O substantivo Pai é encontrado em oito destes versículos, o que nos indica que o nosso relacionamento com Deus deve ser o motivo para as ações neles descritas. Elas deverão ser feitas visando a aprovação do Pai, não para serem vistas e aclamadas aqui no mundo.
Esta passagem das Escrituras trata de três atividades de piedade prática na vida do cidadão do reino de Deus: as doações, a oração e o jejum. Vejamos:
O crente deve ser caritativo, pois é despenseiro das riquezas que Deus lhe dá neste mundo, contribuindo:
para o bem estar dos seus irmãos na fé,
para alívio dos seus "próximos" necessitados, dando motivo para que glorifiquem a Deus por causa da sua generosidade, e
para a obra do Senhor.
Faz parte das "boas obras" que são o produto esperado dos filhos de Deus e confirmam a sua nova natureza.
Essas doações devem ser feitas às ocultas para que não sejam vistas pelos outros. O princípio é "não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita".
Os hipócritas fazem alarde para receber a glória dos homens, e esta é a sua única recompensa pois o seu motivo é obtê-la. Deus não dá recompensa para a hipocrisia.
O motivo dos cidadãos do Reino é fazer o bem para agradar ao Pai, sem procurar louvor para si. Logo essas ações devem ser feitas em oculto para evitar que sejam vistas e louvadas pelos homens.
O nosso Pai que tudo vê secretamente ainda nos dará uma recompensapublicamente a Seu tempo.
A oração que fazemos em particular a Deus também deve ser feita com a mesma discrição de um filho que fala em particular com o seu Pai.
Novamente o Senhor Jesus critica a hipocrisia de orar em público de forma a atrair a atenção dos outros para si. O motivo é exaltar-se diante de uma assistência. Tendo dessa forma conseguido a atenção do público que desejava, quem isso faz nada mais receberá.
Nossa oração deve ser feita em nosso quarto, com a porta fechada, para estarmos a sós com Deus sem exibirmos nossa piedade aos outros. Deus pode nos ver, e ouvir, e Ele nos recompensará pela nossa atitude. Sejamos sinceros.
Nosso Pai sabe o que nos é necessário antes de o pedirmos, portanto não devemos usar de repetições constantes como se isso fosse necessário para que Ele nos ouça. Usemos de simplicidade.
Essa prática de usar repetições é de origem pagã, como as mantras dos hindus: uma sílaba, palavra ou verso pronunciados segundo prescrições ritualísticas e musicais, tendo em vista uma finalidade mágica ou o estabelecimento de um estado contemplativo. As rezas, repetidas vez após vez, têm também um efeito semelhante e não têm qualquer sentido espiritual.
Mesmo que nosso Pai saiba o que nos é necessário, somos instruídos a orar porque assim reconhecemos a nossa necessidade e a nossa dependência do suprimento que vem do Pai. Essa éa base da nossa comunicação com o Pai, mas também Ele nos dá coisas em resposta à nossa oração que Ele de outra forma não nos daria (Tiago 4:2).
A seguir, o Senhor Jesus nos diz como devemos orar: este é um modelo básico para ser seguido em nossas orações, nunca para ser pronunciado como uma fórmula mágica ou repetido vez após vez como castigo ou penitência.
Também não foi dado para que se memorizem as palavras e depois sejam repetidas em um ritual, pois com isto as frases se tornam apenas formais e sem aplicação pessoal. Uma vã repetição.
Ele começa com as palavras: "Pai nosso, que estás nos céus". O Senhor Jesus dizia "meu Pai" porque Ele era o Seu Filho unigênito. Nós oramos "Nosso Pai" porque somos todos filhos adotivos de Deus, mediante a fé em Seu Filho. O Pai se encontra em Seu trono na glória dos céus - mas Ele ouve a oração de cada um dos Seus filhos aqui na terra: maravilha incompreensível para nós.
Nossa oração deve começar com adoração e louvor: "santificado seja o Teu nome". Se formos sinceros, ao dizer isto, estaremos nos esforçando em nossas vidas para santificar o nome de Deus, dando um testemunho vivo dos Seus grandes atributos aos que nos rodeiam.
Devemos ansiar e orar pela vinda do Reino de Deus na terra. É o reino do Messias, quando Ele regerá a terra com vara de ferro, e a Sua vontade será feita na terra assim como é atualmente feita no céu. Ao orarmos pela sua vinda, devemos estar fazendo a nossa parte para o crescimento da obra de Deus aqui.
