O comandante, o destacamento e os guardas dos judeus detiveram e maniataram Jesus (sem base legal nem acusação formal contra ele), antes levá-lo aos seus chefes, os sacerdotes judeus. Ele próprio se colocara em suas mãos, em dignidade e na Sua glória, como o Cordeiro para ser morto pelos pecados de muitos, e não era necessário maniatá-lo.
Eles imediatamente levaram o Senhor para a residência do sumo sacerdote, mesmo sendo no meio da noite, pois os líderes religiosos estavam com pressa para completar a execução antes do sábado da Páscoa. Essa residência era um palácio cujas paredes exteriores cercavam um pátio onde servos e soldados foram se esquentar em torno de uma fogueira.
João, que pessoalmente testemunhou as entrevistas porque era conhecido do sumo sacerdote, nos conta que Anás foi o primeiro a interrogar o Senhor.
A história secular nos diz que Anás foi sumo sacerdote de Israel de 6 a 15 d.C., e foi considerado como o mais brilhante, um dos mais inteligentes, e um dos mais satânicos de todos os grandes sacerdotes. Ele foi deposto pelos administradores romanos porque não podiam suportá-lo, e Caifás, genro de Anás e mais aceitável pelos romanos, foi posto em seu lugar. Este foi nomeado sumo sacerdote em 18 d.C., e permaneceu no cargo até 36/37 d.C.
Segundo a lei judaica, o cargo de sumo sacerdote era vitalício, portanto com base nela Anás ainda era o verdadeiro chefe do grupo religioso, e era reconhecido como sumo sacerdote. Foi provavelmente ele quem tramou a prisão, o julgamento absurdo, e a crucificação de Cristo. Seu genro Caifás era oficialmente responsável. Ambos deviam ter conhecimento de que Jesus era o Messias de quem as Escrituras falavam, mas se fizeram cegos por sua própria maldade e fraude.
Caifás aconselhara os judeus que convinha que um homem morresse pelo povo: ele já tinha decidido que Cristo devia morrer. Forjaram então uma acusação contra Ele para conseguir a pena de morte da autoridade romana. Todo o processo não passou de uma farsa.
Dois discípulos seguiram os soldados para o palácio do sumo sacerdote: Simão Pedro e João, que aqui modestamente se chama "outro discípulo". Não era necessariamente amigo pessoal do sumo sacerdote, mas era suficientemente conhecido para que a porteira o admitisse ao pátio, e a seu pedido, também Pedro.
Poderia ser um ambiente bem conhecido por João, mas revelou-se perigoso para Pedro. Ele sentia frio, e foi esquentar-se junto ao fogo onde estavam os servos e os guardas, mas provavelmente procurando não atrair atenção para si. Simão Pedro estava no lugar errado, um lugar de tentação para ele. O relato das negações de Pedro varia entre os Evangelhos, mas o quadro completo pode ser obtido mediante a colocação dos dados encontrados em cada um conforme abaixo.
Anás questionou o Senhor Jesus, para ver em que condições Ele fazia discípulos e para verificar a sua "teologia". Qualquer coisa que dissesse poderia ser usado contra Ele na reunião do sinédrio que devia se seguir.
O Senhor passou por cima do desdém mostrado pelos Seus discípulos, e de uma forma digna desafiou a necessidade de explicar o Seu ensino. Durante três anos havia ensinado o povo através de todo o país, incluindo os líderes religiosos nas sinagogas e no templo em Jerusalém (capítulo 2:19; 6:59; 7:14, 28; 8:20; 19:23; Marcos 14:49, etc.).
Houve uma abundância de testemunhas do Seu ensino, e os líderes religiosos nunca puderam conseguir que Ele se condenasse com as suas perguntas capciosas. Apenas dois dias antes, multidões tinham estado presentes no templo ouvindo o seu grande debate vitorioso sobre os principais sacerdotes, com alegria para o povo que ouvia Seu ensino com satisfação (Marcos 12:37).
Um dos guardas do templo, que se sentia importante como protetor de Anás, deu uma bofetada no rosto de Jesus por ter aparentemente desrespeitado Anás. Este foi o início da Sua humilhação no caminho da cruz. Mas desta vez Ele protestou (não virou a outra face) e desafiou o guarda a provar que tinha falado com maldade a Anás (o que não tinha).
Ele claramente tinha direito de ter prova dessa acusação, se houvesse alguma. Por isso diante deles Ele invocou a lei de Moisés para demonstrar que era ilegal o que faziam. Não havia testemunhas de que Ele havia procedido mal antes de O castigar. Eles eram os transgressores da lei: nenhum julgamento podia começar durante a noite nem terminar à noite; um julgamento não podia começar e terminar no mesmo dia; não podiam açoitar um prisioneiro que ainda não fora provado culpado (Deuteronômio 25:2).
