Todos os quatro Evangelhos contribuem com detalhes sobre os acontecimentos precedentes à sentença final de morte promulgada por Pilatos. A seguir, além do que encontramos em Mateus, vamos incluir o que nos informam Marcos (15:6-15), Lucas (23:13-25) e João (18:39 a 19:16), procurando colocar os fatos na ordem da sua ocorrência tanto quanto possível.
Tudo aconteceu muito rapidamente: ainda de madrugada, depois de preso mediante a traição de Judas, o Senhor fora entrevistado por Anás, julgado e condenado pelo Sinédrio, apresentado ao governador Pilatos para confirmar sua sentença de morte, enviado por Pilatos a Herodes por estar dentro da sua jurisdição, achado inocente por Herodes e levado novamente a Pilatos para sua decisão final.
Pilatos havia recebido um recado da sua mulher prevenindo que não entrasse na questão deste justo, referindo-se a Jesus, pois havia sofrido muito num sonho por causa dele. Mas Pilatos temia ser delatado a César por libertar alguém que os sacerdotes declaravam ser culpado de promover uma revolta, embora ele o julgasse inocente.
Mas neste ano havia um prisioneiro notório, preso com um bando acusado de motim e mesmo de assassínio; esse homem se chamava Barrabás e era um salteador. Talvez fosse mesmo um herói popular por liderar uma insurreição ou revolução, provavelmente contra Roma. Ele portanto era realmente culpado do crime do qual haviam mentirosamente acusado o Senhor Jesus. Havia assim um paralelismo entre os dois prisioneiros, em relação às aspirações nacionalistas dos judeus e a soberania de Roma.
O povo estava pedindo, aos gritos, que Pilatos soltasse um preso por ocasião da festa da Páscoa como fazia todos os anos, e o preso escolhido seria Barrabás. Mas ele era um malfeitor, e verdadeiro inimigo de Roma.
Pilatos calculou que seria uma boa saída aceitar a denúncia (para agradar os sacerdotes, pois sabia que o motivo deles era inveja), e começar com um castigo preliminar, mas logo depois soltá-lo aproveitando-se do costume de soltar um preso, que o povo pedia. Assim soltaria Jesus e ficaria com Barrabás para executá-lo como queria.
Com essa finalidade Pilatos convocou diante dele os principais dos sacerdotes, os magistrados e o povo, e declarou que, embora tivessem acusado Jesus de ser pervertedor do povo, ele não havia achado qualquer evidência disso, e mesmo o rei Herodes nada havia achado nele merecedor da pena de morte. Iria então "disciplinar" Jesus com açoites (para lhes agradar), e depois soltá-lo para atender ao pedido do povo.
Os líderes religiosos já haviam condenado o Senhor Jesus à morte muito antes dele ser aclamado com júbilo pela multidão que o viu entrar em Jerusalém. Os sacerdotes já haviam se prevenido contra essa eventual proposta de Pilatos e, antecipando-se a ele, persuadiram o povo que ali se reunia a escolher Barrabás e demandar a morte de Jesus.
Provavelmente, por ser ainda muito cedo e por causa da maneira sigilosa em que haviam procedido para prender o Senhor Jesus, os que se achavam ali eram em sua maioria os que estavam "por dentro" da influência dos principais sacerdotes.
Pilatos dirigiu-se à multidão e perguntou: "Quereis que vos solte o Rei dos Judeus?" (Pois esta fora a acusação que fizeram contra Jesus). A multidão respondeu como os sacerdotes queriam: "Fora daqui com este e solta-nos a Barrabás." Pilatos prosseguiu: "Que farei então de Jesus, chamado Cristo?" O povo gritou "Seja crucificado". Pilatos insistiu: "Mas que mal fez ele?" E eles mais clamavam, dizendo: "Seja crucificado."
Ao ver que não conseguia demover o povo e que o tumulto crescia, Pilatos, tomando água, lavou as mãos diante da multidão, dizendo: "Estou inocente do sangue deste justo. Considerai isso." Respondendo todo o povo, disse: "O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos."
