Após ter explicado como os "últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos" no reino de Deus, que diz respeito à retribuição pelo trabalho feito em resposta ao chamado de Deus, o Senhor Jesus, pela quarta vez, mencionou a sua morte e ressurreição aos seus discípulos (veja cap. 16:21, Lucas 9:31 e cap. 17:9, 17:12, 22 e 23).
Seus discípulos estavam com Ele, subindo para Jerusalém para celebrar a festa da Páscoa, a última que o Senhor Jesus celebraria com eles. Ele chamou os discípulos à parte para novamente confirmar o que aconteceria ali com Ele:
Seria primeiro entregue aos chefes religiosos e civis dos judeus (Judas Iscariotes, presente entre os apóstolos, foi quem o traiu).
Condenado à morte pelos judeus, eles O entregariam aos que não eram judeus (o governador romano, Pilatos, e os seus soldados) para zombar dele, açoitá-lo e crucificá-lo. Os judeus não tinham autoridade para executar um prisioneiro e eram obrigados a entregá-lo à autoridade romana competente para julgamento segundo as leis romanas e a punição devida.
No terceiro dia Ele ressuscitaria.
Tanto Marcos como Lucas também relatam essa declaração do Senhor Jesus. Sem dúvida a primeira parte era assunto desagradável para os discípulos, e na primeira vez que o Senhor o havia mencionado, Pedro havia procurado dissuadi-lo sugerindo que era pessimismo da Sua parte (capítulo 16:22).
Lucas informa que os discípulos não entenderam nada dessas coisas, que o significado dessas palavras lhes estava oculto e não sabiam do que Ele estava falando (Lucas 18:34).
Estavam, no entanto, empolgados com o reino de Deus sobre o qual o Senhor Jesus estivera falando antes. Mais ainda com a posição que iriam ocupar nesse reino, onde o seu Mestre, o Messias de Deus, ocuparia o trono como herdeiro de Davi.
Dois dos discípulos, os irmãos Tiago e João, trazendo sua mãe com eles, adiantaram-se para lhe pedir um favor. A mãe prostrou-se diante dele, em atitude de grande reverência ou adoração.
Marcos nos informa que os dois discípulos lhe disseram "Mestre, queremos que nos faças o que vamos te pedir" (Marcos 10:35). O Senhor perguntou o que desejavam que Ele fizesse. Embora podendo ler os seus pensamentos, Ele quis que manifestassem a todos o seu pedido.
Depois das lições sobre humildade que haviam recebido, é de surpreender a natureza egoísta do pedido: queriam que, ao assumir o Seu trono na glória, Ele os colocasse ao Seu lado, um à direita, e outro à esquerda. Estas são as posições de maior honra que um soberano pode dar aos seus súditos.
Ante tamanha desfaçatez, o Senhor demonstrou soberbamente o Seu caráter manso e humilde, atribuindo aquela barbaridade à ignorância deles.
Eles estavam pensando que conseguiriam o que pediam na base da amizade, e, talvez por serem os primeiros a pedir, teriam uma vantagem sobre os outros. Eles queriam a coroa sem a cruz, o trono sem o altar de sacrifício, a glória sem o sofrimento que a precede.
Para evidenciar a ignorância deles, o Senhor Jesus perguntou-lhes se eram capazes de "beber o cálice que Ele estava bebendo ou ser batizados com o batismo com que estava sendo batizado". Se eles entenderam a pergunta não nos é informado, mas, confiantes em si, declararam que sim.
Ele estava se referindo ao cálice do sofrimento que Ele estava para beber, e à morte e ao sepultamento que viriam antes de ressurgir glorioso, que era o Seu batismo. Esse batismo é simbolizado pelo batismo sob a água do pecador que se converte a Cristo.
O Senhor Jesus, conhecedor do futuro, declarou que, de fato, eles iriam beber do mesmo cálice e ser batizados com o mesmo batismo: ambos passariam por sofrimento, e iriam morrer por sua fé (mas sua ressurreição só se dará na vinda do Senhor Jesus para a Sua igreja).
Tiago foi preso e decapitado por Herodes pouco tempo depois, enquanto João viveu até a velhice, mas sofreu grandes perseguições, sendo finalmente exilado na pequena ilha de Patmos antes de morrer, onde lhe foi revelado o que escreveu no Apocalipse. Já foi dito: "Tiago morreu como mártir, João viveu como mártir."
Mas, nem por isso eles teriam conquistado o direito às posições que desejavam. O Senhor esclareceu que Ele só concederia esse supremo privilégio àqueles que tivessem direito a ele conforme os propósitos de Deus. Por mais que fosse o Seu apego a esses dois discípulos, Ele não podia favorecê-los fora dos justos parâmetros divinos. Os lugares pertencem àqueles para os quais foram preparados.
Deus sabe quem são, mas só será do conhecimento geral quando todos os remidos estiverem no céu. Talvez ainda não tenham nascido e, como na parábola dos trabalhadores, os primeiros poderão ser os últimos.
