Todos os quatro Evangelhos contribuem com detalhes sobre a crucificação do Senhor Jesus, e vamos incluí-los todos neste estudo, ou seja, esse texto de Mateus e também Marcos 15:21-25, Lucas 23:26-33 e João 19:16-18.
Distinguimos alguns acontecimentos notáveis no caminho a partir do pretório de Pilatos até se realizar a crucificação no lugar da Caveira, ou Calvário (Gólgota em aramaico).
Decerto enfraquecido pela perda de sangue devida aos açoites, aos golpes dos soldados e a coroa de espinhos, Cristo levava a cruz com dificuldade. Os soldados então forçaram um homem chamado Simão, a carregá-la para Ele, andando atrás dele.
Simão viera de Cirene, uma província no norte da África ao lado da Líbia, e estava chegando a Jerusalém, provavelmente para tomar parte na festa da Páscoa em Jerusalém. Era o pai de Alexandre e de Rufo (Marcos 15:21), e esse esclarecimento aos leitores originais do Evangelho de Marcos indica que possivelmente todos eles se tornaram cristãos mais tarde.
Talvez esse Simão tenha sido um dos homens de Cirene que pregaram o Evangelho aos gregos em Antioquia (Atos 11:20), depois aparecendo entre os mestres e doutores nesta a igreja, com o nome de Simeão, apelidado Níger devido à pele escura (Atos 13:1).
Alguns comentaristas conjeturam que Rufo talvez seja o mesmo mencionado por Paulo em Romanos 16:13, "Saudai a Rufo, eleito no Senhor, e a sua mãe e minha": ele habitava em Roma, e Paulo considerava a mãe dele (que seria, portanto, esposa de Simão) como sua mãe na fé.
Se assim for, o pesado e humilhante labor de levar a cruz de um condenado tornou-se para Simão, depois que se converteu, num privilégio especial por ter podido carregar a cruz do seu Salvador.
Atrás de Jesus Cristo vinha grande multidão de povo e de mulheres, as quais batiam nos peitos, e o lamentavam. Curioso que, no relato dos Evangelhos, as mulheres sempre simpatizavam com o Senhor Jesus - nenhuma lhe foi antagônica.
Ele se voltou para elas e lhes disse que não lamentassem por Ele: Ele não queria que se elas se compadecessem dele (assim como também não deseja o nosso compadecimento pelo seu sofrimento). Ele passou por tudo aquilo voluntariamente, pois era o preço que tinha que pagar a fim de poder perdoar os nossos pecados.
Em lugar disso, elas deviam lamentar o futuro que estava reservado para elas e para os seus filhos, pois coisas terríveis estavam para vir. A mulher que tinha filhos se considerava abençoada (P.e. Lucas 1:25,36), mas quando essas coisas acontecessem, as estéreis e as que não tivessem filhos é que seriam consideradas como abençoadas, e muitos desejariam que os montes e os outeiros caíssem e os cobrissem. Ser enterrados vivos seria melhor do que a punição que sofreriam.
Acrescentou "se fazem isto com a árvore verde, o que acontecerá quando ela estiver seca?" (NVI). Madeira verde é difícil de queimar, e se compara aos inocentes. Madeira seca queima facilmente, e é símbolo dos culpados. Segundo consta em documentos antigos, este era um provérbio comum naqueles tempos, e tinha várias aplicações.
Nesta oportunidade entende-se que, se condenavam a Cristo, inocente como era, à crucificação, qual seria o castigo dos habitantes de Jerusalém, quando seu dia chegasse? Sabemos que uma revolta em Jerusalém uns quarenta anos mais tarde trouxe a sua completa destruição pelo exército romano, e a morte ou escravidão dos seus habitantes, cumprindo essa profecia do Senhor Jesus.
O lugar destinado à crucificação, cujo nome se traduz "caveira", ficava fora dos muros de Jerusalém. A execução da pena de morte tinha que ser feita fora da cidade conforme a lei romana, bem como a judaica (Números 15:35,36 e 1 Reis 21:13).
Os corpos dos animais sacrificados, símbolos de Cristo, eram queimados fora do acampamento dos israelitas, e Ele também, "para santificar o povo pelo seu próprio sangue, padeceu fora da porta" (Hebreus 13:11,12).
Quando chegaram ao Lugar da Caveira, ofereceram ao Senhor Jesus vinho misturado com fel, ou mirra. Assim se cumpriu profecia no Salmo 69:21, embora seja improvável que alguém estivesse pensando nisso naquela oportunidade.