Essa declaração irrefletida e solene do povo mostra que eles reconheciam a sua culpa e até mesmo se orgulhavam disso. Pilatos não podia lavar a sua culpa tão facilmente com um simples gesto. A culpa permanecia sobre ele, assim como sobre Judas, os sacerdotes, os líderes do povo e o povo em geral. Na realidade, foram os pecados de toda a humanidade que pregaram o Senhor Jesus na cruz.
Pilatos então soltou-lhes Barrabás e mandou açoitar a Jesus. O açoite preliminar à crucificação fazia parte da sentença de morte, causando perda de sangue e enfraquecimento do condenado.
Os soldados teceram uma coroa de espinhos e a puseram sobre a sua cabeça, também lhe vestiram uma roupa de púrpura (imitação do manto real), gritando "Salve, rei dos judeus" e lhe davam bofetadas. O Senhor Jesus suportou as injúrias com dignidade real aceitando-as como sendo parte da vergonha da cruz (Hebreus 12:2).
Pilatos saiu outra vez e disse para o povo "Eis aqui vo-lo trago fora, para que saibais que não acho nele crime algum" e "Eis aqui o homem" quando ele saiu. Esta foi a terceira vez que Pilatos declarou a inocência do Senhor Jesus (veja João 18:38, João 19:4 e 6).
Ao apresentar o Senhor nesse estado, com essas palavras, Pilatos estava evidentemente procurando provocar a compaixão do povo, demonstrando como era absurda a acusação de traição feita pelo sinédrio contra essa triste figura. Ele nem sonhava que estava chamando a atenção do povo à maior figura da história humana, o Filho de Deus.
Mas a tentativa de Pilatos falhou completamente, pois ao vê-lo, os principais dos sacerdotes e os servos, clamaram, dizendo: "Crucifica-o, crucifica-o."
Disse-lhes então Pilatos: "Tomai-o vós, e crucificai-o; porque eu nenhum crime acho nele." Mas eles retrucaram "Nós temos uma lei e, segundo a nossa lei, deve morrer, porque se fez Filho de Deus." Seria blasfêmia digna da pena de morte se Ele realmente não fosse, mas Ele havia provado muitas vezes a Sua autenticidade.
Ao ouvir que ele se fez Filho de Deus, Pilatos mais se atemorizou (decerto pensando, "e se for?") e se dirigiu a Jesus, indagando: "De onde és tu?" Sem dúvida ele estava inquieto e assustado agora. Pilatos sabia que Jesus vinha da Galiléia (Lucas 23:6). Mas o Senhor não se dignou a lhe dar a resposta completa, pois não era seu propósito livrar-se daquilo que era o motivo da sua vinda ao mundo: o castigo pelo pecado do mundo.
Não recebendo resposta, Pilatos se admirou, e disse "Não me falas a mim? Não sabes tu que tenho poder para te crucificar e tenho poder para te soltar?" Pilatos era a autoridade romana com poder de vida ou morte dentro da sua jurisdição. Mas esse poder lhe fora delegado por César em Roma, e César estava debaixo da soberania de Deus (João 3:3, Romanos 13:1) - e o Senhor Jesus era o soberano Filho de Deus.
O Senhor Jesus então declarou: "Nenhum poder terias contra mim, se de cima não te fosse dado; mas aquele que me entregou a ti maior pecado tem." Caifás, o sumo sacerdote, também tinha autoridade vinda de Deus, mas usou Pilatos para realizar seus maus propósitos, portanto sua culpa era ainda maior do que a de Pilatos.
A partir desse momento, Pilatos procurava soltá-lo; mas os judeus clamavam mais ainda, dizendo que ele não era amigo de César se o soltasse. Pilatos voltou-se para eles, exclamando: "Eis aqui o vosso Rei." Mas eles bradaram: "Tira, tira, crucifica-o." Disse-lhes Pilatos: "Hei de crucificar o vosso Rei?" Responderam os principais dos sacerdotes: "Não temos rei, senão César."
