Continuando a se dirigir aos maiorais do templo, que haviam indagado de quem Ele recebera autorização para ensinar o povo, o Senhor Jesus lhes contou duas parábolas:
Só Mateus nos relata esta parábola, decorrente da recusa dos maiorais do templo em responder se consideravam como de origem divina o ministério de João Batista.
Na parábola, um filho diz ao seu pai, de maneira rude, que não quer fazer o que ele pede. Outro, a quem seu pai pediu a mesma coisa, diz respeitosamente que vai fazê-lo.
Mas o primeiro mudou de idéia e acabou indo fazer o que o pai pedia, enquanto que o segundo não foi.
O Mestre então perguntou aos maiorais qual dos dois filhos tinha sido obediente ao seu pai? A resposta era óbvia, e eles não podiam deixar de responder: tinha sido o primeiro.
O Senhor logo fez a aplicação da parábola: os dois filhos representavam duas classes opostas da sociedade, ou seja:
Os ímpios que viviam longe de Deus e abertamente praticavam obras más, dos quais os cobradores de impostos e as prostitutas eram considerados os piores.
Os religiosos que ostentavam estrita obediência às leis e estatutos de Deus diante do povo, representados pelos maiorais do templo que estavam diante dele.
João Batista, o último profeta de Deus a Israel, ensinou o caminho da justiça pelo arrependimento do pecado, e pelo recebimento e obediência ao Messias Jesus, que tira o pecado do mundo. Como resultado da sua pregação:
Cobradores de impostos e prostitutas creram nele e estavam entrando no Reino de Deus, pois foram obedientes à voz de Deus.
Os maiorais do templo não creram nem se arrependeram, mesmo depois das provas que haviam sido dadas, portanto os desobedientes eram eles.
Esta parábola atingia a dignidade desses religiosos: a escória da sociedade que eram os cobradores de impostos e as prostitutas estavam entrando no Reino de Deus, enquanto eles, os grandes líderes do templo, não eram dignos disto.
A parábola também tem aplicação hoje em dia: muitos que são rejeitados pela sociedade por causa dos seus vícios, imoralidade e vida desregrada são salvos mediante a fé no Senhor Jesus Cristo e entram no Reino de Deus, enquanto outros que se dão uma grande aparência de religiosidade e piedade, realizam os rituais da sua igreja regularmente e declaram aprovar as suas doutrinas, mas que nunca realmente se arrependeram dos seus pecados e confiaram em Cristo para sua salvação, permanecem fora dele.
Sem lhes dar tempo para retrucar, o Senhor pediu a atenção dos líderes do templo para outra parábola. A parábola anterior ensinava o que vinha a ser a verdadeira obediência, mas esta segunda mostrava as conseqüências da deslealdade e da desobediência daqueles homens.
É relatada também por Marcos e Lucas em seus Evangelhos.
O povo de Israel fora criado por Deus para ser a Sua própria nação na terra, e é aqui chamado pelo Senhor de Reino de Deus. Deus não se encontrava pessoalmente presente na terra, mas havia determinado uma estrutura administrativa, com reis e sacerdotes, para cuidar do povo.
Na parábola Deus é representado pelo proprietário das terras, Israel pela vinha, e a estrutura administrativa pelos lavradores.
Na Sua ausência, Deus havia incumbido vários homens, em épocas diferentes, de dar as Suas instruções ao povo. Eram os profetas, inspirados por Deus, que vinham com mensagens de alerta, repreensão, exortação, e ameaças aos administradores do povo quando eles se afastavam por outros caminhos, levando o povo com eles. Na parábola, são representados pelos servos incumbidos de receber os frutos que pertenciam ao proprietário.
A recepção que os profetas receberam dos administradores do povo foi, na maioria das vezes, má, sendo maltratados, humilhados, desprezados, encarcerados e até às vezes mortos. Assim foram recebidos os servos da parábola.
Finalmente, Deus enviou Seu Filho unigênito ao povo de Israel para endireitar o seu caminho e ensinar sobre o Reino de Deus. Como Filho de Deus ele era superior a todos os profetas e tinha a autoridade do Seu Pai sobre a nação. É representado como o filho do proprietário na parábola, a quem o proprietário espera que os lavradores respeitem.
Mas os lavradores receberam muito mal o filho do proprietário, e finalmente, depois de combinaram entre si, o agarraram, levaram para fora de vinha e o mataram. Ao dizer isto, o Senhor Jesus estava profetizando o que os que O ouviam iam fazer dele nos próximos dias.
Ao acabar de contar a parábola, o Senhor Jesus perguntou aos maiorais o que julgavam que o proprietário da vinha iria fazer com os lavradores quando voltasse à sua propriedade.
Sem compreender ainda o significado da parábola, e colocando-se no lugar do proprietário da vinha, eles declararam que ele iria se vingar impondo-lhes a morte mais cruel pelo que haviam feito, e arrendar a vinha para outros que cumprissem com a sua obrigação.
Com isto, eles se condenaram a si próprios, sem o perceber. Para que eles compreendessem, o Senhor Jesus se referiu a uma passagem que se encontra no Salmo 118:22,23, complementada em Isaías 8:14 e 15.
