A narrativa deste Evangelho passa por um intervalo de silêncio de cerca de 30 anos, em que Jesus cresceu em sabedoria, estatura e graça diante de Deus e dos homens, junto com seus pais e seus irmãos em Nazaré, obedecendo aos seus pais e agradando a Deus (Lucas 2:51-52 e Mateus 3:17).
Estava chegando a hora de iniciar o Seu ministério, e Deus havia já fornecido e equipado um mensageiro apropriado para preparar o Seu caminho, de conformidade com a profecia de Isaías proferida sete séculos antes (cap. 40:3-5, cp. Malaquias 3:1 e 4:5).
O seu arauto, ou proclamador, foi João (Favor de Deus), sobre quem encontramos mais detalhes no primeiro capítulo do evangelho de Lucas. Foi apelidado de "o batista", porque se tornou notório pelos batismos que executava no rio Jordão.
João Batista era filho de pais descendentes de Arão, ambos declarados "justos aos olhos de Deus, obedecendo de modo irrepreensível a todos os mandamentos e preceitos do Senhor" (Lucas 1:5,6). Sua mãe era aparentada com Maria, mãe de Jesus. O seu nascimento foi um milagre, pois sua mãe era idosa e estéril, e ele tinha o Espírito Santo mesmo antes de nascer (Lucas 1:15).
Como menino João cresceu e se fortaleceu em espírito e viveu no deserto, uma região árida entre Jerusalém e o rio Jordão, até aparecer publicamente a Israel (Lucas 1:80) mediante o chamado do Senhor no ano 15 do reinado de Tibério César (29 a.D.).
Além de pertencer à família sacerdotal, ele não tomava bebida alcoólica, vestia-se de pêlos de camelo, usava um cinto de couro na cintura e se alimentava de gafanhotos e mel silvestre.
A mensagem dada a João Batista para proclamar ao povo era: "Arrependam-se pois o Reino dos céus está próximo".
O verbo arrepender é tradução do grego metanoia que significa reconsiderar. É o mesmo que converter-se. É próprio de alguém que, vendo que está indo em direção errada, volta ao ponto de partida para tomar o caminho certo. Aplica-se ao povo de Deus em qualquer época, pois ele tende a se extraviar. Quatro igrejas que se desviavam entre as sete mencionadas nos capítulos 2 e 3 do Apocalipse foram ordenadas a se arrependerem.
Os que não pertencem a Deus estão perdidos, não importa a direção que tomem, salvo se entrarem pela "porta estreita", o próprio Senhor Jesus, para a salvação das suas almas. A eles o mandamento é que creiam no Messias Jesus, para serem salvos (Atos 16:31). Crer no Senhor Jesus implica em arrependimento, e mais ainda, é morrer para si e para o mundo e viver para Ele.
A expressão Reino dos céus só é usada neste Evangelho, onde ela aparece trinta e uma vezes, mas eqüivale ao reino de Deus, mencionado nos quatro. O reino dos céus é o lugar onde a autoridade de Deus é admitida, mas está apenas nas pessoas que se submetem à Sua vontade. Tem dois aspectos:
Encontramos cinco fases diferentes deste reino sobre a terra através da Bíblia:
Não podemos ter um reino sem que haja um rei, e o rei deste reino é o Senhor Jesus. João anunciava a chegada do Rei quando disse "o Reino dos céus está próximo". Eram as fases 2 e 3.
Cristo não está reinando sobre o mundo hoje, pois a fase 3 já passou. Aguardamos agora o dia em que Ele virá para estabelecer o Seu reino na terra, na fase 4 e finalmente a fase 5 quando todo o joelho se dobrará ante a Sua autoridade.
Embora o reino dos céus ainda não se encontre aqui, todos os que recebem a Cristo (o Messias) como seu Senhor e Salvador, tornam-se súditos do reino dos céus e usufruem das Suas bênçãos (João 3:3-5).
Vinha gente para ver e ouvir a mensagem de João, de Jerusalém, de toda a Judéia e de toda a região ao redor do Jordão, bem como as suas diretrizes para corrigir o seu comportamento (Lucas 3:11-14).
