Pedro acrescentou muitas palavras de advertência ao seu discurso, bem como de apelo ao povo para que recebesse o Evangelho, que se resume em "salvem-se desta geração perversa".
A palavra traduzida como "perversa" é o oposto de "reta", indicando desvio da retidão. O Salmo 14:1 exclama "Diz o néscio no seu coração: Não há Deus. Os homens têm-se corrompido, fazem-se abomináveis em suas obras; não há quem faça o bem." É o retrato do mundo, tanto daquele tempo como o de hoje. Alegando não haver Deus, e apoiando-se agora nas teorias da evolução, o mundo não conhece mais as normas de retidão e da justiça que são ensinados por Deus em Sua Palavra.
Uma multidão de cerca de três mil pessoas ouviram e atenderam ao apelo de Pedro naquele mesmo dia, foram batizadas e acrescidas à igreja. Note-se que somente aqueles que já haviam recebido a mensagem do Evangelho, e se arrependido dos seus pecados, é que foram batizados.
Com base apenas no versículo 38, poder-se-ia concluir que o Espírito Santo é dado para os convertidos depois de serem batizados através da água. No entanto, isto contraria outras passagens bíblicas. Notamos na Bíblia uma ordem diferente para quatro grupos de convertidos:
Judeus: arrependimento, batismo, recebimento do E.S. (Atos 2:38, 22:16).
Samaritanos: fé, batismo, oração, colocação de mãos, recebimento do E.S. (Atos 8:14-17).
Gentios: fé, recebimento do E.S., batismo (Atos 10:44-48).
Discípulos de João Batista: Fé, novo batismo, colocação de mãos, recebimento do E.S. (Atos 19:1-7).
Os judeus hoje têm o mesmo tratamento que os gentios, e não há mais samaritanos ou discípulos de João Batista. Logo, permanece a ordem "3", para os gentios, que confere com os demais ensinamentos bíblicos.
O recebimento do Espírito Santo se segue imediatamente à fé, sem interferência de outrem. O batismo por água não é um requisito para a salvação, mas um testemunho público da fé de quem foi salvo.
Não há qualquer indicação que só os apóstolos batizavam: todos os membros da igreja poderiam prestar esse serviço, havia em Jerusalém numerosos tanques públicos que podiam ser usados para os batismos, e estes não foram necessariamente todos executados em um só dia.
Cumpriram-se nesse dia as palavras do Senhor Jesus "eu vos farei pescadores de homens" (Mateus 4:19) e "Em verdade, em verdade vos digo: Aquele que crê em mim, esse também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas; porque eu vou para o Pai" (João 14:12).
Essa multidão convertida se dedicou a quatro atividades essenciais para qualquer igreja, seja ela primitiva ou moderna, nova ou madura:
A doutrina dos apóstolos: foi aos Seus apóstolos que o Senhor Jesus prometeu: "o Conselheiro, o Espírito Santo a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto eu vos tenho dito" (João 14:26). Os apóstolos, por sua vez, transmitiam esses ensinos a todos os novos convertidos, verbalmente e depois por escrito, e os encontramos na Bíblia.
A comunhão: esta é uma tradução do grego (Koinoniai), que significa sociedade ou participação de um empreendimento com outros. Por exemplo, há uma participação no sangue de Cristo (Filipenses 2:1), no trabalho de evangelização (Filipenses 1:5), e na contribuição aos necessitados (2 Coríntios 8:4, 9:13). Os novos convertidos estreitavam os laços que os uniam, em suas muitas atividades, inclusive na distribuição de posses (v.44), e na Ceia do Senhor (1 Coríntios 10:16), e mesmo nas refeições comuns.
No partir do pão: é tradução do grego klao, palavra que se usava para uma refeição comum. A mesma palavra passou a ser usada para a Ceia do Senhor, que no início era realizada ao fim de uma refeição da qual os membros da igreja participavam. Por causa dos problemas que isto veio a causar, foi ordenado que as refeições se fizessem em suas casas e a Ceia do Senhor se tornasse em uma reunião dedicada a esse fim (1 Coríntios 11:22).
Nas orações: tanto em recintos nas casas (Atos 1:14), no templo (Atos 3:1) e em seus lares (Atos 4:23), faziam-se orações ao Pai com a intermediação do Filho (em Seu nome João 16:24), para adoração, orientação, preservação, intercessão, assim demonstrando a sua completa dependência em Deus.
Todos foram tomados por temor, um profundo respeito porque o poder do Espírito Santo estava se revelando de maneira evidente em seu meio. Estavam pasmados porque através dos apóstolos Ele estava fazendo muitos prodígios e sinais: prodígios eram atos sobrenaturais surpreendentes e os sinais legitimavam o mandato dado pelo Senhor aos Seus apóstolos.
