O Senhor Jesus, novamente usando a figura de uma árvore e do seu fruto (veja cap. 7:17-19), mostra que uma pessoa revela sua própria natureza quando fala e age.
O que Ele próprio dizia e fazia era bom, provando que a Sua natureza era boa. Os fariseus não podiam encontrar nada de mal no que Ele fazia. Quiseram acusá-lo de violar a lei do sábado, mas Ele conseguiu destruir os seus argumentos com poucas palavras.
Apesar de toda a Sua bondade, revelando sua boa natureza, eles vieram acusá-lo de estar expulsando demônios por Belzebu, o príncipe dos demônios. Como explicar isso?
A única explicação possível é que eles estavam mentindo. Não mentiam por ignorância, mas por maldade. Seu propósito era desfazer a boa reputação do Senhor Jesus diante do povo, injuriando e difamando a Sua pessoa. Estes eram frutos maus que revelavam a má natureza que possuíam. Suas ações procediam de corações perversos.
Por causa da sua natureza malvada eles são chamados pelo Senhor de raça de víboras, o mesmo termo usado por João Batista para os fariseus e saduceus quando vieram pedindo que os batizasse (cap. 3:7). Víboras são serpentes traiçoeiras com picadas doloridas, muitas vezes mortais.
Estes fariseus sabiam que Jesus era inocente, e tinham todas as provas para saber que Ele era o Messias, mas haviam deliberado tornar-se seus inimigos, e maliciosamente espalhavam mentiras a respeito da Sua pessoa.
Quando falamos e agimos, externamos o que temos depositado (entesourado) em nossa consciência (coração). Se guardamos boas coisas, também vamos dizer e fazer boas coisas. Do contrário serão más, como acontecia com os fariseus.
O cuidado que devemos ter com o que falamos fica claro com o que o Senhor Jesus diz em seguida: no Dia do Juízo os homens darão conta de "toda a palavra ociosa" que disserem.
"Palavra ociosa" é aquela que não faz bem algum tornando-se por isso perniciosa. Isso é sério: Deus conhece nossos pensamentos (ver. 25), o Senhor declara que nossas palavras revelam nossos pensamentos, informa que formam uma base justa para a interpretação do nosso caráter, e revela que seremos julgados por elas.
Se uma palavra ociosa é base para julgamento, que dizer das palavras más, das mentiras, das injúrias, das blasfêmias, como essas que os fariseus estavam espalhando?
O Senhor acrescenta "por tuas palavras serás justificado e por tuas palavras serás condenado": essa declaração é feita na segunda pessoa do singular, portanto é dirigida pessoalmente a cada um de nós.
Os que não forem salvos (pela sua fé) terão que responder pelas suas palavras diante do juízo final. Os que foram redimidos terão que responder diante do tribunal de Cristo: estes não serão castigados porque o castigo já foi pago na cruz, mas a condenação pesará no seu galardão.
Tiago declara: "todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça em palavra, o tal varão é perfeito e poderoso para também refrear todo o corpo." (Tiago 3:2). O autocontrole começa pelo controle da língua, muito importante por causa das repercussões que uma palavra descuidada, ociosa, pode ter.
Alguns dos escribas e fariseus, sentindo a justiça daquilo que o Senhor Jesus dizia, e ardendo com a sua chicotada, procuram salvar as aparências resmungando "Mestre, quiséramos ver da tua parte algum sinal."
Eles tiveram o cuidado de chamá-lo de "mestre", ou rabino, mas o teor da frase sugere que na opinião deles Ele poderia ser um falso mestre, cuja autoridade precisava ainda ser comprovada.
Era uma temeridade da parte deles sugerir que Ele não havia dado provas ainda da Sua autenticidade, depois de tudo que o Senhor Jesus havia falado e feito publicamente, inclusive diante deles próprios. A sua hipocrisia era evidente, pois se o que já haviam presenciado não era suficiente, nada mais os poderia convencer.
Exigir sinais milagrosos antes de crer não é uma atitude que agrada a Deus. O Senhor Jesus mais tarde disse "bem-aventurados os que não viram e creram!" Os sinais serão vistos e reconhecidos depois de se crer.
A resposta do Senhor Jesus a estes religiosos hipócritas não se fez esperar e foi longa e contundente:
Nenhum outro sinal lhes seria dado a não ser o do profeta Jonas. Este profeta havia passado três dias e três noites dentro de um grande peixe, sendo depois expelido, incólume, para retomar à sua missão evangelística na cidade perversa de Nínive. Foi realmente um acontecimento sobrenatural, um milagre de Deus. Era o precedente de um milagre ainda mais notável: a morte, o sepultamento de Jesus Cristo por três dias e três noites, e a Sua ressurreição para dar início à pregação do Evangelho ao mundo inteiro.
