No início do livro (Hebreus 2:2,3) encontramos o contraste entre a entrega da lei de Deus com o ministério de anjos a Moisés, e o recebimento do Evangelho vindo do próprio Filho de Deus, que é Jesus Cristo. Foi evidenciada a gravidade do perigo que ameaça quem se descuida e deixa de lhe dar atenção.
Voltando a esse assunto, são aqui mencionadas as circunstâncias que caracterizaram os dias em que a lei foi entregue a Moisés. Segundo Êxodo 19:16-19, 20:18-21 e Deuteronômio 4:11-14:
A cena foi o Monte Sinai, onde “ao amanhecer, houve trovões, relâmpagos, e uma nuvem espessa sobre o monte; e ouviu-se um sonido de buzina mui forte, de maneira que todo o povo que estava no arraial estremeceu”.
“Moisés então levou o povo fora do arraial ao encontro de Deus; e puseram-se ao pé do monte. Nisso todo o monte Sinai fumegava, porque o Senhor descera sobre ele em fogo; e a fumaça subiu como a fumaça de uma fornalha, e todo o monte tremia fortemente”.
O som da buzina e da voz que falava a Moisés eram tão assustadores, que “os que ouviam rogaram que não se lhes falasse mais”. Até mesmo “Moisés disse: Estou todo aterrorizado e trêmulo”.
Tudo isso fala eloquentemente da seriedade do ministério da lei. Esta é uma revelação dos justos requisitos de Deus e de sua ira contra o pecado. O propósito da lei não foi dar conhecimento da salvação, mas produzir o reconhecimento do pecado. Fala da distância entre Deus e o homem por causa do pecado. É um ministério de condenação, escuridão e melancolia.
Nós, os crentes em Cristo, não testemunhamos os terrores proibitivos do Sinai, mas as boas-vindas da Graça: o monte ardente e o véu místico, com os nossos terrores e culpa, já se foram. Nossa consciência tem a paz que nunca pode falhar, pois a obediência e o sangue do nosso Salvador apagam todas as nossas transgressões.
Temos agora, em princípio, as bênçãos de que desfrutaremos em toda a sua realidade eternamente:
Um santuário no céu, não no Monte Sinai, mas no Monte Sião. Esta montanha celestial simboliza todas as bênçãos da graça de Deus — tudo o que é nosso através da obra redentora de Jesus Cristo.
A habitação na cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial (Apocalipse 3:12). A Lei tem sua Jerusalém terrena, mas a fé tem sua capital celestial acima. A cidade do Deus vivo está no céu, a cidade cujo arquiteto e construtor é Deus.
Temos a companhia de miríades (quantidade indefinida e muito grande) de anjos, e a universal assembleia e igreja dos primogênitos inscritos nos céus (Tiago 1:18). Esta última é a verdadeira Igreja, composta de todas as pessoas, desde Pentecostes até a primeira ressurreição (1 Coríntios 15:52) unidas entre si e a Cristo pelo batismo com o Espírito Santo (1 Coríntios 12:12,13). Ela é o corpo de Cristo, da qual Ele é a cabeça (Efésios 1:22,23) ...
Não vimos a uma montanha palpável na terra para chegarmos à presença de Deus. Nosso privilégio, enquanto estamos aqui, é de nos aproximar de Deus em confissão, louvor e oração em qualquer lugar onde estivermos. Não estamos limitados a um lugar “santificado”, nem determinado dia, nem a alguma vestimenta especial. Somos sempre bem-vindos por Deus, o Juiz de todos.
Vimos aos “espíritos dos justos aperfeiçoados”. Estes são os crentes que morreram antes da proclamação do Evangelho de Cristo, como os mencionados nos capítulos 10:14 e 11:40. Estes só foram “aperfeiçoados” quando Cristo veio na hora certa e “com uma só oferta ... aperfeiçoou para sempre os que estão sendo santificados”, ou seja, os santos do Velho Testamento.
Jesus está lá, o Mediador da nova aliança. Há uma diferença entre Moisés como mediador da antiga aliança e Jesus como Mediador da nova. Moisés serviu como um mediador simplesmente por receber a lei de Deus e entrega-la ao povo de Israel. Ele era o intermediário, ou o representante do povo, oferecendo os sacrifícios pelos quais foi ratificado o pacto. Cristo é Mediador da nova aliança em um sentido muito maior. Para fazer essa aliança, o Senhor Jesus teve que morrer a fim de selar a aliança com Seu próprio sangue e dar-se a Si próprio em resgate por muitos (1 Timóteo 2:6). Ele assegurou as bênçãos da nova aliança para o Seu povo mediante a Sua própria morte. Ele garante essas bênçãos para eles mediante a Sua vida sem fim. E ele preserva Seu povo para desfrutar as bênçãos em um mundo hostil, por Seu ministério presente na mão direita de Deus. Tudo isto está incluído em Sua obra mediadora.
Finalmente, há o sangue da aspersão. Quando Cristo ascendeu, Ele apresentou a Deus todo o valor do sangue que Ele derramou na Cruz. Não há nenhuma sugestão que Ele literalmente carregou seu sangue no céu, mas os méritos de Seu sangue se tornaram conhecidos no santuário. Seu precioso sangue é contrastado com o sangue de Abel. Seja o sangue do sacrifício de Abel, ou o sangue do próprio Abel que foi derramado por Caim, o sangue de Cristo fala melhor. O sangue do sacrifício de Abel era provisório, mas o de Cristo dá perdão eterno a todo o pecador que se arrepende e O recebe como Salvador e Senhor.
18 Pois não tendes chegado ao monte palpável, aceso em fogo, e à escuridão, e às trevas, e à tempestade,
19 e ao sonido da trombeta, e à voz das palavras, a qual os que a ouviram rogaram que não se lhes falasse mais;
20 porque não podiam suportar o que se lhes mandava: Se até um animal tocar o monte, será apedrejado.
21 E tão terrível era a visão, que Moisés disse: Estou todo aterrorizado e trêmulo.
22 Mas tendes chegado ao Monte Sião, e à cidade do Deus vivo, à Jerusalém celestial, a miríades de anjos;
23 à universal assembléia e igreja dos primogênitos inscritos nos céus, e a Deus, o juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados;
24 e a Jesus, o mediador de um novo pacto, e ao sangue da aspersão, que fala melhor do que o de Abel.
Hebreus, capítulo 12, versículos 18 a 24