Os fariseus que ouviram as palavras do Senhor ao novo convertido suspeitaram vagamente que Ele estava se referindo a eles em Sua última frase; sua pergunta “Porventura somos nós também cegos?” é feita de uma forma que espera uma resposta negativa. Na Galileia Ele tinha chamado os Fariseus de “guias cegos que cairão em um barranco” (Mateus 15:14).
Jesus admitiu que não eram cegos moralmente - se tivessem nascido moralmente cegos, como os deficientes mentais, eles não teriam responsabilidade pelo pecado. Mas como afirmavam arrogantemente ter conhecimento superior (recusando ouvi-lo), estavam pecando contra o Espírito Santo e isto não tem perdão (Marcos 3:29; Mateus 12:31). Eles eram testemunhas contra si próprios (Mateus 23:31). Os ateus e os cultistas estão entre os mais dogmáticos em nossos dias. Dizem que vêm, mas são cegos. Rejeitam o Senhor Jesus Cristo, e assim o pecado deles permanece. Não estão usando uma bengala branca, mas são cegos.
O Senhor então disse a palavra “amém” novamente, duas vezes (veja capítulo 1:51, 8:34, 51, 58), traduzida como “em verdade, em verdade”, ou “Eu lhes asseguro” (NVI): ela nunca introduz um tópico novo, mas sempre enfatiza uma declaração muito importante. Os fariseus previamente tinham assumido que só eles eram os guias autorizados das pessoas (capítulo 9:24, 29), portanto o Senhor Jesus teve uma palavra direta para eles. Começou esta alegoria ou ilustração (versículo 6) de um modo característico. Realmente foi uma alegoria do Bom Pastor e auto-explicativa assim como foi a do Filho Pródigo (Lucas 15:1-32).
Primeiro contou a alegoria (versículos 1 -5) e depois a explicou e ampliou (7 -18). O aprisco das ovelhas, naquele tempo, era um curral sem cobertura no lugar onde estavam os rebanhos. Ao anoitecer, todos os pastores que trabalhavam na redondeza traziam as suas ovelhas ao aprisco para ser protegidas ali durante a noite. Seriam confiadas ao zelador que ficava na porta de entrada. Havia só uma porta, e o único modo de entrar sem passar por ela era subir por cima do muro que cercava o aprisco. Era assim que os estranhos entravam para roubar e saquear.
A primeira declaração importante que Jesus fez foi que há uma entrada legítima, a porta, para acesso às vidas espirituais das pessoas, o aprisco. Quem pretende ser um líder espiritual mas não passa por esta porta, é como um ladrão e assaltante. No contexto daqueles dias, o aprisco seria Israel e os líderes espirituais seriam os fariseus que eram tão espiritualmente cegos que rejeitavam o Filho Deus.
Na manhã seguinte os pastores se identificavam ao zelador e ele os deixaria entrar para pegar as suas ovelhas. Vários rebanhos poderiam estar presentes para passar a noite no mesmo aprisco, mas cada pastor conhecia suas próprias ovelhas (versículo 27), chamava os seus nomes e as conduzia para fora. Todas as suas ovelhas eram tiradas do aprisco: nenhuma era deixada para trás porque todas eram de sua propriedade. As ovelhas seguiam prontamente porque conheciam a voz do seu próprio pastor quando ele as chamava pelo nome. Elas amavam e confiavam no seu pastor, mas suspeitavam e temiam qualquer outra pessoa, que talvez fosse pastor de outro rebanho ou mesmo um ladrão e assaltante.
Os fariseus, em sua cegueira espiritual, não entenderam o que Ele estava dizendo. O nosso Senhor também disse, "Quem tem ouvidos, ouça” (Mateus 13:9). É possível ter ouvidos e ainda não ouvir. Eles ouviram tudo bem, mas não ouviram como sendo a Palavra de Deus. Esta era a diferença importante em ouvir à qual o Senhor se referiu quando citou Isaías: "Ouvindo, ouvireis, e de maneira alguma entendereis; e, vendo, vereis, e de maneira alguma percebereis" (Mateus 13:14).
Então o Senhor repetiu a alegoria com mais detalhes e com aplicação mais direta.
Ele se identificou como sendo a porta (o zelador) para as ovelhas (assim como Jesus não é uma porta física, o corpo dele também não é pão em Marcos 14:22). Esta foi a segunda grande verdade que declarou neste capítulo. Nosso Senhor declararia este mesmo princípio depois quando disse, "eu sou a videira verdadeira. . . vós sois as varas" (João 15:1, 5).
A videira no Velho Testamento é figura da nação de Israel. Jesus estava ensinando a estes fariseus, que há pouco tinham expulsado o homem antes cego da sinagoga, que o que faria deles (ou de qualquer outra pessoa, incluindo nós) povo de Deus já não era pertencer à nação de Israel mas sim a sua relação com Ele.
Ele é a porta: quem entra por Ele será salvo, será libertado para desfrutar uma vida abundante, eterna e receberá alimento espiritual (Ele tinha se tornado há pouco a porta para o homem que tinha sido cego).
