Antes de caminharem para o Monte das Oliveiras, o Senhor Jesus fez um maravilhoso discurso e uma oração, conforme registrado em João 14 a 17, começando ainda no aposento onde celebraram a Páscoa, depois, possivelmente, na rua (João 14:31). Não era mais obrigatório ficar em casa até o amanhecer, como no início (Êxodo 12:22).
Foi então que Ele alertou aos Seus discípulos que por causa dele ainda esta noite todos “tropeçariam”, significando que eles o abandonariam, conforme a profecia que Ele citou, encontrada em Zacarias 13:7).
Tendo Ele pouco antes dito que um deles o trairia, esta revelação fez todos sentirem a debilidade da sua fé no Messias. Decerto para tranqüilizá-los, Ele acrescentou que, depois de ressuscitar, Ele iria adiante deles para a Galiléia. Mesmo que eles falhassem, Ele não os abandonaria.
O Senhor conhecia muito bem os Seus discípulos, e sabia que a Sua prisão e morte viria como um grande choque para eles, embora Ele já os tivesse anteriormente informado que isso era necessário. Pedro, confiante em si, estava especialmente em perigo e o Senhor já havia orado por ele (Lucas 22:31-32).
Pedro imediatamente retrucou que mesmo que todos falhassem, ele nunca. O Senhor então profetizou que antes do cantar do galo ao amanhecer, nesta mesma noite, Pedro já o teria negado três vezes.
Pedro, e também os outros discípulos, protestou que nunca O negaria, podendo chegar até a morrer com Ele. Decerto estavam todos eles dispostos a lhe serem fiéis, mas ainda não haviam sido postos à prova. O Senhor Jesus conhecia os limites além dos quais os discípulos sucumbiriam, e eles iam logo saber também.
O Senhor foi com os Seus discípulos até um lugar chamado Getsêmani (lagar de azeite), um olival do outro lado do riacho de Cedrom (João 18:1), ao pé do Monte das Oliveiras, distante quase um quilômetro dos muros de Jerusalém.
Este lugar era bem conhecido pelos discípulos, pois o Senhor muitas vezes se reunira ali com eles (João 18:2). Retirado da cidade, podiam conversar e aprender ali com o Mestre sem serem interrompidos.
Mas esta ocasião era especial, e o Senhor Jesus estava carregado de emoção diante da perspectiva muito próxima de cumprir com a Sua missão de dar a Sua vida a fim de redimir os pecadores.
Deixando oito dos discípulos no lugar de costume, servindo como uma espécie de sentinelas, ele levou três deles consigo para orar mais à parte. Eram eles Pedro, Tiago e João os mesmos que estiveram com Ele no Monte da Transfiguração.
Expressando estar supremamente perturbado “até à morte”, pediu que ficassem ali e vigiassem com Ele. Já era tarde da noite, e a madrugada do dia fatal não tardaria. O traidor já estaria com os sacerdotes e a caminho, com o corpo da guarda do templo: Ele sabia disso.
Indo um pouco mais adiante o Senhor Jesus se prostrou com o rosto em terra: a atitude humilde do Servo diante do Seu Senhor, o Deus Pai. Nesta atitude Ele fez uma oração curta e comovente: “Meu Pai, se é possível, passe de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres.”
Segundo Marcos, Ele se referia “àquela hora” (Marcos 14:35) que, entendemos, seria o tempo desde a sua rendição aos Seu inimigos, prestes a chegar, até o momento em que Ele iria entregar o Seu espírito a Deus na cruz, um período de umas doze horas ao todo.
Ele declarou que “tudo é possível para o Pai” (Marcos 14:36): seria então possível resgatar os homens e mulheres pecadores sem que o Filho tivesse que passar por tão profunda humilhação e sofrimento? Foi para isso que Ele viera ao mundo, mas o Pai não poderia achar outra solução?
O Senhor, no entanto, revelou a Sua submissão: “não seja como eu quero, mas como tu queres”. Sua natureza humana recuava diante da hediondez infame da crucificação e dos insultos, vexames e sofrimentos que a precediam, mas sua natureza divina continuava obediente aos supremos ditames do Deus Pai.
Lucas nos informa que, neste momento, “apareceu-lhe um anjo do céu, que o fortalecia. E, posto em agonia, orava mais intensamente. E o seu suor tornou-se em grandes gotas de sangue, que corriam até ao chão” (Lucas 22:43-44). Anjos serviram ao Senhor Jesus ao término das três tentações que marcaram o início do Seu ministério, e um anjo veio para fortalecê-lo ao fim do Seu ministério, antes do Seu grande sacrifício.
