Os discípulos ficaram atônitos ao ver Jesus falando com uma mulher em público. Havia um preceito rabínico: “Nenhum homem fale com uma mulher na rua, nem com a sua própria esposa”. Os discípulos consideravam Jesus um rabino e julgavam que estava agindo de forma indigna da sua posição. João se lembrou através dos anos o assombro deles e também a reverência que tinham por Jesus e a indisposição em questiona-lo sobre isso. Aparentemente a mulher partiu imediatamente quando os discípulos vieram, deixando para trás a vasilha de água em sua precipitação para contar na cidade as boas notícias sobre o possível Messias, e decerto intencionando voltar.
Ela entrou na cidade de Sicar onde vivia e convidou os homens de lá para irem ver “um homem que me disse tudo quanto eu tenho feito; será este, porventura, o Cristo?”. Talvez sua consciência culpada a levou a exagerar um pouco. É possível que ela já estivesse convencida da Sua identidade, mas não o declarou para evitar oposição, e com intuição feminina apenas despertou a sua curiosidade para que eles mesmos fossem até Ele para ouvi-lo pessoalmente.
Os homens saíram imediatamente e foram ter com Jesus.
No intervalo, os discípulos rogavam que Ele comesse, dizendo: “Rabi, come”, mas Ele aproveitou para dar-lhes uma lição espiritual, e disse que tinha alimento para comer que eles não conheciam. Com isso ficaram curiosos para saber se alguém já lhe havia trazido comida. Mas era uma metáfora e Ele explicou.
A consciência Messiânica do Senhor se mostrou clara e firme na Sua resposta, como sempre foi, até mesmo na Sua infância (Lucas 2:49). Ele sabia que o Pai O enviara “para completar a Sua obra”. Em Sua oração intercessória (João 17:4) disse que tinha completado esta tarefa que o Pai lhe deu fazer. Ao morrer na cruz gritou “está consumado” (cap. 19:30, veja também cap. 3:16). Sua comida era a nutrição espiritual, que envolvia levar a cabo o programa do Pai.
Nossa comida espiritual também envolve mais do que o simples estudo da Bíblia, oração, e comparecimento às reuniões da igreja. A nossa nutrição espiritual também consiste em fazer a vontade de Deus e ajudar a completar a Sua obra de salvação. Somos nutridos não só pelo que absorvemos mas também por aquilo que distribuimos para Deus. O Senhor tinha estado fazendo isso quando voltava a mulher para Deus e agora estava esperando pela chegada dos homens de Sicar - Ele sabia que estavam a caminho.
Faltavam ainda quatro meses para chegar o tempo da colheita do mês de abril. Não haveria ainda sinal de grão maduro nos campos, mas os Samaritanos que se aproximavam e já podiam ser vistos pelos discípulos eram “os campos brancos para a ceifa”.
O ceifeiro espiritual pode fazer sua colheita sem esperar quatro meses: Jesus estava fazendo uma colheita naquela hora pela conversão daquela mulher. Às vezes nós nos desculpamos de testemunhar dizendo que nossa família ou amigos não estão ainda prontos para crer. Nossa colheita está à espera para ser ceifada. Não deixe que Ele nos encontre fazendo desculpas. Vamos olhar em volta e veremos pessoas dispostas a ouvir a Palavra de Deus.
A colheita espiritual consiste em proclamar o Evangelho de Cristo para o espiritualmente faminto e sedento (versículo 14). Amós (9:13) falou do tempo quando o lavrador alcançará o ceifeiro e isso aconteceu nesta ocasião, tendo ambos a alegria do tempo da colheita (Isaías 9:3). Jesus o Semeador e os discípulos como os ceifeiros estavam aqui se alegrando simultaneamente.
O trabalhador é digno do seu salário (Lucas 10:7; 2 Timóteo 2:6) e os salários dos trabalhadores envolvidos na cultura espiritual recebem a recompensa no gozo de servir ao Senhor e de ver as conversões que se seguem. Na Sua parábola do semeador, o Senhor Jesus esclareceu que o semeador é quem semeia a Palavra. Os ceifeiros é que colhem o fruto, mas a colheita também envolve trabalho buscando os que amadurecem para a conversão. Tanto o semeador quanto o ceifeiro servem o Senhor e se regozijam com as almas convertidas que entram no reino dos céus.
