Este trecho da Bíblia contém alguns dos conceitos mais difíceis de cumprir do Sermão do Monte, pois requerem uma absoluta fé em Deus e em Cristo, e o abandono da confiança em si próprio e nos recursos materiais deste mundo. Seu tema é: como encontrar a segurança para o futuro.
A prudência manda que se ajunte o que nos sobra agora para que não venhamos a passar necessidade no futuro. Ser providente é uma virtude bem reconhecida, mas nem sempre cultivada.
No entanto é natural que, com o tempo, haja alguma ansiedade sobre o futuro, e a preocupação de ajuntar um tesouro pode se tornar uma obsessão, que resulta em avareza. O amor do dinheiro é a raiz de toda espécie de males (1 Timóteo 6:10).
O Senhor Jesus ensina aqui que, em vez de ajuntar tesouro aqui na terra, devemos procurar ajuntar um tesouro nos céus, porque:
Não há segurança no tesouro juntado aqui: estásujeito a ser consumido pela traça e a ferrugem, e aos desfalques e roubos dos ladrões, ou seja, por melhor que o guardemos ou empreguemos, está sujeito a ser reduzido e perdido por fatores fora de nosso controle. O tesouro que juntarmos no céu estará seguro, não éperecível e está fora do alcance de agentes daninhos e da ação de terceiros.
Temos o maior interesse no lugar onde está o nosso tesouro: se estiver na terra, os interesses materiais serão colocados em primeiro lugar; se estiver no céu, nosso maior interesse estará nas coisas celestiais.
Perguntemos a nós mesmos ao que nos dedicamos mais: às nossas propriedades materiais, ou à Bíblia? É um pequeno teste.
Deixar de se dedicar ao acúmulo de bens e riquezas materiais para começar a construir um tesouro nos céus requer uma mudança total de visão.
O Senhor Jesus toma como exemplo o efeito dos olhos sobre o corpo humano: quem enxerga bem está todo "iluminado", isto é, pode ver com perfeição tudo o que se passa ao seu redor. Se os olhos não prestarem, haverá cegueira, uma escuridão completa, "grandes trevas".
Cristo, enviado por Deus, é a "luz do mundo". Se, mediante a fé em Sua pessoa, abrirmos nossos olhos espiritualmente para absorver a Sua luz, aceitaremos a realidade do que Ele está ensinando: deixaremos de nos interessar no acúmulo de bens materiais e lutaremos para acumular um tesouro no céu. Quem não faz isto, é espiritualmente cego: "Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas!".
É impossível para um crente dedicar-se ao acúmulo de riquezas e ao mesmo tempo servir a Deus: seria como um servo dedicado a dois senhores. Um tem que ter a primazia, rejeitando-se o outro. E Deus tem que vir em primeiro lugar.
O Senhor Jesus sabe que temos necessidades materiais, legítimas, e precisamos conseguir os recursos para satisfazê-las. É correto e justo que trabalhemos para isto: somos ensinados que "se alguém não quiser trabalhar, não coma também" (2 Tessalonicenses 3:10).
Mas não devemos ficar ansiosos pelo futuro, temendo que um dia o suprimento de nossas necessidades básicas, como o alimento e o vestuário, nos venham a faltar.
Esse tipo de preocupação nega o fato que toda a nossa provisão vem de Deus, e nos leva a dedicar as nossas maiores energias na obtenção de recursos para nos dar segurança no futuro.
Com isso deixamos de nos dedicar às coisas mais importantes da nossa vida, que são amar, adorar e servir a Deus, cuidando dos Seus interesses aqui no mundo, pois fomos criados e salvos para isto.
A provisão de Deus para as suas criaturas é demonstrada pela maneira em que os pássaros silvestres encontram o seu alimento. Eles não são dotados dos recursos que temos, no entanto têm tudo o que precisam.
