Três palavras podem ser salientadas no primeiro versículo:
Turbe – Os discípulos não deviam deixar que os próximos acontecimentos os entristecessem ou inquietassem. Ele sabia como era (capítulo 11:33).
Coração – A sede da vida espiritual, o centro de sentimento e fé (Romanos 10:10), deve ser mantido tranquilo com plena confiança em Deus.
Vosso – Obviamente estariam preocupados com o que o Senhor tinha dito logo antes. Mas os discípulos de Cristo, mais do que outros, deviam manter as suas mentes tranquilas, mesmo quando tudo estava perturbado.
A segunda parte do versículo está no presente contínuo, ou seja “crestes, credes e continuai crendo em Deus, e também em Mim”. O verbo “crer” em ambos os casos pode também ser traduzido tanto no indicativo como no imperativo. A solução para um estado de espírito perturbado é continuar a crer.
Existem muitas moradas (lugares de repouso) na casa do Pai. A figura do céu dada por Cristo aqui é a mais preciosa que possuímos: é o nosso lar celestial com o Pai e com o Senhor. Era costume mandar alguém adiante para preparar um lugar de repouso, como a arca ia adiante do povo (Números 10:33), símbolo de Jesus Cristo nosso “Precursor” (Hebreus 6:20).
Tão certo como estava indo, Ele vai voltar, e vai levá-los a eles (e todos os crentes) ao Seu próprio lar. O retorno de Cristo para levar os seus seguidores não é o mesmo que a Sua volta em glória para reinar sobre a terra; é a primeira intimação nas Escrituras do "dia de Cristo", um mistério a ser divulgado mais tarde por Paulo (1 Coríntios 1:8, 15:51).
O dia de Cristo se refere inteiramente à recompensa e bênção dos santos na Sua vinda, enquanto que o “Dia do Senhor” está relacionada com julgamento. E este é o céu para o crente onde estará com Jesus para sempre: a Nova Jerusalém (Apocalipse 3:12, 21:2).
Ele fez alusão à charada de Pedro (capítulo 13:36) ao dizer que agora sabiam onde ia, e o caminho que tomava. Mas Tomé, pelo menos, não compreendeu onde Ele ia, para assim poder ir com Ele, e queria mais explicações.
O Senhor então falou as palavras que são um clássico resumo de Sua missão:
Ele é o Caminho: como a porta (capítulo 10:7), Cristo é o Caminho do pecador para o Pai e ao céu, como Deus manifesto na carne, em Seu sacrifício expiador, e como o nosso Advogado.
Ele é a Verdade: Ele falou do caminho para Deus em verdade (Marcos 12:14) e foi a luz do mundo (capítulo 8:12); na luz da Sua doutrina, dos Seus milagres, e da pureza da Sua vida sem mancha, vemos a revelação de Deus ao homem em toda a sua realidade.
Ele é a Vida: como tinha dito a Marta (capítulo 11:25), porque é por Seu Espírito doador de vida que os que se encontram espiritualmente mortos são ressuscitados para a vida eterna.
Ninguém, em seu pecado, pode se aproximar de Deus o Pai, até que tenha sido purificado no sangue de Cristo, de Quem recebe uma nova vida e um novo espírito.
Tomé e os demais ainda não haviam chegado ao ponto de ver Jesus como o Filho de Deus, por mais que O amassem. Quando viram, a partir desse momento iriam perceber que Deus o Pai era como Ele (capítulo 1:18).
Felipe certamente não compreendeu tudo isso, e pediu para o Senhor "apenas" mostrar-lhe o Pai. O Senhor pacientemente repetiu: " Quem me viu a mim, viu o Pai"; Ele tinha o direito de esperar maior fé desses homens do que a do cego (capítulo 9:35) ou de Marta (capítulo 11:27). Esta unidade com o Pai havia sido provada pelas Suas palavras e pelas Suas obras (capítulo 10:38). Como havia feito antes aos judeus (capítulo 10:38), Ele pediu que Felipe cresse n’Ele, se não pelo que disse, então pelo que fez.
Em verdade, em verdade: outra declaração de uma grande realidade. Quem cresse n’Ele dessa forma faria as mesmas obras que Ele, e mesmo até mais porque Ele iria para o Pai. Não necessariamente maiores milagres (que eram sinais da Sua identidade) nem maiores obras espirituais em qualidade, mas em maior quantidade, pelo motivo que já tinha terminado aquela parte de Seu ministério. Esta profecia foi cumprida pelos apóstolos após Pentecostes, inclusive Paulo - uma prova que era também um apóstolo (2 Coríntios 12:12). Ao fazer essas obras dariam mais uma vez prova a si mesmos e a todo o povo que eram legítimos mensageiros do Filho de Deus.
Receberiam o que pedissem do Pai, se o fizessem em nome de Cristo: pedir em nome do Senhor é pedir como se Ele próprio fizesse o pedido através dos Seus agentes. Isso significa pedir segundo a Sua vontade. É a primeira menção do seu "nome" como autoridade para acesso ao Pai (veja também o capítulo 15:16). Os pedidos devem ser feitos ao Pai e não ao Filho (capítulo 16:23), mas a resposta é dada pelo Pai e pelo Filho (versículo 14, capítulo 15:16, 16:23), para que o Pai possa ser glorificado no Filho. Apele ao nome de Cristo nas orações ao Pai.
