O precursor era João (o SENHOR foi cortês), chamado “o batista” nos outros três evangelhos para distingui-lo do apóstolo João, que escreveu este Evangelho. João Batista foi enviado por Deus, sendo seu pai, Zacarias, sacerdote da linha de Abias (1 Crônicas 24:10), e sua mãe, Isabel, descendente de Arão (Luke 1:5). A missão de João foi assunto de profecia (Mateus 3:3; Isaías 40:3; Malaquias 3:1). O nascimento dele foi sobrenatural, de mãe estéril, já estando seus pais avançados em idade (Lucas 1:7); foi predito pelo anjo Gabriel (Lucas 13 -17), que também apareceu diante de Maria, a mãe de Jesus, para anunciar que ela seria Sua mãe.
João era um grande homem, mas era homem, filho de homem. Deus lhe deu sua missão e a sua mensagem, suas credenciais e suas ordens. João já estava cheio com o Espírito Santo mesmo antes de nascer (sendo este o único caso relatado pela Bíblia), contudo não fez nenhum milagre, nem consta ter tido visões e revelações; mas a correção e pureza da sua vida e doutrina, e a imediata atenção que deu a reformar o mundo e a reavivar os interesses do Reino de Deus, eram indicações claras que fora enviado por Deus.
João veio para ser uma testemunha, para dar um testemunho: antigamente tinha havido o testemunho levado dentro da arca (Êxodo 25:16), que eram as tábuas de pedra contendo a lei (Deuteronômio 10:1-5), o maná (Êxodo 16:33,34), e a vara de Arão (Números 17:10), que faziam conhecida a presença de Deus entre as pessoas. Mas agora Ele seria revelado pelo Seu próprio Filho: pois o testemunho de Cristo é o testemunho de Deus (1 Coríntios 1:6; 2:1).
João veio por duas razões:
Para testemunhar da Luz: para contar ao mundo que o muito ansiado Messias havia vindo agora como uma luz para trazer revelação aos Gentios e a glória ao seu povo Israel (Lucas 2:32), que Ele era o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (v.29).
Para que através dele todos pudessem crer: não em João, mas em Cristo cujo caminho ele devia preparar. Ele ensinou, pela doutrina de arrependimento pelo pecado, a da fé em Cristo.
João não era aquela luz: ela era esperada e fora prometida, mas ele só fora enviado para dar testemunho daquela grande e dominante luz. Houve alguns que descansaram no batismo de João e não olharam mais longe (Atos 19:3).
Cristo, a verdadeira Luz (esta palavra aparece em 77 locais no Novo Testamento) que alumia a todo homem, estava chegando ao mundo: não como se João Batista fosse uma luz falsa, mas, comparado com Cristo, ele era uma luz muito pequena (João 5:35-37). Cristo é a grande luz que merece ser chamado assim, sob três aspectos:
Pelo Seu poder criador ele ilumina todo homem com a luz da razão; a própria vida que é a luz dos homens vem dele; todas as descobertas e instruções da razão, todo o conforto que nos dá, e toda a beleza que põe em nós, são de Cristo.
Pela pregação do Seu Evangelho para todas as nações ele efetivamente ilumina todo homem. O Seu Evangelho perpétuo será anunciado a toda a nação e idioma - o fim da terra (Atos 1:8), como o sol que ilumina todo homem que abrir seus olhos, e recebe a sua luz (Salmo 19:4-6), ao qual a pregação do evangelho é comparada (Romanos 10:18).
Pela operação do Seu Espírito e graça ele ilumina todos os que estão dispostos a receber a mensagem de salvação; e os que não são iluminados por ele morrem na escuridão (João 12:46-50).
Cristo estava no mundo, antes da Sua encarnação, sustentando todas as coisas como o Verbo; mas ele levou nossa natureza sobre Si e viveu entre nós. A maior honra que já foi concedida a este nosso planeta, que é somente uma diminuta porção do poderoso universo, foi que o Filho de Deus viveu uma vez durante algum tempo aqui como uma das Suas criaturas.
O mundo foi feito por intermédio d’Ele: Ele veio salvar o mundo porque era um mundo feito por Ele. Por que Ele não deveria se interessar em reavivar a luz que Ele próprio acendera, para restaurar uma vida que Ele próprio infundira, e renovar a imagem que fora originalmente impressa por Ele? O mundo fora feito por ele, portanto deveria lhe render homenagem.
E o mundo não O conheceu: O grande Feitor, Rei e Redentor do mundo estava aqui, mas os habitantes do mundo estavam desavisados, assim eles não O reconheceram nem lhe deram boas-vindas, porque não o conheceram; e eles não O receberam porque Ele não se fez conhecido do modo que eles esperavam: em glória e majestade externa.
Veio para o que era Seu, significando o povo de Israel que era especialmente dele, acima de todos os povos; Ele veio deles, viveu entre eles e foi enviado a eles primeiro. Em memória do pacto antigo, desobedientes como eram, Cristo não se envergonhou de olhá-los como Sua propriedade e de buscar e salvá-los.
E os seus não o receberam: considerando quanto lhe deviam, seria esperado que esses que eram d’Ele lhe dessem as boas-vindas e grandes oportunidades se apresentariam diante deles para virem a realmente conhecê-lo. Eles tinham os oráculos de Deus (Romanos 3:2) que lhes informavam antecipadamente quando e onde O esperar, e de que tribo e família deveria surgir, e Ele se provou com sinais e maravilhas. Não é portanto dito que eles não O conheceram, como o resto do mundo, mas que eles não O receberam: porque recusaram aceitar o Seu ensino, não admitiram que fosse o Messias. Os sacerdotes principais, que eram de certa forma particularmente dele (Números 3:12-13), foram as cabeças do desprezo posto nele.
Mas, a todos quantos o receberam: embora Israel como nação não O tivesse aceito, houve alguns dentro dela que O receberam, e muitos mais que não eram daquele “aprisco” (João 10:16).
Aos que crêem no seu nome: as palavras “receberam” e “crêem” são muito importantes: “Receber” significa receber o que Cristo fez em nosso lugar pelos nossos pecados. “Crer” significa confiar no que Cristo fez em nosso lugar como nosso substituto (Efésios 1:12, 13).
Deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus: Antigamente Israel foi chamado “meu filho” por Deus (Êxodo 4:22); agora as pessoas, judias ou gentias, que crêem nEle recebem de Cristo o poder de se tornarem “filhos de Deus” (Gálatas 3:26). É n’Ele que foram predestinados à adoção (Efésios 1:5) e dele receberam tanto o caráter como o Espírito de adoção, sendo Ele o primogênito entre muitos irmãos (Romanos 8:29).
Nasceram... de Deus: todos os filhos de Deus nascem novamente, não de semente corrutível mas incorruptível, pela palavra de Deus que vive e permanece para sempre (1 Pedro 1:23). Este nascimento não é produzido pelo poder natural da nossa própria vontade, mas pela graça de Deus.
6 Houve um homem enviado de Deus, cujo nome era João.
7 Este veio como testemunha, a fim de dar testemunho da luz, para que todos cressem por meio dele.
8 Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz.
9 Pois a verdadeira luz, que alumia a todo homem, estava chegando ao mundo.
10 Estava ele no mundo, e o mundo foi feito por intermédio dele, e o mundo não o conheceu.
11 Veio para o que era seu, e os seus não o receberam.
12 Mas, a todos quantos o receberam, aos que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus;
13 os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus.
Evangelho de João, cap. 1 vers. 6 a 13