Em vista disso, Pilatos desistiu e entregou Jesus para que fosse crucificado. Enfim, o juiz Pilatos concluíra que o prisioneiro Jesus era inocente de qualquer culpa. Não obstante, ele pronunciou a sentença de morte sobre ele. Sem o saber, ele participou do cumprimento da profecia de Isaías, capítulo 53, versículos 5 e 11.
E tomaram a Jesus, e o levaram.
Evangelho de Mateus, capítulo 27, vers. 15 a 31:
15 Ora, por ocasião da festa, costumava o presidente soltar um preso, escolhendo o povo aquele que quisesse.
16 E tinham então um preso bem conhecido, chamado Barrabás.
17 Portanto, estando eles reunidos, disse-lhes Pilatos: Qual quereis que vos solte? Barrabás, ou Jesus, chamado Cristo?
18 Porque sabia que por inveja o haviam entregado.
19 E, estando ele assentado no tribunal, sua mulher mandou-lhe dizer: Não entres na questão desse justo, porque num sonho muito sofri por causa dele.
20 Mas os príncipes dos sacerdotes e os anciãos persuadiram à multidão que pedisse Barrabás e matasse Jesus.
21 E, respondendo o presidente, disse-lhes: Qual desses dois quereis vós que eu solte? E eles disseram: Barrabás.
22 Disse-lhes Pilatos: Que farei então de Jesus, chamado Cristo? Disseram-lhe todos: Seja crucificado.
23 O presidente, porém, disse: Mas que mal fez ele? E eles mais clamavam, dizendo: Seja crucificado.
24 Então Pilatos, vendo que nada aproveitava, antes o tumulto crescia, tomando água, lavou as mãos diante da multidão, dizendo: Estou inocente do sangue deste justo. Considerai isso.
25 E, respondendo todo o povo, disse: O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos.
26 Então soltou-lhes Barrabás, e, tendo mandado açoitar a Jesus, entregou-o para ser crucificado.
27 E logo os soldados do presidente, conduzindo Jesus à audiência, reuniram junto dele toda a coorte.
28 E, despindo-o, o cobriram com uma capa de escarlate;
29 E, tecendo uma coroa de espinhos, puseram-lha na cabeça, e em sua mão direita uma cana; e, ajoelhando diante dele, o escarneciam, dizendo: Salve, Rei dos judeus.
30 E, cuspindo nele, tiraram-lhe a cana, e batiam-lhe com ela na cabeça.
31 E, depois de o haverem escarnecido, tiraram-lhe a capa, vestiram-lhe as suas vestes e o levaram para ser crucificado.
Evangelho de Marcos capítulo 15, vers. 6 a 15:
6 Ora, no dia da festa costumava soltar-lhes um preso qualquer que eles pedissem.
7 E havia um chamado Barrabás, que, preso com outros amotinadores, tinha num motim cometido uma morte.
8 E a multidão, dando gritos, começou a pedir que fizesse como sempre lhes tinha feito.
9 E Pilatos lhes respondeu, dizendo: Quereis que vos solte o Rei dos Judeus?
10 Porque ele bem sabia que por inveja os principais dos sacerdotes o tinham entregado.
11 Mas os principais dos sacerdotes incitaram a multidão para que fosse solto antes Barrabás.
12 E Pilatos, respondendo, lhes disse outra vez: Que quereis, pois, que faça daquele a quem chamais Rei dos Judeus?
13 E eles tornaram a clamar: Crucifica-o.
14 Mas Pilatos lhes disse: Mas que mal fez? E eles cada vez clamavam mais: Crucifica-o.
15 Então Pilatos, querendo satisfazer a multidão, soltou-lhe Barrabás e, açoitado Jesus, o entregou para ser crucificado.
Evangelho de Lucas capítulo 23, vers. 13 a 25:
13 E, convocando Pilatos os principais dos sacerdotes, e os magistrados, e o povo,
14 Disse-lhes: Haveis-me apresentado este homem como pervertedor do povo; e eis que, examinando-o na vossa presença, nenhuma culpa, das de que o acusais, acho neste homem.
