Dirigindo-se novamente aos chefes dos sacerdotes e aos fariseus, o Senhor Jesus contou esta parábola, que diz respeito ao reino de Deus. É apenas relatada por Mateus.
Como não consta uma interpretação dada pelo próprio Senhor Jesus, temos que usar os nossos conhecimentos da história para tirar as nossas próprias conclusões.
A interpretação que nos parece mais correta indica que a parábola é um complemento ao ensino anterior sobre a rejeição do Messias pelos líderes religiosos judeus, mas trata de acontecimentos ainda futuros naquela ocasião.
Nesta parábola, as figuras principais são um rei que preparou um banquete de casamento para seu filho, dois grupos de servos, um grupo de pessoas convidadas previamente, outro grupo de pessoas que os substituíram, e um homem que compareceu sem veste nupcial.
O rei, assim como o proprietário das terras na parábola dos lavradores, representa Deus, sendo seu filho o próprio Jesus Cristo.
Lemos sobre as bodas do Cordeiro em outras parábolas, acontecimento ainda futuro, mas previsto em Apocalipse 19:7-9, onde a sua "noiva" é a Sua igreja, ressurrecta e transladada para os céus.
Mas esta parábola omite qualquer menção à noiva, apenas focaliza os convidados ao banquete de casamento. Introduzir a noiva naturalmente complicaria a aplicação da parábola.
O banquete de casamento tipifica a alegre reunião de Deus com seu Filho e os convidados que comparecem e se regozijam com eles. É o reino de Deus, visto de outra forma.
A nação de Israel, introduzida por Deus para ser o Seu povo e ter contato com Ele desde a sua criação, tendo sido bem instruída pelos Seus profetas, é representada pelos primeiros convidados.
João Batista deu início ao primeiro convite quando pregava no deserto da Judéia: "Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus" (cap. 3:2). Muitos foram ouvi-lo, especialmente da cidade de Jerusalém.
Quando João Batista acabou sendo preso pelas autoridades civis e religiosas, o Senhor Jesus continuou a pregação, dando início ao Seu ministério pela Galiléia, dizendo: "Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus" (cap. 4:17), e a Sua mensagem era toda concernente ao reino dos céus e as condições para entrar nele.
O Senhor Jesus reuniu discípulos para aprenderem dele, e também mandou doze deles pregarem ao povo de Israel que: "É chegado o reino dos céus" (cap. 10:7).
Estes foram como os primeiros servos, que foram chamar os convidados para as bodas, e não foram atendidos. Ele havia dito: "Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos fizerdes como meninos, de modo algum entrareis no reino dos céus" (cap. 18:3), mas os escribas e fariseus, hipócritas, fechavam aos homens o reino dos céus: nem eles entravam nem deixavam entrar aos que estavam para entrar (cap. 23:13).
Esta fase terminou com a crucificação do Senhor Jesus Cristo, promovida pelos líderes do povo.
Depois da Sua morte e ressurreição, o convite ao povo judeu para que se arrependesse foi renovado, começando com o discurso de Pedro no dia de Pentecoste, junto com os outros que faziam parte do grupo de onze apóstolos (Atos 2:14 a 39). Estes são representados pelos "outros servos", enviados aos convidados do rei pela segunda vez.
Como na parábola, os líderes do povo de Israel continuaram na sua obstinação, prenderam e açoitaram alguns dos apóstolos, e mataram Tiago. Perseguiram ferozmente todos os que se convertiam a Cristo.
Foi como aconteceu na parábola, motivando o rei a considerar os seus convidados como indignos e a se irar de forma que destruiu aqueles assassinos e queimou a cidade deles.
A rejeição final dos convidados pelo rei, e o envio dos servos às saídas dos caminhos, convidando para as bodas a todos os que encontrassem, ajuntando todos quantos encontravam, tanto maus como bons, foi marcada pelas palavras de Paulo e Barnabé aos judeus: "Era mister que a vós se vos pregasse primeiro a palavra de Deus; mas, visto que a rejeitais, e não vos julgais dignos da vida eterna, eis que nos voltamos para os gentios" (Atos 13:46).
A punição, como na parábola, foi prevista pelo Senhor Jesus: "… haverá grande aperto na terra, e ira sobre este povo. E cairão ao fio da espada, e para todas as nações serão levados cativos; e Jerusalém será pisada pelos gentios, até que os tempos dos gentios se completem." Esta profecia se cumpriu no ano 70 d.C., quando as legiões romanas destruíram Jerusalém, mataram grande parte da sua população e deram início ao seu desterro, que durou até meados do século XX. Jerusalém ainda está sendo pisada pelos gentios.
