Era a tarde da segunda-feira, dois dias antes da Páscoa que seria celebrada na quarta-feira dessa semana. O Senhor Jesus, pela quarta e última vez, predisse aos Seus discípulos que Ele seria entregue para ser crucificado na Páscoa (as vezes anteriores foram em 16:21, 17:23 e 20:18).
Logo após, os líderes religiosos, os judiciais e os civis (sacerdotes, levitas, anciãos) se reuniram para planejar uma maneira de prender e matar Jesus Cristo. Era fácil encontrá-lo abertamente, mas eles temiam as multidões e concluíram que só o fariam depois da Páscoa, sutilmente, para não haver alvoroço entre o povo.
Mas o Senhor já havia determinado que seria na Páscoa como de fato foi, demonstrando mais uma vez a Sua soberania sobre tudo.
Em seguida Mateus se volta a um episódio ocorrido quatro dias antes em Betânia, na casa de Simão o leproso (um leproso não podia conviver com pessoas sadias, portanto, ou ele estava ausente e estavam usando a sua casa, ou havia sido curado).
Temos mais detalhes no Evangelho de João 12:2-8, onde aprendemos que estavam também presentes Lázaro, Maria e Marta que servia à mesa.
João identifica a mulher com o vaso de alabastro contendo ungüento de grande valor como sendo Maria. Ela quebrou o frasco e derramou o perfume muito caro na cabeça do Senhor, enquanto Ele se encontrava reclinado à mesa, e também sobre os seus pés, que ela enxugou com seus próprios cabelos.
Foi um ato de grande devoção, demonstrando o alto conceito que ela tinha dele e preparando-o para a morte que Ele iria enfrentar.
Mas houve críticas dos discípulos (segundo João partiram de Judas Iscariotes, mas decerto os outros concordavam), declarando que era um desperdício, pois o perfume poderia ser vendido por muito dinheiro para dar aos pobres (João observa que o motivo de Judas era egoísta: ele não estava pensando nos pobres, mas sim em encher o seu próprio bolso com o produto da venda).
O Senhor prontamente repreendeu os discípulos e defendeu a mulher, declarando que ela havia praticado uma boa ação para com Ele, e que a hora tinha sido bem apropriada para isso. Ele aceitou a unção como uma preparação para o Seu sepultamento (as mulheres que, dias depois, foram ao seu túmulo no domingo para ungir o Seu corpo, chegaram tarde demais - Marcos 16:1-6).
Daqui podemos aprender que glorificar ao Senhor Jesus é mais importante do que a prática da caridade. Os cristãos deveriam se abster de contribuir para qualquer coisa que os impeça de exaltar o nome do Senhor Jesus Cristo.
Existem inúmeras campanhas neste mundo para levantamento de fundos, supostamente para aliviar a fome e contribuir para o bem dos necessitados, e depois ouvimos como foram embolsados por intermediários e políticos influentes, pouco ou nada sendo feito em benefício daqueles em nome dos quais foram feitas as campanhas.
Mas quando a assistência é feita em nome do Senhor Jesus, pelo Seu povo em toda a sinceridade, Ele já declarou que é uma boa obra. Sempre teremos os pobres conosco para nos dar a oportunidade de fazer essa boa obra.
O Senhor ainda proferiu uma notável profecia: que a ação desta mulher seria lembrada por todo o mundo em que o Seu evangelho fosse anunciado. Ele sabia de antemão que as boas notícias da salvação pela graça de Deus mediante a fé em Seu nome seriam proclamadas por todo o mundo, e assim podia acrescentar essa profecia de uma ocorrência que, na ocasião, talvez parecesse de pequena importância em comparação com os extraordinários acontecimentos que se seguiriam nos próximos dias.
A narração deste evento foi feita em três Evangelhos, e ninguém pode lê-los sem tomar conhecimento do fato. Outra vez estásendo lembrado agora.
Parece que somente Maria, irmã de Lázaro, entre todos os discípulos, ouviu, compreendeu e creu em tudo o que o Senhor havia falado, ao ponto de lhe fazer esta última homenagem, custosa para ela, antes da Sua morte.
Foi uma cena de amor e louvor ao Senhor Jesus que precedeu e contrasta com os dias amargos em Jerusalém em que Ele confrontou os líderes do povo, culminando com Sua traição por um dos seus discípulos, a Sua rejeição pelas altas autoridades do Seu povo, a Sua injusta condenação pelo representante do maior poder imperial na terra, e a Sua morte como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (João 1:29), exatamente no dia do sacrifício da Páscoa.
