Uma semana depois de ter falado da Sua morte e ressurreição aos discípulos, e de lhes ter declarado que entre os que ali estavam alguns não provariam a morte até que vissem o Filho do homem no seu reino, o Senhor Jesus levou três deles ao alto de um monte.
Os três eram:
"Pedro", ou Simão filho de Jonas: seu pai provavelmente faleceu enquanto era criança e ele, com seu irmão mais novo André, foram criados pelo casal Zebedeu e Salomé. André o apresentou ao Messias, e depois os dois deixaram a sua ocupação de pescadores para serem Seus discípulos, e foram nomeados apóstolos (enviados pessoalmente como mensageiros). Com os outros dois agora, Pedro era escolhido pelo Senhor Jesus para presenciar alguns acontecimentos especiais, como este. Muito mais tarde, ele declarou: "não vos fizemos saber a virtude e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, seguindo fábulas artificialmente compostas; mas nós mesmos vimos a sua majestade. Porquanto ele recebeu de Deus Pai honra e glória, quando da magnífica glória lhe foi dirigida a seguinte voz: 'Este é o meu Filho amado, em quem me tenho comprazido.' E ouvimos esta voz dirigida do céu, estando nós com ele no monte santo" (2 Pedro 1:16-18). Com este testemunho ele comprovou o cumprimento da profecia acima feita pelo Senhor Jesus. Curiosamente, o Senhor sempre o chamava de Simão, embora tendo lhe dado o apelido de Pedro.
Tiago: era filho de Zebedeu e Salomé, e João, que vem a seguir, era seu irmão. Também era sócio de Pedro em pescaria, e, como ele, deixou sua profissão para seguir o Senhor Jesus, e foi nomeado apóstolo. Foi o primeiro mártir dentre os apóstolos, tendo sido decapitado por ordem do rei Herodes Agripa no ano 44 A.D. (Atos 12:1-2).
João: irmão mais novo de Tiago, foi, com ele, chamado "Boanerges" ("filho do trovão") talvez por causa da sua coragem e energia. Era pescador também com os outros, mas, estudioso, foi aprender com João Batista e foi por ele apresentado ao Messias, a Quem ele seguiu e também foi nomeado apóstolo. Ele deu seu testemunho pessoal no seu Evangelho, recebeu uma revelação especial do Senhor Jesus Cristo sobre o futuro, escrita no livro do Apocalipse, e tem três cartas suas incluídas na Bíblia.
O Senhor levou estes três com Ele ao subir ao alto do monte para orar. Era possivelmente o monte Hermom, o mais alto daquele local ao norte do país, mas não se sabe ao certo.
Segundo nos informa Lucas, "estando ele orando, transfigurou-se a aparência do seu rosto, e a sua roupa ficou branca e mui resplandecente". Mateus esclarece que "o seu rosto resplandeceu como o sol, e as suas vestes se tornaram brancas como a luz".
A transformação era assustadora. Não se tratava do Ser divino apresentando-se com a Sua glória na forma do homem em que se havia introduzido no mundo, mas do Homem, Filho de Deus, por uns poucos instantes demonstrando o seu corpo glorificado, como será visto na Sua segunda vinda a este mundo para assumir o Seu reino na terra. Foi como Ele havia prometido uma semana atrás aos Seus discípulos.
João escreveu: "Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos." (1 João 3:2). Se somos filhos de Deus, Ele naquela ocasião era uma semelhança do que seremos nós, um dia, quando voltarmos com Ele para assumir o Seu reino.
Em seguida vieram até Ele duas figuras notáveis da antigüidade: Moisés, o líder do povo de Israel que o tirou do Egito e através de quem receberam a Lei de Deus, e Elias, o profeta fiel em tempos de apostasia e perseguição, que não passou pela morte mas foi elevado aos céus num redemoinho.
Tanto a Lei como as Profecias nos falam do Messias, que representa o Evangelho da graça de Deus. Lucas nos informa que falavam da sua morte, a qual havia de cumprir-se em Jerusalém.
Os três apóstolos estavam cansados e acabaram adormecendo, acordando somente quando Moisés e Elias estavam se despedindo, segundo nos diz Lucas.
Não temos um relato da conversa que tiveram mas, sabendo o teor, é de se supor que teria sido de conforto para o Senhor Jesus, que breve iria partir para Jerusalém e ali sofrer o terrível martírio que O esperava.
Já desperto, vendo que Moisés e Elias estavam para se retirar, Pedro interveio, maravilhado, e propôs que se fizessem três tendas, duas para eles e uma para o Senhor Jesus, pois era tão bom ter os três juntos ali com eles.
Ele falou em sua ignorância, sem saber o alcance das suas palavras, segundo nos esclarece Lucas. Moisés era, e continua sendo agora entre os judeus, a maior figura da história dos israelitas, tendo sido o instrumento de Deus para tirar os hebreus da extrema miséria, na escravidão do Egito, para torná-lo um povo organizado, respeitado, proprietário das melhores terras no oriente médio.
