Não devemos nos espantar a respeito da tribulação ardente que vem nos provar, como se algo estranho nos estivesse acontecendo: a tribulação ardente é uma metáfora, referindo-se à fundição do ouro e da prata em uma fornalha (Provérbios 17.3, 27.21 e Salmo 66.10): Davi falou do fato que a provação dele por Deus era como a colocação da prata em uma fornalha para sua purificação. Encontramos este pensamento através de todas as Escrituras. Quando o sofrimento vem, a maioria de nós reage como se fosse algo estranho, que ninguém mais sofreu como estamos sofrendo, diferente de qualquer coisa sofrida antes, e que Deus não se está importando conosco.
Mas deve ser aceita como algo perfeitamente normal, sendo parte de uma série de provas através das quais todos nós devemos passar. Não é acidental, mas uma experiência cristã normal. Outros passaram por ela, e nunca seremos os que sofrem mais do que qualquer outro. Quando Paulo foi escolhido como um apóstolo, o Senhor disse, “eu lhe mostrarei quanto lhe cumpre padecer pelo meu nome.” (Atos 9.16). Paulo foi ao limite do sofrimento; nós não passaremos além do limite, logo não devemos considerar nosso sofrimento como sendo uma coisa estranha.
Ao contrário, devemos regozijar, exultando. O sofrimento nos prepara para a vinda de Cristo. “…se filhos, também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo; se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados.” (Romanos 8.17). Não há nenhum atalho para percorrer a vida cristã. Não há nenhuma maneira fácil. Devemos sofrer por Ele e com Ele. Quanto chegarmos à sua presença saberemos a razão para cada prova. A Palavra de Deus esclarece bem que o sofrimento é uma parte da vida cristã, e é com ele que desenvolvemos.
Nosso Senhor disse que “Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós por minha causa. Alegrai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram aos profetas que foram antes de vós.” (Mateus 5.12). Pode significar a separação da família e dos amigos, repreensão pelas autoridades, ou mesmo sofrer a morte por causa do nome de Cristo (Mateus 19.29; Atos 5.41; 9:16; 21.13).
O Espírito Santo, que é o espírito da glória e de Deus está sobre nós (como a glória de Deus estava sobre o tabernáculo). O sofrimento é natural para o filho de Deus, e resistir ao sofrimento fornece a maior prova disto. Se estamos tendo uma estadia folgada neste mundo, não devemos ser filhos de Deus porque não é assim que Ele educa os Seus filhos.
Podemos glorificar a Deus seja o que acontecer, mesmo quando Ele é blasfemado pelo mundo. Diz-se que durante o terremoto devastador de São Francisco em 1906, uma senhora cristã saiu e cantava louvores a Deus. Todos em volta estavam amaldiçoando, chorando, e alguns até mesmo orando pela primeira vez em suas vidas. Perguntaram a ela: “o significa você cantar louvores numa hora destas?” Ela respondeu, “Agradeço a Deus que tenho um Deus tão forte ao ponto de agitar esta terra pequena!” Há muito poucas pessoas que poderiam louvar a Deus assim durante um terremoto.
Isto não tem nada a ver com o sofrimento por ter feito o mal: Deus nunca nos prova com pecado, ou outro mal de qualquer tipo. Está completamente fora do caráter cristão ser um malfeitor, e isto inclui intrometer-se em negócios alheios, ou tornar-se um assassino, um ladrão e qualquer outro tipo do criminoso.
A idéia de intrometer-se em negócios alheios é aparentemente a de alguém que intervém nos assuntos de outras pessoas, que não lhe dizem respeito, um intrometido, que poderia resultar na destruição de uma família ou de relacionamentos entre cristãos, entre outras coisas. O crente deve tratar dos seus próprios negócios (1 Tessalonicenses 4.11).
Mas não se deve envergonhar por sofrer como um cristão (esta palavra ocorre somente três vezes na Bíblia, para distinguir os seguidores de Cristo dos judeus e dos gentios: aqui e em Atos 11.26 e 26.28. São chamados mais de discípulos, santos e crentes. Os judeus usaram nazarenos como uma alcunha para os cristãos: Atos 24.5).
Tornou-se memorável que Pedro certa vez se envergonhou por sofrer reprimenda ou mesmo desdém por ser um discípulo de Cristo (Marcos 14.68). “Qualquer que, entre esta geração adúltera e pecadora, se envergonhar de mim e das minhas palavras, também dele se envergonhará o Filho do homem quando vier na glória de seu Pai com os santos anjos.” (Marcos 8.38) disse o Senhor, e Paulo declarou “não me envergonho; porque eu sei em quem tenho crido, e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele dia” (2 Timóteo 1.12).
