Em Antioquia, um dia Paulo propôs a Barnabé sair por terra para visitar os irmãos em todas as cidades que haviam evangelizado na viagem anterior, para ver como estavam indo.
Barnabé estava disposto a ir mas queria levar também seu primo João Marcos com eles.
João Marcos (escritor do Evangelho de Marcos) era filho de uma senhora chamada Maria que morava em Jerusalém. Foi em sua casa que muita gente se reuniu para orar por Pedro quando ele se encontrava numa prisão, de onde saiu milagrosamente (cap. 12). Algum tempo depois, Marcos fora a Chipre como auxiliar de Barnabé e Saulo e depois os acompanhou por mar até Perge, mas ali desistiu de continuar a viagem por terra com eles, preferindo voltar para Jerusalém (cap. 13:13).
Paulo não achava prudente levá-lo agora, por causa daquela experiência, mas Barnabé insistiu e houve séria divergência entre eles. Foi um desentendimento tão sério que Barnabé deixou Paulo e navegou para Chipre com Marcos.
Não nos cabe fazer julgamento entre Paulo e Barnabé para ver quem tinha razão. Alguma coisa está errada quando dois servos do Senhor, do gabarito deles, não conseguem chegar a um acordo no que diz respeito ao seu serviço ao Senhor. Teria um deles desobedecido ao Espírito Santo, que de forma especial os guiava naqueles primórdios da igreja?
Marcos continuou servindo ao Senhor e foi muito útil mais tarde colaborando com Paulo quando este estava na prisão em Roma pela primeira vez (Colossenses 4:10 e Filemom 1:24). Tanto assim que, tendo Marcos voltado para Éfeso, Paulo pediu a Timóteo que o trouxesse com ele novamente a Roma porque lhe era muito útil para o ministério (2 Timóteo 4:11).
Marcos também esteve com Pedro na Babilônia, que era um grande centro de estudos dos judeus naquele tempo (1 Pedro 5:13). Pedro o chamou de “meu filho”, indicando que era seu discípulo, e é possível que foi de Pedro que obteve muitas das informações contidas no seu Evangelho, como os episódios testemunhados pessoalmente por Pedro, Tiago e João.
Nada mais é informado na Bíblia sobre Marcos ou mesmo sobre seu primo Barnabé.
Voltando ao nosso texto em estudo, somos informados que Paulo escolheu como companheiro Silas, que havia vindo com eles de Jerusalém, e partiu na viagem que queria fazer, sendo ambos encomendados pelos irmãos à graça do Senhor.
Os dois passaram pelas províncias da Síria e Cilícia, visitando e fortalecendo as igrejas, e chegaram a Derbe e Listra, na Licaônia. Em Listra vivia Timóteo, um discípulo cuja mãe era uma judia convertida e seu pai era grego. Os irmãos nessas duas cidades davam bom testemunho dele, e ele era bem instruído nas Escrituras tendo aprendido as sagradas letras de sua mãe e sua avó, desde a meninice (2 Timóteo 1:5, 3:15).
Paulo quis levá-lo também em viagem (como havia levado Marcos), mas havia um problema: Timóteo herdava a nacionalidade judia da sua mãe, mas não seria aceito nas sinagogas, onde Paulo tencionava ensinar primeiro, como fazia em todas as cidades. Isso porque ele não havia sido circuncidado, característica de todo israelita.
Se verificarmos os ensinos de Paulo em suas epístolas, veremos que a circuncisão, para Paulo, nada significava já que não há distinção na igreja de Cristo entre judeus e gentios: “A circuncisão nada é, e também a incircuncisão nada é, mas sim a observância dos mandamentos de Deus” (1 Coríntios 7:19).
Mas, para que Timóteo tivesse plena liberdade para ajudá-lo a alcançar os judeus, que davam grande importância a esse sinal, a solução foi circuncidar Timóteo, o que Paulo fez (1 Coríntios 9:20).
Antes de prosseguir, vamos fazer um pequeno resumo da situação das muitas igrejas que surgiram durante este período.
Constatamos que todas elas eram autônomas, ou seja, não estavam confederadas dentro de uma organização geral com alguma autoridade central suprema à qual prestavam contas. Não se dividiam em diversas denominações conforme a sua linha doutrinária, mas cada congregação era diretamente submissa ao Senhor Jesus.
Essa realidade se constata claramente nos primeiros três capítulos do livro do Apocalipse. O Senhor Jesus se coloca no meio de sete candeeiros, cada um representando a igreja em uma das sete cidades da Ásia Menor. Ele se dirige diretamente a cada uma delas, sem que haja qualquer intermediário.
