Chegando a Icônio, Paulo e Barnabé novamente começaram o seu testemunho na sinagoga, como de costume.
Novamente relataram os fatos que haviam presenciado, com convicção e poder do Espírito Santo, provaram que confirmavam as profecias do Velho Testamento, e convocaram todos a tomarem a decisão de crer que Jesus era mesmo o Messias prometido, e de confiar nEle para a sua salvação.
Outra vez uma multidão de judeus e gentios creu, mas os judeus que se recusavam a crer tornaram-se inimigos deles, provocaram os gentios e os incitaram a agir contra os “irmãos” (referindo-se a Paulo e Barnabé).
[É de se notar que o Senhor Jesus havia chamado os Seus discípulos de “irmãos” (Mateus 12:49, 25:40, 28:10, etc.), sendo essa uma expressão comum entre os judeus (Atos 1:15-16, 2:29, 13:15, 26, etc.). No relato bíblico, parece que a primeira vez que os que se converteram entre os gentios foram chamados de “irmãos” foi em Atos 15:1. Tornou-se também muito comum, acabando por ser a palavra mais usada nas epístolas para se referir aos crentes, tanto judeus como gentios (134 vezes), em seguida vindo “santos” (69 vezes), “crentes” (9 vezes), e finalmente “cristão” (só uma).]
Os judeus incrédulos costumeiramente provocavam os habitantes nativos gentios para agir contra os apóstolos, também judeus, que vinham anunciar o Evangelho em sua localidade. Foi o que fizeram em Icônio mas, não obstante, Paulo e Barnabé continuaram por bastante tempo ali, falando corajosamente do Senhor. Este confirmou a mensagem da Sua graça realizando sinais e maravilhas pelas mãos deles (“sinal” é uma prova de legitimidade, “maravilha” é algo bom e surpreendente: estes eram os “sinais do apostolado” de Paulo conforme 2 Coríntios 12:12).
Com o tempo, surgiram facções entre os habitantes da cidade, uma dos que estavam a favor daqueles judeus incrédulos, e outra dos que apoiavam os apóstolos.
Finalmente os líderes dos que se opunham ao Evangelho, judeus e gentios, conspiraram para maltratar e apedrejar Paulo e Barnabé. Quando estes souberam, fugiram para Listra, Derbe, e cidades circunvizinhas. Não ficaram escondidos, mas se dedicaram a pregar o Evangelho por todo o distrito da Licaônia, onde essas cidades se encontravam.
Observamos que os apóstolos sabiam quando deviam resistir aos seus inimigos e quando deviam fugir deles. Ambos estavam cheios do Espírito Santo, e sem dúvida eram guiados por Ele. Havia muito campo para trabalhar, o Evangelho já havia alcançado um número suficiente de almas em Icônio para que a igreja se formasse e o evangelismo crescesse através do testemunho dos novos convertidos. A agressão planejada pelos judeus serviu de aviso para que eles fossem trabalhar em outras localidades carentes do Evangelho.
Um dia, enquanto Paulo pregava em Listra, entre a multidão atenta estava um homem que, por causa de um defeito nos pés desde seu nascimento, era coxo e nunca havia andado. Paulo notou o interesse que esse homem demonstrava, e viu “que ele tinha fé para ser curado”.
Não temos uma explicação clara sobre o que isto significava. A que nos parece mais viável, é que o homem já havia compreendido quem era Jesus Cristo, e estava pronto a segui-lO. Talvez já tivesse ouvido sobre os sinais e maravilhas feitos pelos apóstolos em Icônio, pois teriam sido notícias de grande interesse para ele, dado o seu estado.
Assim que Paulo lhe disse para levantar e andar direito sobre os pés, o homem se levantou, não cambaleante, mas saltou e andou normalmente. Esse tipo de cura imediata e absoluta impressionou muito a multidão, que acompanhava a pregação de Paulo. Concluiram que só um deus podia realizar tal coisa, mas julgaram mal, entendendo que Paulo e Barnabé eram deuses que haviam baixado entre eles.
