Os fariseus rejeitavam a idéia que Jesus era o Messias que todos esperavam, e tinham inveja da admiração que o povo tinha por Ele. Sempre que enfrentavam o Senhor Jesus, eles levavam a pior, Ele demonstrava ter um conhecimento por demais correto a respeito deles, e não os respeitava.
Eles agora começaram a conspirar entre si, e também com os seus detestados rivais, os herodianos, em como poderiam matar o Senhor Jesus (Marcos 3:6; Lucas 6:11). O obstáculo era a admiração que o povo tinha por Ele.
O Senhor Jesus podia ler os seus pensamentos e se afastou dali, acompanhado por uma grande multidão. A Sua hora ainda não havia chegado, e eles não podiam tocá-lo até então. A multidão levava consigo os seus enfermos, e Ele curou a todos mas os advertia sempre que não dissessem quem ele era.
Há vários motivos possíveis para que Ele não desejasse obter publicidade a respeito da sua identidade nessa ocasião. Poderia, por exemplo, ter dado início a algum movimento político resultando numa rebelião contra os romanos, e Ele não viera para isso.
Desta forma foi cumprida uma profecia feita uns sete séculos antes por Isaías, citada aqui (Isaías 42:1-4). As palavras não coincidem todas exatamente com a tradução do original da profecia no Velho Testamento, como acontece também com outras citações feitas no Novo Testamento. A explicação mais provável é que tem havido alguma diferença na interpretação do significado exato das palavras do hebraico antigo, bem como do grego antigo para o qual as citações foram traduzidas no Novo Testamento.
O sentido da profecia é que o Messias, "o servo", tendo sobre ele o Espírito de Deus, anunciará a justiça às nações quietamente, sem qualquer alarde. Não mudará com violência o panorama mundial até levar a justiça à vitória, quando então as nações porão sua esperança em Seu nome.
A profecia abrange um longo espaço de tempo, mas começa com o ministério do Cristo, com o Espírito Santo. Seu propósito não era mudar o panorama político da terra mas proclamar a justiça, que é o Evangelho. Ele tem sido proclamado através dos séculos, e muitos gentios têm sido salvos em Seu Nome. Um dia o Evangelho será vitorioso, e as nações serão governadas pelo Senhor Jesus.
Trouxeram então ao Senhor um pobre homem que era endemoninhado, cego e mudo. Sua cura foi imediata, passando ele a ver e a falar. O povo ficou atônito, ou, literalmente, "ficou fora de si" ao ver tamanho milagre, e perguntava (literalmente): "É este o Filho de Davi?" Por Filho de Davi eles significavam o descendente do rei Davi que, segundo as promessas feitas a ele, e as profecias, assumiria o reino e traria glória eterna a Israel. Enfim, o Messias.
A pergunta foi feita de forma a convidar a resposta "não", talvez por medo dos líderes religiosos entre eles. Estes perceberam a grande excitação do povo naquele momento, e concluíram que a disposição manifesta do povo de crer que Jesus era o Messias precisava de uma ação extrema da sua parte.
Não lhes sendo possível negar a autenticidade daquele prodígio sobrenatural, em seu desespero, eles sugeriram que Jesus expulsava demônios pelo poder de Belzebu, o príncipe dos demônios.
Belzebu é uma palavra de etimologia desconhecida, mas era usada como sendo um nome vergonhoso. Segundo alguns, poderia significar "senhor de uma casa", "senhor das moscas", "senhor do esterco" ou "senhor dos sacrifícios idólatras".
Foi uma declaração mal pensada e ilógica, como o Senhor Jesus logo demonstrou a todos, pois conhecia os seus pensamentos:
A divisão traz a ruína, seja de um reino, de uma cidade ou de uma casa. Se Satanás expulsa ele próprio, ele está dividido e não subsistirá o seu reino. (Logo, ele nunca fará tal coisa).
Se Ele expulsava demônios por Belzebu, então por quem expulsavam os seus filhos? Havia naquele tempo alguns exorcistas associados aos fariseus, que diziam ter poder de expulsar demônios. Se o poder de expelir demônios era satânico, então todos os que o fizessem estariam ligados a esse poder.
Se, por outro lado, Ele expulsava demônios pelo Espírito de Deus, então o Reino de Deus havia chegado até eles. (O que os líderes religiosos se recusavam a admitir).
O homem forte da casa (Belzebu) tem que ser dominado antes de se poder roubar sua casa. Nenhum homem pode fazer isto com suas próprias forças, logo essa alternativa não existe.
Finalmente vem o desafio "Quem não é comigo é contra mim; e quem comigo não ajunta espalha." Em relação ao Senhor Jesus não é possível ser espectador em cima do muro: ou somos a favor, ou somos contra. Aqueles religiosos tinham que decidir que atitude tomar.
Ainda hoje o Senhor Jesus tem inimigos que O detestam, assim como todas as palavras e ações justas porque ferem a sua consciência e isso os enfurece. Cristo, o Salvador, ajunta o seu rebanho enquanto Satanás dispersa. Podemos escolher andar e trabalhar com Cristo, ou ser contra Ele e espalhar a confusão com Satanás.
