Esta parábola é uma seqüência natural à do semeador. Naquela o semeador saiu a semear, e o resultado do seu trabalho foi bom ou mau em função da natureza da terra. A semente que caiu em boa terra produziu bom fruto.
Agora o Senhor Jesus fala sobre outro aspecto da sementeira. O semeador planta boa semente em seu campo, mas, quando os agricultores estão dormindo, um inimigo semeia joio entre o trigo.
O joio é uma planta anual da família das gramíneas, daninha às plantações, especialmente às de trigo, parecendo-se muito com a planta de trigo ao crescer, mas ao invés de dourados, com os do trigo, seus grãos são negros e infestados por fungos. Por causa da sua semelhança inicial com o trigo, e também pelo fato que suas raízes se enleiam com as raízes do trigo de forma que se torna difícil arrancar uma planta sem também arrancar a outra, elas não eram arrancadas até aparecer o fruto, próximo à colheita.
Isto era um fato conhecido e aceito entre os que ouviam a parábola. Mais difícil era saber o que este fato tinha a ver com o Reino dos céus ao qual o Senhor Jesus disse que era semelhante.
Hoje em dia a expressão "joio entre o trigo" é bastante comum, mesmo sem ter a experiência dos agricultores daquela época. Ela se origina desta parábola, mas convém verificar exatamente o significado conforme a explicação dada pelo seu Autor.
Os discípulos parecem não ter tido dúvidas sobre as duas parábolas que se seguiram, a do "grão de mostarda" e a do "fermento", mas tendo voltado para casa depois de despedida a multidão, eles pediram explicação sobre esta.
O Senhor Jesus prontamente respondeu ao pedido de esclarecimento, e vamos nos adiantar até lá agora, deixando as duas parábolas seguintes para depois.
Nesta parábola, o Semeador novamente é Ele próprio: o Senhor Jesus Cristo. Mas o campo é o mundo, que aqui tem o sentido de humanidade.
É aquela humanidade que Deus amou (João 3:16), por isto enviou Seu Filho para ser seu Salvador (1 João 4:14), fazendo propiciação pelos seus pecados (1 João 2:2). É muito importante compreender e lembrar que tanto a boa como a má semente foram semeadas no mundo, não na Igreja de Cristo que abrange apenas a boa semente, ou seja, todos os crentes salvos pela sua fé nele.
A boa semente são os filhos do Reino, representados pela "boa terra" da parábola anterior, as pessoas em que a Palavra de Deus, semeada, brotou, cresceu e deu bom fruto. São os cristãos verdadeiros, redimidos, lavados e santificados (dos quais os primeiros foram os próprios discípulos do Senhor Jesus).
O joio são os filhos do Maligno: foram semeados pelo diabo ("o caluniador", o "acusador dos irmãos" - Apocalipse 12:10) que é o inimigo de Deus. O diabo é perito em falsificar o que é verdadeiro: assim como o joio se assemelha ao trigo, os seus filhos se fazem parecidos com os verdadeiros crentes, falando e até se comportando como eles até certo ponto. Também como as raízes do joio se misturam com as do trigo, as doutrinas dos filhos do diabo contêm uma parte suficiente da verdadeira doutrina para confundir aqueles que não estão bem arraigados na sã doutrina, como os filhos do Reino estão.
Na parábola os homens dormiam, permitindo que o inimigo entrasse no campo para semear o joio. Ninguém no mundo pode impedir a infiltração dos filhos do Maligno, nem mesmo os filhos do Reino. Sem dúvida o Semeador poderia, pois o Filho do Homem nunca dorme.
Também, a grande semelhança entre os que são de Cristo e os que são do diabo neste mundo, bem como a mistura das suas raízes, impede que se separe os filhos do Maligno para destruição antes da colheita final. Mas Deus sem dúvida pode distinguir entre eles.
Na parábola, não foi permitido aos servos arrancarem o joio do meio do trigo, a fim de proteger o trigo que seria fatalmente arrancado junto.
Surge então a pergunta: porque Deus permite que os filhos do Maligno sejam "semeados" e continuem neste mundo?
Entre os próprios discípulos de Jesus Cristo encontrava-se, com o conhecimento dele, um filho do diabo, Judas Iscariotes (João 6:70, 13:2). Foi-lhe permitido ficar em Sua companhia até a última páscoa.
A conclusão que se tira é que a atividade do diabo, seja qual for, é permitida por Deus a fim de que os desígnios divinos sejam cumpridos. Isto foi bem ilustrado no caso do justo Jó, de que lemos no seu livro, onde ele foi testado para provar a sua lealdade a Deus. No caso de Jó a atuação do diabo, permitida por Deus, foi direta sobre as propriedades e a saúde de Jó.