Aqueles que padecem porque são de Cristo têm a oportunidade de glorificar a Deus através do seu tormento e de dar o seu testemunho enquanto sofrem.
O julgamento começa da casa de Deus: a casa de Deus pode ser a igreja inteira, a casa espiritual (capítulo 2.5), ou uma igreja local. Esta declaração pode ser compreendida de três maneiras:
Segue o tipo de purificação do templo dado na visão de Ezequiel (9.1 em diante). O julgamento se refere às tribulações sofridas a fim de que seja manifestada a realidade da nossa fé, sendo muito mais preciosa do que o ouro que perece… (capítulo 1.7).
Refere-se à disciplina de Deus sobre seus filhos, que são punidos para seu próprio bem, a fim de que possam compartilhar em Sua santidade (Hebreus 12.5-11 - ver também 1 Coríntios 11.31-32).
Os crentes vão comparecer diante do tribunal de Cristo muito antes do julgamento final dos “mortos”: devemos todos chegar diante do tribunal de Cristo, a fim de que cada um possa receber as coisas feitas no corpo, de acordo com o que fez, se bom ou mau (2 Coríntios 5.10). Cristo pagou a pena por nossos pecados, mas se tivermos vivido de maneira que não lhe tenha trazido glória, sofreremos perda, embora conservando a salvação.
A primeira pergunta feita é: se o julgamento começa por nós, qual será o fim daqueles que desobedecem ao evangelho de Deus? Ou seja, se Deus pune seus próprios filhos com disciplina terrestre, qual será o destino final do mundo perdido que prefere ignorar o Evangelho do Deus?
A segunda pergunta tem o mesmo tema: se o justo dificilmente se salva, onde comparecerá o ímpio pecador? Ou seja, se nós, justificados pela fé, passamos por essas provações, como será o julgamento do ímpio pecador?
A resposta a estas duas perguntas é que para o incrédulo, o ímpio que rejeita o Evangelho da graça divina, que ainda carrega os seus pecados, não há o benefício da disciplina de um Pai cheio de amor pelos seus Filhos, mas a punição eterna por parte de um Juiz justo que é um fogo consumidor (Hebreus 12.29). Somente há uma esperança, só um caminho de salvação. O Senhor Jesus disse, “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.” (João 14.6).
Para nós, Deus é nosso fiel Criador: podemos confiar nossas almas com segurança a Ele. A palavra “confiar” é própria dos bancos, no sentido de “entregar para ser guardado”, e subentende ter fé em quem vai segurar o depósito para nós. Isto é resumido muito bem pelo apóstolo Paulo: “Por esta razão sofro também estas coisas, mas não me envergonho; porque eu sei em quem tenho crido, e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele dia.” (2 Timóteo 1.12).
Paulo dizia, “eu vim a Cristo e simplesmente lhe entreguei tudo. Fiz um depósito. O que era lucro para mim considerei como perda. E o que era perda se tornou em lucro a fim de ganhar a Cristo”.
Paulo fez uma lista de umas oito coisas diferentes em que ele antes confiava para a sua salvação (Filipenses 3.1-6), e em seguida disse: “na verdade, tenho também como perda todas as coisas pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como refugo, para que possa ganhar a Cristo” (Filipenses 3.8).
Podemos confiar inteiramente na Sua bondade e sabedoria para conosco e, se sofrermos neste mundo, sabemos que é para o nosso bem. Continuemos, portanto, a fazer o bem e dessa forma conheceremos o amor perfeito que afasta de nós o medo (1 João 4.18).
12 Amados, não estranheis a ardente provação que vem sobre vós para vos experimentar, como se coisa estranha vos acontecesse;
13 mas regozijai-vos por serdes participantes das aflições de Cristo; para que também na revelação da sua glória vos regozijeis e exulteis.
14 Se pelo nome de Cristo sois vituperados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória, o Espírito de Deus.
15 Que nenhum de vós, entretanto, padeça como homicida, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se entremete em negócios alheios;
16 mas, se padece como cristão, não se envergonhe, antes glorifique a Deus neste nome.
17 Porque já é tempo que comece o julgamento pela casa de Deus; e se começa por nós, qual será o fim daqueles que desobedecem ao evangelho de Deus?
18 E se o justo dificilmente se salva, onde comparecerá o ímpio pecador?
19 Portanto os que sofrem segundo a vontade de Deus confiem as suas almas ao fiel Criador, praticando o bem.
Primeira carta de Pedro, capítulo 4, versículos 12 a 19