O Sinédrio composto dos anciãos do povo, os principais sacerdotes e escribas, reuniu-se ao nascer do sol para oficialmente confirmar a sentença de morte que já haviam determinado ilegalmente para Jesus Cristo, pelo crime de blasfêmia (Marcos 15:1, Lucas 22:66-71). Restava obter a sanção do governador romano Pilatos, a quem cabia dar a última palavra.
Quando Judas soube que o Senhor Jesus havia sido condenado à morte, ele foi tomado de remorso e procurou devolver aos líderes religiosos as trinta moedas de prata recebidas como preço da sua traição, como se com isso ele pudesse desfazer o negócio e eximir-se da sua culpa.
Mas os líderes não levaram em conta a declaração de Judas que Jesus era inocente, nem aceitaram a devolução, retrucando que nada tinham com isso, e a responsabilidade era dele. Com a declaração de Judas, a culpa deles se acentuou.
Judas, desesperado, jogou o dinheiro (preço de um escravo) dentro do templo, saiu e enforcou-se. Os chefes do templo determinaram que, por ser preço de sangue, esse dinheiro não podia ser colocado no tesouro. O dinheiro então foi empregado na compra de um terreno chamado Campo do Oleiro (talvez onde se obtinha argila) e o destinaram a ser o cemitério dos estrangeiros.
Esse terreno passou a ser conhecido como Campo de Sangue: foi o preço da morte de Cristo, mas também foi onde Judas se suicidou derramando seu próprio sangue (Atos 1:19).
O texto do "profeta Jeremias" citado nos versículos 9 e 10 é uma combinação de profecias encontradas em Zacarias 11:13 e Jeremias 18:18 e 32:6 a 9. As trinta moedas de prata são mencionadas em Zacarias, mas só Jeremias é mencionado por Mateus, por ser o nome à testa do rolo de profecias então usado no templo e nas sinagogas.
Tendo primeiro abusado (ilegalmente) do Senhor Jesus (Marcos 14:65, Lucas 22:63-65), os chefes dos sacerdotes e os líderes religiosos do povo O amarraram e levaram até o governador Pilatos.
João (capítulo 18:28-38) nos informa que estava amanhecendo e, para evitar contaminação na casa de um gentio, eles não entraram no Pretório (o lugar de audiências) mas Pilatos saiu para falar com eles, perguntando que acusação tinham contra aquele homem.
Os líderes religiosos estavam diante de uma grande dificuldade: o crime de blasfêmia, pelo qual haviam condenado ao Senhor Jesus, não era reconhecido pela lei romana, portanto eles tinham que encontrar algum outro crime que levasse a pena de morte do qual Ele pudesse ser acusado.
Lucas (capítulo 23:2) revela que eles O acusaram de três crimes políticos: de sedição, de proibir o povo de pagar tributo a César, e de declarar ser Ele próprio o rei Messias.
Pilatos voltou para dentro do Pretório, onde estava o Senhor, e lhe perguntou se Ele era o rei dos judeus. João (capítulo 18:34) esclarece que Ele não deu uma resposta direta de imediato, mas indagou se essa pergunta era dele, ou se outros lhe haviam falado a Seu respeito: significando se era uma indagação sincera de Pilatos, ou uma armadilha do Sinédrio.
Pilatos lhe disse sardonicamente "sou eu judeu?", demonstrando o seu desprezo por aquele povo. Ele acrescentou que foram o Seu povo e os chefes dos sacerdotes que O haviam entregue, e perguntou o que Ele havia feito (para que isso acontecesse).
O Senhor Jesus declarou que o Seu reino não era deste mundo, pois se fosse, os seus oficiais teriam lutado para que os judeus não o prendessem. Ele decerto se referia aos anjos que Ele mencionara antes (cap. 26:56), pois os Seus discípulos eram poucos e incapazes de oferecer qualquer resistência ao forte contingente militar que O havia apanhado no Jardim das Oliveiras. O Seu reino não era daqui (nem é agora, mas um dia será, uma realidade para sempre lembrar).
Pilatos fez a pergunta irônica: "então tu és rei?" O Senhor declarou que de fato era, pois para isso havia nascido e vindo para o mundo para testemunhar da verdade. Todos os que eram da verdade o ouviam. (João 18:35-37).
Essa resposta deixou Pilatos confuso: que verdade seria essa? Certamente esse homem não era o revolucionário violento de que O acusavam os judeus, e falava de uma "verdade" que ele não conhecia, nem lhe interessava, pois não esperou uma resposta mas saiu logo outra vez e declarou "não acho nele crime algum" aos líderes judeus.
Os principais sacerdotes e os líderes do povo O acusaram de muitas coisas, inclusive que Ele estava subvertendo o povo em toda a Judéia com os seus ensinamentos, e começando da Galiléia havia chegado até Jerusalém (Lucas 23:5). Mas Ele manteve silêncio, mesmo quando Pilatos O incentivou a defender-se, de modo que o governador ficou muito impressionado.
Lucas (capítulo 23:6-12) nos conta que Pilatos, a essa altura, perguntou se o acusado era galileu, e ao obter a afirmativa decidiu mandá-lo ao rei Herodes, pois era da sua jurisdição, e Herodes estava em Jerusalém naqueles dias. Pilatos sem dúvida pensou que seria uma boa saída para si, já que não tinha como enquadrar o prisioneiro em um crime digno de morte, como queriam os judeus.