15 Nem mesmo Herodes, porque a ele vos remeti, e eis que não tem feito coisa alguma digna de morte.
16 Castigá-lo-ei, pois, e soltá-lo-ei.
17 E era-lhe necessário soltar-lhes um pela festa.
18 Mas toda a multidão clamou a uma, dizendo: Fora daqui com este, e solta-nos Barrabás.
19 O qual fora lançado na prisão por causa de uma sedição feita na cidade, e de um homicídio.
20 Falou, pois, outra vez Pilatos, querendo soltar a Jesus.
21 Mas eles clamavam em contrário, dizendo: Crucifica-o, crucifica-o.
22 Então ele, pela terceira vez, lhes disse: Mas que mal fez este? Não acho nele culpa alguma de morte. Castigá-lo-ei pois, e soltá-lo-ei.
23 Mas eles instavam com grandes gritos, pedindo que fosse crucificado. E os seus gritos, e os dos principais dos sacerdotes, redobravam.
24 Então Pilatos julgou que devia fazer o que eles pediam.
25 E soltou-lhes o que fora lançado na prisão por uma sedição e homicídio, que era o que pediam; mas entregou Jesus à vontade deles.
Evangelho de João, capítulo 18 vers. 39 até capítulo 19 vers. 16:
39 Mas vós tendes por costume que eu vos solte alguém pela páscoa. Quereis, pois, que vos solte o Rei dos Judeus?
40 Então todos tornaram a clamar, dizendo: Este não, mas Barrabás. E Barrabás era um salteador.
1 Pilatos, pois, tomou então a Jesus, e o açoitou.
2 E os soldados, tecendo uma coroa de espinhos, lha puseram sobre a cabeça, e lhe vestiram roupa de púrpura.
3 E diziam: Salve, Rei dos Judeus. E davam-lhe bofetadas.
4 Então Pilatos saiu outra vez fora, e disse-lhes: Eis aqui vo-lo trago fora, para que saibais que não acho nele crime algum.
5 Saiu, pois, Jesus fora, levando a coroa de espinhos e roupa de púrpura. E disse-lhes Pilatos: Eis aqui o homem.
6 Vendo-o, pois, os principais dos sacerdotes e os servos, clamaram, dizendo: Crucifica-o, crucifica-o. Disse-lhes Pilatos: Tomai-o vós, e crucificai-o; porque eu nenhum crime acho nele.
7 Responderam-lhe os judeus: Nós temos uma lei e, segundo a nossa lei, deve morrer, porque se fez Filho de Deus.
8 E Pilatos, quando ouviu esta palavra, mais atemorizado ficou.
9 E entrou outra vez na audiência, e disse a Jesus: De onde és tu? Mas Jesus não lhe deu resposta.
10 Disse-lhe, pois, Pilatos: Não me falas a mim? Não sabes tu que tenho poder para te crucificar e tenho poder para te soltar?
11 Respondeu Jesus: Nenhum poder terias contra mim, se de cima não te fosse dado; mas aquele que me entregou a ti maior pecado tem.
12 Desde então Pilatos procurava soltá-lo; mas os judeus clamavam, dizendo: Se soltas este, não és amigo de César; qualquer que se faz rei é contra César.
13 Ouvindo, pois, Pilatos este dito, levou Jesus para fora, e assentou-se no tribunal, no lugar chamado Litóstrotos, e em hebraico Gabatá.
14 E era a preparação da páscoa, e quase à hora sexta; e disse aos judeus: Eis aqui o vosso Rei.
15 Mas eles bradaram: Tira, tira, crucifica-o. Disse-lhes Pilatos: Hei de crucificar o vosso Rei? Responderam os principais dos sacerdotes: Não temos rei, senão César.
16 Então, conseqüentemente entregou-lho, para que fosse crucificado. E tomaram a Jesus, e o levaram.