Todos os doze apóstolos haviam sido escolhidos a dedo pelo Senhor Jesus para presenciar e depois testemunhar a respeito do Seu ministério ao povo de Israel, Seus ensinos e os sinais que havia dado em abundância para provar que era, de fato o Filho do Deus vivo.
Mas, segundo nos conta João em seu Evangelho, Judas "era ladrão e tinha a bolsa, e tirava o que ali se lançava." Evidentemente ele nunca havia se convertido, e acompanhava os outros apenas para tirar proveito financeiro para si.
Surge então a pergunta: porque o Senhor permitiu que ele fizesse isso? Nada podia se esconder dele, logo Ele conhecia o íntimo de Judas, e a sua desonestidade. Ele não nos revelou porque permitiu, mas podemos ver ali a Sua longanimidade, ensinando Judas com os outros e dando-lhe a oportunidade de arrepender-se e submeter-se a Cristo como os demais. No entanto, nunca chegou a fazê-lo e por fim ficou tarde demais como veremos a seguir.
O episódio anterior, na casa de Simão o leproso, possivelmente foi inserido entre o da conspiração dos líderes judeus e o da ida de Judas até eles, porque ali estava o que finalmente determinou Judas a trair o seu Mestre.
Tendo mostrado "piedosa" indignação com o ato de Maria, Judas e os outros discípulos com ele haviam sido abertamente repreendidos pelo Senhor. Judas, com a consciência pesada, sabendo que tinha sido apanhado em sua hipocrisia, encheu-se de ódio e, com isso Satanás entrou nele (Lucas 22:3) e o impeliu a ir nesta oportunidade falar com os principais sacerdotes e os capitães do templo para negociar a entrega de Jesus Cristo a eles.
É um aviso para aqueles que, convivendo com os irmãos na igreja mas relutando em se converter, poderão um dia ser tomados pelo inimigo das nossas almas e perder para sempre a oportunidade que tinham de salvar-se.
Há outra sugestão em voga estes dias: talvez Judas não pensava que o Senhor Jesus ia morrer, mas que, ao ser preso, Ele iria com seu poder divino vencer os Seus inimigos e finalmente estabelecer o Seu reino. Quando não deu certo, ele se suicidou. Esta sugestão esquece que Satanás era quem havia tomado conta dele.
Deus já havia previsto o que Judas haveria de fazer, tanto que encontramos profecias a respeito, em Salmo 41:9, Zacarias 11:13. O Senhor Jesus sabia de tudo, o que evidenciou mais tarde (vs. 25,26).
Judas foi, portanto, até os principais sacerdotes e perguntou quanto lhe pagariam para levá-los até onde poderiam prender o Senhor às escondidas, e aceitou a oferta de trinta moedas de prata, que lhe ofereceram. Era uma importância medíocre, dez vezes menos do que o valor em que foi avaliado o ungüento que Maria havia usado para ungir o Senhor.
Os sacerdotes ficaram contentes porque ele havia resolvido o problema da captura, que eles haviam adiado até depois da festa.
1 E aconteceu que, quando Jesus concluiu todos estes discursos, disse aos seus discípulos:
2 Bem sabeis que daqui a dois dias é a páscoa; e o Filho do homem será entregue para ser crucificado.
3 Depois os príncipes dos sacerdotes, e os escribas, e os anciãos do povo reuniram-se na sala do sumo sacerdote, o qual se chamava Caifás.
4 E consultaram-se mutuamente para prenderem Jesus com dolo e o matarem.
5 Mas diziam: Não durante a festa, para que não haja alvoroço entre o povo.
6 E, estando Jesus em Betánia, em casa de Simão, o leproso,
7 Aproximou-se dele uma mulher com um vaso de alabastro, com ungüento de grande valor, e derramou-lho sobre a cabeça, quando ele estava assentado à mesa.
8 E os seus discípulos, vendo isto, indignaram-se, dizendo: Por que é este desperdício?
9 Pois este ungüento podia vender-se por grande preço, e dar-se o dinheiro aos pobres.
10 Jesus, porém, conhecendo isto, disse-lhes: Por que afligis esta mulher? pois praticou uma boa ação para comigo.
11 Porquanto sempre tendes convosco os pobres, mas a mim não me haveis de ter sempre.
12 Ora, derramando ela este ungüento sobre o meu corpo, fê-lo preparando-me para o meu sepultamento.
13 Em verdade vos digo que, onde quer que este evangelho for pregado em todo o mundo, também será referido o que ela fez, para memória sua.
14 Então um dos doze, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os príncipes dos sacerdotes,
15 E disse: Que me quereis dar, e eu vo-lo entregarei? E eles lhe pesaram trinta moedas de prata,
16 E desde então buscava oportunidade para o entregar.
Mateus capítulo 26, vers. 1 a 16