Guardar os Seus mandamentos era a prova de que eles O amavam e continuavam amando. O amor continuado impede a desobediência.
E o Senhor prometeu que, quando Ele pedisse, o Pai proporcionaria outro Ajudador: a palavra grega assim traduzida significa um assistente jurídico, pleiteante, advogado, um que invoca a causa de outrem (que é traduzido “advogado” em 1 João 2:1). Cristo é o advogado do crente diante do Pai quando ele peca; o Espírito Santo é o assistente jurídico fiel residente nele para ajudar a sua ignorância e fraqueza e fazer intercessão (Romanos 8:26, 27) para sempre: o Espírito Santo é recebido pelo fiel quando da sua conversão (Romanos 8:9) e com ele permanece.
Ele é o Espírito da Verdade: marcado por ela, Ele a dá e defende (João 1:17), em contraste com o espírito do erro (1 João 4:6). Ele é uma Pessoa, não mera influência. O mundo pecaminoso está perdido se não for socorrido (1 Coríntios 2:14; Romanos 8:7), carente de discernimento e conhecimento espiritual. Não conseguiu reconhecer o Senhor Jesus Cristo (capítulo 1:10) nem o Espírito Santo. Os discípulos O reconheceram, em contraste com o mundo (capítulo 15:19), porque tinham visto Jesus o Revelador do Pai (versículo 9). Ele já estava ao seu lado, e mais tarde estaria em seus corações.
Eles não seriam deixados como órfãos (capítulo 13:33), o que talvez significa “indefesos”, sem assistência. Após a Sua morte o mundo não mais O veria, no entanto apareceu aos Seus discípulos como havia prometido: "voltarei a vós" e " mas vós Me vereis". A Sua ressurreição é a prova de que Ele vive e é a nossa garantia abençoada de uma vida eterna, imortal. Ele é nosso fiador de um pacto melhor (Hebreus 7:22), Jesus Cristo Ressuscitado.
Naquele dia, começando com Sua ressurreição, e mais tarde na vinda do Espírito Santo no dia de Pentecoste, eles saberiam com certeza que Cristo está no Pai, e que estão unidos com Cristo. Quem tem os mandamentos do Senhor e os guarda prova que O ama; vai ser amado por Deus o Pai, e o Cristo Ressurreto e Invisível será uma Presença verdadeira e espiritual para ele.
Outro discípulo pediu explicação: era Judas (também chamado Tadeu - Mateus 10:3, Marcos 3:17 – e irmão, ou filho, de Tiago - João 6:15; Atos 1:13). Como poderia o Senhor manifestar-se a quem Ele ama sem ser visto pelo mundo?
O Senhor respondeu que quem ama realmente Cristo, O obedece; Deus o Pai ama essa pessoa por causa disso, e juntamente com Cristo virão e farão morada nele (o Espírito Santo que nele morará). Este privilégio se limita a essas pessoas, e é dado a entender que não é visível para o mundo porque se trata de um residente. Quem não ama o Senhor, não O obedece. Estas palavras vieram de Deus o Pai.
1 Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim.
2 Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito; vou preparar-vos lugar.
3 E, se eu for e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos tomarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também.
4 E para onde eu vou vós conheceis o caminho.
5 Disse-lhe Tomé: Senhor, não sabemos para onde vais; e como podemos saber o caminho?
6 Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.
7 Se vós me conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai; e já desde agora o conheceis, e o tendes visto.
8 Disse-lhe Felipe: Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta.
9 Respondeu-lhe Jesus: Há tanto tempo que estou convosco, e ainda não me conheces, Felipe? Quem me viu a mim, viu o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai?
10 Não crês tu que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo, não as digo por mim mesmo; mas o Pai, que permanece em mim, é quem faz as suas obras.
11 Crede-me que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim; crede ao menos por causa das mesmas obras.
12 Em verdade, em verdade vos digo: Aquele que crê em mim, esse também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas; porque eu vou para o Pai;
e tudo quanto pedirdes em meu nome, eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho.
14 Se me pedirdes alguma coisa em meu nome, eu a farei.
15 Se me amardes, guardareis os meus mandamentos.
16 E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Ajudador, para que fique convosco para sempre.
Joh 14:17 a saber, o Espírito da verdade, o qual o mundo não pode receber; porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque ele habita convosco, e estará em vós.
18 Não vos deixarei órfãos; voltarei a vós.
19 Ainda um pouco, e o mundo não me verá mais; mas vós me vereis, porque eu vivo, e vós vivereis.
20 Naquele dia conhecereis que estou em meu Pai, e vós em mim, e eu em vós.
21 Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele.
22 Perguntou-lhe Judas (não o Iscariotes): O que houve, Senhor, que te hás de manifestar a nós, e não ao mundo?
23 Respondeu-lhe Jesus: Se alguém me amar, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos a ele, e faremos nele morada.
24 Quem não me ama, não guarda as minhas palavras; ora, a palavra que estais ouvindo não é minha, mas do Pai que me enviou.
Evangelho de João, capítulo 14, versículos 1 a 24