Como o Filho de Deus enviado a terra para nossa salvação, Ele é o único caminho (capítulo 5:23 e 14:6). Isto não agradava os religiosos dogmáticos diante d’Ele e também não agrada os dogmáticos liberais de hoje. Ele oferece a porta aberta a "qualquer um" que está disposto a fazer a vontade de Deus (João 7:17). As ovelhas que entram no aprisco através do Senhor Jesus como a porta não só estarão protegidas dos ladrões e salteadores, mas terão entrada e saída grátis, estarão no lar na rotina diária do rebanho protegido, e serão conduzidas pelo Pastor ao gozo das pastagens providas por Ele.
O ladrão tem o único propósito de roubar, matar, destruir. Estes lobos disfarçados de ovelhas continuam a vir (o Mateus 7:15) para enriquecer enganando as ovelhas crédulas. Este é um teste que pode ser aplicado a uma igreja, a uma organização religiosa, a um programa de rádio ou de televisão. É uma fraude religiosa? Alguém está enriquecendo com isto? Compare-o ao Bom Pastor que veio salvar os pecadores e nos dar vida, vida abundante.
As ovelhas bem-treinadas simplesmente não seguirão tal homem ou mulher, mas se afastarão. Isto nos faz pensar se muitos de nossos "pastores" modernos treinam as suas ovelhas (velhos e jovens) na Palavra de Deus de forma que fujam em vez de seguir as vozes estranhas que os chamam à falsa filosofia, psicologia, éticas, religião, e mesmo vida.
O Senhor disse que Ele era o Porteiro (a porta) que abre para a vida eterna, e também o Bom Pastor que dá a Sua vida para as ovelhas: Ele era capaz de dar a Sua vida e de a retomar, o que realmente fez. Ele tem um relacionamento tríplice com este rebanho que é a Sua igreja:
O mercenário, ou assalariado, não é necessariamente um ladrão e salteador, mas é concebível que seja nominalmente um pastor do rebanho que só trabalha pelo dinheiro, um pecado contra o qual os pastores do rebanho são admoestados (1 Pedro 5:2). Todo verdadeiro pastor considera a ovelha sob seu cuidado como se fosse “dele próprio”, mesmo se realmente não for. O mero assalariado não sente essa obrigação: ele não liga para a ovelha, mas só para a sua própria pele, e abandona o rebanho aos saqueadores.
O Senhor Jesus, como o Bom Pastor, conhece as Suas ovelhas pelo nome e elas conhecem a Sua voz: elas têm experiência d’Ele como o seu próprio Pastor. Ele conhece o Pai e a comparação com o conhecimento mútuo entre o Pai e o Filho ilustra o que ele há pouco disse, embora esteja acima de tudo (Mateus 11:27; Lucas 10:22; João 17:21-26).
Ele tem outras ovelhas que não são deste aprisco, isto é, não são de Israel, mas dos gentios: Os judeus e gentios formarão um só rebanho, que terá um só Pastor, anunciando assim a formação da Sua igreja.
R David Jones
Cap. 9:40 Alguns fariseus que ali estavam com ele, ouvindo isso, perguntaram-lhe: Porventura somos nós também cegos?
41 Respondeu-lhes Jesus: Se fosseis cegos, não teríeis pecado; mas como agora dizeis: Nós vemos, permanece o vosso pecado.
Cap. 10:1 Em verdade, em verdade vos digo: quem não entra pela porta no aprisco das ovelhas, mas sobe por outra parte, esse é ladrão e salteador.
2 Mas o que entra pela porta é o pastor das ovelhas.
3 A este o porteiro abre; e as ovelhas ouvem a sua voz; e ele chama pelo nome as suas ovelhas, e as conduz para fora.
4 Depois de conduzir para fora todas as que lhe pertencem, vai adiante delas, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz;
5 mas de modo algum seguirão o estranho, antes fugirão dele, porque não conhecem a voz dos estranhos.
6 Jesus propôs-lhes esta parábola, mas eles não entenderam o que era que lhes dizia.
7 Tornou, pois, Jesus a dizer-lhes: Em verdade, em verdade vos digo: eu sou a porta das ovelhas.
8 Todos quantos vieram antes de mim são ladrões e salteadores; mas as ovelhas não os ouviram.
9 Eu sou a porta; se alguém entrar a casa; o filho fica entrará e sairá, e achará pastagens.
10 O ladrão não vem senão para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância.
11 Eu sou o bom pastor; o bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas.
12 - Mas o que é mercenário, e não pastor, de quem não são as ovelhas, vendo vir o lobo, deixa as ovelhas e foge; e o lobo as arrebata e dispersa.
13 Ora, o mercenário foge porque é mercenário, e não se importa com as ovelhas.
14 Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem,
15 assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas.
16 Tenho ainda outras ovelhas que não são deste aprisco; a essas também me importa conduzir, e elas ouvirão a minha voz; e haverá um rebanho e um pastor.
17 Por isto o Pai me ama, porque dou a minha vida para a retomar.
18 Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho autoridade para a dar, e tenho autoridade para retomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai.
19 Por causa dessas palavras, houve outra dissensão entre os judeus.
20 E muitos deles diziam: Tem demônio, e perdeu o juízo; por que o escutais?
21 Diziam outros: Essas palavras não são de quem está endemoninhado; pode porventura um demônio abrir os olhos aos cegos?
Evangelho de João, capítulo 9 versículo 40 até capítulo 10 versículo 21