Esta passagem se inicia com as palavras "naquele tempo", ou "naquela ocasião" sem especificar claramente quando. Mas era um sábado.
Para compreendermos bem a razão porque os fariseus davam tanta ênfase à guarda do dia do sábado, vejamos sua base:
A seita judaica dos fariseus se orgulhava de impor a lei mosaica em todos os seus detalhes, e a ela acrescentava a sua tradição, que exigia do povo mais obrigações ainda do que as requeridas na lei. Os fariseus eram notórios pela sua hipocrisia, ritualismo, falsa piedade e intolerância religiosa.
Os discípulos acompanhavam o Senhor Jesus e sentiram fome. Isso nos lembra as palavras de Cristo ao escriba que queria acompanhá-lo: "As raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça" (Mateus 8:20). Era um sacrifício segui-lo.
A lei permitia que nas searas alheias fossem apanhadas as espigas com as mãos, sem usar a foice (Deuteronômio 23:25). Era isso que os discípulos faziam para comer o grão, ainda cru.
Os fariseus consideravam que o que eles faziam era equivalente ao trabalho de ceifar e descascar o grão, trabalhos proibidos no sábado, e os acusaram de ilegalidade.
O Senhor preferiu não discutir a interpretação que faziam da lei, mas usou dois exemplos para mostrar que havia princípios mais importantes a observar do que os preceitos da lei, assim abrindo exceções justificadas:
Para atender a uma necessidade urgente: Quando Davi e seus companheiros estavam fugindo para se salvarem da perseguição injusta do rei Saul, tendo fome, eles entraram na Casa de Deus (o tabernáculo) e se serviram dos pães da proposição, alimento exclusivo dos sacerdotes (1Samuel 21:3-6). Isto era mesmo ilegal (acusação que faziam aos discípulos), mas Deus permitiu que o fizessem naquela emergência.
O Senhor Jesus era o verdadeiro Rei de Israel, e se a nação lhe tivesse dado o lugar que lhe pertencia, os Seus discípulos não estariam obrigados a comer os grãos de cereal que obtinham das espigas que apanhavam no campo.
Quando o trabalho é no serviço de Deus: os sacerdotes trabalhavam no templo aos sábados como obrigação legal, com isso profanando o sábado ao matar e sacrificar animais e fazendo muitos outros serviços, mas ficavam isentos de culpa porque eram feitos no templo. Os discípulos não exerciam o sacerdócio no templo, mas serviam na presença de Quem era maior do que o templo: Ele próprio. Somos informados que essa frase seria traduzida melhor como "o que é maior do que o templo". É realmente uma comparação mais adequada, e neste caso, o que é maior é o Reino de Deus, presente na pessoa do seu Rei. Se o templo não se sujeitava ao Sábado, muito menos o que era ainda maior do que ele. Os fariseus, que não criam que Cristo era o Messias, devem ter se escandalizado com essa afirmação.
Novamente o Senhor Jesus citou Oséias 6:6 "Misericórdia quero, e não sacrifícios" (cap. 9:13). Os fariseus nunca compreenderam bem o coração compassivo de Deus. Assim como eles, muitos hoje dão erradamente mais atenção ao cumprimento de práticas e costumes, do que ao principal mandamento do Senhor Jesus: "que vos ameis uns aos outros" (1 João 3:23).
A Sua declaração que "O Filho do Homem até do Sábado é Senhor" colocava o Messias na situação de representante da humanidade e defende a Sua superioridade nessa posição. Para os fariseus era blasfêmia e aumentou o seu ódio porque O colocava acima dos seus regulamentos.
Em seguida o Senhor Jesus foi até a sinagoga dos fariseus, e estando presente um homem com uma das mãos atrofiada, eles O puseram à prova perguntando se era permitido curar no sábado.
O foco da atenção era sem dúvida o homem, e os fariseus procuravam um motivo para acusar ao Senhor Jesus. Era um desafio, pois para ser coerente com o que havia dito anteriormente, Ele teria que curar aquele homem, infringindo a lei do sábado. Com isso eles admitiam que Ele tinha poder para curar aquele homem, e que quando um homem assim deficiente era colocado diante dele, Ele seria movido por compaixão para curá-lo.
O Senhor novamente fez uso de um exemplo para fundamentar a Sua resposta: qual deles não retiraria uma das suas ovelhas imediatamente de uma cova onde tivesse caído, num sábado?
Eles ficaram sem poder responder, sabendo que não podiam negar que estenderiam sua mão para tirá-la, se não por compaixão, pelo menos por causa do valor que ela lhes representava.
O Senhor então acrescenta "Quanto mais vale um homem do que uma ovelha!" E dá a resposta lógica "Portanto, é permitido fazer o bem no sábado". E, sem esperar qualquer contestação ele mandou que o homem estendesse a mão, ele obedeceu e sua mão ficou tão boa como a outra.
Os fariseus, derrotados, saíram e começaram a conspirar entre si, e também com os seus detestados rivais, os herodianos, em como poderiam matar, eliminando assim o Senhor Jesus (Marcos 3:6; Lucas 6:11).
Até essa ocasião os fariseus tinham estado observando as coisas extraordinárias que o Senhor Jesus fazia, sem dúvida conferindo cuidadosamente se ele cumpria a lei, e ouvindo o que Ele dizia, e a opinião que o povo tinha a respeito dele.
Eles não puderam encontrar qualquer defeito no que Ele fazia e dizia, e não podiam contestar os milagres que fazia abertamente em frente de todos os que estavam presentes. Mas eles rejeitavam a idéia que Ele era o Messias que todos esperavam, e tinham inveja da admiração que o povo tinha por Ele.
Sempre que enfrentavam o Senhor Jesus, eles levavam a pior, Ele demonstrava ter um conhecimento por demais correto a respeito deles, e não os respeitava.
Isso tudo alimentava o ódio que sentiam por Ele, e agora estavam dispostos até ao homicídio, quebrando o maior dos mandamentos: "Amarás ao Senhor teu Deus .... e ao teu próximo como a ti mesmo". O obstáculo era a admiração que o povo tinha por Ele.
1 Naquele tempo, passou Jesus pelas searas, em um sábado; e os seus discípulos, tendo fome, começaram a colher espigas e a comer.
2 E os fariseus, vendo isso, disseram-lhe: Eis que os teus discípulos fazem o que não é lícito fazer num sábado.
3 Ele, porém, lhes disse: Não tendes lido o que fez Davi, quando teve fome, ele e os que com ele estavam?
4 Como entrou na Casa de Deus e comeu os pães da proposição, que não lhe era lícito comer, nem aos que com ele estavam, mas só aos sacerdotes?
5 Ou não tendes lido na lei que, aos sábados, os sacerdotes no templo violam o sábado e ficam sem culpa?
6 Pois eu vos digo que está aqui quem é maior do que o templo.
7 Mas, se vós soubésseis o que significa: Misericórdia quero e não sacrifício, não condenaríeis os inocentes.
8 Porque o Filho do Homem até do sábado é Senhor.
9 E, partindo dali, chegou à sinagoga deles.
10 E estava ali um homem que tinha uma das mãos mirrada; e eles, para acusarem Jesus, o interrogaram, dizendo: É lícito curar nos sábados?
11 E ele lhes disse: Qual dentre vós será o homem que, tendo uma ovelha, se num sábado ela cair numa cova, não lançará mão dela e a levantará?
12 Pois quanto mais vale um homem do que uma ovelha? É, por conseqüência, lícito fazer bem nos sábados.
13 Então disse àquele homem: Estende a mão. E ele a estendeu, e ficou sã como a outra.
Mateus 12:1-13