Mateus, assim como os outros evangelistas, não está escrevendo uma biografia do Messias, mas relata apenas os fatos relevantes ao seu tema, que é mostrar que Jesus era o Rei de Israel e o Messias prometido nas profecias do Velho Testamento, dando seu testemunho pessoal sobre a Sua pessoa.
Isto explica uma lacuna de cerca de um ano entre o versículo 11 e 12 deste capítulo, durante o qual o Senhor Jesus, voltando do deserto após a sua tentação, passou novamente por João Batista, foi apresentado a André, Simão a quem apelidou de Pedro, Filipe, Natanael, e fez o seu primeiro milagre em Caná da Galiléia.
Com esses discípulos, sua mãe e seus irmãos ele desceu para Cafarnaum na Galiléia, depois subiu novamente a Jerusalém quando se aproximava a Páscoa judaica, purificou o templo dos que ali faziam comércio, fez sinais miraculosos e entrevistou o fariseu Nicodemos, uma autoridade religiosa, a quem explicou o Evangelho (João 3:14-18).
Depois foi com seus discípulos para a Judéia, e muitos vieram até ele, mais do que a João, e foram batizados pelos seus discípulos.
Voltou depois para a Galiléia passando por Samaria, onde teve o célebre diálogo com a mulher samaritana, resultando em muitos samaritanos crerem nEle. Passou também por Caná outra vez, de onde curou o filho de um oficial do rei que se encontrava distante dali, em Cafarnaum.
Estes fatos são todos relatados no Evangelho de João, capítulos 1:29 a 4:54.
É neste ponto que Mateus continua o seu Evangelho, explicando que Jesus havia voltado para a Galiléia depois de ouvir que João Batista tinha sido preso.
O Senhor Jesus transferiu sua residência para Cafarnaum, na margem do mar da Galiléia, depois de ser rejeitado pelos judeus na sinagoga de Nazaré. Estes procuraram matá-lo quando mencionou os casos de dois gentios, a viúva de Sarepta e Naamã, o sírio, a quem Deus atendeu ao invés do povo de Israel (Lucas 4:16-30).
Com isto foi cumprida mais uma profecia do Velho Testamento (Isaías 9:1,2), de que os habitantes do caminho do mar, a Galiléia dos gentios, na terra das tribos de Zebulon e Naftali, que viviam nas trevas veriam uma grande luz, representando o Messias que lhes traria a vida eterna.
De fato, o Senhor Jesus começou a pregar ali o arrependimento, porque o Reino dos céus estava próximo. Era a mensagem pregada por João Batista como arauto, mas o Senhor Jesus era o próprio Rei, e desejava que o povo passasse por uma transformação moral a fim de se habilitarem a ser os Seus súditos.
Na margem do mar da Galiléia o Senhor Jesus novamente encontrou Simão, que Ele chamara de Pedro, e André. Os dois estavam trabalhando em sua profissão de pescadores.
Lucas nos relata no seu Evangelho que o Senhor Jesus havia curado a sogra de Simão de uma enfermidade grave, e que nesta ocasião Simão e André saíram a pescar sem qualquer sucesso até que o Senhor Jesus lhes indicou onde lançar as redes. Pescaram tantos peixes que tiveram que pedir auxílio pois o barco afundava com o peso.
Simão ficou muito impressionado, e pediu que o Senhor se afastasse porque ele (Simão) era um homem pecador (Lucas 5:1-7).
Desta vez Ele os convidou para O seguirem, para aprender a ser "pescadores de homens". Para isso tinham que conhecer a Cristo pessoalmente, acompanhando os Seus passos e recebendo o Seu ensino. Teriam que seguir o Seu exemplo. Ele seria seu Mestre, ou Rabino, nome pelo qual eles o chamavam.
Teriam que conhecer o Seu caráter, para mais tarde imitá-lo nesse novo serviço. O seu caráter deveria se tornar piedoso, o que era mais importante do que eloqüência, conhecimento de filosofia e habilidade em argumentação.
Assim como todo pescador, o pescador de homens precisa aprender onde encontrar os "peixes", usar a isca apropriada, sofrer com paciência o desconforto e a inconveniência, e ficar fora de vista.
Simão e André prontamente atenderam ao chamado e deixaram tudo o que faziam. Já sabiam que Jesus era o Messias de Deus.
Em seguida, dois outros irmãos, também pescadores, foram chamados: Tiago e João. Eles tinham ajudado naquela pescaria, e sem dúvida também sabiam quem era Jesus, por isso não titubearam em deixar o barco nas mãos do seu pai, Zebedeu, e seus empregados e seguirem após o Senhor Jesus, a quem deram toda a prioridade.