No dia do julgamento final (depois do "milênio" - Apocalipse 20:11-15), os ninivitas ressurgirão no Juízo (esta é a segunda ressurreição - a dos perdidos) com eles e os condenará, porque eles (os ninivitas) se arrependeram com a pregação de Jonas, enquanto que esses religiosos não creram em Alguém maior do que Jonas.
Também a Rainha do Sul (entende-se a rainha de Sabá, no tempo de Salomão) os condenará nesse dia porque foi dos confins da terra até Jerusalém para ouvir a Salomão, e Ele é maior do que Salomão.
Alguns acham que esta parábola não parece caber bem aos fariseus daquela época, e por isso a interpretam como uma descrição da história de Israel:
O homem representaria a nação de Israel, e o espírito imundo seria a idolatria em que se envolveu a partir da escravatura no Egito até o cativeiro na Babilônia.
Nessa ocasião o povo deixou a idolatria, correspondendo ao dia quando o espírito imundo deixou o homem. O povo limpou a casa, mas ficou vazia, pois não acolheu o Messias que lhe foi enviado. Assim continua e continuará até surgir o Anticristo, nos sete anos da tribulação.
Durante a tribulação a nação vai adorar o Anticristo, como o resto do mundo, e isto será muito pior do que a idolatria da antigüidade. Sofrerá as pragas desse período e seu estado se tornará muito pior do que no início, vindo depois o juízo na volta do Messias, quando o remanescente fiel será salvo dos seus inimigos, e os demais serão destruídos: "assim acontecerátambém a esta geração má".
Há uma dificuldade, no entanto. Paulo ensina que ao chegar a "plenitude dos gentios", que é quando a igreja estiver completa e for arrebatada, "todo o Israel será salvo" (Romanos 11:25 e 26).
Outra interpretação, mais aceitável, é que Ele está se referindo aos "reformados": tipicamente uma pessoa que sai do convívio do mundo, reforma-se, até mesmo faz uma profissão de fé em Cristo e é recebido em comunhão na igreja. Não tendo havido entretanto uma genuína conversão, ele não tem o Espírito Santo, e fica como uma "casa vazia". Um dia ele volta para o mundo e se torna muito pior do que era antes. Isto condiz com Hebreus 6:4-6 e 2 Pedro 2:17-22.
Os fariseus se diziam fiéis a Deus, mas na realidade estavam longe dele, e culminaram por matar o seu Filho.
33 Ou dizeis que a árvore é boa e o seu fruto, bom, ou dizeis que a árvore é má e o seu fruto, mau; porque pelo fruto se conhece a árvore.
34 Raça de víboras, como podeis vós dizer boas coisas, sendo maus? Pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca.
35 O homem bom tira boas coisas do seu bom tesouro, e o homem mau do mau tesouro tira coisas más.
36 Mas eu vos digo que de toda palavra ociosa que os homens disserem hão de dar conta no Dia do Juízo.
37 Porque por tuas palavras serás justificado e por tuas palavras serás condenado.
38 Então, alguns dos escribas e dos fariseus tomaram a palavra, dizendo: Mestre, quiséramos ver da tua parte algum sinal.
39 Mas ele lhes respondeu e disse: Uma geração má e adúltera pede um sinal, porém não se lhe dará outro sinal, senão o do profeta Jonas,
40 pois, como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim estará o Filho do Homem três dias e três noites no seio da terra.
41 Os ninivitas ressurgirão no Juízo com esta geração e a condenarão, porque se arrependeram com a pregação de Jonas. E eis que está aqui quem é mais do que Jonas.
42 A Rainha do Sul se levantará no Dia do Juízo com esta geração e a condenará, porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão. E eis que está aqui quem é mais do que Salomão.
43 E, quando o espírito imundo tem saído do homem, anda por lugares áridos, buscando repouso, e não o encontra.
44 Então, diz: Voltarei para a minha casa, donde saí. E, voltando, acha-a desocupada, varrida e adornada.
45 Então, vai e leva consigo outros sete espíritos piores do que ele, e, entrando, habitam ali; e são os últimos atos desse homem piores do que os primeiros. Assim acontecerá também a esta geração má.
Mateus capítulo 12:33-45