O rei dos deuses da mitologia grega, religião que prevalecia ali, era Zeus e Hermes era um dos seus filhos (os romanos os chamavam de Júpiter e Mercúrio, respectivamente), cuja função seria a de ser o mensageiro dos deuses. Como Paulo era quem pregava e mais falava, foi fácil concluir que ele seria Hermes, e Barnabé seria Zeus.
Parece que Paulo e Barnabé não se aperceberam disto, pois os listrenses falavam em língua que eles não conheciam, até que o sacerdote de Júpiter, que tinha um templo defronte à cidade, trouxe touros e grinaldas para a porta da cidade para lhes oferecer sacrifícios.
Quando entenderam o que se passava, Barnabé e Paulo rasgaram as suas vestes – indicando que era um ato de sacrilégio o que o sacerdote fazia (Mateus 26:65) – e correram para o meio do povo, gritando que eram homens como eles, e que estavam ali para lhes contar as boas notícias sobre o verdadeiro Deus, o Deus vivo, para que deixassem sua idolatria inútil e se convertessem a Ele.
É de se notar que os apóstolos não se apoiaram no Velho Testamento e nas suas profecias, como faziam nas sinagogas: afinal este povo nada conhecia sobre isto, mas falaram sobre a criação, um assunto que muito interessava os gentios por toda a parte, e através dos tempos até hoje. Tiveram dificuldade em persuadir o povo, mas afinal conseguiram.
No entanto os judeus de Antioquia da Pisídia e de Icônio estavam resolvidos a abafar o ministério dos dois evangelistas em Listra. Vieram juntos até Listra, e persuadiram as multidões a se voltarem contra Barnabé e Paulo, apedrejaram Paulo e o arrastaram para fora da cidade, julgando que estava morto.
A volatilidade daquela multidão, que se dispôs a aceitar as calúnias espalhadas por judeus de outras cidades contra os dois forasteiros, que pouco tempo antes eles estavam dispostos a adorar, como se fossem deuses, por causa do grande milagre que haviam feito entre eles, é surpreendente.
É mais um exemplo de como o Evangelho da graça de Deus, que exige uma resposta do pecador a favor ou contra arrepender e submeter-se ao senhorio de Cristo, pode dar origem a reações das mais violentas. É o que tem acontecido com muita frequência através dos tempos.
O mundo vive nas trevas e detesta a luz, porque ela revela as suas más obras, como disse o Senhor Jesus: “ A luz veio ao mundo, e os homens amaram antes as trevas que a luz, porque as suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal aborrece a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas.” (João 3:19,20).
O texto em estudo diz que Paulo foi deixado fora da cidade porque cuidaram que estivesse morto. No entanto, quando os discípulos chegaram até lá, ele se levantou e entrou na cidade, partindo no dia seguinte com Barnabé para Derbe. Sua restauração foi milagrosa, e alguns entendem que esta foi a ocasião a que Paulo se referiu em 2 Coríntios 12:2, quando diz que não sabe se foi arrebatado no corpo ou no espírito.
Se realmente foi essa a ocasião, a visão que Paulo teve teria lhe dado grande fortalecimento na fé. Com Barnabé ao seu lado, anunciaram o Evangelho em Derbe, onde fizeram muitos discípulos, depois voltaram para as cidades onde haviam sido perseguidos e maltratados pelos judeus. Evidentemente não davam maior importância à sua segurança pessoal, mas cuidavam de firmar as nascentes igrejas naquelas localidades.
Tanto em Listra, como Icônio e Antioquia eles animaram (“confirmaram as almas”) dos convertidos, chamados aqui de “seus discípulos”, exortando-os a perseverarem na fé, dizendo que por muitas tribulações nos é necessário entrar no reino de Deus. Esses discípulos já haviam visto o exemplo dos seus mestres, ao perseverarem através da perseguição. Também foram ensinados a escolher seus dirigentes entre eles, ou presbìteros.
Tempos mais tarde Paulo visitou Listra novamente, e ali encontrou um jovem chamado Timóteo, um dos discípulos, muito bem recomendado pelos irmãos da igreja que ali se formou (capítulo 16:1-2). Timóteo se tornou em um grande servo de Deus, que muito ajudou Paulo na formação das igrejas, como vemos pelas duas epístolas inspiradas pelo Espírito Santo que Paulo lhe mandou, e foram incluídas na Bíblia.