Depois, o Senhor voltou aos seus discípulos, que deveriam estar vigiando e orando, e os encontrou dormindo. Estavam cansados, depois de tanta atividade naquele dia, e já eram altas horas da noite. Seus corpos estavam cansados.
O Senhor demonstrou surpresa ao encontrá-los dormindo, e declarou “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação”. Eles ainda não compreendiam a seriedade da sua situação e, mesmo tendo sido advertidos que iriam abandonar o Mestre, não cuidaram de estar atentos para a chegada do inimigo, nem orar para que Deus lhes desse forças para enfrentar a situação difícil que estava para vir.
Mas o Senhor também demonstrou compreensão, ao dizer, “na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca”. Estavam fisicamente cansados, o que fez que dormissem e os impediu de vigiar e orar, que estavam prontos a fazer. De certa forma era a experiência pela qual Ele próprio estava passando: seu espírito estava pronto para fazer a vontade de Deus, mas a sua carne, seu corpo humano, demonstrava a sua fragilidade nestas horas.
O Senhor voltou a orar, mas desta vez não foi tanto uma petição como uma declaração de conformidade com a vontade do Pai: “Pai meu, se este cálice não pode passar de mim sem eu o beber, faça-se a tua vontade.”
As palavras “se este cálice não pode passar” indicam uma condição já cumprida, em que se assume que isso é a realidade, e é a atitude que o Senhor tomou com relação à tentação implícita. O Senhor sabia que o que se passaria nas próximas doze horas era a única maneira possível de salvar os pecadores.
Em seguida foi outra vez ver os discípulos dormindo, voltou para orar repetindo a sua declaração e, sabendo que os inimigos já estavam próximos, foi acordar os discípulos.
Suas palavras “Dormi agora, e repousai”, logo seguidas da ordem para levantar, são interpretadas como ironia, repreensão, indagação, ou expressão de surpresa.
Mas agora havia chegado a hora para acordar e agir. Os discípulos, sonolentos, estavam mal preparados para isso, haviam perdido a oportunidade de confortar o Mestre na sua hora de maior provação e estavam totalmente indefesos quando o inimigo chegou com toda a sua força.
O Senhor Jesus, ao contrário, havia se fortalecido naqueles momentos de reflexão e comunhão em oração com o Pai, a tentação de voltar atrás, se é que houve, tinha sido vencida, e Ele estava determinado a terminar a obra que viera fazer no mundo.
O traidor estava chegando, e Ele seria entregue voluntariamente nas mãos de pecadores.
31 Então Jesus lhes disse: Todos vós esta noite vos escandalizareis em mim; porque está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas do rebanho se dispersarão.
32 Mas, depois de eu ressuscitar, irei adiante de vós para a Galiléia.
33 Mas Pedro, respondendo, disse-lhe: Ainda que todos se escandalizem em ti, eu nunca me escandalizarei.
34 Disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que, nesta mesma noite, antes que o galo cante, três vezes me negarás.
35 Disse-lhe Pedro: Ainda que me seja mister morrer contigo, não te negarei. E todos os discípulos disseram o mesmo.
36 Então chegou Jesus com eles a um lugar chamado Getsêmani, e disse a seus discípulos: Assentai-vos aqui, enquanto vou além orar.
37 E, levando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se muito.
38 Então lhes disse: A minha alma está cheia de tristeza até a morte; ficai aqui, e velai comigo.
39 E, indo um pouco mais para diante, prostrou-se sobre o seu rosto, orando e dizendo: Meu Pai, se é possível, passe de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres.
40 E, voltando para os seus discípulos, achou-os adormecidos; e disse a Pedro: Então nem uma hora pudeste velar comigo?
41 Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca.
42 E, indo segunda vez, orou, dizendo: Pai meu, se este cálice não pode passar de mim sem eu o beber, faça-se a tua vontade.
43 E, voltando, achou-os outra vez adormecidos; porque os seus olhos estavam pesados.
44 E, deixando-os de novo, foi orar pela terceira vez, dizendo as mesmas palavras.
45 Então chegou junto dos seus discípulos, e disse-lhes: Dormi agora, e repousai; eis que é chegada a hora, e o Filho do homem será entregue nas mãos dos pecadores.
46 Levantai-vos, partamos; eis que é chegado o que me trai.
Mateus capítulo 26 vers. 31 a 46