Esta parábola foi contada pelo Senhor Jesus para ilustrar a declaração que havia feito que "muitos primeiros serão os derradeiros, e muitos derradeiros serão os primeiros".
A declaração fora feita logo depois que Ele informou o galardão que haveriam de ter os que haviam deixado família e bens para seguí-lo. É lógico então assumir que se trata do mesmo assunto, e não o da entrada no Reino de Deus que o precedeu.
A parábola é muito simples, mas convém realçar os seguintes pontos:
O denário era uma moeda de prata romana equivalente à diária de um trabalhador braçal, suficiente para tornar o trabalho atraente, dando-lhe mais que o necessário para o sustento da sua família.
No início do dia, o proprietário contratou trabalhadores acertando com eles o preço de seu trabalho: um denário.
Por volta das nove horas, do meio dia e das três horas da tarde, encontrou alguns trabalhadores desocupados, e os convidou para trabalhar na vinha, prometendo pagar-lhes "o que fosse justo".
Perto do fim do dia, às cinco horas da tarde, ele achou alguns a quem ninguém havia contratado, e ele lhes disse para irem trabalhar na vinha, prometendo a mesma coisa.
Os que haviam sido contratados primeiro, vendo o que fora pago aos outros, esperavam agora receber mais, e reclamaram que tinha havido injustiça no pagamento, pois não foi feito conforme o tempo de serviço.
O proprietário explicou para um dos descontentes que, de nada podia reclamar, pois havia recebido corretamente o que havia sido combinado. Quanto aos demais, ele tinha o direito de fazer o que quisesse com seu dinheiro, portanto generosamente lhes pagou o equivalente de um dia inteiro de trabalho.
O Senhor Jesus reiterou aqui que, (por ocasião da regeneração, cap. 19:28) "os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos".
À primeira vista, poderia parecer que a parábola se refere à salvação e à vida eterna, concedidas igualmente a todos os que crêem, não importando sua idade, a gravidade do seu pecado, ou o bem ou mal que tenham feito.
Esta é uma realidade, mas não pode ser a isto que o Senhor estava se referindo. Na parábola, vemos que o pagamento está ligado a serviços prestados, enquanto que a salvação vem pela graça de Deus, e não pelo mérito, trabalho ou esforços de quem é salvo.
Ao concordarem em trabalhar para o proprietário, os trabalhadores se submeteram ao seu senhorio, e nessa condição foram trabalhar. Compara-se bem, portanto, aos que são salvos pela graça, e assim também se submetem ao senhorio de Cristo.
Na parábola encontramos diferença entre as condições de emprego, do tempo de serviço e da ordem no pagamento para os vários trabalhadores. Também vemos diferença no grau de generosidade do proprietário. Todos receberam, igualmente, o suficiente para o sustento de um dia.
As condições de emprego foram diferentes:
Assim como o proprietário, o Senhor Jesus chama os seus remidos para serem úteis no Seu trabalho aqui no mundo.
Alguns querem saber as condições do seu trabalho e até mesmo pedem recompensa para si. Assim fizeram alguns dos seus discípulos (Mateus 19:27, 20:21-24). Não estão dispostos a trabalhar sem primeiro saber o que vão ganhar e ter certeza que é suficiente para as suas necessidades.
Outros vão trabalhar para o Senhor confiados apenas na Sua promessa que receberão o que for justo. A sua fé no Senhor e o amor que têm por ele pode levá-los a grandes sacrifícios em termos materiais e familiares (v. 29), mas eles deixam inteiramente ao critério do Senhor a decisão sobre a recompensa que lhes será dada.
Tanto uns como os outros serão recompensados amplamente, recebendo os que trabalham pela fé o mesmo que aqueles que fixaram a sua remuneração.
Quanto ao tempo de serviço, cada crente é convidado a tomar parte no trabalho do Senhor, de uma forma ou de outra. Ele pode ser ainda jovem e viver por muitos anos, ou dispor de poucos anos para o trabalho desde a sua conversão até a sua morte.
O Senhor Jesus, em Sua graça, recompensará da mesma forma aquele que teve poucos anos disponíveis como aquele que teve muitos.
Houve, porém, uma discriminação entre os trabalhadores da parábola: a ordem no dia do pagamento. Entendemos aqui que os primeiros serão os mais honrados.
Os primeiros foram os que serviram por menos tempo, tendo sido chamados por último. Mas estes serviram por amor, e pela fé, sem motivos egoístas. Os que desejam grandes recompensas e alta posição para si no reino de Deus serão relegados para as últimas posições, não importando o volume de serviço prestado na terra.
Este capítulo termina com a sentença "porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos", repetida no capítulo 22:14. Algumas traduções não a incluem, porque não aparece em certos manuscritos antigos.
Pode ser entendido em duas formas:
O Evangelho é proclamado a todo o mundo, mas somente aqueles que se convertem e se submetem ao senhorio de Jesus Cristo são escolhidos para participarem do reino de Deus. É o sentido em que aparece no capítulo 22.
De todos os que estão entrando no reino de Deus, relativamente poucos são escolhidos para dedicação integral na obra de Deus, como foram os apóstolos e os que conhecemos como missionários e obreiros. Esta interpretação não é bem acolhida em alguns meios, por implicar em uma distinção que poderia derivar para o clericalismo, com práticas e ensinos que o Senhor odeia (nicolaítas, Apocalipse 2:6, 12:15).
1 Porque o reino dos céus é semelhante a um homem, pai de família, que saiu de madrugada a assalariar trabalhadores para a sua vinha.
2 E, ajustando com os trabalhadores a um dinheiro por dia, mandou-os para a sua vinha.
3 E, saindo perto da hora terceira, viu outros que estavam ociosos na praça,
4 E disse-lhes: Ide vós também para a vinha, e dar-vos-ei o que for justo. E eles foram.
5 Saindo outra vez, perto da hora sexta e nona, fez o mesmo.
6 E, saindo perto da hora undécima, encontrou outros que estavam ociosos, e perguntou-lhes: Por que estais ociosos todo o dia?
7 Disseram-lhe eles: Porque ninguém nos assalariou. Diz-lhes ele: Ide vós também para a vinha, e recebereis o que for justo.
8 E, aproximando-se a noite, diz o senhor da vinha ao seu mordomo: Chama os trabalhadores, e paga-lhes o jornal, começando pelos derradeiros, até aos primeiros.
9 E, chegando os que tinham ido perto da hora undécima, receberam um dinheiro cada um.
10 Vindo, porém, os primeiros, cuidaram que haviam de receber mais; mas do mesmo modo receberam um dinheiro cada um.
11 E, recebendo-o, murmuravam contra o pai de família,
12 Dizendo: Estes derradeiros trabalharam só uma hora, e tu os igualaste conosco, que suportamos a fadiga e a calma do dia.
13 Mas ele, respondendo, disse a um deles: Amigo, não te faço agravo; não ajustaste tu comigo um dinheiro?
14 Toma o que é teu, e retira-te; eu quero dar a este derradeiro tanto como a ti.
15 Ou não me é lícito fazer o que quiser do que é meu? Ou é mau o teu olho porque eu sou bom?
16 Assim os derradeiros serão primeiros, e os primeiros derradeiros; porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos.
Mateus capítulo 20, vers. 1 a 16