Os fariseus e os saduceus, duas facções opostas entre si dos líderes religiosos entre os judeus daquela época, sentiram o vigor da repreensão contida nas parábolas precedentes, e procuraram um meio de enredar o Senhor Jesus em suas próprias palavras fazendo-lhe perguntas astuciosas, como segue:
Os fariseus mandaram seus próprios discípulos junto com os herodianos (um grupo leal a Herodes e, portanto, ao domínio romano), para fazer essa pergunta ao Senhor Jesus.
Começaram com lisonjas, que não deixavam de ser a pura verdade, para procurar reduzir a Sua precaução. Isso porque, qualquer que fosse a Sua resposta, ela lhe traria sérias dificuldades.
Se dissesse que o imposto era lícito, os fariseus estavam prontos a acusá-lo de ser traidor à pátria, e de ser inimigo dos direitos do povo israelita. Se dissesse que não era certo pagá-lo, os herodianos iriam declarar que ele era um inimigo de César, portanto um insubordinado e revoltoso, que eles poderiam entregar ao poder e à autoridade do governador (Lucas 20:20).
Mas o Senhor viu a sua dissimulação e logo declarou que eram hipócritas. Ele o demonstrou mediante uma prova concreta da situação de subserviência em que se encontravam.
Ele pediu que lhe trouxessem a moeda do tributo, que era um denário, uma moeda de prata equivalente à diária de um trabalhador braçal (o imposto do templo era uma moeda judia, o siclo). O fato de terem o denário romano com eles, e de usá-lo, era prova que eles próprios o consideravam legítimo. Suas pretensões de não pagar imposto, portanto, eram simples hipocrisia.
Para dar ainda mais força à prova, o Senhor os fez reconhecer que a imagem impressa na moeda era a do imperador romano.
A resposta à pergunta tornou-se óbvia, e foi o que o Senhor lhes declarou: "Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus".
Deviam devolver a César o que era dele.
Mas também deviam dar a Deus o que era dele (tanto o imposto do templo, que sustentava o templo e os serviços prestados pelos seus servos, como também os tributos espirituais, que eram a obediência, os sacrifícios, o louvor e a adoração).
Sua resposta causou admiração aos fariseus, que silenciaram e se retiraram.
Os saduceus diziam que não há ressurreição, nem anjo, nem espírito (Atos 23:8). Como uma espécie de caçoada, eles propuseram a hipótese de sete irmãos que casaram sucessivamente com a mesma mulher à medida que ela se enviuvava sem deixar filhos, em cumprimento ao mandamento (Deuteronômio 25:5,6).
A mulher morreu depois de todos eles, e a dificuldade consistia em saber de quem ela seria esposa na ressurreição dos mortos, pois não podia ter mais do que um marido. Eles estavam se referindo à ressurreição dos corpos físicos que morreram e se decompuseram, e assumiam nessa hipótese (em que não acreditavam) que viveriam novamente aqui na terra da mesma forma que antes.
Os saduceus haviam citado as Escrituras, que conhecemos como o Velho, ou Antigo, Testamento, e o Senhor Jesus declarou que eles não as conheciam (pois em nenhum lugar elas dão a entender que haverá o estado de casamento depois da morte), e que eles duvidavam do poder de Deus.
As Escrituras falam da existência após a morte, e os saduceus deveriam crer nela por causa disso, mas não acrescentar a doutrina absurda que a vida depois da morte será igual à que vivemos aqui.
Os saduceus faziam o que os inimigos da Bíblia sempre fazem: modificam ou acrescentam alguma coisa às doutrinas da Bíblia, para fazer com que pareçam ridículas.
No Evangelho de Lucas (capítulo 20:34-36) encontramos mais esclarecimento que o Senhor Jesus deu nessa ocasião: os "filhos desta era" (os que vivem atualmente na terra) "casam-se e são dados em casamento" (unem-se em casais); os que "forem considerados dignos de tomar parte na era que há de vir" (as almas dos mortos santificados em Cristo, que vão para o céu) e "na ressurreição dos mortos" (quando Ele vier buscar a Sua igreja), "não se casarão nem se darão em casamento, e não podem mais morrer, pois são como os anjos". Isto é, serão elevados acima das circunstâncias da vida física atual, e viverão de uma maneira e relacionamento como os anjos.
Ele acrescenta "são filhos de Deus, visto que são filhos da ressurreição", ou seja, sendo dignos da ressurreição, eles são filhos de Deus.
Para demonstrar que as Escrituras confirmam que os que morreram fisicamente ainda estão vivos em alma e espírito, o Senhor Jesus citou o fato que Deus declarou a eles (representados por Moisés): "Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó" (Êxodo 3:6), e Deus não é Deus de mortos, mas de vivos.
Alguns dos mestres da lei (que seriam levitas), gostaram tanto da sua resposta, que exclamaram "Respondeste bem, Mestre"! Notem que estes homens ilustres chamaram ao Senhor Jesus de Mestre por causa da erudição que Ele havia demonstrado.
