de Jesus à hostilidade pessoal dos pecadores. A intensidade do sofrimento de Jesus e o alto nível de hostilidade, oposição e escárnio suportado por Ele, quando comparados a qualquer perseguição ou pressão experimentados atualmente na vida dos leitores, fornecem uma perspectiva inegavelmente corretiva. O antídoto profundamente simples para os corações cansados e desanimados é uma reflexão pessoal sobre a experiência de Jesus Cristo. Ele é o Alfa e Omega da fé, tanto a sua fonte como a sua conclusão.
Os hebreus, a quem foi originalmente endereçado este livro, já tinham sofrido uma verdadeira cornucópia de perseguição (ver comentários no capítulo 10:32-34) mas ainda não tinham experimentado o martírio em seu combate contra o pecado.
1 Portanto, nós também, pois estamos rodeados de tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos com perseverança a carreira que nos está proposta,
2 fitando os olhos em Jesus, autor e consumador da nossa fé, o qual, pelo gozo que lhe está proposto, suportou a cruz, desprezando a ignomínia, e está assentado à direita do trono de Deus.
3 Considerai, pois aquele que suportou tal contradição dos pecadores contra si mesmo, para que não vos canseis, desfalecendo em vossas almas.
4 Ainda não resististes até o sangue, combatendo contra o pecado.
Hebreus capítulo 12, versículos 1 a 4