O Senhor Jesus nesta ocasião deixou, pela primeira vez, o território de Israel e entrou na região de Tiro e Sidom: era a chamada "Fenícia" (terra das palmeiras), uma faixa de terra de uns 30 quilômetros de largura ao longo do mar Mediterrâneo, ao norte da terra de Israel. Hoje forma parte do Líbano.
Marcos nos informa que "entrando numa casa, queria que ninguém o soubesse, mas não pôde esconder-se, porque uma mulher cuja filha tinha um espírito imundo, ouvindo falar dele, foi e lançou-se aos seus pés." (Marcos 7:24-25). Talvez esta seja a explicação do motivo porque os discípulos queriam mandá-la embora, quando ela veio gritando pedindo atenção para o problema da sua filha.
Essa mulher era "grega", adjetivo dado pelos judeus a todos os gentios. Sua nacionalidade era siro-fenícia, ou seja, era de origem síria, mas havia nascido na Fenícia. Nada tinha de israelita.
Além da repulsa dos discípulos do Senhor Jesus, ela encontrou também da parte dele três reações desanimadoras:
Seu silêncio: "Mas Ele não lhe respondeu palavra". Ela O havia chamado de Senhor, de Filho de Davi (reconhecendo a Sua linhagem real, cumprindo as profecias messiânicas) e havia pedido misericórdia, informando o motivo. Ela não desanimou com o silêncio, mas perseverou em clamar.
Uma recusa: "Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel." Israel era o povo de Deus que se achava perdido, e o Messias fora enviado por Deus para guiá-lo no caminho do arrependimento e conversão. Sua missão (inicialmente) se limitava a isto, e aquela gentia estava fora do âmbito da sua responsabilidade. Mas ela "chegou e adorou-o, dizendo: Senhor, socorre-me": A adoração se fazia prostrando-se em terra, como se fosse na presença da divindade.
Uma repreensão: "Não é bom pegar o pão dos filhos e deitá-lo aos cachorrinhos." Era uma pequena parábola, facilmente compreensível: assim como não se devia dar aos cachorrinhos o pão pertencente aos filhos, os benefícios provenientes da presença do Messias em Israel não deviam ser desfrutados por gentios. A mulher não se ofendeu, ao contrário, encontrou uma resposta humilde, mas sábia e convincente para beneficiar a sua filha: "Sim, Senhor, mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus senhores." Sem prejudicar os israelitas, os gentios também podiam desfrutar das bênçãos que eles recebiam.
Diante da grande fé demonstrada pela mulher, o Senhor Jesus prontamente atendeu ao seu pedido. É bom lembrar aqui que Ele sabia muito bem da fé da mulher - possivelmente ele havia ido até ali especialmente para atendê-la, sem que ela o soubesse - mas Ele quis que a sua fé fosse demonstrada diante de todos, em especial aos seus discípulos, que se encontravam em fase de "aprendizagem".
A atitude que Ele havia demonstrado para com a mulher nessa prova, seria exatamente a dos discípulos, por serem judeus. O desfecho lhes mostrou que Deus também ouve os gentios que O procuram e confiam em Seu Filho.
Feita essa demonstração, o Senhor voltou para a terra de Israel, mas continuou a se manter fora da jurisdição do seu inimigo, o Herodes Antipas (que o associava com o detestado João Batista). Foi "até ao mar da Galiléia, pelos confins de Decápolis." (Marcos 7:31). Estava no distrito do tetrarca Filipe, melhor que Antipas e que não tinha motivo para ressentir a presença dele.
Novamente o Senhor subiu um monte, assentou-se, e para lá foram as multidões levando seus enfermos para que Ele os curasse. Tal era a quantidade e a variedade dos males curados, que o povo se encheu de admiração: "mudos a falar, os aleijados sãos, os coxos a andar, e os cegos a ver". Em conseqüência, louvaram o Deus de Israel.
Passados três dias com o povo no monte, o Senhor submeteu os seus discípulos a uma nova prova de fé: tinha compaixão do povo e Ele não queria mandá-los embora famintos porque poderiam desfalecer pelo caminho. Aguardava sugestões …
Poucos dias antes eles haviam presenciado e participado da multiplicação de pães e peixes para mais gente ainda, onde todos comeram bem e havia sobrado ainda doze cestos (cap. 14:13-21). Porque não pensaram na possibilidade de repetir aquele milagre? Certamente não podiam ter esquecido, mas não sugeriram que fosse repetido nesta ocasião, apenas verificaram a comida que tinham com eles, e declararam que era insignificante para tanta gente.