Voltaram então para Antioquia da Síria, finalizando assim essa sua primeira viagem missionária, e relataram à igreja naquela cidade tudo que lhes havia acontecido. E ficaram ali não pouco tempo com os discípulos.
1 Em Icônio entraram juntos na sinagoga dos judeus e falaram de tal modo que creu uma grande multidão tanto de judeus como de gregos.
2 Mas os judeus incrédulos excitaram e irritaram os ânimos dos gentios contra os irmãos.
3 Eles, entretanto, se demoraram ali por muito tempo, falando ousadamente acerca do Senhor, o qual dava testemunho à palavra da sua graça, concedendo que por suas mãos se fizessem sinais e prodígios.
4 E se dividiu o povo da cidade; uns eram pelos judeus, e outros pelos apóstolos.
5 E, havendo um motim tanto dos gentios como dos judeus, juntamente com as suas autoridades, para os ultrajarem e apedrejarem,
6 eles, sabendo-o, fugiram para Listra e Derbe, cidades da Licaônia, e a região circunvizinha;
7 e ali pregavam o evangelho.
8 Em Listra estava sentado um homem aleijado dos pés, coxo de nascença e que nunca tinha andado.
9 Este ouvia falar Paulo, que, fitando nele os olhos e vendo que tinha fé para ser curado,
10 disse em alta voz: Levanta-te direito sobre os teus pés. E ele saltou, e andava.
11 As multidões, vendo o que Paulo fizera, levantaram a voz, dizendo em língua licaônica: Fizeram-se os deuses semelhantes aos homens e desceram até nós.
12 A Barnabé chamavam Júpiter e a Paulo, Mercúrio, porque era ele o que dirigia a palavra.
13 O sacerdote de Júpiter, cujo templo estava em frente da cidade, trouxe para as portas touros e grinaldas e, juntamente com as multidões, queria oferecer-lhes sacrifícios.
14 Quando, porém, os apóstolos Barnabé e Paulo ouviram isto, rasgaram as suas vestes e saltaram para o meio da multidão, clamando
15 e dizendo: Senhores, por que fazeis estas coisas? Nós também somos homens, de natureza semelhante à vossa, e vos anunciamos o evangelho para que destas práticas vãs vos convertais ao Deus vivo, que fez o céu, a terra, o mar, e tudo quanto há neles;
16 o qual nos tempos passados permitiu que todas as nações andassem nos seus próprios caminhos.
:17 Contudo não deixou de dar testemunho de si mesmo, fazendo o bem, dando-vos chuvas do céu e estações frutíferas, enchendo-vos de mantimento, e de alegria os vossos corações.
18 E dizendo isto, com dificuldade impediram as multidões de lhes oferecerem sacrifícios.
19 Sobrevieram, porém, judeus de Antioquia e de Icônio e, havendo persuadido as multidões, apedrejaram a Paulo, e arrastaram-no para fora da cidade, cuidando que estava morto.
20 Mas quando os discípulos o rodearam, ele se levantou e entrou na cidade. No dia seguinte partiu com Barnabé para Derbe.
21 E, tendo anunciado o evangelho naquela cidade e feito muitos discípulos, voltaram para Listra, Icônio e Antioquia,
22 confirmando as almas dos discípulos, exortando-os a perseverarem na fé, dizendo que por muitas tribulações nos é necessário entrar no reino de Deus.
23 E, havendo-lhes feito eleger anciãos em cada igreja e orado com jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem haviam crido.
24 Atravessando então a Pisídia, chegaram à Panfília.
25 E, tendo anunciado a palavra em Perge, desceram a Atália.
26 E dali navegaram para Antioquia, donde tinham sido encomendados à graça de Deus para a obra que acabavam de cumprir.
27 Quando chegaram e reuniram a igreja, relataram tudo quanto Deus fizera por meio deles, e como abrira aos gentios a porta da fé.
28 E ficaram ali não pouco tempo, com os discípulos.
Atos, capítulo 14