Estas passagens falam de uma "pedra angular" e uma "pedra de tropeço". Essa "pedra" era o próprio Senhor Jesus, conforme Ele havia declarado a Pedro (capítulo 16:18) e foi o que Pedro proclamou a esses mesmos líderes algum tempo depois (Atos 4:11).
A pedra angular era uma pedra escolhida pelos construtores no início da construção de uma casa. Ficava na esquina e dela partiam os alicerces e paredes, levando sobre si o maior peso da casa. Por isso tinha que ser grande, bem formada, e forte, da melhor qualidade.
O Senhor Jesus se compara a uma pedra que foi rejeitada pelos construtores, mas que se tornou a pedra angular de um edifício por obra maravilhosa para nós do Senhor, conforme o salmo.
Os líderes religiosos sem dúvida conheciam esse salmo que, com outros, era cantado regularmente no templo. Deveriam também conhecer a profecia de Isaías, que diz que o Senhor dos Exércitos seria uma pedra de tropeço, que faz cair.
Usando a combinação desses dois textos, o Mestre declara explicitamente aos líderes religiosos que o Reino de Deus seria tirado deles e dado a um povo que desse os frutos do reino. Esta era a chave para que eles compreendessem todo o significado da parábola dos lavradores. Os lavradores desleais e desobedientes eram eles próprios.
Eles também eram os construtores que rejeitaram a pedra, conforme o salmo. Embora fosse rejeitado por eles, Deus o escolheu e colocou por pedra angular do Seu edifício: a Sua igreja (1 Pedro 2:4, 6, 7, 8, Efésios 2:20).
Que erro enorme cometeram os líderes do templo ao rejeitarem o Senhor Jesus! Foi o fim da sua administração do povo de Deus, bem como da ambição do povo judeu daquele tempo de conseguirem a sua libertação do jugo romano e do seu engrandecimento sobre a terra.
O Reino de Deus seria tirado deles e entregue a um povo que desse os frutos do Reino, ou seja, a igreja de Cristo, que inclui tanto judeus como gentios salvos mediante a graça pela fé nele e que produzem o fruto do Espírito Santo.
O versículo 44 é interpretado de formas diferentes, mas sem dúvida o Senhor Jesus se tornou uma pedra de tropeço para Israel "que buscava uma lei que trouxesse justiça, e não a alcançou, porque não a buscava pela fé, mas como se fosse por obras. Eles tropeçaram na 'pedra de tropeço'" (Romanos 9:31,32).
Os chefes dos sacerdotes e os fariseus compreenderam que o Senhor falava a respeito deles. Queriam prendê-lo, mas temiam o povo que O considerava profeta.
28 Mas, que vos parece? Um homem tinha dois filhos, e, dirigindo-se ao primeiro, disse: Filho, vai trabalhar hoje na minha vinha.
29 Ele, porém, respondendo, disse: Não quero. Mas depois, arrependendo-se, foi.
30 E, dirigindo-se ao segundo, falou-lhe de igual modo; e, respondendo ele, disse: Eu vou, senhor; e não foi.
31 Qual dos dois fez a vontade do pai? Disseram-lhe eles: O primeiro. Disse-lhes Jesus: Em verdade vos digo que os publicanos e as meretrizes entram adiante de vós no reino de Deus.
32 Porque João veio a vós no caminho da justiça, e não o crestes, mas os publicanos e as meretrizes o creram; vós, porém, vendo isto, nem depois vos arrependestes para o crer.
33 Ouvi, ainda, outra parábola: Houve um homem, pai de família, que plantou uma vinha, e circundou-a de um valado, e construiu nela um lagar, e edificou uma torre, e arrendou-a a uns lavradores, e ausentou-se para longe.
34 E, chegando o tempo dos frutos, enviou os seus servos aos lavradores, para receber os seus frutos.
35 E os lavradores, apoderando-se dos servos, feriram um, mataram outro, e apedrejaram outro.
36 Depois enviou outros servos, em maior número do que os primeiros; e eles fizeram-lhes o mesmo.
37 E, por último, enviou-lhes seu filho, dizendo: Terão respeito a meu filho.
38 Mas os lavradores, vendo o filho, disseram entre si: Este é o herdeiro; vinde, matemo-lo, e apoderemo-nos da sua herança.
39 E, lançando mão dele, o arrastaram para fora da vinha, e o mataram.
40 Quando, pois, vier o senhor da vinha, que fará àqueles lavradores?
41 Dizem-lhe eles: Dará afrontosa morte aos maus, e arrendará a vinha a outros lavradores, que a seu tempo lhe dêem os frutos.
42 Diz-lhes Jesus: Nunca lestes nas Escrituras: A pedra, que os edificadores rejeitaram, essa foi posta por cabeça do ângulo; pelo Senhor foi feito isto, e é maravilhoso aos nossos olhos?
43 Portanto, eu vos digo que o reino de Deus vos será tirado, e será dado a uma nação que dê os seus frutos.
44 E, quem cair sobre esta pedra, despedaçar-se-á; e aquele sobre quem ela cair ficará reduzido a pó.
45 E os príncipes dos sacerdotes e os fariseus, ouvindo estas palavras, entenderam que falava deles;
46 E, pretendendo prendê-lo, recearam o povo, porquanto o tinham por profeta.
Mateus capítulo 21 vers. 28 a 46