Paulo, Barnabé e João Marcos embarcaram em Pafos, na ilha de Chipre e navegaram para o norte, desembarcando no porto de Perge, capital da província de Panfília no sul da Turquia atual.
João Marcos os deixou em Perge e embarcou novamente para Jerusalém: a Bíblia não nos conta o motivo da separação. Paulo e Barnabé subiram terra adentro em direção ao norte, para Antioquia da Pisídia que fica ao sul da Galácia.
Antioquia da Pisídia era o centro militar e administrativo dessa parte da Galácia, falava-se o latim, e dali os soldados e oficiais administrativos romanos eram enviados para toda aquela área.
Paulo e Barnabé entraram na sinagoga no dia de sábado. Depois da leitura usual feita no Velho Testamento (“a lei e os profetas”) os chefes da sinagoga lhes convidaram para dar uma palavra de exortação.
Paulo então tomou a palavra, discorreu brevemente sobre como Deus havia dado origem e dirigido a nação de Israel até o reinado de Davi, e em seguida lhes apresentou o Salvador Jesus, que Deus trouxe a Israel da descendência de Davi, conforme a Sua promessa.
Paulo prosseguiu lembrando o testemunho de João (Batista), falou da rejeição que os de Jerusalém e as autoridades fizeram a Jesus, assim cumprindo as profecias, e pedindo a Pilatos que fosse morto. Disse que, depois de cumpridas as profecias, tirando-o do madeiro, o puseram na sepultura, mas que Deus o ressuscitou dos mortos, sendo visto por muitos dias por pessoas que haviam vindo com Ele da Galiléia, e que agora davam testemunho disso a todos.
Citou e explicou algumas profecias que falam da vinda, morte e da ressurreição do Messias, como o Salmo 2:7, 16:10, e Isaías 55:3 e anunciou a plena e gratuita justificação do pecado, que a lei não podia dar.
Depois de dizer tudo isso, Paulo se achou em condições de anunciar a remissão dos pecados, com a completa justificação de tudo de forma gratuita, o que a lei de Moisés não podia oferecer.
A justificação consiste na decisão judicial que Deus tomou de isentar do seu pecado todos os pecadores que recebem Seu Filho como seu Senhor e Salvador pessoal. É uma decisão de absoluta justiça porque a penalidade do seu pecado, que é a morte, foi aplicada sobre Quem era inocente de qualquer pecado
Assim como pela ofensa de um só, Adão, a morte veio sobre ele e sobre toda a sua descendência, pela morte de um só justo, Jesus Cristo, a vida eterna é concedida a todos os que O recebem como seu Senhor e Salvador pessoal, pela graça de Deus (Romanos 5:10-19).
A lei de Moisés não podia justificar a ninguém, simplesmente porque não havia possibilidade do homem pecador apagar qualquer pecado mediante as boas obras da lei. A lei só podia condená-lo pelas infrações que cometia.
Paulo terminou a sua exortação com uma advertência solene aos que fossem tentados a rejeitar a grande oferta de salvação que Deus lhes dava: deveriam cuidar para que não viesse sobre eles, desprezadores, uma ira da parte de Deus que eles não acreditariam. Ele estava se referindo às palavras da profecia de Habacuque (1:4-7) que, em circunstâncias de incredulidade semelhante, previa a invasão do Oriente Médio pelos caldeus (Nabucodonozor, etc.), palavras essas que foram cumpridas pouco tempo depois.
Terminada a reunião na sinagoga, Paulo e Barnabé foram convidados a falar mais a respeito dessas coisas no sábado seguinte, e muitos entre eles, tanto judeus como gentios convertidos ao judaísmo, seguiram os dois, conversando com eles. Paulo e Barnabé recomendaram que continuassem “na graça de Deus”: disto se entende que essas pessoas, pelo interesse que demonstravam, estavam acolhendo para si o Evangelho, que é a graça de Deus para a salvação. Precisavam aprender mais.
O interesse despertado foi tanto, que no sábado seguinte “quase toda a cidade” se reuniu para ouvir a palavra do Senhor. Dificilmente poderiam caber todos dentro da sinagoga, e decerto muitos, especialmente os gentios, teriam que ficar do lado de fora. Sugere-se que Paulo falou aos judeus dentro do recinto, e Barnabé aos que estavam fora.
Quando os judeus viram toda aquela multidão chegando para ouvir esses dois estrangeiros, eles se encheram de inveja e se opuseram a eles, abertamente interrompendo, blasfemando e contradizendo o que Paulo dizia.
