As passagens a seguir são relatadas pelos quatro evangelistas. Esta, que vamos estudar agora, se encontra também em Marcos 14:43-52, Lucas 22:47-56 e João 18:2-12, com os mesmos e outros detalhes.
João esclarece que Judas conhecia o lugar onde o Senhor Jesus e os Seus discípulos estavam, porque eles freqüentemente iam lá (Lucas 22:39). Judas, portanto, conduziu um "bando" de soldados romanos com seus oficiais e alguns guardas do templo até o local, para prendê-lo conforme ele havia combinado com os chefes do templo.
Era um grande grupo armado, porque um "bando", segundo os historiadores, compreendia uns quinhentos homens, que era um décimo de uma legião. Levavam lanternas, tochas e armas para prender uma só pessoa, que sabiam estar desarmada. Queriam se assegurar da Sua captura, pois em ocasiões anteriores Ele havia escapado misteriosamente.
Mas o Senhor Jesus sabia que esta era a Sua hora, e por isto se deixou apanhar longe da multidão admiradora que O havia seguido antes. Judas veio diretamente até Ele, dizendo "Salve, Mestre" e lhe deu um grande beijo cerimonial, que era o sinal convencionado com os soldados para indicar a Pessoa a quem deveriam prender. O Senhor apenas repreendeu Judas com as palavras "Amigo, para que vieste?"
Segundo o Evangelho de João, o Senhor imediatamente perguntou aos soldados "A quem buscais?" Ao que responderam "A Jesus o nazareno" e Ele se apresentou, dizendo "Sou eu" - palavras que no hebraico correspondem ao Nome de Deus. Ouvindo estas palavras, eles recuaram e caíram por terra, neste instante atemorizados ao perceber, num relance, Quem estava ali.
Novamente o diálogo se repetiu, mas desta vez compreenderam que Ele queria entregar-se, mas Ele ordenou que deixassem os discípulos irem-se. Os soldados obedeceram à Sua autoridade e assim fizeram.
Os discípulos, no entanto, não entendiam que Ele devia ser preso, e lhe perguntaram "Senhor, feriremos à espada?" E um deles, Pedro, atacou o servo do sumo sacerdote com a sua espada, cortando-lhe a orelha direita.
O Senhor gritou a eles "basta" e curou o servo tocando-lhe a orelha (Lucas 22:51). É o último milagre de que temos notícia feito pelo Senhor Jesus antes da Sua crucificação e morte.
Ele ainda recriminou Seus discípulos por quererem usar violência, declarou: "Todos os que lançam mão da espada, à espada morrerão," e os informou que, se quisesse se defender, ele rogaria ao Pai e este lhe mandaria mais de doze legiões de anjos.
Este é um número grande, pois cada legião romana naquele tempo compreendia 6.100 soldados a pé e 726 montados a cavalo. Sem dúvida era uma expressão para indicar o Seu poder esmagador, que venceria qualquer tentativa humana de tomá-lo à força.
O crente não deve confiar nas armas físicas para o seu combate contra as forças das trevas, pois nosso combate não é contra pessoas físicas, mas contra as forças espirituais das trevas, e devemos usar nossa armadura espiritual (Efésios 6:12-17).
Mas os anjos "são espíritos ministradores enviados para serviço, a favor dos que hão de herdar a salvação" (Hebreus 1:14), e o Senhor nos mostrou, pelo seu exemplo, que mesmo as forças disponíveis no céu não devem ser solicitadas quando estamos desenvolvendo os Seus propósitos.
Sem dúvida Ele próprio era mais poderoso do que as legiões de anjos, mas os desígnios do Pai eram mais importantes. Como filhos de Deus, também podemos rogar a Deus que nos mande esses espíritos ministradores quando estamos em aperto, mas os desígnios de Deus devem vir em primeiro lugar, acima da nossa segurança pessoal.
O Senhor Jesus foi preso voluntariamente, a fim de cumprir a Sua missão aqui no mundo, conforme já tinha sido profetizado nas Escrituras, assim como Ele já havia prevenido Seus discípulos algumas vezes antes.
Não caberia qualquer ato de defesa de Sua parte, pois estava profetizado que "Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a sua boca" (Isaías 53:7). Em todos os casos de dificuldade, a palavra de Deus deve superar nossos desejos ou julgamentos e nada devemos fazer ou procurar fazer que seja contrário ao cumprimento das Escrituras.
