Esta foi a primeira de quatro saídas da área controlada pelo Herodes Antipas, por parte do Senhor Jesus: as outras se encontram nos capítulos 15:21-28, 29-38 e 16:5-12. Em todas elas Ele sobe as montanhas. Nesta ocasião os discípulos haviam regressado da sua missão evangelística pela Galiléia, e já estava próxima a "terceira" Páscoa, um ano antes da última, quando Cristo viria a ser crucificado.
O motivo para se afastar nesta ocasião foi que Ele soube que Antipas tinha ouvido da Sua fama, e pensava que Ele era João Batista a quem ele havia matado, ressuscitado dos mortos.
Este episódio é o único, antes da Sua última visita a Jerusalém, narrado nos quatro Evangelhos (Marcos 6:30-44; Lucas 9:10-17; João 6:1-13), dando-nos assim amplo testemunho da autenticidade deste extraordinário acontecimento e salientando a sua importância.
Marcos nos conta que o Senhor viu que os seus discípulos estavam cansados e sem poder comer por causa do movimento, e por isso os convidou para irem a um lugar deserto para descansar um pouco. Partindo de Capernaum, foram de barco para um lugar deserto perto de uma cidade chamada Betsaida (Lucas 9: 10).
Mas as multidões souberam, e saíram das suas cidades e foram a pé para encontrá-los ali, chegando mesmo antes deles. Elas já haviam visto os sinais que o Senhor Jesus fazia, curando enfermidades, e estavam ansiosos por ouvi-lo outra vez (Lucas 9:11) e por se beneficiarem com o seu poder de curar.
Ao vê-los esperando, o Senhor teve compaixão deles, "porque eram como ovelhas sem pastor. Então começou a ensinar-lhes muitas coisas" (Marcos 6:34) e curou os seus doentes. Em seguida Ele subiu a montanha, e assentou-se com os seus discípulos.
Daquele ponto eles podiam ver as multidões mais embaixo. Estava ficando tarde. João informa que o Senhor levantou os olhos, viu a grande multidão, e testou Filipe, perguntando "Onde compraremos pão para esse povo comer?"
Filipe fez um cálculo rápido, concluindo que seria uma despesa enorme: mais do que duzentas diárias de um trabalhador braçal daqueles dias (João 6:5-7). Então os discípulos sugeriram que o Senhor despedisse o povo, para que pudesse ir aos povoados vizinhos para comprarem seus alimentos. Mas Ele disse que não era preciso, e que eles próprios dessem ao povo algo para comer.
Os discípulos disseram que só dispunham de cinco pães e dois peixes - conviria gastar tanto dinheiro para comprar pães para toda aquela gente? Parecia difícil e nem mesmo recomendável obedecer as ordens do Mestre nessas condições. Ele estava querendo demais.
Temos que tomar decisões difíceis, quando a obediência ao Senhor nos parece também estar além das nossas possibilidades. Como aqueles discípulos, é fácil esquecer que Ele é Todo-Poderoso, e que, quando Ele requer algo de nós, Ele tem condições plenas para suprir aquilo que nos falta.
O Senhor Jesus então assumiu o comando:
Mandou que os pães e os peixes fossem trazidos até Ele. Podemos ter poucos recursos para cumprir a tarefa que Ele nos designou, mas a primeira coisa que temos que fazer é colocá-los aos Seus pés para que Ele possa dispor deles.
Ordenou que a multidão se assentasse na grama. Era necessário que houvesse obediência, embora não compreendessem o propósito disto. Marcos esclarece ainda que eles tiveram que se assentar em grupos de cem e de cinqüenta, o que tornava mais fácil contá-los e servi-los. Era feito com muita ordem, porque o Senhor Jesus era quem estava ordenando, e teria havido grande expectativa, figurando o Evangelho que é uma festa para os povos (Isaías 25:6).
Tomando os cinco pães e os dois peixes, Ele ergueu os olhos ao céu e os abençoou. Cumpre-nos sempre agradecer a Deus pelo alimento que comemos, pois todo nosso suprimento vem dele, e pedir a Sua bênção sobre as nossas refeições, como o Senhor Jesus abençoou estes pães e peixes (1 Timóteo 4:3-5, Atos 27:35).