O governo direto do Senhor sobre as Suas igrejas impede que todas, em conjunto, sejam contaminadas por erros de doutrina, como acontece com igrejas subjugadas a uma cúpula governamental. Esta pode ser influenciada por correntes de liberalismo, racionalismo e apostasia, que depois fluirão facilmente para as igrejas filiadas, através dos seminários, e de convenções dos seus representantes.
A responsabilidade individual de cada igreja também lhe dá alguma proteção contra a intervenção e mesmo perseguição do poder político do país. Se for uma federação de igrejas, será fácil controlá-las todas através da autoridade central da federação, mas se forem entidades individuais autônomas, elas podem se esconder mais facilmente.
A igreja de Jerusalém foi consultada a respeito da obrigação, ou não, dos gentios que se convertiam se submeterem à lei de Moisés. Até quando o Evangelho foi levado aos gentios, os judeus que se convertiam continuavam a obedecer àquela lei por causa da sua nacionalidade e tradição.
Ao que se saiba, o Senhor Jesus não havia tocado nesse assunto, mas era preciso que os Seus discípulos e os anciãos da igreja em Jerusalém, que haviam convivido com Ele, dessem a sua opinião, que seria mais abalizada do que a de algum estranho.
Um estudo cuidadoso dos fatos nos mostra que a igreja de Jerusalém não era uma entidade oficial com autoridade para governar as outras. Era apenas uma congregação dirigida por apóstolos e anciãos. Pedro deu o seu julgamento pessoal, mencionando a razão (cap.15:19-21), e os apóstolos e anciãos redigiram a carta, em que informaram que “pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor maior encargo além destas coisas necessárias...”.
O Senhor Jesus havia prometido aos Seus discípulos que “o Ajudador, o Espírito Santo a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto eu vos tenho dito” e os apóstolos estavam se valendo dessa promessa.
A história confirma a sabedoria da independência das igrejas: sempre que elas se reúnem embaixo de uma cúpula o seu declínio espiritual se acentua. O testemunho mais puro do Evangelho tem sido dado por aquelas igrejas que se mantêm independentes do domínio humano.
Voltando à nossa passagem bíblica em estudo, lemos que, em todas as cidades pelas quais passavam, eles entregavam aos irmãos, para serem observadas, as decisões que haviam sido tomadas pelos apóstolos e presbíteros em Jerusalém. Seriam cópias da carta original.
Também foi assim que o Novo Testamento surgiu: os Evangelhos e as cartas dos apóstolos eram copiadas e distribuídas pelas igrejas primitivas para que todos os conhecessem, por escrito.
Continuaram pela Galácia, Frígia e Mísia, ali parando na cidade de Trôade, última cidade da Ásia Menor antes de atravessar o estreito de Peloponeso para a Macedônia (hoje Grécia), na Europa. Fizeram uma viagem direta, sem desviar para o norte ou para o sul, mediante instrução direta do Espírito Santo, embora desejassem visitar outras localidades. Deus tinha urgência para que o Evangelho agora alcançasse a Europa.
36 Decorridos alguns dias, disse Paulo a Barnabé: Tornemos a visitar os irmãos por todas as cidades em que temos anunciado a palavra do Senhor, para ver como vão.
37 Ora, Barnabé queria que levassem também a João, chamado Marcos.
38 Mas a Paulo não parecia razoável que tomassem consigo aquele que desde a Panfília se tinha apartado deles e não os tinha acompanhado no trabalho.
39 E houve entre eles tal desavença que se separaram um do outro, e Barnabé, levando consigo a Marcos, navegou para Chipre.
40 Mas Paulo, tendo escolhido a Silas, partiu encomendado pelos irmãos à graça do Senhor.
41 E passou pela Síria e Cilícia, fortalecendo as igrejas.
1 Chegou também a Derbe e Listra. E eis que estava ali certo discípulo por nome Timóteo, filho de uma judia crente, mas de pai grego;
2 do qual davam bom testemunho os irmãos em Listra e Icônio.
3 Paulo quis que este fosse com ele e, tomando-o, o circuncidou por causa dos judeus que estavam naqueles lugares; porque todos sabiam que seu pai era grego.
4 Quando iam passando pelas cidades, entregavam aos irmãos, para serem observadas, as decisões que haviam sido tomadas pelos apóstolos e anciãos em Jerusalém.
5 Assim as igrejas eram confirmadas na fé, e dia a dia cresciam em número.
6 Atravessaram a região frígio-gálata, tendo sido impedidos pelo Espírito Santo de anunciar a palavra na Ásia;
7 e tendo chegado diante da Mísia, tentavam ir para Bitínia, mas o Espírito de Jesus não lho permitiu.
visão, procuravamos logo partir para a Macedônia, concluindo que Deus nos havia chamado para lhes anunciarmos o evangelho.
Atos capítulo 15 vers. 36 ao capítulo 16 vers. 8