Entre os quatro evangelistas, Mateus e Lucas são os únicos que fornecem algum detalhe sobre o nascimento do Senhor Jesus. Como Lucas destaca a humanidade da Sua pessoa, ele dá mais informações. Mateus verifica o cumprimento das profecias da antigüidade feitas sobre a vinda do Messias da parte de Deus, sendo Ele o legítimo Herdeiro do trono de Davi, portanto o Messias Rei.
Neste capítulo vemos o cumprimento de quatro profecias, três das quais pareciam conflitantes, mas cuja perfeita compatibilidade foi assim demonstrada:
O Messias nasceria em Belém, na terra de Judá (Miquéias 5:2).
O Messias seria chamado por Deus do Egito (Oséias 11:1).
O Messias seria chamado Nazareno, nome dado aos habitantes da cidade de Nazaré na Galiléia (talvez Isaías 11:1 no hebraico).
Notemos a interferência dos gentios na história para que as profecias se cumprissem: foi um decreto de um imperador romano que levou José e Maria a Belém para se alistar, ocasião em que seu Filho nasceu; foram magos do oriente que, ao indagarem no palácio do rei Herodes sobre o "recém-nascido rei dos judeus", impulsionaram este ciumento usurpador gentio a procurar matá-lo, obrigando seus pais a fugirem para o Egito; com a morte de Herodes eles voltaram à terra de Israel, mas foram morar em Nazaré para ficar fora do alcance do filho de Herodes que assumiu o trono da Judéia, Arquelau.
Temos aqui duas provas incontestáveis da divina inspiração da Bíblia:
Esta é a única referência feita na Bíblia à visita dos magos vindos do oriente. É muito sucinta, dando lugar a muitas suposições:
Quando foi? Temos dois indícios: o Menino se encontrava em uma casa com seus pais, e na tentativa de matá-lo Herodes mandou matar todas as crianças de dois anos para baixo, segundo o tempo que havia obtido dos magos. Provavelmente foi cerca de um ano depois do Seu nascimento.
Quantos eram? O número não éimportante. Deram presentes de três espécies, mas provavelmente eles eram mais, dada a perturbação que causaram em Jerusalém, preocupando o próprio Herodes.
Eram reis? Se o fossem, seria um detalhe importante que não teria escapado a Mateus. Reis não visitam outros países sem escolta e formalidades e teriam sido recebidos com honras por Herodes. Eram decerto apenas cientistas da época, bem informados sobre o judaísmo, tementes a Deus e pesquisadores da natureza.
Que estrela foi aquela? Os magos a viram no Oriente, e somente outra vez quando saíram da presença de Herodes, e ela foi adiante deles e se deteve onde se encontrava o Menino. Nenhuma estrela conhecida pode fazer tal coisa. Deve ter sido criada especialmente para esse fim.
Como puderam os magos interpretar a estrela como sendo a do novo rei dos judeus? Talvez os magos ligaram a profecia de Balaão (Números 24:17) com a de Daniel (Daniel 9:24) e Deus possivelmente atendeu ao seu anseio de ver o seu cumprimento dando-lhes a visão do aparecimento dessa estrela, cujas características diferiam de todas as conhecidas. Eles foram a Jerusalém para adorar o novo rei, que sabiam ser o Messias de Deus.
Mateus nos fala da preocupação de Herodes. O poder romano o havia colocado no trono de Jerusalém, e ele receava perder a sua posição, pois nem sequer pertencia ao povo judeu, sendo edomita, tradicionalmente uma raça árabe inimiga.
Os chefes dos sacerdotes do povo e os mestres da lei, escribas, convocados por Herodes souberam indicar precisamente onde o Messias havia de nascer: Belém da Judéia conforme Miquéias 5:2.
Sabendo agora onde havia nascido, Herodes informou-se com os magos sobre quando isso teria acontecido: seria a data em que viram a estrela subir no Oriente, no máximo dois anos antes.
Herodes então os enviou a Belém para O acharem, e os instruiu para que o avisassem em seguida. Escondeu deles a sua verdadeira intenção, que era de eliminá-lo, e os incentivou dizendo que queria adorá-lo com eles.
Com a informação recebida, os magos se dirigiram a Belém e a estrela os guiou até a casa onde o novo Rei se encontrava. Não era ainda um bebê recém-nascido numa manjedoura, como muitos pensam!
Os magos prostraram-se e adoraram o Menino (não sua mãe). Deram-lhe também presentes, dignos de um Rei (ouro), próprios para um Sacerdote (incenso), e perfume usado no embalsamento de um Morto (mirra). É surpreendente como esses magos conheciam já tão bem a missão do Messias de Deus!
Seus presentes nos lembram a profecia encontrada em Isaías 60:6, quando os povos de Sabá trarão ouro e incenso ao SENHOR. Não trarão mirra pois isso se dará no Milênio, e a Sua morte já ficou no passado.
Deus interveio em sonho advertindo-os para não voltarem a Herodes, decerto para a proteção deles e para dar tempo a José para levar embora a sua família.
Novamente Deus interveio enviando um anjo a José em sonho, instruindo-o para tomar o Menino e a sua mãe e fugir com eles para o Egito aténova ordem, porque Herodes iria procurar o Menino para matá-lo. Assim fez José, levantando-se imediatamente e fugindo com eles durante a noite para o Egito.