Os que criam estavam unidos, e a sua comunhão se estendeu a uma comunidade geral dos seus bens, ninguém considerando como exclusivamente sua nem uma das coisas que possuía (cap. 4:32), ou seja, todos estavam dispostos a dispor do que era seu para o bem comum. Esta atitude somente surgiu em Jerusalém e evidentemente era devida às circunstâncias prementes em que o povo ali vivia naqueles dias.
Vendendo as suas propriedades e bens e distribuindo o produto entre todos, quando surgia a necessidade, eles amavam uns aos outros como a si mesmos, que é o segundo maior mandamento (Marcos 12:31). . O egoísmo natural havia desaparecido mediante o amor resultante do conhecimento do amor divino, e a sua generosidade era fruto do Espírito Santo que agora estava neles.
Os que creram também continuaram a freqüentar diariamente o templo de Jerusalém, perseverando unânimes em sua nova fé. Eram judeus, e o templo sempre fora o lugar em que iam adorar a Deus. Embora pertencendo agora à igreja de Cristo, demoraram a deixar as práticas do judaísmo e vemos que o processo se alongou durante o período coberto pelo livro de Atos.
Eles comiam as suas refeições em suas casas (algumas traduções dizem "de casa em casa", pois o original pode também significar isso). Possivelmente eles se reuniam em casas diferentes, exercitando a hospitalidade nessa convivência. Seja como for, em tudo mostravam alegria e singeleza (limpeza) de coração, e louvavam a Deus, o que atraía a atenção dos incrédulos e cativava a simpatia de todo o povo.
Foi um curto período de bonança, mas não iria durar muito. A fé cristã inevitavelmente levanta o ódio do mundo contra si, pois evidencia o seu pecado e o adverte do castigo que sofrerá se continuar nele. Os discípulos foram prevenidos pelo Senhor contra a estima do mundo (Lucas 6:26), e da perseguição e tribulação que sofreriam (Mateus 10:22-23).
Em breve os chefes dos religiosos iriam dar conta da ameaça que essa nova "seita" representava para a sua posição de autoridade religiosa, e começariam sua campanha para silenciar os apóstolos.
Enquanto isso, o Senhor ia acrescentando ao grupo os que iam sendo salvos. Notemos que Deus é quem dá crescimento à Sua igreja (1 Coríntios 3:7). Havia conversões diariamente, e era daqueles que ouviam o Evangelho pregado pelos apóstolos e pelos discípulos, e recebiam a Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador pessoal mediante decisão própria individual. A graça é de Deus, que lhes estende a salvação mediante a sua fé.
Embora a palavra "igreja" não tenha sido usada neste capítulo é óbvio que este foi o seu início, e a encontramos pouco depois no capítulo 5 v.11, referindo-se aos que se haviam convertido a Cristo e juntado ao grupo dos apóstolos.
O templo foi usado no início para suas reuniões, mas também se reuniam nas casas, participando todos nelas. Eram reuniões domiciliares onde adoravam juntos e aprendiam a doutrina dos apóstolos (que transmitiam o que haviam aprendido de Cristo), recebiam as mensagens de Deus dos profetas, e eram ensinados pelos mestres ou doutores. Todos eles foram dados por Deus à igreja para a sua instrução e crescimento espiritual (1 Coríntios 12:28).
Olhando através de um prisma humano, poderia nos parecer conveniente àquela altura dar início a uma organização com um presidente, uma diretoria, diversos conselhos diretivos, e numerosas subsidiárias com suas próprias estruturas administrativas. Havia milhares de convertidos que precisavam ser classificados e postos a trabalhar de maneira ordenada e controlada.
Mas nada disso era necessário, pois a direção era do Espírito Santo, imensamente mais hábil do que qualquer organização humana. "Apenas" com o uso de servos dedicados, dotados dos dons necessários, o Espírito Santo realizou um grande crescimento da igreja de Cristo nos primeiros três séculos, vencendo incrível oposição por parte das forças humanas e satânicas, e ela se espalhou pelo mundo conhecido.
41 De sorte que foram batizados os que receberam a sua palavra; e naquele dia agregaram-se quase três mil almas;
42 e perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações.
43 Em cada alma havia temor, e muitos prodígios e sinais eram feitos pelos apóstolos.
44 Todos os que criam estavam unidos e tinham tudo em comum.
45 E vendiam suas propriedades e bens e os repartiam por todos, segundo a necessidade de cada um.
46 E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam com alegria e singeleza de coração,
47 louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E cada dia acrescentava-lhes o Senhor os que iam sendo salvos.
Atos capítulo 2 vers. 41 a 47