Simão era um nome comum naquela época, e muitas tradições e lendas surgiram em torno do personagem mencionado aqui, apelidado de “o Mago”. Em português e algumas outras línguas derivou-se dessa pessoa a palavra “simonia”, que significa a compra ou venda de coisas espirituais, ou temporais ligadas às espirituais.
Este homem, e muitos outros antes do tempo em que o gnosticismo se intensificou, praticava mágica ou feitiçaria que explorava a superstição e credulidade do povo, ganhando para si fama e muito dinheiro. O povo dizia que ele era o “grande poder de Deus”, uma centelha da maior divindade, impersonificando o próprio Deus.
Mas muitos do povo creram em Filipe quando veio pregando sobre o Reino de Deus e o nome de Cristo, e foram batizados. Também Simão, que se apegou a Filipe, admirado com o que ele podia fazer. Pelo que se seguiu, entendemos que Simão não havia realmente se convertido e só queria descobrir como Filipe fazia os milagres.
Quando os apóstolos, todos em Jerusalém, souberam do que estava acontecendo em Samaria, eles enviaram Pedro e João para lá. É interessante ver que a decisão foi tomada em grupo: estes dois notáveis apóstolos não agiram por conta própria.
Ao chegarem lá, notaram que o Espírito Santo não havia descido sobre nenhum dos samaritanos, diferentemente dos judeus convertidos, sobre os quais Ele vinha logo depois da sua conversão e batismo (cap. 2:38).
Pedro e João, portanto, oraram pedindo que esses samaritanos recebessem o Espírito Santo, e lhes impuseram as suas mãos, um sinal de solidariedade usado entre os judeus. Os samaritanos então receberam o Espírito Santo.
A Bíblia não explica porque, embora tenham crido e sido batizados, os samaritanos não receberam logo o Espírito Santo como os judeus estavam recebendo, mas é provável que foi para manifestar a comunhão de judeus e samaritanos na igreja de Cristo.
Os judeus não se davam com os samaritanos, e para que essa separação não continuasse na igreja, Deus enviou os apóstolos para orar pelos samaritanos e colocar suas mãos sobre eles antes de lhes dar o Espírito Santo, provando que participavam do mesmo Espírito. Nada se diz sobre o dom de línguas, como se fosse prova do dom recebido.
Muitos comentaristas julgam que Deus escolheu fornecer esta cena dramática da concessão do Espírito Santo como um sinal nesse momento especial da História - a evangelização feita em Samaria mediante a pregação poderosa e efetiva dos crentes. Normalmente o Espírito Santo entra na vida das pessoas no momento da conversão, mas esta foi a primeira ocasião em que isto se deu entre os gentíos.
Outras teorias são propostas:
Embora crendo em Filipe e tendo sido batizados, os samaritanos, como Simão, não haviam realmente se convertido, o que fizeram quando chegaram Pedro e João, e então receberam o Espírito Santo. Mas não há qualquer fundamento para essa teoria no relato.
Alguns chegam a pensar que não se lhes havia dado o Espírito Santo porque foram batizados apenas em nome do Senhor Jesus, ao invés da Trindade (Mateus 28:19). Mas o batismo com qualquer destas expressões indicam comprometimento com Deus. Pelo que consta na narrativa, Pedro e João não os batizaram outra vez.
Tiramos a lição que passar pelas águas do batismo ou qualquer outra cerimônia não salva, não faz com que o Espírito Santo entre na vida de uma pessoa, muito menos o faz um membro da igreja de Cristo.
Evidentemente Simão não se encontrava entre aqueles sobre quem os apóstolos haviam orado e imposto suas mãos, e não entendeu o seu significado. Ao ver aquilo, julgou que o Espírito Santo era dado assim (não era, veja-se o exemplo de Cornélio no capítulo 10:44).
Sua cobiça imediamente lhe deu uma idéia que achou luminosa: adquirir esse poder dos apóstolos (ao apoderar-se dele, teria a oportunidade de enriquecer-se, como fazia com a sua mágica, e manteria o seu prestígio, que agora estava em jogo).
Como dizem hoje em dia, ele pensava que “tudo tem um preço”. É normal num mundo de subornos, materialismo, procura de riquezas. Mas foi surpreendido com uma repreensão severa de Pedro.
Apesar da sua confissão de fé e batismo, Pedro viu, pela proposta que lhe fora feita, que o coração de Simão não era reto diante de Deus, e estava destinado à perdição eterna (João 3:16). Ele realmente não havia se convertido, pois:
Estava destinado à perdição eterna: “vá tua prata contigo à perdição” (nenhum crente irá para a perdição – João 3:16).
Não estava em comunhão com a igreja: “Tu não tens parte nem sorte neste ministério”.