Os fariseus souberam que o Senhor Jesus havia respondido bem aos saduceus, e se ajuntaram para discutir a situação outra vez. Então um deles, que era escriba, doutor da lei, veio até Ele com uma pergunta difícil para verificar seus conhecimentos legais.
Aparentemente os Judeus haviam dividido a lei de Moisés entre maiores e menores mandamentos, mas não haviam determinado qual era o maior de todos. Alguns pensavam que era o que regia os sacrifícios, outros a circuncisão, outros o concernente à purificação, etc.
O doutor da lei então pediu a Sua opinião sobre essa questão (chamando-o de Mestre). Com toda a Sua autoridade, o Senhor Jesus simplesmente citou, como resposta, duas passagens das próprias Escrituras: Deuteronômio 6:4 e 5, e Levítico 19:18.
A primeira passagem começa com as palavras: "Ouça, ó Israel! O SENHOR, o nosso Deus, é o único SENHOR." É de se notar que o SENHOR no Velho Testamento é o grande "Eu sou o que Sou", a segunda pessoa da Trindade, que veio ao mundo na pessoa do Senhor Jesus (João 8:58, Apocalipse 1:8, etc.). Era Ele quem estava agora diante desse doutor da lei.
O primeiro mandamento consiste em amar o SENHOR Deus com todas as suas faculdades e forças, acima de tudo o mais. É um amor de todo o coração, um amor que dispõe a deixar tudo que nos é caro se isso for do agrado de Deus, sacrificar mesmo a própria vida. Este é o primeiro e maior mandamento da lei de Deus.
Como Deus é o Ser supremo, criador e sustentador de todas as coisas, Ele também deve ser amado e obedecido acima de todos. Se for amado da forma devida, nossas demais afeições serão dirigidas corretamente a todos e tudo o mais, segundo a Sua vontade suprema. E sabemos que Deus é santo, justo e é também amor.
O segundo grande mandamento é semelhante ao primeiro em importância, dignidade, pureza e utilidade. O doutor não havia perguntado por ele, mas o Senhor aproveitou a oportunidade para resumir em poucas palavras toda a lei de Deus: "amarás o teu próximo como a ti mesmo". Não há outro mandamento maior do que estes (Marcos 12:31).
Estes dois mandamentos são o fundamento de toda a lei de Moisés, e de todas as mensagens de advertência e exortação dos profetas contidas nas Escrituras (igualmente do cristianismo, pois foram confirmados pelo próprio Senhor Jesus e pelos Seus apóstolos).
Marcos informa que o doutor da lei concordou plenamente com esta resposta e que, vendo isto, o Senhor lhe disse que ele não estava longe do reino de Deus. E ninguém ousava perguntar-lhe mais nada.
15 Então, retirando-se os fariseus, consultaram entre si como o surpreenderiam nalguma palavra;
16 E enviaram-lhe os seus discípulos, com os herodianos, dizendo: Mestre, bem sabemos que és verdadeiro, e ensinas o caminho de Deus segundo a verdade, e de ninguém se te dá, porque não olhas a aparência dos homens.
17 Dize-nos, pois, que te parece? É lícito pagar o tributo a César, ou não?
18 Jesus, porém, conhecendo a sua malícia, disse: Por que me experimentais, hipócritas?
19 Mostrai-me a moeda do tributo. E eles lhe apresentaram um dinheiro.
20 E ele diz-lhes: De quem é esta efígie e esta inscrição?
21 Dizem-lhe eles: De César. Então ele lhes disse: Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.
22 E eles, ouvindo isto, maravilharam-se, e, deixando-o, se retiraram.
Mateus capítulo 22, vers. 15 a 22
23 No mesmo dia chegaram junto dele os saduceus, que dizem não haver ressurreição, e o interrogaram,
24 Dizendo: Mestre, Moisés disse: Se morrer alguém, não tendo filhos, casará o seu irmão com a mulher dele, e suscitará descendência a seu irmão.
25 Ora, houve entre nós sete irmãos; e o primeiro, tendo casado, morreu e, não tendo descendência, deixou sua mulher a seu irmão.
26 Da mesma sorte o segundo, e o terceiro, até ao sétimo;
27 Por fim, depois de todos, morreu também a mulher.
28 Portanto, na ressurreição, de qual dos sete será a mulher, visto que todos a possuíram?
29 Jesus, porém, respondendo, disse-lhes: Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus.
30 Porque na ressurreição nem casam nem são dados em casamento; mas serão como os anjos de Deus no céu.
31 E, acerca da ressurreição dos mortos, não tendes lido o que Deus vos declarou, dizendo:
32 Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó? Ora, Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos.
33 E, as turbas, ouvindo isto, ficaram maravilhadas da sua doutrina.
Mateus capítulo 22, vers. 23 a 33
34 E os fariseus, ouvindo que ele fizera emudecer os saduceus, reuniram-se no mesmo lugar.
35 E um deles, doutor da lei, interrogou-o para o experimentar, dizendo:
36 Mestre, qual é o grande mandamento na lei?
37 E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento.
38 Este é o primeiro e grande mandamento.
39 E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.
40 Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.
Mateus capítulo 22, vers. 34 a 40