Estaria o Senhor aguardando que eles pedissem novo milagre, certos que Ele o poderia fazer? Ou talvez eles não sabiam se era isso que Ele queria e por isso não pediam?
A Bíblia não responde a essas perguntas, mas sabemos que havia pelo menos uma diferença importante nas circunstâncias: o primeiro milagre foi realizado quando o Senhor estava ainda pregando o Seu reino para os judeus.
Foi um sinal para o povo da Sua autoridade, e do Seu poder para obter de Deus o sustento para o povo.
Nesta nova ocasião Ele estava treinando os Seus discípulos para serem seus apóstolos quando fosse elevado para os céus. Os discípulos precisavam aprender a não confiar em seus próprios recursos na execução da obra de Deus, mas a pedir que Deus lhes desse a provisão necessária, através e em nome do Seu Filho, o Senhor Jesus Cristo.
Novamente Ele alimentou a multidão. A lição foi repetida aos discípulos. Eles não criam facilmente, e, embora presenciassem todos esses sinais, ainda manifestavam dúvidas às vezes. Pouco depois, eles estavam discutindo a respeito de não terem levado pão suficiente com eles em uma viagem, e o Senhor teve que lembrá-los destes dois milagres (cap. 16:7-12).
Os dois milagres foram muito semelhantes, variando apenas as quantidades: pessoas presentes, pães, peixes e cestos do que sobrou. Tanto assim, que é comum esquecer que foram dois milagres feitos em ocasiões diferentes, e ouvimos pessoas se referirem ao milagre da multiplicação dos pães … Foram dois!
21 E, partindo Jesus dali, foi para as partes de Tiro e de Sidom.
22 E eis que uma mulher cananéia, que saíra daquelas cercanias, clamou, dizendo: Senhor, Filho de Davi, tem misericórdia de mim, que minha filha está miseravelmente endemoninhada.
23 Mas ele não lhe respondeu palavra. E os seus discípulos, chegando ao pé dele, rogaram-lhe, dizendo: Despede-a, que vem gritando atrás de nós.
24 E ele, respondendo, disse: Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel.
25 Então, chegou ela e adorou-o, dizendo: Senhor, socorre-me.
26 Ele, porém, respondendo, disse: Não é bom pegar o pão dos filhos e deitá-lo aos cachorrinhos.
27 E ela disse: Sim, Senhor, mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus senhores.
28 Então, respondeu Jesus e disse-lhe: Ó mulher, grande é a tua fé. Seja isso feito para contigo, como tu desejas. E, desde aquela hora, a sua filha ficou sã.
29 Partindo Jesus dali, chegou ao pé do mar da Galiléia e, subindo a um monte, assentou-se lá.
30 E veio ter com ele muito povo, que trazia coxos, cegos, mudos, aleijados e outros muitos; e os puseram aos pés de Jesus, e ele os sarou,
31 de tal sorte que a multidão se maravilhou vendo os mudos a falar, os aleijados sãos, os coxos a andar, e os cegos a ver; e glorificava o Deus de Israel.
32 E Jesus, chamando os seus discípulos, disse: Tenho compaixão da multidão, porque já está comigo há três dias e não tem o que comer, e não quero despedi-la em jejum, para que não desfaleça no caminho.
33 E os seus discípulos disseram-lhe: Donde nos viriam num deserto tantos pães, para saciar tal multidão?
34 E Jesus disse-lhes: Quantos pães tendes? E eles disseram: Sete e uns poucos peixinhos.
35 Então, mandou à multidão que se assentasse no chão.
36 E, tomando os sete pães e os peixes e dando graças, partiu-os e deu-os aos seus discípulos, e os discípulos, à multidão.
37 E todos comeram e se saciaram, e levantaram, do que sobejou, sete cestos cheios de pedaços.
38 Ora, os que tinham comido eram quatro mil homens, além de mulheres e crianças.
39 E, tendo despedido a multidão, entrou no barco e dirigiu-se ao território de Magdala.
Mateus capítulo 15 vers. 21 a 39