Como na crucificação a morte é em grande parte causada pela desidratação, não se podia dar água ao condenado. A mistura que foi oferecida ao Senhor por almas compadecidas não iria satisfazer a Sua sede, mas agiria como anestésico, reduzindo os Seus sofrimentos. Tanto o fel como a mirra têm efeitos narcóticos e estupefacientes. Mas Ele recusou beber, depois de prova-lo (para mostrar que sabia o que era).
Era necessário que Ele sofresse voluntariamente toda a ira de Deus, sem artifícios para aliviar o sofrimento, pois estava levando sobre Si os nossos pecados.
Às nove horas da manhã daquela véspera do primeiro dia da páscoa, O Senhor Jesus Cristo foi levantado numa cruz, à vista de todos, pelos soldados romanos, cumprindo assim profecia que Ele havia anunciado: "Da mesma forma como Moisés levantou a serpente no deserto, assim também é necessário que o Filho do homem seja levantado, para que todo o que nele crer tenha a vida eterna" (João 3:14).
Os condenados à execução por crucificação eram conduzidos por quatro soldados formando um quadrado, com o condenado no centro. Antes de serem pregados em suas cruzes, os condenados eram despidos, sua nudez sendo coberta apenas com uma faixa estreita. Uma vez pendurados em suas cruzes no lugar já preparado, os soldados distribuíam entre si as roupas dos crucificados.
Os judeus naquele tempo normalmente usavam cinco peças de roupa: sandálias ou sapatos, turbante, cinto, uma peça de roupa interior e uma capa. Era o que o Senhor estaria usando, e que agora os soldados dividiam entre si. A capa seria a peça de maior valor, e tendo distribuído as outras, os soldados fizeram um pequeno sorteio para ver quem ficava com a capa (João 19:23, 24).
Era um pequeno detalhe, mas, sem saber, estavam cumprindo outra profecia, no Salmo 22:18: "Repartem entre si as minhas vestes, e lançam sortes sobre a minha roupa." Este salmo, escrito pelo rei Davi séculos antes, descreve com detalhes o sofrimento do Messias em morte por crucificação. Notável, porque crucificação não era usada quando foi escrito o salmo, tendo sido introduzida pelo império romano.
Evangelho de Mateus, capítulo 27, ver. 32 a 36:
32 E, quando saíam, encontraram um homem cireneu, chamado Simão, a quem constrangeram a levar a sua cruz.
33 E, chegando ao lugar chamado Gólgota, que se diz: Lugar da Caveira,
34 Deram-lhe a beber vinagre misturado com fel; mas ele, provando-o, não quis beber.
35 E, havendo-o crucificado, repartiram as suas vestes, lançando sortes, para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta: Repartiram entre si as minhas vestes, e sobre a minha túnica lançaram sortes.
36 E, assentados, o guardavam ali.
Evangelho de Marcos, capítulo 15, ver. 21 a 25:
21 E constrangeram um certo Simão, cireneu, pai de Alexandre e de Rufo, que por ali passava, vindo do campo, a que levasse a cruz.
22 E levaram-no ao lugar do Gólgota, que se traduz por lugar da Caveira.
23 E deram-lhe a beber vinho com mirra, mas ele não o tomou.
24 E, havendo-o crucificado, repartiram as suas vestes, lançando sobre elas sortes, para saber o que cada um levaria.
25 E era a hora terceira, e o crucificaram.
Evangelho de Lucas, capítulo 23, ver. 26 a 33:
26 E quando o iam levando, tomaram um certo Simão, cireneu, que vinha do campo, e puseram-lhe a cruz às costas, para que a levasse após Jesus.
27 E seguia-o grande multidão de povo e de mulheres, as quais batiam nos peitos, e o lamentavam.
28 Jesus, porém, voltando-se para elas, disse: Filhas de Jerusalém, não choreis por mim; chorai antes por vós mesmas, e por vossos filhos.
29 Porque eis que hão de vir dias em que dirão: Bem-aventuradas as estéreis, e os ventres que não geraram, e os peitos que não amamentaram!
30 Então começarão a dizer aos montes: Caí sobre nós, e aos outeiros: Cobri-nos.
31 Porque, se ao madeiro verde fazem isto, que se fará ao seco?
32 E também conduziram outros dois, que eram malfeitores, para com ele serem mortos.
33 E, quando chegaram ao lugar chamado a Caveira, ali o crucificaram, e aos malfeitores, um à direita e outro à esquerda.
Evangelho de João, capítulo 19, ver. 16 a 18:
16 Então, conseqüentemente entregou-lho, para que fosse crucificado. E tomaram a Jesus, e o levaram.
17 E, levando ele às costas a sua cruz, saiu para o lugar chamado Caveira, que em hebraico se chama Gólgota,
18 Onde o crucificaram, e com ele outros dois, um de cada lado, e Jesus no meio.