Depois de um silêncio de quatro séculos a partir da última profecia, a de Malaquias, vemos neste livro o aparecimento do Messias prometido, o ungido de Deus, ou Cristo no idioma grego em que foi escrito o Novo Testamento. Ele é mencionado entre as últimas frases de Malaquias, era ansiosamente aguardado pela nação de Israel, e aparece logo no primeiro versículo deste livro, o primeiro do Novo Testamento.
O nome do autor deste Evangelho, ou Boas Notícias, era Mateus, que em hebraico significa "presente de Deus". Este era um nome comum entre os judeus que voltaram do exílio da Babilônia. Originalmente um cobrador de impostos na região da Galiléia ele se chamava Levi, filho de Alfeu (Marcos 2:14, Lucas 5:27). Um dia, o Senhor Jesus passou pela sua coletoria e lhe disse "siga-me".
Levi levantou-se e O seguiu, dando em seguida um banquete de despedida aos seus colegas e amigos com a presença do Senhor Jesus e outros discípulos (cap. 9:9-12). Recebeu o apelido de Mateus e foi mais tarde escolhido para ser um dos apóstolos do Messias.
Além deste Evangelho, no qual registra as suas experiências e outros fatos que aprendeu a respeito da vida do Senhor Jesus, pouco mais sabemos a seu respeito.
Em seu relato ele apresenta o Senhor Jesus como o legítimo rei de Israel, começando imediatamente a informar a Sua genealogia através do seu pai José. Embora José não fosse o pai natural, a sua paternidade legal conferia ao seu Filho o direito por herança ao trono de Israel por ser descendente direto de Davi através dos reis do reino de Judá, que o sucederam.
No começo do Velho Testamento temos o "livro das gerações de Adão". Na Bíblia inteira não encontramos mais referência a um livro das gerações, mas aqui, no início do Novo Testamento, temos o "livro da geração de Jesus Cristo".
O "livro das gerações de Adão" nos lembra que todos os que fazemos parte da humanidade estamos na descendência de Adão, e dele herdamos uma natureza dominada pelo pecado. Entramos no livro ao nascermos, sem que nossa vontade tenha sido consultada. Em Adão todos morrem (Romanos 5:12), logo esse é um livro de morte.
Já o "livro da geração de Jesus Cristo", nos lembra o "livro da vida do Cordeiro" de que trata o Apocalipse (13:8, 21:27). A inscrição do nome de cada um nesse livro também é feita por um nascimento, mas é um nascimento que depende da nossa vontade (João 3:3). O registro é feito quando colocamos a nossa fé na obra remidora de Cristo e o recebemos como nosso único e perfeito Senhor e Salvador.
Essa genealogia, que dá início ao seu livro e também ao Novo Testamento, é em alguns aspectos um dos documentos mais importantes de toda a Bíblia.
Para a nação de Israel genealogias eram muito importantes porque eram a evidência da legitimidade da reivindicação de cada cidadão aos direitos pertinentes à sua linhagem, incluindo os direitos de herança de propriedades.
Os registros de nascimento eram portanto feitos com muito cuidado pelos escribas e guardados permanentemente, possivelmente mesmo dentro do templo. Vemos por exemplo, no livro de Esdras, por sinal ele próprio um escriba de alta posição, "Estes buscaram o seu registro entre os que estavam registrados nas genealogias, mas não se acharam nelas; pelo que por imundos foram rejeitados do sacerdócio" (Esdras 2:62).
Esdras viveu quando o povo voltava do cativeiro na Babilônia, mas ainda tinham o registro das genealogias, e foi possível negar direitos àqueles que não tinham o seu nome registrado.
Ao tempo em que Cristo nasceu, os judeus foram obrigados pelo imperador a se apresentarem cada um em sua cidade para se alistar (e pagar o imposto) e José e Maria foram até a cidade de Davi, Belém, sabendo que eram ambos da sua linhagem conforme o registro genealógico em poder das autoridades.
A legitimidade do Senhor Jesus como o Messias prometido por Deus é também comprovada por ela, pois inúmeras profecias do Velho Testamento declaram que o Messias viria da descendência de Davi, tendo assim o direito ao seu trono, que virá ocupar.
Os inimigos de Jesus Cristo poderiam ter conferido a sua linhagem, e provavelmente o fizeram, pois desejavam de toda a forma obter evidências de que ele não podia ser o Messias, conforme ele declarava. É de se notar que embora o rejeitassem por motivos pessoais, chegando até a inventar uma explicação para a Sua ressurreição, nunca puderam dar como motivo a sua linhagem, confirmando assim a sua legitimidade.
Mateus começa a genealogia desde Abraão, a quem Deus separou da sua terra e da sua parentela para fazer dele o precursor de uma grande nação, Israel, e em cuja posteridade seriam abençoadas todas as nações da terra (Gênesis 22:18). Não se trata de muitas "posteridades" mas de uma só, Jesus Cristo (Gálatas 3:16). Isto é comprovado nesta genealogia, pois termina na pessoa do seu último descendente nesta genealogia, "Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão".