Estes discípulos, corajosamente dispostos a deixar tudo para seguir o seu Mestre, foram nomeados apóstolos mais tarde e tiveram importância fundamental para a pregação do Evangelho, começando em Jerusalém e depois por todo o mundo.
Ainda hoje, quase dois milênios mais tarde, são muito conhecidos e continuamos aprendendo das duas cartas de Pedro, e do Evangelho e três cartas de João. Se estes pescadores tivessem rejeitado o convite do Senhor Jesus e continuado em suas humildes profissões, eles teriam sido esquecidos pouco depois da sua morte.
O ministério do Senhor Jesus envolvia três aspectos:
O ensino nas sinagogas: as sinagogas eram estabelecimentos de ensino, não havendo separação entre o "secular" e o "religioso". Os professores eram os levitas, "doutores da lei", cuja função principal era o ensino. No entanto, permitiram que o Senhor Jesus usasse da palavra, sem dúvida por causa do seu profundo conhecimento das Escrituras e a autoridade com que ensinava.
A pregação das boas novas (evangelho) do Reino: o Senhor Jesus não se limitava ao ensino nas sinagogas, mas também ensinava os seus discípulos e as multidões que vinham ouvi-lo. Temos exemplos do seu ensino nos capítulos 5 a 7.
A cura das enfermidades e doenças do povo: um dos propósitos dos milagres de cura, chamados "sinais", era demonstrar a todos a Sua identidade divina, assim autenticando o Seu ministério (Hebreus 2:3,4).
Esta foi a primeira de três "viagens missionárias" feitas pelo Senhor Jesus através da província romana da Galiléia. Desta vez foi acompanhado dos quatro pescadores que ele havia convocado.
Na segunda vez levou os doze apóstolos. Na terceira ele mandou os doze na frente, dois a dois, e seguiu-os depois. Ele ensinava o evangelho do Reino nas sinagogas, mas também nas ruas e estradas onde os gentios podiam ouvir.
No versículo 23 a palavra "evangelho" aparece pela primeira vez na Bíblia. Significa simplesmente "boas notícias de salvação", e se resume nas palavras do Senhor Jesus a Nicodemos: "Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna" (João 3:16).
Naquele tempo não havia rádio, menos ainda televisão, mas as notícias espantosas sobre o Messias, seu ensino e as curas que operava, se alastravam rapidamente de boca em boca, e não é de admirar que vinha gente de toda a parte até a Galiléia para conhecê-lo. Vinham até gentios da Síria.
O resultado não se fez esperar: era como um hospital ambulante com milhares de pacientes pedindo cura, além dos curiosos e dos que realmente desejavam comprovar a realidade da Sua pessoa. Doenças crônicas e incuráveis de toda a espécie se encontravam na multidão, bem como endemoninhados, loucos, paraplégicos, epilépticos, doenças estas chamadas de "tormentos". Eram multidões e multidões.
12 Jesus, porém, ouvindo que João estava preso, voltou para a Galiléia.
13 E, deixando Nazaré, foi habitar em Cafarnaum, cidade marítima, nos confins de Zebulom e Naftali,
14 para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta Isaías, que diz:
15 A terra de Zebulom e a terra de Naftali, junto ao caminho do mar, além do Jordão, a Galiléia das nações,
16 o povo que estava assentado em trevas viu uma grande luz; e aos que estavam assentados na região e sombra da morte a luz raiou.
17 Desde então, começou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos céus.
18 E Jesus, andando junto ao mar da Galiléia, viu dois irmãos, Simão, chamado Pedro, e André, os quais lançavam as redes ao mar, porque eram pescadores.
19 E disse-lhes: Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens.
20 Então, eles, deixando logo as redes, seguiram-no.
21 E, adiantando-se dali, viu outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, num barco com Zebedeu, seu pai, consertando as redes; e chamou-os.
22 Eles, deixando imediatamente o barco e seu pai, seguiram-no.
23 E percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas suas sinagogas, e pregando o evangelho do Reino, e curando todas as enfermidades e moléstias entre o povo.
24 E a sua fama correu por toda a Síria; e traziam-lhe todos os que padeciam acometidos de várias enfermidades e tormentos, os endemoninhados, os lunáticos e os paralíticos, e ele os curava.
25 E seguia-o uma grande multidão da Galiléia, de Decápolis, de Jerusalém, da Judéia e dalém do Jordão.
Mateus capítulo 4 vers.12 a 25