“No princípio” nos faz pensar no tempo da eternidade antes da criação do mundo. Como em Gênesis, não se argumenta aqui a existência de Deus, mas aceita-se como realidade incontestável que Deus existe e é o Criador do universo.
“Era e estava”: três vezes neste versículo João usa este pretérito imperfeito de eimi (ser) que elimina qualquer idéia de origem concernente a Deus ou ao Verbo, mas significa existência contínua. Um verbo bem diferente (egeneto, tornou-se) aparece no versículo 14 para o início da Encarnação do Verbo. A distinção é feita com clareza no capítulo 8:58 " antes que Abraão existisse (genesthai), eu sou (eimi, existência infinita)".
O Verbo: tradução do grego “logos”(o equivalente em hebraico memra era usado nos Targuns, que eram versões em aramaico ou interpretações das escrituras sagradas hebraicas, para as manifestações de Deus como o Anjo do SENHOR, e a sabedoria de Deus em Provérbios 8:23). O vocábulo grego significa:
Como uma designação de Cristo, portanto, o Verbo infere que:
Com Deus: Além de existir eternamente com Deus, o Verbo estava em perfeita comunhão com Deus, no mesmo nível de igualdade e intimidade com Ele, face a face.
E o Verbo era Deus: Mediante esta linguagem precisa e cuidadosa torna-se evidente que o Verbo não expressava Deus em sua totalidade, o que seria entendido se a frase fosse “Deus era o Verbo” (semelhantemente, Deus é espírito, mas o espírito não é Deus em João 4:24 e Deus é amor, mas o amor não é Deus em I João 4:16). O Verbo era eternamente Deus, comunhão de Pai e Filho.
Ele estava no princípio com Deus: É a repetição dos conceitos anteriores para maior clareza, unindo em uma só frase as duas idéias anteriores, "no princípio Ele estava com Deus", "depois com o tempo veio estar com o homem." Assim são declaradas claramente a pre-existência do Verbo antes da encarnação, a Sua personalidade e a Sua divindade.
Todas as coisas foram feitas por intermédio dele: Todas as coisas vieram a existir. A criação é assim apresentada como tendo sido formada (em contraste com existência perpétua) por meio d’Ele como o agente intermediário no trabalho da criação. O Verbo é a explicação da criação do universo (também veja Hebreus 1:2 e Colossenses 1:16-17). O Pai é a fonte primária e o Filho o agente intermediário (1 Coríntios 8:6). Isto prova que Ele é Deus, pois o Edificador de tudo é Deus (Hebreus 3:4). O Deus de Israel provou freqüentemente que foi Deus com isto, que Ele fez todas as coisas (Isaías 40:12, 28).
Sem ele nada do que foi feito se fez: Absolutamente nada foi feito sem Ele, desde o anjo mais sublime até a matéria mais minúscula. Isto também exclui a habilidade de qualquer ser criado por Ele, divino ou terrestre, para criar qualquer coisa nova.
Nele estava a vida: O que veio a existir (versículo 3) no Verbo era vida. O Poder que cria e sustenta a vida no universo é o Verbo (João 11:25, Colossenses 1:16, Hebreus 1:3). Normalmente, no Evangelho de João, vida significa vida espiritual mas aqui o vocábulo está ilimitado e inclui toda a espécie de vida; não é a maneira de viver, mas o mesmo princípio ou essência da vida, também inteligência e poder pessoal.
A vida era a luz dos homens: essa sentença também pode ser traduzida do idioma grego como “a luz era a vida dos homens”. Essa declaração é curiosamente como o parecer de alguns físicos que consideram a eletricidade (luz e força) como o mais próximo equivalente da vida em sua última forma física. Depois Jesus se chamará de “luz do mundo” (capítulo 8:12). As duas palavras “vida” e “luz” se encontram muitas vezes no Evangelho de João, bem como nas Epístolas e no livro do Apocalipse. Aqui são combinadas para representar especialmente a relação do Verbo com a humanidade antes da encarnação. Ele era então e é também agora a Vida dos homens e a Luz dos homens.
A luz resplandece nas trevas: Esta é uma evidente alusão à escuridão causada pelo pecado. O Verbo, a única luz moral real, continua brilhando tanto no estado preencarnado como depois da encarnação (1 João 2:8). Jesus Cristo é o Criador da vida e a Sua vida traz luz ao gênero humano. Em Sua luz nós nos vemos como realmente somos (pecadores carecendo de um Salvador). Quando O seguimos, a verdadeira Luz, podemos evitar andar às escuras e cair em pecado. Ele ilumina o caminho à nossa frente e assim podemos enxergar como viver. Ele remove a escuridão do pecado de nossas vidas.
E as trevas não prevaleceram contra ela: ultrapassar ou superar parecem ser a idéia aqui. A luz continuou brilhando apesar da escuridão, como está revelado no Velho Testamento e nas descobertas arqueológicas no Egito, Assíria, Babilônia, Pérsia, Creta e Oriente Médio. A escuridão do mal nunca pode ou poderá ultrapassar ou superar a luz de Deus.
1. No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
2 Ele estava no princípio com Deus.
3 Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez.
:4 Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens;
5 a luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela.
Evangelho de João, capítulo 1:1-5