Entramos agora na segunda parte do ministério do Senhor Jesus.
Na primeira, vimos como Ele se apresentou ao povo como o Messias, e lhes fez o Sermão da Montanha, que contemplava a lei dada por Moisés a eles. Ele separou e enviou doze discípulos (os apóstolos) para anunciar a todos os judeus apenas que o Reino de Deus havia chegado e mediante ensino (como no sermão da Montanha), e diversos sinais sobrenaturais Ele provou a sua autenticidade.
Esta primeira parte terminou quando foi rejeitado pelos líderes do povo, os líderes religiosos, e eles decidiram matá-lo. A transição se vê no último episódio, quando Ele se desliga dos laços de parentesco com o povo de Israel, representado por sua mãe e sua família, e os substitui por todos aqueles (de qualquer nacionalidade), que obedecem a Deus.
O capítulo 13 é como uma chave para compreendermos o Evangelho de Cristo, pois dá início ao chamado Discurso das Parábolas de Mistério, contendo as sete parábolas do Reino dos Céus que mostram a situação do Reino desde aquela época até a nova vinda do Messias para esta terra.
É o segundo dos três grandes discursos, sendo que o primeiro, o Sermão da Montanha, olhava para o passado, a lei dada por Moisés, e o terceiro, o Discurso do Monte das Oliveiras, contempla o futuro, e as coisas que acontecerão depois da presente era com a volta do Rei.
O nome Parábolas de Mistério é dado porque na Palavra de Deus, "mistério" é algo escondido, ou um segredo, até o dia em que é revelado. Por exemplo, a igreja de Cristo fora planejada por Deus "antes do princípio das eras" (1 Coríntios 2:7), mas não foi revelada no Velho Testamento e sim somente depois da ressurreição de Jesus Cristo, tendo Ele completado a obra de redenção para toda a humanidade e cumprido toda a justiça.
Teria sido prematuro revelar a igreja antes, principalmente porque não seria possível a sua existência antes da morte e ressurreição do Senhor Jesus: "… Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela …" (Efésios 5:25). A igreja é uma parte do Reino de Deus, mas o Reino de Deus não se limita à igreja, assim como a igreja de Cristo não se limita a todas as igrejas de Deus aqui no mundo na atualidade.
O Reino de Deus consiste daqueles que são os súditos de Deus, e estes são de duas espécies:
os que fazem uma declaração formal, externa, que Deus é seu Senhor
os que entram no reino mediante conversão.
Segundo depreendemos do relato bíblico, o Reino de Deus passa por cinco fases:
A fase da profecia - quando era profetizado no Velho Testamento.
A fase quando estava próximo - quando o Rei estava na terra e foi rejeitado.
A fase interina - incorporando todos os que tomam para si o nome de Cristo, depois que Ele foi rejeitado como Rei e voltou para o céu.
A manifestação do reino durante o milênio.
O reino eterno, final.
Qualquer referência ao Reino de Deus (ou Reino dos Céus) na Bíblia cabe em uma dessas cinco fases.
As Parábolas de Mistério contemplam a fase 3 - interina - do Reino de Deus.
No início do capítulo lemos que o Senhor Jesus saiu da casa em que estava e assentou-se à beira-mar. Era ainda o mesmo dia em que curara um endemoninhado, tivera a discussão com os fariseus que blasfemaram contra Ele, e onde fora procurado pela sua mãe e seus irmãos. Foi um dia de grande atividade e serve como exemplo, pois sem dúvida houve muitos outros semelhantes dos quais não são dados tantos detalhes.
Simbolicamente, podemos ver a casa como a "casa de Israel" e o mar como a humanidade em geral. Assim, Ele deixou de tratar com Israel apenas, mas com toda a humanidade, a fase interina do Seu Reino. É um simbolismo encontrado em outras partes das Escrituras.
Uma multidão se reuniu então ao redor dele, tão grande que Ele entrou num barco, assentou-se, e pôs-se a ensinar o povo por parábolas: essas são histórias contendo um ensinamento de ordem moral ou espiritual, que nem sempre são compreendidas de imediato.
Mateus selecionou sete parábolas que o Senhor contou nessa ocasião, das quais as primeiras quatro foram dirigidas ao povo em geral, e as três seguintes apenas aos Seus discípulos. O Senhor Jesus deu a explicação para as primeiras duas e para a última, deixando as demais para interpretarmos com as chaves dadas para aquelas. Por exemplo, as "aves do céu" representam o Maligno - este deve ser o significado a ser dado em outras parábolas para as "aves do céu".
Nesta primeira, a do Semeador, a lição consiste no resultado obtido da sementeira. Vemos que o resultado depende inteiramente da natureza do solo em que a semente é plantada: o Semeador é sempre o mesmo e a semente também.
Ao terminar de contar a parábola, o Senhor Jesus fez a advertência "aquele que tem ouvidos para ouvir, ouça!" Em sua maioria, o povo estava ali por curiosidade. Acompanhando os seus líderes, eles não criam na divindade de Cristo, e não levavam a sério o que Ele dizia a respeito de Si próprio. Eles portanto não tinham ouvidos para ouvir (e crer) naquilo que Ele dizia.