Elias era um batalhador pela causa de Deus, Seu porta-voz para fazer o povo voltar para Ele, que não passou pela morte mas vai voltar ainda para ser o arauto do Messias quando Ele vier para o Seu reino.
Mas, tanto Moisés como Elias eram homens apenas, sujeitos às fraquezas e pecados que são parte da vida humana. Não se comparam de forma alguma com o Messias, o Filho de Deus que existe de eternidade para eternidade, e apenas tomou forma humana para poder redimir o Seu povo.
Em sua sugestão precipitada, Pedro estava colocando Moisés e Elias em um mesmo plano que o Messias, sugerindo fazer uma tenda para cada um! Como a festa dos tabernáculos estava se aproximando, quem sabe passou pela idéia de Pedro não ir a Jerusalém, mas ficar ali no monte celebrando a festa com os três?
Imediatamente uma nuvem luminosa os cobriu (estavam em cima de uma montanha alta onde a passagem de nuvens é comum, mas essas escurecem - esta era luminosa) e uma voz veio da nuvem, dizendo: "Este é o meu amado Filho, em quem me comprazo; escutai-o!" Era a voz do Pai, o Deus Todo-Poderoso! Repreensão a Pedro, e advertência para nós.
Este é o testemunho dado por Deus Pai sobre Seu Filho, Jesus Cristo. O Senhor Jesus é a suprema autoridade no ensino, e na revelação de tudo que diz respeito a Deus. Moisés, Elias, os profetas, diziam e ensinavam aquilo que procedia de Deus. Mas aqui estava alguém que falava por Si mesmo, pois Ele era o próprio amado Filho de Deus. Como o autor do livro de Hebreus escreveu: "Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho". Ele é a última palavra da parte de Deus!
Os discípulos caíram por terra, apavorados, mas o Senhor Jesus os tocou e falou que não tivessem medo. Moisés e Elias não estavam mais lá, e Ele havia retornado à sua aparência física normal.
Aos discípulos o Senhor ordenou que a ninguém contassem a visão até depois da Sua ressurreição dos mortos. A visão e as suas palavras deveriam dar-lhes ânimo para enfrentar os dias angustiantes desde a Sua morte até a Sua ressurreição.
Eles ainda tinham problemas com relação à profecia de Malaquias 4:5, segundo a qual Elias viria primeiro, antes do Messias, como ensinavam os escribas do seu tempo. Como então o Senhor Jesus, sendo o Messias, tinha vindo primeiro? Eles tinham visto Elias agora, vivo, mas ele não havia voltado ao mundo como esperavam.
O Senhor Jesus explicou então que Elias realmente virá primeiro e restaurará todas as coisas (na sua futura volta ao mundo). Também João Batista era Elias (no sentido de ter feito o papel de Elias), preparando o povo para a Sua chegada, mas ele não fora respeitado ou reconhecido em sua função, e acabara morrendo nas mãos dos seus inimigos entre o povo (o rei Herodes Antipas).
1 Seis dias depois, tomou Jesus consigo a Pedro, e a Tiago, e a João, seu irmão, e os conduziu em particular a um alto monte,
2 E transfigurou-se diante deles; e o seu rosto resplandeceu como o sol, e as suas vestes se tornaram brancas como a luz.
3 E eis que lhes apareceram Moisés e Elias, falando com ele.
4 E Pedro, tomando a palavra, disse a Jesus: Senhor, bom é estarmos aqui; se queres, façamos aqui três tabernáculos, um para ti, um para Moisés, e um para Elias.
5 E, estando ele ainda a falar, eis que uma nuvem luminosa os cobriu. E da nuvem saiu uma voz que dizia: Este é o meu amado Filho, em quem me comprazo; escutai-o.
6 E os discípulos, ouvindo isto, caíram sobre os seus rostos, e tiveram grande medo.
7 E, aproximando-se Jesus, tocou-lhes, e disse: Levantai-vos, e não tenhais medo.
8 E, erguendo eles os olhos, ninguém viram senão unicamente a Jesus.
9 E, descendo eles do monte, Jesus lhes ordenou, dizendo: A ninguém conteis a visão, até que o Filho do homem seja ressuscitado dentre os mortos.
10 E os seus discípulos o interrogaram, dizendo: Por que dizem então os escribas que é mister que Elias venha primeiro?
11 E Jesus, respondendo, disse-lhes: Em verdade Elias virá primeiro, e restaurará todas as coisas;
12 Mas digo-vos que Elias já veio, e não o conheceram, mas fizeram-lhe tudo o que quiseram. Assim farão eles também padecer o Filho do homem.
13 Então entenderam os discípulos que lhes falara de João o Batista.
Mateus capítulo 17, vers. 1 a 13