A entrada no reino dos céus é gratuita, concedida por Deus a todos os que O procuram, arrependidos, e confiam na obra redentora de Cristo Jesus. Mas a posição de cada um naquele reino, será determinada pelo Senhor Jesus no início do seu reino, sendo a "parábola dos talentos" (capítulo 25:14-30) bastante esclarecedora.
O apóstolo Paulo disse "Prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus." (Filipenses 3:14.) A vida do cristão é uma corrida visando atingir um alvo. Aos vencedores caberá um galardão, atéos melhores lugares no Reino.
Os outros discípulos ficaram indignados contra Tiago e João ao saber do acontecido. Sem dúvida não gostaram da maneira sub-reptícia em que eles quiseram obter para si aquela posição exaltada sobre todos - talvez até cobiçavam eles próprios os lugares.
Mais uma vez o Senhor Jesus teve que mostrar como os critérios divinos são muito diferentes dos que se usam entre os homens. No mundo os povos são dominados pelos seus príncipes, os que têm maior preponderância entre eles, seja por herança, por riqueza, ou por argúcia e habilidade política, e que altivamente exigem submissão e serviço do povo a quem dominam.
" Não será assim entre vós": os discípulos, as igrejas, o reino espiritual de Deus neste mundo não é para ser regido por "príncipes", uma casta de dominadores.
O desejo de ser "grande" no serviço de Deus não está sendo condenado, mas quem quiser ser mais importante só poderá atingir o seu objetivo fazendo-se servo dos seus irmãos. Para ser o primeiro em posição é preciso fazer-se de último, o escravo de todos os demais membros, o que é uma completa inversão da ordem convencional no mundo.
Jesus Cristo nos deu o supremo exemplo: originalmente em forma de Deus, esvaziou-se tomando a forma de servo entre os homens (Filipenses 2:6-7). Veio sem pompa ou glória, mas na mesma forma deles serviu ao Seu povo, suprindo as suas necessidades e sofrendo o escárnio e humilhações dos que se julgavam mais importantes, e finalmente deu a Sua própria vida em resgate de muitos.
A palavra resgate significa, literalmente, um preço pago para a libertação de quem se encontra cativo. A humanidade se encontra em estado de cativeiro pelo pecado, e está sob condenação (Efésios 2:3, Romanos 3:9-20,23, 1 João 5:19), e maldição (Gálatas 3:10), sujeita à morte eterna (Ezequiel 18:4, Salmos 9:17, 11:6, 68:2, 139:19, Mateus 25:46, Romanos 2:6-9).
Todos pecaram, e estão condenados ao perecimento. Perecimento é a morte eterna, que, por ser eterna não é aniquilação ou simples inexistência. É um estado de eterno afastamento da presença de Deus, em sofrimento.
Para sair desse cativeiro, é preciso pagar o preço do resgate, mas nenhum homem ou outra criatura de Deus, no mundo ou no céu, podia pagá-lo, mesmo por um só ser humano.
A única solução foi a que Deus nos deu: enviou seu Filho ao mundo para, com seu sangue, pagar pela redenção de todo aquele que O aceita como Senhor e Salvador. São muitos os que têm sido resgatados, mas não são todos: os que O rejeitam continuam na condenação à morte eterna (Marcos 16:16).
17 E, subindo Jesus a Jerusalém, chamou de parte os seus doze discípulos, e no caminho disse-lhes:
18 Eis que vamos para Jerusalém, e o Filho do homem será entregue aos príncipes dos sacerdotes, e aos escribas, e condená-lo-ão à morte.
19 E o entregarão aos gentios para que dele escarneçam, e o açoitem e crucifiquem, e ao terceiro dia ressuscitará.
20 Então se aproximou dele a mãe dos filhos de Zebedeu, com seus filhos, adorando-o, e fazendo-lhe um pedido. 21 E ele diz-lhe: Que queres? Ela respondeu: Dize que estes meus dois filhos se assentem, um à tua direita e outro à tua esquerda, no teu reino.
22 Jesus, porém, respondendo, disse: Não sabeis o que pedis. Podeis vós beber o cálice que eu hei de beber, e ser batizados com o batismo com que eu sou batizado? Dizem-lhe eles: Podemos.
23 E diz-lhes ele: Na verdade bebereis o meu cálice e sereis batizados com o batismo com que eu sou batizado, mas o assentar-se à minha direita ou à minha esquerda não me pertence dá-lo, mas é para aqueles para quem meu Pai o tem preparado.
24 E, quando os dez ouviram isto, indignaram-se contra os dois irmãos.
25 Então Jesus, chamando-os para junto de si, disse: Bem sabeis que pelos príncipes dos gentios são estes dominados, e que os grandes exercem autoridade sobre eles.
26 Não será assim entre vós; mas todo aquele que quiser entre vós fazer-se grande seja vosso serviçal;
27 E, qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, seja vosso servo;
28 Bem como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos.
Mateus capítulo 20 vers.17 a 28