O ditado “um é o que semeia, e outro o que ceifa”, se cumpria naquela ocasião porque os homens samaritanos já haviam sido preparados pelo testemunho da mulher e o conhecimento que tinham da vinda do Messias anunciada pelos profetas. Os judeus também haviam sido preparados pelos profetas, João Batista e o próprio Senhor Jesus. Os gentios tinham e ainda têm que ser preparados com sementeira prévia. Hoje se faz mediante a distribuição de Bíblias e literatura cristã, e programas fiéis ao ensino bíblico no rádio, televisão e internet, além do trabalho evangelístico pessoal.
Na maioria das vezes os semeadores não vêm o resultado dos seus esforços perdendo assim a alegria de colher (Jó 31:8), e só têm a semeadura em lágrimas (Salmo 126:5). Às vezes a pessoa colhe onde não semeou (Deuteronômio 6: 11; Josué 24:13). Colher é a prerrogativa do Mestre (Mateus 25:26), mas Jesus aqui deixou os discípulos compartilharem da Sua alegria. A alegria da salvação sempre envolve participação (Atos 8:5-7). Os discípulos não tinham feito qualquer semeadura em Sicar, só Jesus e a mulher, mas eles participaram do resultado abençoado do seu trabalho.
A mulher teve parte nesta colheita porque apresentou seu testemunho claramente e com discrição, contando o suficiente para trazer os seus vizinhos à fé em Cristo. Talvez somos tímidos e covardes ao ponto de não nos dispormos a dar logo o nosso testemunho de Cristo ao nosso vizinho. A mulher samaritana compartilhou a experiência que teve imediatamente com os outros. Como resultado, apesar da sua reputação, muitos creram n'Ele pelo que ela lhes disse, e os samaritanos saíram para conhecer o Homem que ela disse que poderia ser o Messias.
Talvez haja pecados em nosso passado dos quais estamos envergonhados. Mas Cristo nos muda e como as pessoas vêem estas mudanças, eles ficam curiosos. Use estas oportunidades para os apresentar a Ele.
Os samaritanos queriam aprender mais de Jesus Cristo. Então Ele cortesmente lhes concedeu dois dias durante os quais muitos mais vieram a ter fé n’Ele por causa da Sua pregação, uma experiência das mais inesperadas em vista do mau relacionamento entre os judeus e os samaritanos (vers. 9). A ceifa se desenvolveu gloriosamente pois muitosd mais creram por causa da palavra dele.
O Senhor tinha dito à mulher que a salvação vem dos judeus (vers. 22). Ele explicou claramente aos samaritanos durante estes dois dias que Ele era o Messias, como tinha dito à mulher (vers. 26), que era Salvador de samaritanos assim como dos judeus. O Seu ensino foi suficiente para que aqueles homens compreendessem que Ele era o Salvador do mundo.
27 E nisto vieram os seus discípulos, e se admiravam de que estivesse falando com uma mulher; todavia nenhum lhe perguntou: Que é que procuras? ou: Por que falas com ela?
28 Deixou, pois, a mulher o seu cântaro, foi à cidade e disse àqueles homens:
29 Vinde, vede um homem que me disse tudo quanto eu tenho feito; será este, porventura, o Cristo?
30 Saíram, pois, da cidade e vinham ter com ele.
31 Entrementes os seus discípulos lhe rogavam, dizendo: Rabi, come.
32 Ele, porém, respondeu: Uma comida tenho para comer que vós não conheceis.
33 Então os discípulos diziam uns aos outros: Acaso alguém lhe trouxe de comer?
34 Disse-lhes Jesus: A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e completar a sua obra.
35 Não dizeis vós: Ainda há quatro meses até que venha a ceifa? Ora, eu vos digo: levantai os vossos olhos, e vede os campos, que já estão brancos para a ceifa.
36 Quem ceifa já está recebendo recompensa e ajuntando fruto para a vida eterna; para que o que semeia e o que ceifa juntamente se regozijem.
37 Porque nisto é verdadeiro o ditado: Um é o que semeia, e outro o que ceifa.
38 Eu vos enviei a ceifar onde não trabalhaste; outros trabalharam, e vós entrastes no seu trabalho.
39 E muitos samaritanos daquela cidade creram nele, por causa da palavra da mulher, que testificava: Ele me disse tudo quanto tenho feito.
40 Indo, pois, ter com ele os samaritanos, rogaram-lhe que ficasse com eles; e ficou ali dois dias.
41 E muitos mais creram por causa da palavra dele;
Joh 4:42 e diziam à mulher: Já não é pela tua palavra que nós cremos; pois agora nós mesmos temos ouvido e sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do mundo.
Evangelho de João, capítulo 4 e versículos 27 a 42