Voltando aos tempos da perseguição que se seguiu à morte de Estêvão (cap. 8:1), antes da conversão de Cornélio, temos o relato de como o Evangelho chegou a Antioquia.
Entre os que foram dispersos por causa de Estêvão havia alguns que foram até bem longe, e levaram o Evangelho, mas apenas para os judeus, em:
Fenícia, uma faixa estreita à beira-mar no oriente do mar Mediterrâneo, atualmente o Líbano, que incluía os portos de Tiro e Sidom.
Chipre, uma ilha grande no nordeste do Mediterrâneo.
Cirene, cidade portuária situada no norte da África, onde atualmente está a Líbia.
Antioquia, capital da Síria, e da província romana da Ásia. Estava em terceiro lugar em importância no império romano, vindo depois de Roma e Alexandria.
Mas, dos que foram à Antioquia havia alguns procedentes de Chipre e Cirene para anunciar o Senhor Jesus aos gregos.
A língua grega era conhecida internacionalmente no Oriente Médio, por causa da ocupação grega durante muito tempo, antes da chegada dos romanos. No livro de Atos aparecem os "helenistas", judeus oriundos do estrangeiro e que falavam grego, e os "gregos", os gentios em geral pois se comunicavam na língua grega.
Eram os gentios que ouviam sobre o Senhor Jesus dos cíprios e cirenenses. Como a mão do Senhor era com eles, grande número creu e se converteu ao Senhor. É notável que não é dado o nome desses pioneiros da evangelização entre os gentios. A introdução do Evangelho em Antioquia foi um passo importante no avanço pelo mundo, e foi dali que Paulo e os seus companheiros saíram para as suas viagens missionárias mais tarde, espalhando o Evangelho pelos gentios.
Quando a igreja em Jerusalém soube disso, enviaram Barnabé, um "homem de bem, e cheio do Espírito Santo e de fé": ótima recomendação para um missionário. Ele se alegrou ao ver a graça de Deus revelada entre os gentios, e animou a todos a permanecerem fiéis ao Senhor, de todo o coração.
É bom quando uma igreja nova é visitada por homens com as qualidades espirituais de Barnabé. Enquanto ele permaneceu ali, muitas pessoas foram acrescentadas ao Senhor, e foi preservada a unidade espiritual com a igreja de Jerusalém.
A igreja de Antioquia passou a contar também com o ensino de Saulo, que Barnabé foi buscar em Tarso. Essa era a cidade de Saulo, que lhe dava a cidadania romana, e estava dentro da província de Cilícia, onde ele testemunhava do Evangelho (Gálatas 1:21).
Barnabé sabia que Saulo havia sido escolhido pelo Senhor Jesus para ser o seu apóstolo entre os gentios (Atos 9:15, Romanos 1:1, Gálatas 1:1)), e também conhecia a sua capacidade para ensinar, e se empenhou para encontrá-lo e trazê-lo a Antioquia. Os dois ficaram ali por um ano, ensinando a muitos. Calcula-se que foi o ano 44 AD.
Foi ali que surgiu o apelido “cristão” para os discípulos, significando “seguidores de Cristo”. Foi usado com desprezo pelo rei Agripa (Atos 26:28) e como objeto de perseguições do governo Romano (1 Pedro 4:16) só aparecendo nesses três lugares na Bíblia. O nome Cristo refere-se ao Messias esperado pelos judeus, por isso os judeus incrédulos não os chamavam de “cristãos” mas de “nazarenos”, pois não criam que o Senhor Jesus fosse realmente o Messias.
Vieram então profetas de Jerusalém para Antioquia. Eram homens dotados pelo Espírito Santo com o dom de profecia, para exortar e fortalecer as igrejas antes delas disporem dos livros do Novo Testamento. Como Judas e Silas (Atos 14:4 e 15:32), eles ajudavam os apóstolos
Um destes profetas, chamado Ágabo, previu que haveria “uma grande fome por todo o mundo” – “mundo” foi uma expressão coloquial para significar o Oriente Médio, onde viviam. A história registra escassez de alimentos nessa região durante o reinado do imperador Cláudio (41-44 AD), que precedeu Nero.
Os irmãos da igreja de Antioquia, aqui chamados “discípulos”, fizeram uma coleta entre si, cada um dando conforme as suas posses, e enviaram uma contribuição para os irmãos que habitavam na Judéia.
A contribuição foi mandada aos anciãos por mão de Barnabé e Saulo. É a primeira vez que a palavra “ancião” é usada para os que estão na direção da igreja (também chamados “presbíteros” e “bispos”), e é modelo de como fazer as contribuições nas igrejas: cada um dando conforme as suas posses, em mãos de dois tesoureiros, para distribuição pelos anciãos da igreja (note-se a pluralidade nos dois casos).
Nunca se lê na Bíblia sobre uma contribuição mediante “dízimos” nas igrejas cristãs. A contribuição é sempre feita pelos irmãos, voluntariamente, conforme a sua prosperidade.
19 Aqueles, pois, que foram dispersos pela tribulação suscitada por causa de Estêvão, passaram até a Fenícia, Chipre e Antioquia, não anunciando a ninguém a palavra, senão somente aos judeus.
20 Havia, porém, entre eles alguns cíprios e cirenenses, os quais, entrando em Antioquia, falaram também aos gregos, anunciando o Senhor Jesus.
21 E a mão do Senhor era com eles, e grande número creu e se converteu ao Senhor.
22 Chegou a notícia destas coisas aos ouvidos da igreja em Jerusalém; e enviaram Barnabé a Antioquia;
23 o qual, quando chegou e viu a graça de Deus, se alegrou, e exortava a todos a perseverarem no Senhor com firmeza de coração;
24 porque era homem de bem, e cheio do Espírito Santo e de fé. E muita gente se uniu ao Senhor.
25 Partiu, pois, Barnabé para Tarso, em busca de Saulo;
26 e tendo-o achado, o levou para Antioquia. E durante um ano inteiro reuniram-se naquela igreja e instruíram muita gente; e em Antioquia os discípulos pela primeira vez foram chamados cristãos.
27 Naqueles dias desceram profetas de Jerusalém para Antioquia;
28 e levantando-se um deles, de nome Ágabo, dava a entender pelo Espírito, que haveria uma grande fome por todo o mundo, a qual ocorreu no tempo de Cláudio.
29 E os discípulos resolveram mandar, cada um conforme suas posses, socorro aos irmãos que habitavam na Judéia;
30 o que eles com efeito fizeram, enviando-o aos anciãos por mão de Barnabé e Saulo.
Atos capítulo 11, versículos 19 a 30