Mas Paulo e Barnabé tinham absoluta convicção daquilo que proclamavam, pois eram testemunhas pessoais da ressurreição de Cristo, e das outras coisas sobrenaturais que se sucediam, e conheciam muito bem as Escrituras, provavelmente melhor do que qualquer daqueles judeus da sinagoga.
Diante daquela forte oposição, Paulo e Barnabé corajosamente declararam que era necessário proclamar a mensagem do Evangelho primeiro aos judeus, mas como estes “não se consideravam dignos da vida eterna”, pois a rejeitaram, eles se voltariam agora aos gentios, pois não podiam ser obrigados a calar-se. Citaram o texto de Isaías 49:6 como autoridade da parte de Deus para assim fazer.
Esse texto, ou seja “Sim, diz ele: Pouco é que sejas o meu servo, para restaurares as tribos de Jacó, e tornares a trazer os preservados de Israel; também te porei para luz das nações, para seres a minha salvação até a extremidade da terra” se aplica ao Messias, Jesus Cristo, e, por extensão aos seus apóstolos e mensageiros. Foi por isto que Paulo o usou muito apropriadamente diante daqueles judeus para justificar a pregação do Evangelho aos gentios.
Os judeus de Antioquia da Pisídia não representavam nem podiam representar todo o seu povo, e Paulo continuou a procurar primeiro as sinagogas para anunciar o Evangelho em outros lugares. Mas a rejeição que opuseram na Antioquia se repetiu com muita frequência.
No entanto, os gentios que ouviram as palavras de Paulo se alegraram e bendisseram a palavra do Senhor. E “creram todos os que haviam sido designados para a vida eterna”.
Essa afirmação nos faz perguntar: se foi Deus quem os designou, não seria esta uma prova da predestinação que é base da doutrina dos calvinistas? Efésios 1:4 nos diz que Deus nos elegeu em Cristo antes da fundação do mundo: em ambos os casos está a declaração que é da soberana vontade de Deus, desde antes da fundação do mundo, conceder a vida eterna a todos os que crêem no Senhor Jesus Cristo. Estes, portanto, são os eleitos de Deus.
A soberania de Deus é absoluta, resultando na salvação daqueles que mereciam a condenação eterna mas se arrependem e aceitam a salvação que Ele oferece mediante a morte do Seu Filho. Essa é a medida da Sua graça. Deus ama a humanidade e quer que todos sejam salvos, mas não pode salvar os que rejeitam a salvação que Ele providenciou.
Apesar da oposição dos judeus da sinagoga, o Evangelho de Cristo se divulgou por toda aquela região, isto é, a província romana da Panfília, o que pode significar um período de vários meses durante o qual Paulo e Barnabé puderam pregar e ensinar os gentios que se convertiam.
Os judeus, todavia, não se deram por satisfeitos em apenas não ter Paulo e Barnabé na sinagoga. Eles não tinham representantes entre as autoridades, mas havia mulheres piedosas, possivelmente convertidas ao judaísmo, que tinham elevada posição na cidade (segundo os historiadores isso não era raro nas cidades do Oriente Médio naquele tempo), e eles conseguiram persuadi-las e os principais homens da cidade que aqueles dois missionários estavam exercendo má influência sobre o povo, e os incitaram a perseguir e expulsá-los do seu território.
Assim como o Senhor Jesus havia ensinado os apóstolos (Lucas 9:5, 10:11), os dois “sacudiram o pó dos seus pés” em protesto contra eles, e foram para Icônio, cidade da vizinha província chamada Frígia.
Mas o seu testemunho e ensino ficou, e os seus discípulos continuavam cheios de alegria e do Espírito Santo.
13 Tendo Paulo e seus companheiros navegado de Pafos, chegaram a Perge, na Panfília. João, porém, apartando-se deles, voltou para Jerusalém.
14 Mas eles, passando de Perge, chegaram a Antioquia da Pisídia; e entrando na sinagoga, no dia de sábado, sentaram-se.
15 Depois da leitura da lei e dos profetas, os chefes da sinagoga mandaram dizer-lhes: Irmãos, se tendes alguma palavra de exortação ao povo, falai.
16 Então Paulo se levantou e, pedindo silêncio com a mão, disse: Varões israelitas, e os que temeis a Deus, ouvi:
17 O Deus deste povo de Israel escolheu a nossos pais, e exaltou o povo, sendo eles estrangeiros na terra do Egito, de onde os tirou com braço poderoso,
18 e suportou-lhes os maus costumes no deserto por espaço de quase quarenta anos;
19 e, havendo destruído as sete nações na terra de Canaã, deu- lhes o território delas por herança durante cerca de quatrocentos e cinquenta anos.
