O crente que se sentir ofendido por outro, deve procurá-lo a sós para que ele saiba e tenha oportunidade de se desculpar e pedir perdão.
Não é o que nos é natural fazer. Quando ofendidos, nossa natureza se ressente contra o ofensor, e procuramos nos vingar proclamando a outros a maldade que ele nos fez, desta forma alastrando o mal. Ou esperamos que o ofensor venha até nós pedir perdão.
Mas o mandamento do Senhor é sábio, e tem por finalidade restabelecer a paz imediatamente, evitando uma "raiz de amargura", um pecado que trás sérias conseqüências na igreja se não for corrigido logo.
Muitas vezes o ofensor nem se deu conta de ter causado ofensa, sem querer, ou aconteceu num momento de forte irritação, e ele logo desfaz o equívoco e sinceramente pede desculpas. A paz volta a reinar entre os dois.
No entanto, a ofensa pode ter sido intencional. O ofensor ainda terá a oportunidade de se arrepender e retratar por ter pecado contra um irmão. Se tiver causado dano, demonstrará seu arrependimento fazendo os necessários reparos. Se isso acontecer, o caso também será encerrado e voltará a paz entre os dois, sem repercussões daninhas. Com essa solução pacífica, o ofendido "ganhou o seu irmão".
Infelizmente nem sempre isso acontece, e o ofensor não quer admitir que causou a ofensa, ou persiste na atitude de prejudicar o irmão que o procurou.
Novamente a tendência natural do ofendido é de se vingar de alguma forma, e de maldizer e difamar o ofensor.
Mas não é isto o que o Senhor mandou: ele deve ir falar com o ofensor mais uma vez ainda, levando consigo uma ou duas pessoas para servirem de testemunhas.
Os acompanhantes vão ouvir os dois lados da questão, e talvez haja uma reconciliação a esta altura. Mas, se o ofensor se firmar na sua atitude agressiva e não reconhecer o seu pecado, os acompanhantes servirão de testemunhas para que o caso seja levado para julgamento pela igreja. A lei de Moisés previa o uso de testemunhas no julgamento dos réus (Deuteronômio 19:15).
A necessidade de testemunhas muitas vezes é esquecida quando se trazem casos contenciosos diante da igreja, assim resultando em julgamentos nem sempre justos.
Em 1 Coríntios 6:1-8 lemos que na igreja de Corinto não estavam praticando este ensino do Senhor Jesus. Um irmão estava levando outro para julgamento diante de um tribunal secular, merecendo uma séria advertência de Paulo, que escreve dizendo que é uma vergonha se não houver nem ao menos um sábio dentro da igreja, que possa julgar no meio da irmandade (v.5).
Ir ao tribunal contra um irmão já traz derrota antes mesmo de o caso ser julgado. É melhor sofrer a injustiça e arcar com o prejuízo (v.7).
Se o agressor atender e se submeter ao juízo da igreja, ainda haverá paz, embora o caso agora seja público. Mas, se ele não quiser ouvir a igreja, ele deverá ser considerado como "gentio e publicano", em outras palavras, alguém que está fora da comunhão da igreja: a sua atitude é de pecado, pois tendo ofendido a um irmão ele se recusa a arrepender-se e fazer reparos tendo sua culpa sido provada.
Se for um verdadeiro crente, ele continuará salvo, pois a salvação é eterna, e continuará portanto pertencendo à igreja de Jesus Cristo. Mas não será recebido na igreja local enquanto não se arrepender e fizer as pazes. Caso contrário ele será uma "raiz de amargura" para a congregação.
É uma disciplina que deve ser aplicada a todo o que vive no pecado (1 Coríntios 5:11) para que seja "entregue a Satanás para a destruição da carne, a fim de que o espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus" (1 Coríntios 5:5). O propósito é fazer com que ele se compenetre da sua situação, arrependa-se e deixe o pecado.