Herodes se enfureceu ao perceber que os magos não voltavam, e sem ter como identificar agora a casa onde o novo herdeiro ao trono estava, mandou matar todos os meninos de dois anos para baixo em Belém e nas proximidades. Segundo a informação obtida dos magos, sua idade estaria nessa faixa.
O número de crianças mortas não teria sido muito grande, pois a população daquela área era ainda pequena. Assim mesmo, o acontecimento já fora profetizado em Jeremias 31:15: Ramá estava a alguns quilômetros de Belém e foi incluída no morticínio.
Segundo os historiadores seculares, Herodes, chamado "o Grande" morreu em abril do ano 4 a.C. Na hipótese de que Jesus tenha tido um ano de idade quando levado para o Egito, e que Herodes tenha morrido seis meses depois, seu nascimento teria se dado em outubro do ano 6 a.C. Logo, nosso calendário tem um erro de uns seis anos.
Novamente um anjo do SENHOR apareceu a José em sonho, depois da morte de Herodes, instruindo-o para voltar à terra de Israel, pois estavam mortos os que procuravam tirar a vida do menino.
José obedeceu, mas ao chegar à Judeia, de onde havia saído, soube que Arquelau, o filho de Herodes, estava reinando ali em lugar de seu pai. A história nos diz que o reino de Herodes foi dividido entre três dos seus filhos, ficando Arquelau com a Judéia e Samaria, e Felipe e Antipas com o restante.
Temendo Arquelau, José levou sua família para morar em Nazaré da Galiléia (Arquelau foi um tirano e, atendendo ao clamor dos judeus, dois anos depois foi deposto pelo poder romano).
A Galiléia foi herdada pelo Herodes Antipas, um político hábil, e foi ele quem mandou degolar João Batista, e condenou o Senhor Jesus à morte.
A circunstância da família de José ter se mudado para Nazaré fez com que o Senhor Jesus fosse chamado Nazareno, assim dando cumprimento a outra profecia sobre o Messias.
1 E, tendo nascido Jesus em Belém da Judéia, no tempo do rei Herodes, eis que uns magos vieram do Oriente a Jerusalém,
2 e perguntaram: Onde está aquele que é nascido rei dos judeus? Porque vimos a sua estrela no Oriente e viemos a adorá-lo.
3 E o rei Herodes, ouvindo isso, perturbou-se, e toda a Jerusalém, com ele.
4 E, congregados todos os príncipes dos sacerdotes e os escribas do povo, perguntou-lhes onde havia de nascer o Cristo.
5 E eles lhe disseram: Em Belém da Judéia, porque assim está escrito pelo profeta:
6 E tu, Belém, terra de Judá, de modo nenhum és a menor entre as capitais de Judá, porque de ti sairá o Guia que há de apascentar o meu povo de Israel.
7 Então, Herodes, chamando secretamente os magos, inquiriu exatamente deles acerca do tempo em que a estrela lhes aparecera.
8 E, enviando-os a Belém, disse: Ide, e perguntai diligentemente pelo menino, e, quando o achardes, participai-mo, para que também eu vá e o adore.
9 E, tendo eles ouvido o rei, partiram; e eis que a estrela que tinham visto no Oriente ia adiante deles, até que, chegando, se deteve sobre o lugar onde estava o menino.
10 E, vendo eles a estrela, alegraram-se muito com grande júbilo.
11 E, entrando na casa, acharam o menino com Maria, sua mãe, e, prostrando-se, o adoraram; e, abrindo os seus tesouros, lhe ofertaram dádivas: ouro, incenso e mirra.
12 E, sendo por divina revelação avisados em sonhos para que não voltassem para junto de Herodes, partiram para a sua terra por outro caminho.
13 E, tendo-se eles retirado, eis que o anjo do Senhor apareceu a José em sonhos, dizendo: Levanta-te, e toma o menino e sua mãe, e foge para o Egito, e demora-te lá até que eu te diga, porque Herodes há de procurar o menino para o matar.
14 E, levantando-se ele, tomou o menino e sua mãe, de noite, e foi para o Egito.
15 E esteve lá até à morte de Herodes, para que se cumprisse o que foi dito da parte do Senhor pelo profeta, que diz: Do Egito chamei o meu Filho.
16 Então, Herodes, vendo que tinha sido iludido pelos magos, irritou-se muito e mandou matar todos os meninos que havia em Belém e em todos os seus contornos, de dois anos para baixo, segundo o tempo que diligentemente inquirira dos magos.
17 Então, se cumpriu o que foi dito pelo profeta Jeremias, que diz:
18 Em Ramá se ouviu uma voz, lamentação, choro e grande pranto; era Raquel chorando os seus filhos e não querendo ser consolada, porque já não existiam.
19 Morto, porém, Herodes, eis que o anjo do Senhor apareceu, num sonho, a José, no Egito,
20 dizendo: Levanta-te, e toma o menino e sua mãe, e vai para a terra de Israel, porque já estão mortos os que procuravam a morte do menino.
21 Então, ele se levantou, e tomou o menino e sua mãe, e foi para a terra de Israel.
22 E, ouvindo que Arquelau reinava na Judéia em lugar de Herodes, seu pai, receou ir para lá; mas, avisado em sonhos por divina revelação, foi para as regiões da Galiléia.
23 E chegou e habitou numa cidade chamada Nazaré, para que se cumprisse o que fora dito pelos profetas: Ele será chamado Nazareno.
Mateus, capítulo 2