Simão Pedro explica mais uma vez a razão para ter escrito suas duas cartas (capítulo 1.12-13): quis tornar claro aos crentes o que já tinham aprendido, “para que vos lembreis das palavras que dantes foram ditas pelos santos profetas, e do mandamento do Senhor e Salvador, dado mediante os vossos apóstolos”. Estas são as duas fontes de ensino para crentes, a única doutrina verdadeira que devemos manter:
As palavras dos santos profetas. É uma referência às escrituras do Velho Testamento (como em 1.19) e não ao ensino dos profetas da igreja (1 Coríntios 12.10, 28; Efésios 4.11), que veio após o Senhor e não antes.
O mandamento do Senhor e Salvador dado mediante os apóstolos: Ele mesmo nada escreveu, mas os Seus apóstolos transmitiram o Seu ensino, sendo lembrados pelo Espírito Santo de tudo quer Ele disse (João 14.26). Paulo também ensinou o que ele próprio recebera do Senhor (capítulo 3.15, 1 Coríntios 11.23, Gálatas 1.12).
O Velho Testamento e o ensino apostólico estão unidos outra vez, mostrando que as Sagradas Escrituras são a única revelação e autoridade vinda de Deus e também que o seu ensino é permanente (Salmo 119).
Somos instruídos a lembrar, antes de mais nada, que virão escarnecedores nos últimos dias: - são os dias em que vivemos agora, e que continuarão através do período da grande tribulação depois que a igreja for retirada da terra. Os “Escarnecedores” serão os apóstatas descritos imediatamente antes desta passagem. Evidentemente serão membros de igrejas, e muitos deles ministros e pastores, que estarão seguindo seus próprios desejos, não tentando seguir a Palavra de Deus. É o tipo de pessoa que ataca as verdades da Bíblia porque um véu está sobre os seus corações (2 Coríntios 3.14-16): seu problema é falta de entendimento.
Os profetas do Velho Testamento escreveram sobre a vinda de Cristo à terra para estabelecer Seu reino. Observemos que os profetas do Velho Testamento não escreveram sobre a igreja, porque isto não lhes tinha sido revelado. Foi o próprio Senhor Jesus que primeiro revelou que Ele viria para os Seus depois de ter preparado um lugar para eles no céu (João 14.2-3). Os apóstolos do Novo Testamento escreveram sobre a vinda de Cristo para tirar a igreja do mundo, quando O encontraremos no ar (1 Tessalonicenses 4.17); depois, após a grande tribulação, sobre a Sua vinda ao mundo para estabelecer o Seu reino.
O “Dia do Senhor” mencionado aqui aparece em muitos lugares na Bíblia, também chamado o “dia da ira” entre outros nomes, e começa cronologicamente com o último período dos tempos dos Gentios, o último dos setenta e setes anunciados por Gabriel a Daniel em sua visão (Daniel 9.27). Vem após o que é, agora, o período das sete igrejas de acordo com a visão de João (Apocalipse 1.19, 2, 3), a última sendo Laodicéia (“governo do povo”), identificado como sendo os tempos atuais, e é o que deve ocorrer após ele (Apocalipse 4.1). Este é o período da tribulação durante a segunda metade do qual haverá a grande tribulação dos judeus.
“Onde está a promessa da sua vinda?” Ou seja, estes escarnecedores dirão algo assim: “alguns de vocês pré-milenialistas têm dito por muitos anos que o Senhor Jesus está para voltar e arrebatar a igreja do mundo, e então, após um período de sete anos de tribulação, virá à terra estabelecer Seu reino. Bem, onde está Ele? Porque não voltou?” Vão escarnecer disto. A segunda vinda de Cristo será negada, não somente pelo ateu, mas também será negada por aqueles que sobem ao púlpito e declaram ser crentes.
Tais mestres falsos conhecem claramente as escrituras a respeito destes eventos, mas não acreditam neles. Dizem, “desde os tempos dos apóstolos não houve mais milagres; tudo anda como de costume, seguindo o curso natural; não há mais sinais vindos de Deus; Cristo não retornará!” Esta é uma atitude comum hoje, não somente entre incrédulos, mas também no mundo religioso. A teoria ateísta da evolução e a teologia liberal moderna não têm lugar para a intervenção divina, e a vinda do Senhor é rejeitada ou simplesmente “espiritualizada”.
O apóstolo declara, entretanto, que negam a segunda vinda do Senhor porque não querem que seja verdade - esquecem deliberadamente, ou ignoram, alguns acontecimentos radicais no passado:
Que pela palavra de Deus já desde a antigüidade existiram os céus e a terra, tendo esta sido tirada da água e no meio da água subsiste (Gênesis 1.6-10).
Que o mundo daquele tempo foi submerso e destruído pela água (Gênesis 6 e 7).
Assim como o mundo original foi mantido pela palavra de Deus até ser destruído pela água, o mundo em que agora vivemos está sendo mantido por Deus até ser destruído pelo fogo. Seu julgamento e destruição também virão sobre os ímpios.