Ele "partiu os pães, e deu-os aos seus discípulos para que os pusessem diante deles" (Marcos 6:41). Havia aproximadamente cinco mil homens, além de mulheres e crianças. É Deus que supre as nossas necessidades, materiais e espirituais, e Ele usa os seus servos para transmitir provisões espirituais para o seu povo, como os discípulos fizeram aqui. O Evangelho foi pregado primeiro pelos apóstolos, e continuou até hoje sendo pregado por homens que são o dom do Espírito para a igreja de Cristo na terra.
Da mesma forma Ele repartiu os dois peixes, todos comeram e ficaram satisfeitos, ou saciados como nos informa João. Não foi apenas um pequeno lanche, mas houve abundância para todos. Isso nos lembra que a graça de Deus, e o dom pela graça de Jesus Cristo abundou sobre muitos (Romanos 5:15), suprindo todas as nossas necessidades em glória (Filipenses 4:19). (Aqueles que dizem que comer carne de peixe é uma forma de jejum estão censurando o alimento que Cristo deu nessa ocasião …).
Estando todos satisfeitos, Ele mandou que Seus discípulos recolhessem o que havia sobrado, para que nada se perdesse. Cabe aqui explicar que era costume entre os judeus sempre deixar um resto de pão sobre a mesa, depois de cada refeição, considerando que não ter nada para deixar era maldição do ímpio (Jó 20:21). Os discípulos encheram doze cestos cheios de pedaços que sobraram, o que é condizente com a multidão que estivera presente. Eram fragmentos, não migalhas, de pão que havia sido partido pelo Senhor (Marcos 6:41) e não fora consumido, e dos peixes (Marcos 6:43). Não havia desperdício da munificência de Cristo.Os judeus tinham muito cuidado para não desperdiçar pão, ou deixá-lo cair no chão para ser pisado. Entre eles havia o ditado: "Aquele que despreza o pão cai nas profundezas da pobreza". Embora Cristo pudesse requisitar o suprimento sempre que quisesse, Ele fez questão que os pedaços fossem recolhidos. Quando satisfeitos, devemos lembrar que outros podem ter necessidade, ou nós próprios.
Os judeus tinham, ainda, o costume de deixar algo para aqueles que serviam à mesa, e aqui ficou um cesto cheio para cada apóstolo. Foram assim pagos generosamente pela sua prontidão em dar o que tinham para serviço ao público (veja 2 Crônicas 31:10).
João nos informa que este sinal tão extraordinário convenceu aquelas multidões que "Ele era, verdadeiramente, o profeta que devia vir ao mundo."
Havia uma grande expectativa entre o povo naquele tempo sobre a chegada do profeta anunciado por Moisés (Deuteronômio 18:15) e que ele seria o Messias (João 1:21, 11:27).
Eles estavam começando a crer que o Senhor Jesus era o Messias político, a esperança dos fariseus. Os fariseus desprezavam o povo por não conhecerem a lei tão bem como eles próprios, no entanto o povo mostrava que conhecia mais Aquele que era o Autor e Consumador da lei do que os fariseus. Em seu Evangelho, João relata o discurso onde o Senhor declara ser o verdadeiro Pão de Deus, logo após este acontecimento.
13 E Jesus, ouvindo isso, retirou-se dali num barco, para um lugar deserto, apartado;e, sabendo-o o povo, seguiu-o a pé desde as cidades.
14 E Jesus, saindo, viu uma grande multidão e, possuído de íntima compaixão para com ela, curou os seus enfermos.
15 E, sendo chegada a tarde, os seus discípulos aproximaram-se dele, dizendo: O lugar é deserto, e a hora é já avançada; despede a multidão, para que vão pelas aldeias e comprem comida para si.
16 Jesus, porém, lhes disse: Não é mister que vão; dai-lhes vós de comer.
17 Então, eles lhe disseram: Não temos aqui senão cinco pães e dois peixes.
18 E ele disse: Trazei-mos aqui.
19 Tendo mandado que a multidão se assentasse sobre a erva, tomou os cinco pães e os dois peixes, e, erguendo os olhos ao céu, os abençoou, e, partindo os pães, deu-os aos discípulos, e os discípulos, à multidão.
20 E comeram todos e saciaram-se, e levantaram dos pedaços que sobejaram doze cestos cheios.
21 E os que comeram foram quase cinco mil homens, além das mulheres e crianças.
Mateus capítulo 14, vers. 13-21