Assim como os filhos do Reino são agentes de Cristo, com o poder do Espírito Santo, para dar testemunho dele como sal da terra e luz entre as trevas, os filhos do Maligno são inspirados pelo diabo para atrair para si a atenção do mundo e prejudicar o testemunho dos crentes em Cristo.
Embora os filhos do Maligno não sejam membros da igreja de Cristo, eles não somente imitam os crentes, mas, se não houver a necessária vigilância, eles penetrarão dentro das igrejas de Deus para infestá-las por dentro. Este é o tema das parábolas do "grão de mostarda" e a do "fermento" que vêm em seguida.
A principal arma de ataque dos filhos do Maligno é a doutrina: são como o seu pai, que "foi homicida desde o princípio e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele; quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira." (João 8:44).
O "cristianismo" hoje evidencia claramente a verdade anunciada nessa parábola.
As seitas "cristãs", desde as mais antigas e tradicionais até as que se multiplicam hoje em dia, fazem um arremedo do ensino cristão e apostólico, e soam bem aos que não conhecem a verdade. Agradam os sentidos com seus rituais, música e vestimentas, ou simulam milagres da era apostólica, e aos berros proclamam o poder que dizem ter. Os ensinos falsos se seguem, confundindo a verdade com a mentira, pondo em descrédito o verdadeiro Evangelho de Cristo.
O Semeador da parábola sabia de onde vinha o joio, mas proibiu os seus servos de arrancá-lo. O trigo deve conviver com ele até o tempo da ceifa.
Assim, também os verdadeiros crentes não devem se ocupar em procurar eliminar a falsa cristandade que os rodeia, confunde e ataca. Somos ensinados que ela será destruída na "consumação deste mundo", que corresponde à colheita da parábola. Por enquanto os verdadeiros crentes devem se aprimorar no conhecimento da sua fé, legada pelos profetas e apóstolos de Cristo, para se defenderem dos ataques dos filhos do Maligno.
Dentro da igreja local, é necessário afastar os que praticam certas coisas (p.ex. 1 Coríntios 5:9-13), mas não é da competência da direção procurar arrancar o joio: só Deus sabe distinguí-lo, e corre-se o risco de arrancar o trigo também.
Por ocasião da segunda vinda de Cristo ao mundo, haverá uma "colheita" na qual os Seus anjos separarão "tudo o que causa escândalo e os que cometem iniqüidade e lançá-los-ão na fornalha de fogo; ali, haverá pranto e ranger de dentes", permitindo aos justos entrar no Seu reino. O Senhor Jesus fez muitas declarações a esse respeito em Seu ministério, mencionando vários critérios. Aqui temos a separação dos falsos cristãos.
A expressão "os justos resplandecerão como o sol" nos lembra o brilho quando o sol aparece de detrás de uma nuvem que o obscurecia, fazendo com que a sua luminosidade dissipe toda a escuridão reinante.
"Quem tem ouvidos para ouvir, ouça"- é uma advertência para todos os que ouvem esta parábola.
24 Propôs-lhes outra parábola, dizendo: O Reino dos céus é semelhante ao homem que semeia boa semente no seu campo;
25 mas, dormindo os homens, veio o seu inimigo, e semeou o joio no meio do trigo, e retirou-se.
26 E, quando a erva cresceu e frutificou, apareceu também o joio.
27 E os servos do pai de família, indo ter com ele, disseram-lhe: Senhor, não semeaste tu no teu campo boa semente? Por que tem, então, joio?
28 E ele lhes disse: Um inimigo é quem fez isso. E os servos lhe disseram: Queres, pois, que vamos arrancá-lo?
29 Porém ele lhes disse: Não; para que, ao colher o joio, não arranqueis também o trigo com ele.
30 Deixai crescer ambos juntos até à ceifa; e, por ocasião da ceifa, direi aos ceifeiros: colhei primeiro o joio e atai-o em molhos para o queimar; mas o trigo, ajuntai-o no meu celeiro.
...
36 Então, tendo despedido a multidão, foi Jesus para casa. E chegaram ao pé dele os seus discípulos, dizendo: Explica-nos a parábola do joio do campo.
37 E ele, respondendo, disse-lhes: O que semeia a boa semente é o Filho do Homem,
38 o campo é o mundo, a boa semente são os filhos do Reino, e o joio são os filhos do Maligno.
39 O inimigo que o semeou é o diabo; e a ceifa é o fim do mundo; e os ceifeiros são os anjos.
40 Assim como o joio é colhido e queimado no fogo, assim será na consumação deste mundo.
41 Mandará o Filho do Homem os seus anjos, e eles colherão do seu Reino tudo o que causa escândalo e os que cometem iniqüidade.
42 E lançá-los-ão na fornalha de fogo; ali, haverá pranto e ranger de dentes.
43 Então, os justos resplandecerão como o sol, no Reino de seu Pai. Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça.
Mateus capítulo 13:24 a 30, 36 a 43