Herodes naturalmente não se agradaria se Pilatos interferisse em assuntos da sua jurisdição, e essa seria uma oportunidade para Pilatos, o procurador romano da Judéia, agradar o rei e também livrar-se deste caso complicado.
Herodes Antipas havia decapitado João Batista (cap. 14:1-12), e depois ouvira falar muito do Senhor Jesus, estando perplexo porque alguns diziam que João tinha ressuscitado dos mortos, outros que Elias tinha aparecido, e ainda outros, que um dos profetas do passado tinha voltado à vida (Lucas 9:7-9).
O próprio Senhor Jesus havia dito a alguns fariseus que se aproximaram dele para dizer que fugisse porque Herodes queria matá-lo: "Ide, e dizei àquela raposa: Eis que eu expulso demônios, e efetuo curas, hoje e amanhã, e no terceiro dia sou consumado. Importa, porém, caminhar hoje, amanhã, e no dia seguinte, para que não suceda que morra um profeta fora de Jerusalém."
Herodes estava, portanto, contente em poder afinal ter diante de si este homem famoso, e verificar o que Ele era capaz de fazer, algum milagre sobrenatural, ou coisa semelhante. Seria como assistir um espetáculo de magia, muito divertido.
A figura de Jesus, amarrado e já mostrando os sinais dos maus tratos sofridos nas mãos dos judeus, não teria sido muito animadora. Assim mesmo, Herodes o interrogou com muitas perguntas, mas Ele não lhe respondeu uma só palavra. Manteve total dignidade diante deste tirano edumeu opressor do seu povo, que tomava o lugar que, por direito de sucessão, era legalmente Seu.
Os principais sacerdotes e os mestres da lei estavam ali, acusando-o com veemência, como o ladrar de cães furiosos.
Então Herodes e os soldados ridicularizaram-no e zombaram dele, tratando-o como pessoa sem valor algum. Depois o vestiram com um manto esplêndido e o mandaram de volta a Pilatos.
Herodes e Pilatos, que eram inimigos, naquele dia se tornaram amigos. O motivo não nos é informado. Sem dúvida, porém, Herodes se agradou da "cortesia" de Pilatos em lhe mandar este preso famoso, respeitando assim a sua posição, e Pilatos sentiu-se honrado por Herodes lhe ter dado a última palavra neste caso tão importante.
1 E, chegando a manhã, todos os príncipes dos sacerdotes, e os anciãos do povo, formavam juntamente conselho contra Jesus, para o matarem;
2 E maniatando-o, o levaram e entregaram ao presidente Pôncio Pilatos.
3 Então Judas, o que o traíra, vendo que fora condenado, trouxe, arrependido, as trinta moedas de prata aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos,
4 Dizendo: Pequei, traindo o sangue inocente. Eles, porém, disseram: Que nos importa? Isso é contigo.
5 E ele, atirando para o templo as moedas de prata, retirou-se e foi-se enforcar.
6 E os príncipes dos sacerdotes, tomando as moedas de prata, disseram: Não é lícito colocá-las no cofre das ofertas, porque são preço de sangue.
7 E, tendo deliberado em conselho, compraram com elas o campo de um oleiro, para sepultura dos estrangeiros.
8 Por isso foi chamado aquele campo, até ao dia de hoje, Campo de Sangue.
9 Então se realizou o que vaticinara o profeta Jeremias: Tomaram as trinta moedas de prata, preço do que foi avaliado, que certos filhos de Israel avaliaram,
10 E deram-nas pelo campo do oleiro, segundo o que o Senhor determinou.
11 E foi Jesus apresentado ao presidente, e o presidente o interrogou, dizendo: És tu o Rei dos Judeus? E disse-lhe Jesus: Tu o dizes.
12 E, sendo acusado pelos príncipes dos sacerdotes e pelos anciãos, nada respondeu.
13 Disse-lhe então Pilatos: Não ouves quanto testificam contra ti?
14 E nem uma palavra lhe respondeu, de sorte que o presidente estava muito maravilhado.
Mateus, capítulo 27, vers. 1 a 14
6 Então Pilatos, ouvindo falar da Galiléia perguntou se aquele homem era galileu.
7 E, sabendo que era da jurisdição de Herodes, remeteu-o a Herodes, que também naqueles dias estava em Jerusalém.
8 E Herodes, quando viu a Jesus, alegrou-se muito; porque havia muito que desejava vê-lo, por ter ouvido dele muitas coisas; e esperava que lhe veria fazer algum sinal.
9 E interrogava-o com muitas palavras, mas ele nada lhe respondia.
10 E estavam os principais dos sacerdotes, e os escribas, acusando-o com grande veemência.
11 E Herodes, com os seus soldados, desprezou-o e, escarnecendo dele, vestiu-o de uma roupa resplandecente e tornou a enviá-lo a Pilatos.
12 E no mesmo dia, Pilatos e Herodes entre si se fizeram amigos; pois dantes andavam em inimizade um com o outro.
Lucas capítulo 23, vers. 6 a 12