20 Depois disto, deu-lhes juízes até o profeta Samuel.
21 Então pediram um rei, e Deus lhes deu por quarenta anos a Saul, filho de Cis, varão da tribo de Benjamim.
22 E tendo deposto a este, levantou-lhes como rei a Davi, ao qual também, dando testemunho, disse: Achei a Davi, filho de Jessé, homem segundo o meu coração, que fará toda a minha vontade.
23 Da descendência deste, conforme a promessa, trouxe Deus a Israel um Salvador, Jesus;
24 havendo João, antes da aparecimento dele, pregado a todo o povo de Israel o batismo de arrependimento.
25 Mas João, quando completava a carreira, dizia: Quem pensais vós que sou? Eu não sou o Cristo, mas eis que após mim vem aquele a quem não sou digno de desatar as alparcas dos pés.
26 Irmãos, filhos da estirpe de Abraão, e os que dentre vós temem a Deus, a nós é enviada a palavra desta salvação.
27 Pois, os que habitam em Jerusalém e as suas autoridades, porquanto não conheceram a este Jesus, condenando-o, cumpriram as mesmas palavras dos profetas que se ouvem ler todos os sábados.
28 E, se bem que não achassem nele nenhuma causa de morte, pediram a Pilatos que ele fosse morto.
29 Quando haviam cumprido todas as coisas que dele estavam escritas, tirando-o do madeiro, o puseram na sepultura;
30 mas Deus o ressuscitou dentre os mortos;
31 e ele foi visto durante muitos dias por aqueles que com ele subiram da Galiléia a Jerusalém, os quais agora são suas testemunhas para com o povo.
32 E nós vos anunciamos as boas novas da promessa, feita aos pais,
33 a qual Deus nos tem cumprido, a nós, filhos deles, levantando a Jesus, como também está escrito no salmo segundo: Tu és meu Filho, hoje te gerei.
34 E no tocante a que o ressuscitou dentre os mortos para nunca mais tornar à corrupção, falou Deus assim: Dar-vos-ei as santas e fiéis bênçãos de Davi;
35 pelo que ainda em outro salmo diz: Não permitirás que o teu Santo veja a corrupção.
36 Porque Davi, na verdade, havendo servido a sua própria geração pela vontade de Deus, dormiu e foi depositado junto a seus pais e experimentou corrupção.
37 Mas aquele a quem Deus ressuscitou nenhuma corrupção experimentou.
38 Seja-vos pois notório, varões, que por este se vos anuncia a remissão dos pecados.
39 E de todas as coisas de que não pudestes ser justificados pela lei de Moisés, por ele é justificado todo o que crê.
40 Cuidai pois que não venha sobre vós o que está dito nos profetas:
41 Vede, ó desprezadores, admirai-vos e desaparecei; porque realizo uma obra em vossos dias, obra em que de modo algum crereis, se alguém vo-la contar.
42 Quando iam saindo, rogavam que estas palavras lhes fossem repetidas no sábado seguinte.
43 E, despedida a sinagoga, muitos judeus e prosélitos devotos seguiram a Paulo e Barnabé, os quais, falando-lhes, os exortavam a perseverarem na graça de Deus.
44 No sábado seguinte reuniu-se quase toda a cidade para ouvir a palavra de Deus.
45 Mas os judeus, vendo as multidões, encheram-se de inveja e, blasfemando, contradiziam o que Paulo falava.
46 Então Paulo e Barnabé, falando ousadamente, disseram: Era mister que a vós se pregasse em primeiro lugar a palavra de Deus; mas, visto que a rejeitais, e não vos julgais dignos da vida eterna, eis que nos viramos para os gentios;
47 porque assim nos ordenou o Senhor: Eu te pus para luz dos gentios, a fim de que sejas para salvação até os confins da terra.
48 Os gentios, ouvindo isto, alegravam-se e glorificavam a palavra do Senhor; e creram todos quantos haviam sido destinados para a vida eterna.
49 E divulgava-se a palavra do Senhor por toda aquela região.
50 Mas os judeus incitaram as mulheres devotas de alta posição e os principais da cidade, suscitaram uma perseguição contra Paulo e Barnabé, e os lançaram fora dos seus termos.
51 Mas estes, sacudindo contra eles o pó dos seus pés, partiram para Icônio.
52 Os discípulos, porém, estavam cheios de alegria e do Espírito Santo.
Atos capítulo 13, versículos 13 a 52