Como nação, Israel está marginalizada por Deus, mas o Evangelho é pregado por todo o mundo, bons e maus, sendo um convite para que se arrependam e se convertam a Cristo, recebendo-o como Senhor e Salvador. Os que assim fazem, judeus e gentios, bons e maus, entram no reino dos céus, como os convidados entravam para as bodas (Atos 13:45,46, 28:28).
Naqueles tempos, era costume fornecer vestes brancas, festivas, aos convidados que vinham aos banquetes nupciais. Na parábola, um dos que entraram recusou vestir a veste e logo se destacou dos demais.
Quando o rei o inquiriu a esse respeito, ele emudeceu, pois não tinha desculpa: a veste era fornecida gratuitamente. O rei então se considerou insultado, e o condenou às trevas exteriores.
É uma figura óbvia de quem procura entrar no reino dos céus pensando que está habilitado, sem ter primeiro se revestido da justiça de Deus mediante o Senhor Jesus Cristo (2 Coríntios 5:21). A justiça é proporcionada pela graça de Deus a todo o pecador que nele confia, e nenhum pecador pode se justificar a si próprio para entrar no reino de Deus.
O pranto e o ranger de dentes da parábola são figuras do sofrimento no inferno por toda a eternidade, longe do gozo da presença de Deus.
Como o Senhor Jesus declarou ao terminar essa parábola, ela demonstra como muitos são chamados (os convidados) mas poucos os escolhidos (os que aceitam o convite, colocam a veste nupcial, e entram no banquete).
Os judeus receberam as Escrituras do Velho Testamento, que contêm convite após convite da parte de Deus para que deixem o seu pecado e se voltem para Ele.
Também elas contêm profecias da vinda do Messias, o Salvador, em detalhes para que pudessem reconhecê-lo quando chegasse. Jesus o nazareno preencheu todos os requisitos, e apresentou-se ao povo, convidando-o para entrar no reino dos céus, mas foi rejeitado pela nação que, até hoje, ainda espera em vão um Messias segundo o seu desejo.
Em conseqüência, perderam o seu território e sofreram terrivelmente como povo conforme Deus havia profetizado. Eles só voltarão a ser o povo de Deus aqui na terra depois que reconhecerem que Jesus Cristo é o verdadeiro Messias.
Esse reconhecimento virá ao fim dos "tempos dos gentios" quando a igreja, completa, se reunirá com Cristo e a nação passar pela "grande tribulação", sendo por fim salva dos seus inimigos pelo próprio Senhor Jesus Cristo, que rejeitaram.
Em nossos dias, a justificação gratuita pela graça de Deus é oferecida a todos pela redenção que há em Cristo Jesus, tanto judeus como gentios. Quem aceita, é justificado pela fé e entra no reino dos céus (Romanos 3:21 a 30).
1 Então Jesus, tomando a palavra, tornou a falar-lhes em parábolas, dizendo:
2 O reino dos céus é semelhante a um certo rei que celebrou as bodas de seu filho;
3 E enviou os seus servos a chamar os convidados para as bodas, e estes não quiseram vir.
4 Depois, enviou outros servos, dizendo: Dizei aos convidados: Eis que tenho o meu jantar preparado, os meus bois e cevados já mortos, e tudo já pronto; vinde às bodas.
5 Eles, porém, não fazendo caso, foram, um para o seu campo, outro para o seu tráfico;
6 E os outros, apoderando-se dos servos, os ultrajaram e mataram.
7 E o rei, tendo notícia disto, encolerizou-se e, enviando os seus exércitos, destruiu aqueles homicidas, e incendiou a sua cidade.
8 Então diz aos servos: As bodas, na verdade, estão preparadas, mas os convidados não eram dignos.
9 Ide, pois, às saídas dos caminhos, e convidai para as bodas a todos os que encontrardes.
10 E os servos, saindo pelos caminhos, ajuntaram todos quantos encontraram, tanto maus como bons; e a festa nupcial foi cheia de convidados.
11 E o rei, entrando para ver os convidados, viu ali um homem que não estava trajado com veste de núpcias.
12 E disse-lhe: Amigo, como entraste aqui, não tendo veste nupcial? E ele emudeceu.
13 Disse, então, o rei aos servos: Amarrai-o de pés e mãos, levai-o, e lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes.
14 Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos.
Mateus, capítulo 22, vers. 1 a 14