João Batista era grande aos olhos do Senhor, não tendo havido maior profeta do que ele (Lucas 7:28). O seu trajar lembrava o profeta Elias (2 Reis 1:8) que se vestia também assim. A sua maneira de vida e alimento austeros seriam uma viva reprimenda ao luxo e ambições da maioria do povo, especialmente os seus líderes.
Os que se arrependiam eram batizados (mergulhados) por João dentro do rio Jordão assim testemunhando a todos o seu arrependimento, para perdão dos seus pecados (Lucas 3:3).
O batismo de João, como o batismo cristão, era um testemunho público de arrependimento e conversão. Não concedia perdão ou qualquer virtude. O perdão vinha pelo arrependimento.
Isto foi tornado bem claro por João quando vieram os religiosos das seitas dos fariseus e saduceus para ouvi-lo. Querendo ser bem vistos pelo povo, que aceitava João como um profeta de Deus, eles se dispunham a submeter-se também ao seu batismo.
Sabendo que a sua capa de religiosidade escondia um interior maldoso e corrupto, João usou palavras duras para com eles, chamando-os de "raça de víboras".
Eles se orgulhavam de pertencer ao povo de Deus, descendendo de Abraão, como se o privilégio de terem nascido dentro da sua descendência os colocasse acima da necessidade de se submeterem às leis e preceitos de Deus, e fazer a Sua vontade. Mas João arrasou a sua presunção, dizendo que mesmo das pedras que estavam por ali Deus poderia suscitar filhos a Abraão.
Embora os fariseus se declarassem devotos à lei, eram hipócritas, arrogantes, corruptos e sectários. Os saduceus eram céticos que rejeitavam doutrinas básicas como a imortalidade da alma, a punição eterna, a existência dos anjos e a ressurreição.
Eles precisavam de um arrependimento sincero que fosse comprovado por um novo comportamento. Seria um ato de falsidade batizá-los.
O simples remorso pelo pecado não é arrependimento, menos ainda palavras piedosas de falsa santidade. Isso não tem valor algum. O verdadeiro arrependimento consiste em deixar de uma vez por todas o pecado e dirigir-se para o caminho reto da justiça e obediência a Deus.
Brevemente viria um ato de juízo por parte de Deus: a vinda de Cristo e a Sua presença iriam provar a todos, e quem não produzisse bom fruto seria cortado e destruído.
Haveria uma grande diferença entre o ministério de João e Alguém que viria após ele. Este era mais poderoso e imensamente superior. Enquanto João batizava com água para o arrependimento, Este batizaria com o Espírito Santo e com fogo.
O batismo do Espírito Santo veio no dia de Pentecostes, e o de fogo virá ainda no futuro, quando Cristo trouxer o Juízo de Deus sobre o mundo incrédulo e pecador.
1 E, naqueles dias, apareceu João Batista pregando no deserto da Judéia
2 e dizendo: Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos céus.
3 Porque este é o anunciado pelo profeta Isaías, que disse: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas.
4 E este João tinha a sua veste de pêlos de camelo e um cinto de couro em torno de seus lombos e alimentava-se de gafanhotos e de mel silvestre.
5 Então, ia ter com ele Jerusalém, e toda a Judéia, e toda a província adjacente ao Jordão;
6 e eram por ele batizados no rio Jordão, confessando os seus pecados.
7 E, vendo ele muitos dos fariseus e dos saduceus que vinham ao seu batismo, dizia-lhes: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira futura?
8 Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento
9 e não presumais de vós mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que mesmo destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão.
10 E também, agora, está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não produz bom fruto é cortada e lançada no fogo.
11 E eu, em verdade, vos batizo com água, para o arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu; não sou digno de levar as suas sandálias; ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo.
12 Em sua mão tem a pá, e limpará a sua eira, e recolherá no celeiro o seu trigo, e queimará a palha com fogo que nunca se apagará.
Mateus capítulo 3, vers. 1 a 12