O Senhor Jesus foi maniatado quando detido (12) e aparentemente desatado durante o exame preliminar de Anás. O versículo 24 informa que Anás o mandou novamente maniatado a Caifás, como se fosse um criminoso perigoso.
Durante esse tempo, no começo Pedro estivera fora, embaixo, no pátio, junto com os servos e os guardas que haviam acendido uma fogueira. Uma criada porteira aproximou-se. Fixando os olhos nele, ela declarou para todos ouvirem que Pedro também estava com Jesus, o nazareno galileu, e perguntou-lhe se não era também discípulo dele. Pedro o negou, dizendo que não O conhecia, nem sabia ou compreendia o que ela estava dizendo. (Veja Mateus 26:69-70, Marcos 14:66-68, Lucas 22:55-57, João 18:15-17).
Pedro então levantou-se e foi para o vestíbulo, ou alpendre, e novamente foi visto por alguém que informou aos presentes que Pedro também estava com Jesus o nazareno, pois era galileu, sendo Seu discípulo. Pedro negou outra vez que fosse, e disse que não conhecia tal homem. (Veja Mateus 26:71-72, Marcos 14:69-70, Lucas 22:58, João 18:18, 25).
Cerca de uma hora mais tarde, um dos homens afirmou que certamente Pedro teria estado com Jesus, pois era galileu também. Então alguns que estavam por ali se aproximaram de Pedro e repetiram isso, porque Pedro falava como galileu. Um dos servos do sumo sacerdote, parente daquele a quem Pedro cortara a orelha, disse: “Não te vi eu no jardim com ele?” Perguntaram então novamente se não seria ele um dos seus discípulos. Pedro negou pela terceira vez, praguejando e jurando que não conhecia tal homem.
Naquele instante o galo cantou e o Senhor virou-se e olhou para Pedro. Pedro imediatamente se lembrou do que Ele dissera: “Antes que o galo cante, três vezes me negarás.” E, saindo dali, chorou amargamente (Lucas 22:61-62). Pedro amava o Senhor e foi sincero quando fez a promessa de ser fiel a Ele, mas não conhecia a sua própria fraqueza.
Pedro chorou lágrimas de verdadeiro arrependimento, e mais tarde constatou que o Senhor Jesus nunca o desamparou, como escreveu: “...pelo poder de Deus sois guardados, mediante a fé, para a salvação que está preparada para se revelar no último tempo" (1 Pedro 1:5). Na verdade, Pedro foi quem teve o privilégio de pregar o primeiro sermão após a vinda do Espírito Santo no dia de Pentecoste, e três mil pessoas foram salvas! Este é o verdadeiro teste de um crente genuíno, pois qualquer filho de Deus que peca pode e vai voltar para Ele em arrependimento: "Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça" (1 João 1:9).
12 Então a coorte, e o comandante, e os guardas dos judeus prenderam a Jesus, e o maniataram.
13 E conduziram-no primeiramente a Anás; pois era sogro de Caifás, sumo sacerdote naquele ano.
14 Ora, Caifás era quem aconselhara aos judeus que convinha morrer um homem pelo povo.
15 Simão Pedro e outro discípulo seguiam a Jesus. Este discípulo era conhecido do sumo sacerdote, e entrou com Jesus no pátio do sumo sacerdote,
16 enquanto Pedro ficava da parte de fora, à porta. Saiu, então, o outro discípulo que era conhecido do sumo sacerdote, falou à porteira, e levou Pedro para dentro.
17 Então a porteira perguntou a Pedro: Não és tu também um dos discípulos deste homem? Respondeu ele: Não sou.
18 Ora, estavam ali os servos e os guardas, que tinham acendido um braseiro e se aquentavam, porque fazia frio; e também Pedro estava ali em pé no meio deles, aquentando-se.
19 Então o sumo sacerdote interrogou Jesus acerca dos seus discípulos e da sua doutrina.
20 Respondeu-lhe Jesus: Eu tenho falado abertamente ao mundo; eu sempre ensinei nas sinagogas e no templo, onde todos os judeus se congregam, e nada falei em oculto.
21 Por que me perguntas a mim? pergunta aos que me ouviram o que é que lhes falei; eis que eles sabem o que eu disse.
22 E, havendo ele dito isso, um dos guardas que ali estavam deu uma bofetada em Jesus, dizendo: É assim que respondes ao sumo sacerdote?
23 Respondeu-lhe Jesus: Se falei mal, dá testemunho do mal; mas, se bem, por que me feres?
24 Então Anás o enviou, maniatado, a Caifás, o sumo sacerdote.
25 E Simão Pedro ainda estava ali, aquentando-se. Perguntaram- lhe, pois: Não és também tu um dos seus discípulos? Ele negou, e disse: Não sou.
26 Um dos servos do sumo sacerdote, parente daquele a quem Pedro cortara a orelha, disse: Não te vi eu no jardim com ele?
27 Pedro negou outra vez, e imediatamente o galo cantou.
Evangelho de João capítulo 18, versículos 12 a 27