Tendo tido aquela maravilhosa oportunidade de ver o Senhor Jesus na Sua glória, no alto do monte, Pedro, Tiago e João desceram com Ele até o vale onde estavam os outros discípulos.
Ali se havia juntado uma grande multidão, e também alguns mestres da lei discutindo com eles. Entre a multidão estava um homem que havia trazido seu filho, possesso por um demônio, que provocava nele sintomas de epilepsia e o impedia de falar.
Em sua terceira viagem à Galiléia, o Senhor Jesus havia dado aos Seus discípulos autoridade para expulsar espíritos imundos e curar todas as doenças e enfermidades, em uma missão específica de anunciar apenas aos judeus que era chegado o Reino dos céus (capítulo 10). E durante aquela missão eles tiveram sucesso com esses sinais (Marcos 6:13).
O homem então pediu aos discípulos que expulsassem o espírito do seu filho. Na ausência do Senhor, lembrando-se dos poderes que haviam recebido naquela ocasião, os discípulos procuraram atender ao pedido do homem, mas a despeito dos seus esforços não tiveram sucesso.
Ao ver o Senhor Jesus, o povo ficou muito surpreso e correu para saudá-lo (Marcos 9:15). O homem também se aproximou, ajoelhou-se em reverência diante dele, e pediu misericórdia, explicando a situação.
A resposta do Senhor Jesus tem dado motivo a muita controvérsia desde a antigüidade: quem era a "geração perversa e incrédula" com a qual Ele parecia ter-se impacientado?
Os discípulos nunca foram chamados de perversos nem incrédulos, embora ainda tivessem pouca fé (versículo 20). Eles ainda tinham muito que aprender, e não sabiam ainda discernir os espíritos, sendo este de uma espécie mais difícil de expulsar (ver. 21).
Ao dizer "geração perversa e incrédula" o Senhor pode estar se referindo ao povo judeu em geral (capítulo 23:36, 24,34), ao daquela época (capítulo 11:16), ou somente aos escribas ali presentes que estavam discutindo com os seus discípulos (capítulo 12:39-45, 41). Parece mais provável que fosse aos judeus daquela época, pois Mateus não menciona os escribas. A possessão por demônios se tornara comum, sendo resultado da apostasia do povo judeu. Ele se tornou perverso e incrédulo quando da vinda do Messias, e o rejeitaria ao ponto de matá-lo, como o Senhor repetiu aos Seus discípulos em seguida a este episódio.
O pai do menino parecia duvidar um pouco, ao dizer ao Senhor "se tu podes fazer alguma coisa, tem compaixão de nós, e ajuda-nos", ao que o Senhor respondeu "Se podes? Tudo é possível ao que crê" ((Marcos 9:22).
A condição essencial para que Deus possa operar em nossa vida, e ainda fazer milagres, é que creiamos em Seu Filho, o Senhor Jesus Cristo. Não se trata de crer que Deus pode fazer milagres, ou de ter grande fé na operação de milagres por Seus servos. É a fé salvadora provada pela conversão e rendição a Ele.
O pobre pai do menino, pronto a fazer qualquer coisa para libertá-lo do seu opressor, exclamou "Creio, ajuda-me a vencer a minha incredulidade!" (Marcos 9:24).
O Senhor Jesus não se fez mais esperar e, misericordioso, imediatamente ordenou ao espírito que saísse do menino. E ele saiu, não sem primeiro dar mais uma demonstração da sua maldade.
Os discípulos ainda estava curiosos por saber a razão por que não haviam podido expulsar aquele demônio, e pediram mais tarde, quando estavam a sós, que o Senhor lhes explicasse.
Ele lhes deu duas razões:
A fé deles era pequena demais.
Aquela espécie de demônio só saia pela oração e pelo jejum.
Se tivessem fé do tamanho de um grão de mostarda, eles poderiam mover aquele monte - seria o da transfiguração! O grão de mostarda era o menor que conheciam (Marcos 4:31) e, decerto, este era um ditado popular para indicar a coisa menor que se pudesse imaginar. A pequena fé que move o alto monte era uma parábola.
A fé deles não tinha substância, logo era inoperante. Eles tinham muito que aprender ainda até que compreendessem a realidade do Messias, a Sua missão salvadora, e o verdadeiro caráter da missão que tinham que desempenhar como Suas testemunhas.
Por enquanto, eles confiavam apenas na autoridade que Ele lhes dera anteriormente, durante a sua missão de pregar o Reino aos judeus. Essa missão havia terminado, e eles não tinham competência para continuar a fazer mais milagres.
Ao invés de procurar expulsar esse demônio com os poderes que haviam recebido, eles tinham que interceder junto a Deus, com oração e jejum, para que Ele lhes concedesse o pedido. O Senhor Jesus disse, em outra ocasião que, quando Ele fosse para o céu, os discípulos deveriam pedir tudo em Seu nome ao Pai (João 14:13).
Depois da Sua morte e ressurreição, Jesus Cristo outra vez concedeu, apenas aos que entre os apóstolos realmente criam em Sua pessoa divina, tendo aceito a Sua morte remidora, os dons especiais de cura em Seu nome de enfermidades e expulsão de demônios - Judas Iscariotes já não se contava mais entre eles (Marcos 16:17-18).
Pela terceira vez o Senhor Jesus declarou aos Seus discípulos que Ele seria entregue nas mãos dos homens, que seria morto mas depois ressuscitaria. Quem o entregaria? Judas Iscariotes (cap. 26:14-16) assim cumprindo profecias em Jeremias 18:18 e Zacarias 11:13.
Os discípulos ficaram cheios de tristeza, sem compreender ainda o que significava a Sua morte, vindo depois a ressurreição, e tinham receio de perguntar-lhe (Marcos 9:32). Todo crente precisa procurar na Palavra de Deus a resposta para as suas dúvidas, para aumentar a sua fé.
14 E, quando chegaram à multidão, aproximou-se-lhe um homem, pondo-se de joelhos diante dele, e dizendo:
15 Senhor, tem misericórdia de meu filho, que é lunático e sofre muito; pois muitas vezes cai no fogo, e muitas vezes na água;
16 E trouxe-o aos teus discípulos; e não puderam curá-lo.
17 E Jesus, respondendo, disse: O geração incrédula e perversa! até quando estarei eu convosco, e até quando vos sofrerei? Trazei-mo aqui.
18 E, repreendeu Jesus o demónio, que saiu dele, e desde aquela hora o menino sarou.
19 Então os discípulos, aproximando-se de Jesus em particular, disseram: Por que não pudemos nós expulsá-lo?
20 E Jesus lhes disse: Por causa de vossa pouca fé; porque em verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá, e há de passar; e nada vos será impossível.
21 Mas esta casta de demónios não se expulsa senão pela oração e pelo jejum.
22 Ora, achando-se eles na Galiléia, disse-lhes Jesus: O Filho do homem será entregue nas mãos dos homens;
23 E matá-lo-ão, e ao terceiro dia ressuscitará. E eles se entristeceram muito.
Mateus capítulo 17 vers. 14 e 23