Não havia acolhido a Palavra de Deus: “seu coração não era reto diante de Deus” (Lucas 8:15).
Demonstrava falta de regeneração: estava em “fel de amargura, e em laços de iniqüidade”.
O poder do Espírito Santo não está à venda. No reino de Deus, do qual fazem parte os que foram santificados pela graça de Deus mediante a fé em Cristo Jesus aqui na terra, todos têm o Espírito Santo.
Simão não o tinha, e precisava arrepender-se e orar ao Senhor. Pedro parecia estar em dúvidas se Simão alcançaria o perdão de Deus.
Deus é bondoso, compassivo e de grande benignidade (Salmo 145:8). O Senhor Jesus ensinou que “Todo pecado e blasfêmia se perdoará aos homens; mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada.” Mateus 12:31). Estaria Pedro pensando que Simão talvez tivesse cometido este pecado?
Os fariseus o haviam cometido ao atribuir ao diabo as obras feitas pelo Senhor Jesus mediante o poder do Espírito Santo (Mateus 12:28). Aquele pecado era indesculpável e não seria perdoado, nem neste mundo, nem no vindouro. Igualmente, aqueles que atribuem ao diabo as obras do Espírito Santo manifestas nas vidas dos homens, provavelmente estão cometendo este pecado imperdoável.
Pedro deixou aberta a esperança de perdão, se Simão se arrependesse e rogasse perdão ao Senhor. Simão se assustou, mas não deu sinal de arrependimento, apenas pediu que os apóstolos interviessem a favor dele e rogassem ao Senhor para que o castigo que Pedro mencionara não viesse sobre ele.
Ficou evidente que Simão nunca havia mudado a sua vida, continuando o seu caminho distante de Deus, apesar da sua profissão de fé e batismo.
É a atitude de multidões que não querem um compromisso pessoal com Deus, e recorrem à intermediação de falsos sacerdotes, e a “santos” mortos, etc., tentando assim obter o perdão dos seus pecados. Mas o Senhor Jesus disse claramente: “Quem não crer será condenado” (Marcos 16:16). A salvação não está à venda, e Deus é justo e punirá os que não tiverem obtido o perdão dos seus pecados mediante a fé em Jesus Cristo.
Os dois apóstolos voltaram para Jerusalém depois de testemunhar e proclamar a palavra do Senhor, mas de lá saíam para evangelizar muitas aldeias dos samaritanos. Assim continuavam a executar a sua missão de apóstolos do Senhor Jesus Cristo.
9 Ora, estava ali certo homem chamado Simão, que vinha exercendo naquela cidade a arte mágica, fazendo pasmar o povo da Samaria, e dizendo ser ele uma grande personagem;
10 ao qual todos atendiam, desde o menor até o maior, dizendo: Este é o Poder de Deus que se chama Grande.
11 Eles o atendiam porque já desde muito tempo os vinha fazendo pasmar com suas artes mágicas.
12 Mas, quando creram em Filipe, que lhes pregava acerca do reino de Deus e do nome de Jesus, batizavam-se homens e mulheres.
13 E creu até o próprio Simão e, sendo batizado, ficou de contínuo com Filipe; e admirava-se, vendo os sinais e os grandes milagres que se faziam.
14 Os apóstolos, pois, que estavam em Jerusalém, tendo ouvido que os da Samaria haviam recebido a palavra de Deus, enviaram-lhes Pedro e João;
15 os quais, tendo descido, oraram por eles, para que recebessem o Espírito Santo.
16 Porque sobre nenhum deles havia ele descido ainda; mas somente tinham sido batizados em nome do Senhor Jesus.
17 Então lhes impuseram as mãos, e eles receberam o Espírito Santo.
18 Quando Simão viu que pela imposição das mãos dos apóstolos se dava o Espírito Santo, ofereceu-lhes dinheiro,
19 dizendo: Dai-me também a mim esse poder, para que aquele sobre quem eu impuser as mãos, receba o Espírito Santo.
20 Mas disse-lhe Pedro: Vá tua prata contigo à perdição, pois cuidaste adquirir com dinheiro o dom de Deus.
21 Tu não tens parte nem sorte neste ministério, porque o teu coração não é reto diante de Deus.
22 Arrepende-te, pois, dessa tua maldade, e roga ao Senhor para que porventura te seja perdoado o pensamento do teu coração;
23 pois vejo que estás em fel de amargura, e em laços de iniqüidade.
24 Respondendo, porém, Simão, disse: Rogai vós por mim ao Senhor, para que nada do que haveis dito venha sobre mim.
25 Eles, pois, havendo testificado e falado a palavra do Senhor, voltando para Jerusalém, evangelizavam muitas aldeias dos samaritanos.
Atos capítulo 8, vers. 9 a 25