Após orarmos pela obra de Deus aqui, passamos a orar pelas nossas próprias necessidades. O pedido "o pão nosso de cada dia dá-nos hoje" manifesta o nosso reconhecimento que dependemos de Deus para as nossas necessidades, tanto físicas como espirituais.
Ao pedirmos perdão pelos nossos pecados (infrações e omissões da perfeição requerida da nossa posição de filhos de Deus), devemos também já ter perdoado aos que nos prejudicaram de alguma forma, tornando-se assim nossos devedores. Convém sempre lembrar que a dívida que Deus já nos perdoou, que custou o precioso sangue de Cristo, é sempre maior do que qualquer uma que alguém tenha para conosco. É difícil mantermos nossa comunhão com Deus se não perdoarmos aqueles que nos ofendem, obedecendo ao Seu mandamento.
As tentações nos sobrevêm, e o sentido desta oração é que Deus não permita que fiquemos nelas, manifestando assim reconhecer nossa fraqueza e dependência na Sua proteção. O "mal" é o Maligno que nos ataca, e pedimos nosso livramento dele.
As últimas palavras "porque Teu é o reino, e o poder, e a glória, para sempre. Amém!" não aparecem em alguns manuscritos antigos, embora estejam na maioria. Não obstante, são uma realidade que nos alegra o coração.
Esta era outra forma de hipocrisia religiosa naquele tempo e o Senhor Jesus estava criticando o esforço daqueles que procuravam adquirir fama de piedosos, mediante uma aparência triste e um rosto desfigurado para que parecessem estar jejuando.
Seu propósito era obter a admiração das pessoas, e o seu galardão foi o elogio que recebiam. Hoje em dia tais hipócritas se vestem de forma diferente ao usual, enfeitam-se com cruzes, e usam outros artifícios para chamarem atenção para si. É ridículo procurar parecer ser piedoso.
Os que realmente são piedosos não procuram aplauso. A piedade consiste em viver em obediência aos desejos de Deus, expressos em Sua Palavra, e não em fingir ser algo que não somos, para impressionar favoravelmente o público.
A lei de Moisés só estabelecia um jejum, no dia da Expiação (Levítico 16:29-34), ao qual Lucas se referiu em Atos 27:9, "o tempo do jejum", mas outros quatro dias de jejum aparentemente foram introduzidos mais tarde para celebrar desastres nacionais. Há muitos casos de jejuns particulares mencionados, os mais notáveis sendo os de Moisés, Elias, e do próprio Senhor Jesus, todos os três por quarenta dias.
Na igreja primitiva, o jejum é encontrado junto com a oração em ocasiões em que a direção de Deus era pedida para a tomada de grandes decisões.
O jejum é portanto facultativo, junto com a oração, visando uma mais intensa focalização em determinado assunto, deixando de lado a satisfação das necessidades físicas para maior dedicação às espirituais.
1 Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles; aliás, não tereis galardão junto de vosso Pai, que está nos céus.
2 Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.
3 Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita,
4 para que a tua esmola seja dada ocultamente, e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente.
5 E, quando orares, não sejas como os hipócritas, pois se comprazem em orar em pé nas sinagogas e às esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.
6 Mas tu, quando orares, entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai, que vê o que está oculto; e teu Pai, que vê o que está oculto, te recompensará.
7 E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que, por muito falarem, serão ouvidos.
8 Não vos assemelheis, pois, a eles, porque vosso Pai sabe o que vos é necessário antes de vós lho pedirdes.
9 Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome.
10 Venha o teu Reino. Seja feita a tua vontade, tanto na terra como no céu.
11 O pão nosso de cada dia dá-nos hoje.
12 Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores.
13 E não nos induzas à tentação, mas livra-nos do mal; porque teu é o Reino, e o poder, e a glória, para sempre. Amém!
14 Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós.
15 Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as vossas ofensas.
16 E, quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas, porque desfiguram o rosto, para que aos homens pareça que jejuam. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.
17 Porém tu, quando jejuares, unge a cabeça e lava o rosto,
18 para não pareceres aos homens que jejuas, mas sim a teu Pai, que está oculto; e teu Pai, que vê o que está oculto, te recompensará.
Mateus capítulo 6 vers. 1-18