Entre as Suas criaturas aqui na terra, o ser humano é o mais valioso de todos, e Ele ainda adota os que crêem no Senhor Jesus como seus próprios filhos. Podemos ter certeza que Ele tem muito mais cuidado de nós do que dos pássaros.
Isto não quer dizer que não devemos trabalhar para prover para o nosso sustento, e mesmo deixar de fazer provisão para os dias em que isso não nos for possível. O ensino é que, se Deus sustêm criaturas de ordem inferior sem que elas estejam conscientizadas disso, Ele ainda mais susterá aqueles para quem foi feita a criação, com a sua participação.
Ansiedade pelo futuro não só é uma ofensa a Deus, mas também é uma futilidade. A ansiedade não traz nenhum benefício. Ninguém pode acrescentar alguns centímetros à sua estatura, por mais que se preocupe. Seria relativamente mais fácil conseguir isso do que satisfazer todas as nossas necessidades por meio de ter ansiedade por elas.
O Senhor Jesus acrescenta que vemos o cuidado e capricho de Deus na beleza das flores. Sem trabalhar, nem tecer, elas têm uma beleza que nem Salomão em toda a sua glória conseguiu igualar em seu vestuário.
Se Deus faz isto com a erva do campo, de vida efêmera, Ele certamente cuidará dos seus filhos. Quem tem ansiedade pelo que vai vestir demonstra ter pouca fé.
A conclusão é que não devemos dedicar nossas vidas na busca ansiosa de alimentação e vestuário para o futuro. Os gentios não convertidos o fazem e vivem apenas para isso, como se a vida consistisse apenas em satisfazer suas necessidades materiais. Afinal, não contam com a presença de Deus em suas vidas.
O crente sabe melhor, e não deve ter ansiedade a respeito de tais coisas.
Nosso Pai celestial sabe muito bem que necessitamos de tudo isso. Se ainda assim perdermos todo o nosso tempo em sua busca, como os gentios não convertidos, não sobrará tempo para servi-lo.
Ao contrário, devemos "buscar primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça", ou seja, ter como prioridade em nossas vidas conhecer e viver para servir ao Senhor, confiando em Deus com respeito ao nosso futuro, certos de que Ele proverá tudo o que precisamos.
A promessa é que todas essas coisas materiais, necessárias para nós, nos serão acrescentadas às muitas outras bênçãos que Deus nos concederá.
Nosso futuro está nas competentes mãos de Deus. Ele é a nossa "previdência social", nossa segurança, tirando de nós toda a incerteza quanto ao porvir.
Trabalhemos para o presente, e não nos inquietemos pelo futuro, que está seguro. Vivamos apenas o dia-a-dia, pois "basta a cada dia o seu mal".
Alguém disse que "Hoje é o amanhã sobre o qual nos preocupávamos ontem". Que não seja o nosso caso!
O Senhor Jesus não estava condenando a prudência de preparar-se para enfrentar situações adversas, como perdas em negócios, desemprego, enfermidade, desemprego, etc. O que Ele condenou foi a obsessão em acumular riquezas, e a ansiedade com respeito ao futuro. Ambos decorrem de falta de fé na providência de Deus.
19 Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam.
20 Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam, nem roubam.
21 Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.
22 A candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz.
23 Se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso. Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas!
24 Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há de odiar um e amar o outro ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom.
25 Por isso, vos digo: não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo, mais do que a vestimenta?
26 Olhai para as aves do céu, que não semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas?
27 E qual de vós poderá, com todos os seus cuidados, acrescentar um côvado à sua estatura?
28 E, quanto ao vestuário, porque andais solícitos? Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham, nem fiam.
29 E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles.
30 Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, não vos vestirá muito mais a vós, homens de pequena fé?
31 Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos ou que beberemos ou com que nos vestiremos?
32 (Porque todas essas coisas os gentios procuram.) Decerto, vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas essas coisas;
33 Mas buscai primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas.
34 Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal.
Mateus capítulo 6 vers. 19 - 34