Voltando-se para o grande grupo armado diante dele, o Senhor Jesus observou que tinham vindo para prendê-lo com espadas e cacetes, como se fosse um salteador. Não só um ladrão, mas um salteador, pessoa que assalta e está disposta a matar a sua vítima.
Os assaltantes naquele tempo eram considerados os piores entre os malfeitores, e o Senhor Jesus seria crucificado em lugar de um, Barrabás, como veremos mais tarde.
Todos os dias o Senhor havia se assentado com eles no templo para ensinar, quando poderiam tê-lo prendido, mas isso não aconteceu até que chegasse a hora certa, que era exatamente o dia em que se fazia o sacrifício do cordeiro na festa da Páscoa.
Tudo tinha que ser feito em cumprimento do propósito de Deus, conforme as Escrituras dos profetas (sem dúvida os soldados romanos não haveriam de saber disto) e a hora em que Ele se retirou a sós com os Seus discípulos foi a hora propícia para eles O prenderem. Esta era a hora dos Seus inimigos, a vez do "poder das trevas" (Lucas 22:53), e eles aproveitaram essa oportunidade. Foi tudo bem calculado com a presciência do Senhor Jesus.
Os soldados então se aproximaram do Senhor Jesus e O amarraram (João 18:12). Vendo isto, os discípulos todos, deixando-o, fugiram.
Marcos ainda conta o detalhe que um jovem O estava acompanhando, coberto unicamente com um lençol de linho. Quando lhe lançaram a mão, ele largou o lençol e fugiu desnudo (Marcos 14:52), com isto indicando a aflição dos discípulos para escapar à captura. Entende-se que o jovem foi o próprio Marcos, que mais tarde escreveu o Evangelho.
O pânico de que foram tomados os discípulos, fazendo com que abandonassem o seu Senhor nas mãos dos inimigos, foi um pecado, pois, embora tivessem deixado tudo para segui-lo, eles agora o deixavam sem saber o que viria depois. A sua fé ainda era fraca e insuficiente.
Ele tinha já garantido a sua liberdade (João 18:8), mas eles não confiavam nisso e fugiram de maneira inglória. Com medo de perder a própria vida abandonaram aquele que tinha as palavras da vida eterna, o Santo de Deus (João 6:66,69).
Seu abandono fazia parte do sofrimento do Senhor Jesus, assim como havia acontecido com Jó na antigüidade (Jó 19:13), e ao rei Davi (Salmo 38:11). Com isso perderam a oportunidade de dar-lhe algum apoio, quem sabe poderiam ser testemunhas no seu julgamento, mas nada fizeram.
Como a vítima do sacrifício pelos nossos pecados, o Senhor Jesus assim ficou abandonado, feito maldição por nós. Ninguém o ajudou a ser o Salvador das nossas almas, pois não precisava de ajuda de ninguém, Ele tudo fez por si mesmo.
47 E, estando ele ainda a falar, eis que chegou Judas, um dos doze, e com ele grande multidão com espadas e varapaus, enviada pelos príncipes dos sacerdotes e pelos anciãos do povo.
48 E o que o traía tinha-lhes dado um sinal, dizendo: O que eu beijar é esse; prendei-o.
49 E logo, aproximando-se de Jesus, disse: Eu te saúdo, Rabi; e beijou-o.
50 Jesus, porém, lhe disse: Amigo, a que vieste? Então, aproximando-se eles, lançaram mão de Jesus, e o prenderam.
51 E eis que um dos que estavam com Jesus, estendendo a mão, puxou da espada e, ferindo o servo do sumo sacerdote, cortou-lhe uma orelha.
52 Então Jesus disse-lhe: Embainha a tua espada; porque todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão.
53 Ou pensas tu que eu não poderia agora orar a meu Pai, e que ele não me daria mais de doze legiões de anjos?
54 Como, pois, se cumpririam as Escrituras, que dizem que assim convém que aconteça?
55 Então disse Jesus à multidão: Saístes, como para um salteador, com espadas e varapaus para me prender? Todos os dias me assentava junto de vós, ensinando no templo, e não me prendestes.
56 Mas tudo isto aconteceu para que se cumpram as escrituras dos profetas. Então, todos os discípulos, deixando-o, fugiram.
Mateus, capítulo 26, vers. 47 a 56