Os acontecimentos nesta passagem são também relatados com maiores ou menores detalhes nos Evangelhos de Marcos e Lucas. A ordem varia um pouco, o que nos lembra que os Evangelhos não obedecem a uma seqüencia estritamente cronológica, conforme os historiadores costumam fazer.
Comparando os Evangelhos, podemos concluir que os fatos desde a entrada triunfal em Jerusalém até a crucificação ocorreram em cinco dias, conforme segue:
A entrada triunfal em Jerusalém se deu num sábado, quando o Senhor Jesus entrou na cidade, foi até o templo, curou cegos e aleijados, foi aplaudido pelas crianças, observou tudo e, como já fosse tarde, retirou-se para Betânia com os doze. Não havia comércio no templo nesse dia, por ser sábado. (Mateus 21:1-11, 14-17, Marcos 11:1-11, Lucas 19:29-44).
No primeiro dia da semana, domingo, ele voltou para Jerusalém amaldiçoando uma figueira no caminho, e, chegando ao templo, expulsou os que comerciavam ali dentro. À tarde saiu da cidade novamente com seu discípulos. (Mateus 21:18-19,12-13; Marcos 11:12-18, Lucas 19:45-48).
No dia seguinte, segunda-feira, Ele novamente entrou em Jerusalém, discutiu com os maiorais do templo sobre a origem da Sua autoridade e ensinou o povo, depois voltou para Betânia onde jantou com Simão o Leproso (Mateus 21:20 - 26:16; Marcos 11:19 - 14:11, Lucas 19:49-22:6).
Na terça-feira, o primeiro dia dos pães asmos, dois discípulos foram enviados para preparar a Páscoa; Ele participou da Páscoa com Seus discípulos, depois saiu e foi preso de madrugada (Marcos 14:12-15:72, Lucas 22:7-65).
Na quarta-feira, o "dia da preparação", Ele foi crucificado e enterrado antes do pôr do sol (Marcos 15:42, Lucas 23:54, João 19:42).
Vejamos agora o texto em estudo, segundo nos é relatado por Mateus.
Era domingo quando o Senhor Jesus entrou novamente no templo, e deparou com o grande comércio que havia ali dentro.
Judeus vindos de perto e de longe precisavam trocar suas moedas de valores diferentes, bem como as estrangeiras, para adquirirem os "meio-siclos" de peso padronizado e sem defeito, oferecidos a Deus anualmente por todo israelita de vinte anos ou mais (Êxodo 30:13-15). Também precisavam de pombas para certos sacrifícios e holocaustos durante a festa da Páscoa.
Era uma oportunidade comercial, e muitos se aproveitavam dela. Comerciantes e cambistas, para facilitarem os seus negócios, instalavam-se em cadeiras e mesas dentro do grande recinto do templo construido por Herodes, em lugares alugados pelos administradores do templo. Sem dúvida muitos deles assaltavam os compradores com preços e taxas de câmbio exorbitantes.
O Senhor Jesus se irou com isto e expulsou a todos, tanto vendedores como compradores. Ele combinou dois versículos do Velho Testamento, Isaías 56:7 e Jeremias 7:11 ao proclamar o que estava escrito: "A minha casa será chamada casa de oração: vós, porém, a transformais em covil de salteadores."
Da mesma forma Ele havia purificado aquele templo uns três anos antes, no início do Seu ministério (João 2:13), também antes da festa da Páscoa. Ele assim manifestou o Seu zelo pela Casa do Senhor que fora profetizado no Salmo 69:9, como lembraram os seus discípulos: "O zelo da tua casa me devorou, e as afrontas dos que te afrontam caíram sobre mim."
Muitas igrejas locais no Brasil chamam seus salões de reunião "Casa de Oração" acompanhando este ensino do Senhor Jesus. Cumpre a elas justificar o nome mediante manter o recinto santificado e livre de mercantilismo e outras atividades reprováveis. Cada crente é templo de Deus, e deve cuidar para lavar-se de todo o pecado e impureza mediante a constante leitura e obediência à Palavra de Deus.
A fama do Senhor Jesus como operador de milagres já era bem conhecida, e, mesmo no átrio do templo, muitos vieram até Ele para serem curados. Ele os atendeu, cegos e coxos.
Vendo os principais sacerdotes e escribas o que se passava, e ainda ouvindo meninos que clamavam "Hosana ao Filho de Davi" eles, que se consideravam "donos" do templo, se indignaram: ninguém tinha pedido a sua autorização prévia para essas atividades.
Eles confrontaram o Senhor e pediram explicações: como podia Ele aceitar aquele clamor? A Sua resposta, tirada do Salmo 8:2, não se fez esperar. As palavras "perfeito louvor" aparecem como "força" no salmo, mas o original permite essas traduções.
Se o Senhor Jesus não fosse o Messias, Ele não poderia ter aceito a aclamação que lhe era feita, e os chefes do templo esperavam que Ele se desculpasse por isso. Mas Ele era de fato o Messias, e manifestou a Sua aprovação pela Sua resposta. Se os maiorais, que deviam reconhecer essa realidade por causa da sua instrução e posição, não queriam dar-lhe louvor na qualidade de Messias, então Deus tiraria perfeito louvor da boca de "pequeninos e crianças de peito".