Mateus aponta o fato curioso e bastante significante que a genealogia que ele transcreveu contém três períodos distintos, cada um iniciando e terminando em um acontecimento marcante na história de Israel, sendo cada um de quatorze gerações (duas vezes o número sete, da perfeição): de Abraão até Davi, de Salomão até o cativeiro na Babilônia e de depois do exílio até Jesus o Messias.
No primeiro período, observamos os nomes de quatro mulheres. É extraordinário o fato de terem sido incluídas na genealogia de Cristo, pois não se colocava o nome das mães nas genealogias, mesmo no tempo do Senhor Jesus.
Deduzimos então, que deveria haver um motivo especial para que fossem incluidas aqui por inspiração do Espírito Santo.
Todas elas tinham em comum o fato de serem mulheres gentias: duas cananéias, uma moabita, e uma hitita. Isto nos salta aos olhos, pois na lei de Moisés o povo foi proibido de tomar para si mulheres entre os gentios pagãos que os cercavam. Verifiquemos o que a Bíblia nos diz sobre elas:
Tamar foi protagonista em um episódio repugnante contado em Gênesis 38. Mulher injustiçada, mas pecadora.
Raabe possivelmente é aquela mencionada em Josué. Não tinha bom caráter até que colocou a sua fé no verdadeiro Deus, o SENHOR de Israel, e a demonstrou pondo em risco a própria vida para salvar dois israelitas (Hebreus 11:31).
Rute tinha um belo caráter, era leal à sua sogra e adotou o seu Deus. Mas moabitas e amonitas não podiam entrar na congregação do SENHOR. No entanto um homem chamado Boaz, parente do seu falecido marido, teve amor por ela e a resgatou casando-se com ela. Ela lhe perguntou: "Por que achei graça em teus olhos?" (Rute 2:10). Ela alcançou graça.
Bate-Seba, que tinha sido mulher de Urias, não é mencionada por nome nesta genealogia, mas é identificada como a mãe de Salomão. Foi vítima do desejo libidinoso do rei Davi, que depois virtualmente assassinou o seu marido (2 Samuel 11,12). O rei arrependeu-se, mas assim mesmo teve que pagar pelo seu pecado. Foi protegida por Deus, que não lhe atribuiu pecado.
Colocando as palavras em negrito lado a lado, vemos uma progressão dando-nos a história da salvação, motivo da vinda de Cristo ao mundo: o pecador mediante a fé é salvo pela graça de Deus e é protegido contra a condenação.
No Evangelho de Lucas encontramos outra genealogia do Senhor Jesus, desta vez a de Maria. Também era descendente de Davi, mas através do seu filho Natã ao invés de Salomão. Assim, Jesus Cristo não foi descendente natural do rei Jeconias, conforme a palavra do SENHOR a ele, devido à sua maldade (Jeremias 22:24,30).
1 Livro da geração de Jesus Cristo, Filho de Davi, Filho de Abraão.
2 Abraão gerou a Isaque, e Isaque gerou a Jacó, e Jacó gerou a Judá e a seus irmãos,
3 e Judá gerou de Tamar a Perez e a Zerá, e Perez gerou a Esrom, e Esrom gerou a Arão.
4 Arão gerou a Aminadabe, e Aminadabe gerou a Naassom, e Naassom gerou a Salmom,
5 e Salmom gerou de Raabe a Boaz, e Boaz gerou de Rute a Obede, e Obede gerou a Jessé.
6 Jessé gerou ao rei Davi, e o rei Davi gerou a Salomão da que foi mulher de Urias.
7 Salomão gerou a Roboão, e Roboão gerou a Abias, e Abias gerou a Asa,
8 e Asa gerou a Josafá, e Josafá gerou a Jorão, e Jorão gerou a Uzias,
9 e Uzias gerou a Jotão, e Jotão gerou a Acaz, e Acaz gerou a Ezequias.
10 Ezequias gerou a Manassés, e Manassés gerou a Amom, e Amom gerou a Josias,
11 e Josias gerou a Jeconias e a seus irmãos na deportação para a Babilônia.
12 E, depois da deportação para a Babilônia, Jeconias gerou a Salatiel, e Salatiel gerou a Zorobabel,
13 e Zorobabel gerou a Abiúde, e Abiúde gerou a Eliaquim, e Eliaquim gerou a Azor,
14 e Azor gerou a Sadoque, e Sadoque gerou a Aquim, e Aquim gerou a Eliúde,
15 e Eliúde gerou a Eleazar, e Eleazar gerou a Matã, e Matã gerou a Jacó,
16 e Jacó gerou a José, marido de Maria, da qual nasceu JESUS, que se chama o Cristo.
17 De sorte que todas as gerações, desde Abraão até Davi, são catorze gerações; e, desde Davi até a deportação para a Babilônia, catorze gerações; e, desde a deportação para a Babilônia até Cristo, catorze gerações.
Mateus capítulo 1 vers. 1-17