Somos avisados a nos lembrar sempre que para o Senhor um dia é como mil anos, e mil anos como um dia. Nestes poucos versículos Pedro cobre a segunda vinda, o milênio, o julgamento final (Apocalipse 20), e o começo dos novos céus e da nova terra nova (Apocalipse 21.1).
A destruição da terra e dos céus ainda ocorre durante o dia do Senhor, que tendo começado com os sete anos de tribulação continuará através dos mil anos do Seu reino milenário. Quando o Senhor Jesus voltar à terra no fim do grande período da tribulação e estabelecer Seu reino aqui, Ele vai renovar esta terra, mas esta não será uma reforma permanente. A dissolução da terra e dos céus de que lemos aqui só acontecerão depois do milênio. Portanto, mesmo se o arrebatamento da igreja ocorresse amanhã, ainda haveria pelo menos mil e sete anos antes desta destruição.
Deus não é incapaz nem está indisposto a executar a Sua promessa a nós. Mas é longânimo, paciente, e não está apressando as coisas. Afinal, Ele tem a eternidade atrás e pela Sua frente. Não precisa se preocupar com o tempo! Para Ele mil anos são como um dia e um dia se realiza como se fosse mil anos. Mas o importante é que o julgamento final e a dissolução da terra e os céus estão vindo e o início dos acontecimentos, o arrebatamento da igreja, está iminente.
Entretanto, Deus está dando aos homens por toda a parte a oportunidade de se arrependerem e voltarem-se para Ele. Ele amou o mundo e lhe deu um Salvador, seu próprio Filho, para morrer em nosso lugar. O Senhor Jesus salvará quem quer que seja que esteja disposto a receber a salvação que Ele oferece: ninguém foi “eleito” por Deus para perecer, porque “Deus não quer que ninguém se perca, mas que todos venham a arrepender-se” (ver também Atos 17.30; Romanos 11.32; 1 Timóteo 2.4; Hebreus 2.9).
Mas a oportunidade para a salvação não durará para sempre, e o julgamento virá. Por esta razão precisamos divulgar a Palavra de Deus. É a única coisa que pode mudar corações e vidas: “tendo renascido, não de semente corruptível, mas de incorruptível, pela palavra de Deus, a qual vive e permanece” (1 Pedro 1.23). “Deus... manda agora que todos os homens em todo lugar se arrependam; porquanto determinou um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do varão que para isso ordenou...” (Atos 17.30-31). Você e eu estamos vivendo em um mundo que está se dirigindo para o julgamento. Muitos perecerão (versículo 7), mesmo que esse não seja o desejo de Deus.
O dia do Senhor virá inesperadamente, de repente, sem aviso prévio, como um ladrão na noite. O Senhor Jesus já tinha usado esta metáfora (Mateus 24.43; Lucas 12.39) e Paulo e João depois dele (1 Tessalonicenses 5.2, Apocalipse 3.3; 16.15).
Como vimos, o Dia do Senhor será um período prolongado, ao fim do qual os céus passarão com grande estrondo, para dar lugar aos novos céus e à nova terra. A palavra grega traduzida como “estrondo” é a palavra usada para o assobio de uma flecha, o bater das asas, o respingo da água, o silvo de uma serpente. “os elementos, ardendo, se fundirão”: lembra o efeito da explosão de uma bomba atômica. “E a terra e tudo que nela há, será desnudada” (NVI): sabemos agora que a matéria não é eterna mas pode ser convertida em energia, algo que não sabiam quando esta carta foi escrita. Mas Deus sabia, e Pedro escreveu.
1 Amados, já é esta a segunda carta que vos escrevo; em ambas as quais desperto com admoestações o vosso ânimo sincero;
2 para que vos lembreis das palavras que dantes foram ditas pelos santos profetas, e do mandamento do Senhor e Salvador, dado mediante os vossos apóstolos;
3 sabendo primeiro isto, que nos últimos dias virão escarnecedores com zombaria andando segundo as suas próprias concupiscências,
4 e dizendo: Onde está a promessa da sua vinda? porque desde que os pais dormiram, todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação.
5 Pois eles de propósito ignoram isto, que pela palavra de Deus já desde a antigüidade existiram os céus e a terra, que foi tirada da água e no meio da água subsiste;
6 pelas quais coisas pereceu o mundo de então, afogado em água;
7 mas os céus e a terra de agora, pela mesma palavra, têm sido guardados para o fogo, sendo reservados para o dia do juízo e da perdição dos homens ímpios.
8 Mas vós, amados, não ignoreis uma coisa: que um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos como um dia.
9 O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; porém é longânimo para convosco, não querendo que ninguém se perca, senão que todos venham a arrepender-se.
10 Virá, pois, como ladrão o dia do Senhor, no qual os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se dissolverão, e a terra, e as obras que nela há, serão descobertas.
Segunda epístola de Pedro, capítulo 3, versículos 1 a 10