Temos nestes versículos finais do capítulo 13 um contraste entre os discípulos do Senhor Jesus e a incredulidade dos seus patrícios.
Havendo dado várias informações aos seus discípulos sobre o Reino dos céus, mediante as sete parábolas precedentes, o Mestre lhes perguntou se haviam entendido todas aquelas coisas.
Era tudo novidade para eles, mas ao testemunharem pessoalmente os sinais que Ele fazia, eles percebiam que o Senhor Jesus era o autêntico Filho de Deus (João 6:69), logo prestavam atenção a tudo que Ele lhes dizia, também.
Tendo já pedido esclarecimento de duas parábolas que lhes pareciam obscuras, mostrando seu interesse em compreender bem, os discípulos agora responderam que sim, que haviam entendido todas aquelas coisas. Sem dúvida, o Senhor lhes teria dado mais esclarecimentos se assim não fosse.
Assim confirmaram o que o Senhor lhes havia dito (v.16): "bem-aventurados os vossos olhos, porque vêem, e os vossos ouvidos, porque ouvem."
A Palavra de Deus pode ser compreendida por todo aquele que crê na sua autenticidade e por isto presta atenção a todos os seus detalhes e procura resposta para suas dúvidas naquilo que ela própria nos diz. Ela é infalível, assim como Deus também é.
A Palavra de Deus é aqui comparada ao tesouro de uma família, do qual o pai tira coisas novas e velhas. O "escriba instruído acerca do Reino dos céus" é como esse pai de família.
Os escribas naquele tempo eram levitas cuja missão principal era a de instruir o povo na Palavra de Deus, que se limitava ao Velho Testamento. Ali se encontravam também muitas profecias que tratavam do futuro de Israel, inclusive do reino do Messias, as "coisas novas" que o Senhor estava esclarecendo e cumprindo.
Um escriba bem instruído a respeito da vinda do Messias poderia identificar o Senhor Jesus pelas profecias. Infelizmente poucos o faziam porque, como profetizara Isaías (vs. 14 e 15), o coração daquele povo estava endurecido, não querendo compreender o que ouviam, nem perceber o que viam. Assim, não se instruíam acerca do Reino dos céus, com as palavras que o Senhor Jesus proferia.
Mas aquele que "tem ouvidos para ouvir e olhos para ver", como os discípulos, pode se inteirar agora de todo o tesouro de que dispomos, o Velho e o Novo Testamento. Quem o faz se habilita, como os discípulos, a se tornar em um escriba instruído acerca do Reino dos Céus, que sabe usar toda a Bíblia para ensinar aos que querem ouvir.
Tendo concluído o ensino através destas parábolas reveladoras do Reino dos céus, o Senhor Jesus voltou para Nazaré onde havia morado antes de iniciar o Seu ministério. Ele era bem conhecido por todos, assim como a sua família, depois de uns trinta anos de convivência.
Agora Ele voltava, não mais como um humilde carpinteiro, mas conhecido por toda a parte como uma pessoa extraordinária, com muitos discípulos e seguidores, capaz de realizar curas milagrosas, que sem ser levita também ensinava com muita autoridade e sabedoria, e era invejado pelos líderes religiosos por causa das multidões que O acompanhavam por onde ia.
Logo no primeiro sábado Ele foi para a sinagoga e passou a ensinar ali também. Aquele gente, que O havia conhecido antes, ficou muito surpreendida com a Sua sabedoria, e ao saber dos milagres que Ele fazia.
É de se notar que não negavam que tinha sabedoria, nem que Ele realmente fizesse maravilhas. Não expressavam qualquer dúvida a esse respeito, mas o que não queriam aceitar é que pudesse ter havido tal transformação em Sua pessoa e a sua pergunta era: "Donde veio isso?".
A resposta deveria ser evidente: eram sinais inegáveis que Ele era o Messias prometido pelos profetas, mas isso era coisa que eles não queriam admitir de forma alguma.
Qual seria a alternativa? Mesmo se Ele fosse apenas um homem que Deus houvesse escolhido para ser o Seu profeta naquela ocasião, eles deveriam ouvir a mensagem e dar-lhe crédito. Mas um profeta de Deus não podia mentir, e Ele proclamava a chegada do Reino dos céus na Sua pessoa, conforme as profecias da chegada do Messias (Lucas 4:19). Dava na mesma.
Parece que não ousavam fazer como os líderes religiosos noutra ocasião que, diante do mesmo dilema, chegaram a acusá-lo de expelir demônios com poder concedido pelo príncipe dos demônios (cap. 12 v.24).