Em seguida, Ele saiu e foi até Betânia, uma cidade que ficava próxima, sem discutir mais com eles. Assim terminou o primeiro dia, um sábado (a expulsão dos comerciantes e cambistas do templo foi no dia seguinte, como nos é contado por Marcos e Lucas e vimos no início desta exposição).
No dia seguinte, cedo de manhã, ele partiu para Jerusalém e no caminho procurou figos numa figueira para comer, e não encontrou nenhum, somente folhas. Não era ainda a época para colher figos (Marcos 11:13), mas naquela região havia uma espécie de árvore que produzia figos antes de crescerem as folhas, e depois novos figos brotavam com as folhas. Esta deveria ser uma delas.
Neste milagre, o único de maldição ao invés de bênção, o Senhor amaldiçoou a figueira, declarando que nunca mais ela daria fruto algum. Sem dúvida Ele, o criador de tudo, conhecia a figueira e não estava indignado com ela, mas era figura de algo mais importante.
As figueiras que não produziam os figos fora da estação eram estéreis e não dariam fruto mais tarde também. Eram normalmente cortadas por causa disso. Esse seria o destino desta figueira, mas, ao ser amaldiçoada pelo Senhor, ela secou-se imediatamente desde a raíz (Marcos 11:20).
Como a videira e a oliveira, a figueira representava a nação de Israel, que O havia recebido em Jerusalém com folhas apenas, aclamação, ao invés de fruto aceitável a Deus, corações contritos e arrependidos voltando-se para receber o Seu enviado. Não havendo fruto agora, Ele sabia que não haveria mais tarde, e já previa a destruição do país que viria uma geração mais tarde, em 70 A.D.
Os discípulos se admiraram com o fato da figueira ter secado tão depressa. O Senhor aproveitou o exemplo para ensinar-lhes que não há limites para o que Deus pode fazer para aqueles que nele depositam a sua fé, como Ele já lhes havia dito em outra ocasião (capítulo 17:20). Tudo quanto pedissem em oração, crendo, receberiam.
Não se deve tomar esta última sentença isoladamente, pois há muitos outros ensinos na Bíblia com respeito à oração, e todos devem ser levados em conta para entender corretamente o que o Senhor Jesus está dizendo. Ele apenas define o essencial: o pedido feito em oração, na fé em Jesus Cristo, será respondido.
Voltando ao templo, o Senhor Jesus passou a ensinar o povo, novamente atraindo a atenção dos maiorais, e desta vez os anciãos do povo estavam junto com os principais sacerdotes. Eles puzeram em dúvida a Sua autoridade, e demandaram que lhes informasse de quem a havia recebido (pois não fora deles).
Ele respondeu com outra pergunta: de quem era o batismo de João (seu ministério), do céu ou dos homens? Isto os fez calar porque tinham medo do povo, que cria que João Batista era profeta.
Como eles se calaram, Ele lhes disse que também não responderia à pergunta deles. Implicitamente, como o ministério profético de João vinha de Deus, também a autoridade do Senhor Jesus vinha do céu e não de homens como eles.
12 E entrou Jesus no templo de Deus, e expulsou todos os que vendiam e compravam no templo, e derribou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas;
13 E disse-lhes: Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração; mas vós a tendes convertido em covil de ladrões.
14 E foram ter com ele no templo cegos e coxos, e curou-os.
15 Vendo, então, os principais dos sacerdotes e os escribas as maravilhas que fazia, e os meninos clamando no templo: Hosana ao Filho de Davi, indignaram-se,
16 E disseram-lhe: Ouves o que estes dizem? E Jesus lhes disse: Sim; nunca lestes: Pela boca dos meninos e das criancinhas de peito tiraste o perfeito louvor?
17 E, deixando-os, saiu da cidade para Betânia, e ali passou a noite.
18 E, de manhã, voltando para a cidade, teve fome;
19 E, avistando uma figueira perto do caminho, dirigiu-se a ela, e não achou nela senão folhas. E disse-lhe: Nunca mais nasça fruto de ti! E a figueira secou imediatamente.
20 E os discípulos, vendo isto, maravilharam-se, dizendo: Como secou imediatamente a figueira?
21 Jesus, porém, respondendo, disse-lhes: Em verdade vos digo que, se tiverdes fé e não duvidardes, não só fareis o que foi feito à figueira, mas até se a este monte disserdes: Ergue-te, e precipita-te no mar, assim será feito;
22 E, tudo o que pedirdes na oração, crendo, o recebereis.
23 E, chegando ao templo, acercaram-se dele, estando já ensinando, os príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo, dizendo: Com que autoridade fazes isto? e quem te deu tal autoridade?
24 E Jesus, respondendo, disse-lhes: Eu também vos perguntarei uma coisa; se ma disserdes, também eu vos direi com que autoridade faço isto.
25 O batismo de João, de onde era? Do céu, ou dos homens? E pensavam entre si, dizendo: Se dissermos: Do céu, ele nos dirá: Então por que não o crestes?
26 E, se dissermos: Dos homens, tememos o povo, porque todos consideram João como profeta.
27 E, respondendo a Jesus, disseram: Não sabemos. Ele disse-lhes: Nem eu vos digo com que autoridade faço isto.
Evangelho de Mateus, capítulo 21 versículos 12 a 27