Os discípulos perguntaram porque Ele falava ao povo assim, em parábolas, ao invés de falar às claras.
Ele respondeu, dizendo que havia duas espécies de ouvintes: os discípulos a quem foi dado o conhecimento dos mistérios do Reino dos céus, e o povo a quem esse conhecimento não foi dado. Parece uma discriminação estranha partindo do Senhor Jesus, que incorporava a justiça divina. Mas é explicada a seguir.
A palavra mistério se origina do grego mustêrion e esta deriva de mustês (um discípulo) e mueô (fechar). As religiões do Oriente tinham toda espécie de segredos e signos como algumas religiões e sociedades secretas atuais. Mas os discípulos delas os conheciam. Assim os discípulos de Cristo estavam aprendendo os mistérios do Reino dos céus através das parábolas. Esses mistérios continuam a ser revelados pelas Escrituras a todos os que crêem na pessoa de Cristo e em Suas palavras, assim como os discípulos (Romanos 16:26, 1 Coríntios 2:7, etc.).
Aos que têm fé no Senhor Jesus, mais lhes será dada. A nação de Israel rejeitou a Luz do mundo, portanto perdeu a luz que tinha.
As parábolas do Senhor Jesus estão fora da compreensão dos fariseus, com a sua hostilidade, e do povo, com sua incredulidade.
Isaías havia profetizado neste sentido, e a sua profecia se cumpria no povo que rejeitava o Senhor Jesus como Messias: eles viam o Senhor fazendo sinais, mas não O reconheceram, e ouviam o que Ele dizia, mas não Lhe davam atenção, nem O entendiam.
O problema do povo, segundo Isaías, era que o seu coração se tornou insensível, ouvia de má vontade, e não queria ver. Perdeu assim a salvação de Deus.
Felizes, bem-aventurados, são os que se dispõem a ver, e a ouvir com os olhos da fé a realidade do Senhor Jesus. Isto representa uma vantagem sobre muitos profetas e justos da antigüidade que viveram antes de Cristo.
O Senhor Jesus fez uma explicação perfeita da parábola do Semeador:
Ele próprio é o Semeador, a semente é a mensagem do Reino (o Evangelho) e o solo é quem ouve a mensagem.
Quatro tipos de pessoa são considerados:
Somente as pessoas que estão dentro deste último tipo têm vida espiritual, e crescem produzindo fruto espiritual para a glória de Deus.
1 Tendo Jesus saído de casa naquele dia, estava assentado junto ao mar.
2 E ajuntou-se muita gente ao pé dele, de sorte que, entrando num barco, se assentou; e toda a multidão estava em pé na praia.
3 E falou-lhe de muitas coisas por parábolas, dizendo: Eis que o semeador saiu a semear.
4 E, quando semeava, uma parte da semente caiu ao pé do caminho, e vieram as aves e comeram-na;
5 e outra parte caiu em pedregais, onde não havia terra bastante, e logo nasceu, porque não tinha terra funda.
6 Mas, vindo o sol, queimou-se e secou-se, porque não tinha raiz.
7 E outra caiu entre espinhos, e os espinhos cresceram e sufocaram-na.
8 E outra caiu em boa terra e deu fruto: um, a cem, outro, a sessenta, e outro, a trinta.
9 Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça.
10 E, acercando-se dele os discípulos, disseram-lhe: Por que lhes falas por parábolas?
11 Ele, respondendo, disse-lhes: Porque a vós é dado conhecer os mistérios do Reino dos céus, mas a eles não lhes é dado;
12 porque àquele que tem se dará, e terá em abundância; mas aquele que não tem, até aquilo que tem lhe será tirado.
13 Por isso, lhes falo por parábolas, porque eles, vendo, não vêem; e, ouvindo, não ouvem, nem compreendem.
14 E neles se cumpre a profecia de Isaías, que diz: Ouvindo, ouvireis, mas não compreendereis e, vendo, vereis, mas não percebereis.
15 Porque o coração deste povo está endurecido, e ouviu de mau grado com seus ouvidos e fechou os olhos, para que não veja com os olhos, e ouça com os ouvidos, e compreenda com o coração, e se converta, e eu o cure.
16 Mas bem-aventurados os vossos olhos, porque vêem, e os vossos ouvidos, porque ouvem.
17 Porque em verdade vos digo que muitos profetas e justos desejaram ver o que vós vedes e não o viram, e ouvir o que vós ouvis, e não o ouviram.
18 Escutai vós, pois, a parábola do semeador.
19 Ouvindo alguém a palavra do Reino e não a entendendo, vem o maligno e arrebata o que foi semeado no seu coração; este é o que foi semeado ao pé do caminho;
20 porém o que foi semeado em pedregais é o que ouve a palavra e logo a recebe com alegria;
21 mas não tem raiz em si mesmo; antes, é de pouca duração; e, chegada a angústia e a perseguição por causa da palavra, logo se ofende;
22 e o que foi semeado entre espinhos é o que ouve a palavra, mas os cuidados deste mundo e a sedução das riquezas sufocam a palavra, e fica infrutífera;
23 mas o que foi semeado em boa terra é o que ouve e compreende a palavra; e dá fruto, e um produz cem, outro, sessenta, e outro, trinta.
Mateus capítulo 13: 1 a 23