Assim, não encontravam resposta que servisse, e preferiram acreditar e agir como se Ele nada mais fosse do que o carpinteiro que conheciam, e que a sua transformação era algo inexplicável. Fechavam, portanto, seus olhos e seus ouvidos a Ele - exatamente como Isaías havia previsto que o povo haveria de fazer.
Isso parece ser surpreendente, mas na realidade não é: a natureza pecaminosa humana continua da mesma forma negando a realidade de Jesus Cristo, a encarnação da eterna expressão de Deus à humanidade, que deu amplas provas da Sua legitimidade aqui na terra, cumprindo fielmente as profecias feitas séculos antes a Seu respeito, e operou a obra de redenção de todos os que se arrependem e O aceitam como seu Senhor e Salvador.
Como aqueles nazarenos, esses homens têm acesso à Palavra de Deus, que por si só é uma prova incontestável da realidade do Filho de Deus, mas fecham seus olhos e ouvidos a toda aquela evidência. Chegam até a pensar que Ele era um grande ensinador, um grande homem, mesmo uma pessoa formidável, mas só um filho de um carpinteiro. Preferem continuar em seu pecado, em direção à perdição eterna.
O Senhor Jesus tinha irmãos e irmãs naquela cidade por parte da sua mãe, Maria: eram filhos mais novos de Maria com seu marido José. Eles só vieram a compreender que Ele era verdadeiramente o Filho de Deus depois da Sua ressurreição.
Os seus conterrâneos chegaram até a se ofender com o Senhor Jesus. Ele mesmo já havia dito: "Quem não é comigo é contra mim; e quem comigo não ajunta espalha." (Cap. 12 v.30).
O Senhor Jesus declarou, então, que "Não há profeta sem honra, a não ser na sua pátria e na sua casa." Isto tornou-se um provérbio, pois é um fato constatável entre as pessoas que a familiaridade tende a erodir o respeito mútuo entre as pessoas.
Devido à sua incredulidade e estupidez, os nazarenos se privaram das muitas bênçãos de que poderiam ter desfrutado com a presença do Filho de Deus entre eles.
Enquanto Ele realizou muitas curas e deu ensinos preciosos em outros lugares, Ele não fez muitas maravilhas ali. Segundo lemos em Marcos 6:5, "Ele não podia fazer ali obras maravilhosas; somente curou alguns poucos enfermos, impondo-lhes as mãos."
Essa é uma revelação séria: o poder de Deus naquele lugar foi limitado por causa da incredulidade. Não que o Deus onipotente tivesse o seu poder reduzido de alguma forma, mas Ele preferiu por sua própria vontade não fazer milagres ali. Seria como "lançar pérolas aos porcos" (cap. 7 v.6).
Isso nos leva a refletir: estaríamos nós nos privando das bênçãos de Deus por causa de incredulidade? A maior bênção que nos é oferecida - a salvação das nossas almas - depende inteiramente de colocarmos a nossa fé na obra redentora do Senhor Jesus. Mas, já tendo esta, será que nos falta crer que Deus também pode salvar ao mais vil dos pecadores? Por vacilarmos e mostrar incredulidade talvez deixamos de levar o Evangelho aos que estão perdidos, limitando dessa forma a graça de Deus para com o mundo pecador.
É assunto para reflexão e, se assim for, ação! Precisamos de fé que Cristo salva o perdido, não importa o grau do seu pecado.
51 E disse-lhes Jesus: Entendestes todas estas coisas? Disseram-lhe eles: Sim, Senhor.
52 E ele disse-lhes: Por isso, todo escriba instruído acerca do Reino dos céus é semelhante a um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e velhas.
53 E aconteceu que Jesus, concluindo essas parábolas, se retirou dali.
54 E, chegando à sua pátria, ensinava-os na sinagoga deles, de sorte que se maravilhavam e diziam: Donde veio a este a sabedoria e estas maravilhas?
55 Não é este o filho do carpinteiro? E não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos, Tiago, e José, e Simão, e Judas?
56 E não estão entre nós todas as suas irmãs? Donde lhe veio, pois, tudo isso?
57 E escandalizavam-se nele. Jesus, porém, lhes disse: Não há profeta sem honra, a não ser na sua pátria e na sua casa.
58 E não fez ali muitas maravilhas, por causa da incredulidade deles.
Mateus capítulo 13, vers. 51 a 58