Em Marcos 9:40 o Senhor Jesus disse: "quem não é contra nós é por nós" o que pode dar a parecer que existe um meio termo. Mas não é o caso: a decisão em Mateus diz respeito à salvação, receber ou não a Jesus Cristo como Salvador e Senhor da nossa vida; em Marcos, a decisão é concernente ao serviço do crente. Existem grandes diferenças entre os discípulos de Cristo, por exemplo, quanto à prática na igreja a que pertencem, métodos e interpretação de doutrinas. Nesta situação, quem não é contra o Senhor, é por Ele e deve ser respeitado por isso.
O Senhor Jesus em seguida declarou que "todo pecado e blasfêmia se perdoará aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada aos homens" e "se qualquer disser alguma palavra contra o Filho do Homem, ser-lhe-á perdoado, mas, se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste século nem no futuro".
São palavras solenes, pois declaram que existe um pecado para o qual não existe perdão de Deus, nem no presente nem no futuro, por toda a eternidade. Muitos se preocupam temendo que o cometeram, pois não têm certeza do que se trata.
Quando uma passagem não é suficientemente clara em si mesma, a exegética manda que se procure o esclarecimento em paralelo com outras passagens, pois não pode haver contradição.
Não há qualquer pecado cometido hoje em dia por alguém que o Senhor Jesus não possa perdoar, pois ele morreu na cruz para levar sobre Si todos os pecados: "Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça" (1 João 1:9). Isto está em sintonia com toda a Bíblia que nos ensina que Deus é misericordioso, e Sua justiça foi satisfeita no sangue de Cristo, permitindo assim a justificação de todo aquele que o recebe como Senhor e Salvador.
O pecado imperdoável não poderá ser cometido por aqueles que já receberam a vida eterna, mediante a fé no Senhor Jesus, pois esta nunca lhes será tirada: é eterna, e a vida eterna é comunhão com Deus diante de quem não pode haver pecado.
Haverá certamente uma condenação eterna, portanto sem possibilidade de perdão de Deus, para aqueles cujo nome não estiver escrito no "livro da vida" (Apocalipse 20:15). Entre estes estarão os que cometem o pecado imperdoável, como segue.
O contexto da declaração do Senhor Jesus foi a rejeição dos religiosos judeus à clara evidência que Ele expulsava demônios pelo Espírito de Deus. O pecado imperdoável tem a ver com a atitude que estavam tomando, ou com a decisão que haveriam de tomar de estar com Cristo ou contra Cristo mencionada logo antes.
O Espírito Santo testemunha a respeito de Cristo (1 João 5:6). Quem resiste a esse testemunho faz o Espírito Santo de mentiroso, e assim blasfema contra o Espírito. Rejeita a salvação que vem pelo testemunho da Palavra inspirada pelo Espírito Santo, e rejeita a regeneração do Espírito Santo. Não só é uma blasfêmia contra o Espírito Santo, mas é falar contra Ele. Eis o pecado imperdoável neste século e no vindouro. Para este nunca haverá perdão.
14 E os fariseus, tendo saído, formaram conselho contra ele, para o matarem.
15 Jesus, sabendo isso, retirou-se dali, e acompanhou-o uma grande multidão de gente, e ele curou a todos.
16 E recomendava-lhes rigorosamente que o não descobrissem,
17 para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta Isaías, que diz:
18 Eis aqui o meu servo que escolhi, o meu amado, em quem a minha alma se compraz; porei sobre ele o meu Espírito, e anunciará aos gentios o juízo.
19 Não contenderá, nem clamará, nem alguém ouvirá pelas ruas a sua voz;
20 não esmagará a cana quebrada e não apagará o morrão que fumega, até que faça triunfar o juízo.
21 E, no seu nome, os gentios esperarão.
22 Trouxeram-lhe, então, um endemoninhado cego e mudo; e, de tal modo o curou, que o cego e mudo falava e via.
23 E toda a multidão se admirava e dizia: Não é este o Filho de Davi?
24 Mas os fariseus, ouvindo isso, diziam: Este não expulsa os demônios senão por Belzebu, príncipe dos demônios.
25 Jesus, porém, conhecendo os seus pensamentos, disse-lhes: Todo reino dividido contra si mesmo é devastado; e toda cidade ou casa dividida contra si mesma não subsistirá.
26 E, se Satanás expulsa a Satanás, está dividido contra si mesmo; como subsistirá, pois, o seu reino?
27 E, se eu expulso os demônios por Belzebu, por quem os expulsam, então, os vossos filhos? Portanto, eles mesmos serão os vossos juízes.
28 Mas, se eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, é conseguintemente chegado a vós o Reino de Deus.
29 Ou como pode alguém entrar em casa do homem valente e furtar os seus bens, se primeiro não manietar o valente, saqueando, então, a sua casa?
30 Quem não é comigo é contra mim; e quem comigo não ajunta espalha.
31 Portanto, eu vos digo: todo pecado e blasfêmia se perdoará aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada aos homens.
32 E, se qualquer disser alguma palavra contra o Filho do Homem, ser-lhe-á perdoado, mas, se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste século nem no futuro.
Mateus capítulo 12:14 a 32