O Senhor Jesus em seguida repetiu as palavras que Ele havia antes dito a Pedro (capítulo 16:19): "tudo o que ligardes na terra terá sido ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra terá sido desligado no céu", desta vez dirigidas a todos os Seus discípulos, no contexto da disciplina na igreja.
A ação da igreja de disciplinar o crente que vive no pecado, deixando de ter comunhão com ele, tem a aprovação de Deus, assim como o ato de recebê-lo novamente em comunhão quando ele deixa o seu pecado.
Com estas palavras o Senhor Jesus declara autorizar a igreja a impor sanções aos que nela se congregam, ou seja, ela pode usar de medidas disciplinares que poderiam parecer fugir ao amor cristão, mas na realidade obedecem ao Seu desejo de manter a pureza da igreja local e corrigir os impuros.
Logo, então, surge a pergunta: qual a quantidade mínima de membros que deve ter uma igreja a fim de que ela possa exercer essa autoridade? A resposta vem logo a seguir: dois ou três reunidos em nome do Senhor Jesus!
O versículo 19 pode ser aplicável à resposta às orações quando houver acordo entre dois discípulos sobre o pedido. Nesse caso, o de uma oração feita coletivamente (mais de um crente pedindo a mesma coisa, ou a de um só acompanhado do "amém" dos demais).
No entanto existem várias outras condições para que as orações sejam ouvidas por Deus, sejam individuais ou coletivas, como por exemplo:
Que se conformem com a vontade revelada de Deus (1 João 5:14, 15).
Com fé (Tiago 1:6-8).
Em sinceridade (Hebreus 10:22a).
Mas, em seu contexto, que vem mais ao caso, o ensino é que bastam dois crentes se dirigirem a Deus em oração com respeito à disciplina na igreja, para ter a certeza que serão ouvidos. Mesmo se o ofendido e o ofensor concordarem em pedir a direção de Deus sobre a sua contenda, Deus os ouvirá!
Reunir-se "em nome do Senhor Jesus" significa simplesmente:
Autorizados por Ele: Ele deu permissão a todos os que lhe pertencem a se reunirem numa congregação local para, em Seu lugar, crescerem espiritualmente juntos como se fossem Ele próprio - Seu corpo.
Reconhecendo sempre que Ele é cabeça desse corpo, sendo tudo feito por Ele e para Ele.
Nenhum grupo pode arrogar-se o privilégio de ser a única "igreja" aqui na terra, com a exclusão de todos os outros crentes que não se reúnem com eles.
Existe uma infinidade de congregações que se reúnem "em nome no Senhor Jesus" e preenchem essas condições, mas variam bastante no entendimento e na prática das doutrinas bíblicas, muitas acompanhando tradições antigas com pouca ou nenhuma base bíblica.
Mas todos pertencemos a Cristo, se fomos salvos pela graça de Deus unicamente mediante a fé na Sua Pessoa e na Sua obra vicária na Cruz do Calvário.
Nos capítulos 2 e 3 do Apocalipse lemos de sete igrejas, todas diferentes em muita coisa entre si, mas eram todas igrejas de Cristo.
Não há justificativa para a lamentável exclusividade que encontramos em muitas igrejas, recusando ter comunhão com outros irmãos só porque não se reúnem com eles ou da mesma forma que eles fazem.
Tal exclusividade só se explica pelo medo de descobrir que a sua tradição, de que gostam, é falha e que existem maneiras melhores de obedecer e servir ao Senhor.
15 Ora, se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão;
16 Mas, se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que pela boca de duas ou três testemunhas toda a palavra seja confirmada.
17 E, se não as escutar, dize-o à igreja; e, se também não escutar a igreja, considera-o como um gentio e publicano.
18 Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu.
19 Também vos digo que, se dois de vós concordarem na terra acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por meu Pai, que está nos céus.
20 Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles.
Mateus capítulo 18, versículos 15-20