O batismo do Espírito Santo sobre os discípulos reunidos em Jerusalém lhes deu imediatamente a faculdade de poder engrandecer a Deus em línguas estrangeiras compreendidas pelos forasteiros vindos de toda a parte para a festa de Pentecostes naquela cidade.
Logo se juntou uma multidão nas proximidades para ouvir este milagre, e muitos se maravilharam com o que ocorria – sem dúvida estavam falando perfeitamente bem as línguas estrangeiras.
No entanto, não faltaram os zombadores que, não entendendo, diziam que estavam embriagados. É típico do mundo interpretar mal as coisas que não conseguem compreender, e procurar rebaixar os que são mais capazes do que eles.
Os apóstolos se levantaram e Pedro se dirigiu em alta voz à multidão para esclarecer o que estava se passando. Ele havia se transformado, não era mais um fugitivo temeroso de ser apanhado e castigado pelas autoridades que haviam crucificado o Senhor Jesus. A experiência indubitável da Sua ressurreição e ascenção, e o poder vindo do Espírito Santo lhe deram a coragem, sabedoria e fluência necessárias para perfeitamente desempenhar as responsabilidades de um apóstolo de Cristo.
Nesta ocasião, Pedro iria “usar as chaves” que o Senhor Jesus lhe havia dado, metaforicamente, em certa ocasião, para abrir as portas do Reino dos céus (Mateus 15:19) aos judeus. Mais tarde ele faria a mesma coisa para os gentíos.
A pregação de Pedro foi feita sem preparo prévio, mas improvisada no entusiasmo do momento.
É notável como ele foi capaz de se lembrar de uma profecia, de Joel, e de textos tirados de dois salmos para explicar a vinda do Espírito Santo e a morte, ressurreição e ascenção do Senhor Jesus Cristo.
Com esse respaldo na Palavra de Deus, ele se capacitou para anunciar o significado do milagre que estavam presenciando, e dar o seu testemunho pessoal da ressurreição e ascenção do Senhor Jesus, fundamentais para crerem que Jesus era realmente o Messias prometido por Deus, e o perdão dos pecados mediante o arrependimento e batismo em Seu nome.
Pedro logo respondeu aos céticos que procuravam ridicularizar os discípulos que falavam idiomas estrangeiros (que obviamente eles, os céticos, não entendiam). Eles não estavam embriagados, pois eram apenas 9 horas da manhã, muito cedo para as refeições em que se costumava beber vinho.
Em seguida, ele satisfez a curiosidade da multidão que queria saber como os discípulos haviam adquirido instantaneamente a habilidade de falar idiomas estrangeiros.
Era um dom especial, vindo do Espírito Santo, já previsto em profecias constantes das Escrituras escritas por Joel.
Joel, que significa O SENHOR é seu Deus, foi filho de Petuel, que significa Visão de Deus, e nada sabemos sobre ele pessoalmente, mas há indícios em seu livro que este foi o primeiro dos livros proféticos a ser escrito, salvo, talvez, o de Obadias.
Assim sendo, ele forneceu a primeira estrutura do fim dos tempos, chamado O Dia do Senhor, termo que ele introduz e define, e na qual são construidas as demais revelações proféticas de Deus. Primeiro vem a desolação, que vai até o meio (Joel 2:17) depois o livramento, até o fim.
Uma praga de gafanhotos é usada como ilustração de uma invasão no terrível Dia do Senhor, e o derramamento do Espírito de Deus sobre todos os povos vem depois do “grande e temível dia do SENHOR”, quando “o sol se tornará em trevas, e a lua em sangue”.
É óbvio, portanto, que a profecia de Joel ainda está para se cumprir. Mas Pedro usou essa profecia para mostrar como as Escrituras apoiam o derramar do Espírito Santo sobre “todos os povos”. Assim como vai acontecer em uma ocasião definida no futuro, aconteceu também naquele dia. Precisamos lembrar que a era atual, chamada a da “Igreja”, não aparece nas profecias do Velho Testamento, sendo um hiato que Deus criou por causa da rejeição do Messias por Israel.
Um dia a igreja será arrebatada para se encontrar com o seu Senhor nos ares, e o mundo será mergulhado no “dia da ira” e da “vingança do Senhor”. Depois virá o cumprimento da profecia de Joel.
Pedro em seguida se dirigiu especificamente aos israelitas, e demonstrou que Jesus de Nazaré era, sem dúvida alguma, o Messias que todos eles aguardavam, e que a Sua vida, morte, ressurreição e ascenção para tomar posição à direita de Deus estava também de acordo com as Escrituras.
Os milagres, maravilhas e sinais que Deus fez entre o povo por intermédio de Jesus provavam que Ele tinha sido aprovado por Deus para a obra que viera fazer, e que fora o propósito de Deus entregá-lo a eles para fazerem o que quisessem com Ele, segundo o Seu pré-conhecimento. Com a ajuda de homens perversos, eles O haviam matado, pregando-o na cruz.
Portanto, sem que eles o soubessem, Deus já havia previsto que isto iria acontecer, mas Deus O ressuscitou dos mortos “porque era impossivel que a morte O retivesse”. Não era o corpo de um homem mortal, sujeito à decomposição, mas o que fora usado pelo Filho de Deus aqui no mundo para a Sua obra redentora, e que seria preservado por toda a eternidade como um troféu. A morte não podia reter o corpo do Criador de todas as coisas!
Pedro citou os versículos 8 a 11 do Salmo 16 para mostrar que a morte e a ressurreição do Messias, chamado “Santo” nesta passagem, já havia sido profetizada pelo “patriarca” e profeta rei Davi. Davi escreveu como se fosse ele próprio quem passaria por essa experiência, mas o fez sabendo que seria um da sua descendência, que ocuparia o seu trono.
Cristo era descendente de Davi, tendo assim direito ao seu trono. Não tomou posse dele nessa oportunidade, mas espiritualmente é o Rei do Reino de Deus, que será efetivado na terra em Sua segunda vinda. Ele tomou o Seu lugar na posição mais importante do universo, à direita de Deus, conforme Davi também profetizou, no primeiro versículo do Salmo 110, que Pedro recitou em seu discurso. Davi ali chama Cristo de “meu Senhor”.
Em Sua posição sublime Jesus Cristo recebeu do Pai o Espírito Santo prometido, e O derramou sobre os Seus
discípulos, resultando naquela manifestação que o povo estava presenciando.
Fundamentado no seu testemunho pessoal, nas profecias cujo cumprimento havia demonstrado e na prova do derramamento do Espírito Santo cujo efeito todos podiam ver, Pedro agora podia asseverar com toda a coragem: “... esse mesmo Jesus, a quem vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo”.
Suas palavras e as provas dadas foram tão convincentes, que a multidão se apavorou sentindo a culpa do seu pecado, e clamou “irmãos, que faremos?”
Este é o primeiro passo na conversão de um pecador: convencer-se do seu pecado. Quem se sente em segurança não pensa que precisa de salvação. O pregador do Evangelho, portanto, deve primeiro convencer a audiência do seu pecado, e do juízo que virá, para então lhe mostrar o caminho da salvação.
Pedro novamente tomou a palavra, e lhes respondeu:
Arrependei-vos – convencido do seu pecado, o primeiro passo de qualquer pessoa é arrepender-se: é admitir que fez mal e resolver nunca mais agir assim.
Cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo – o batismo é individual, cada um só pode ser batizado para si próprio. Significa testemunhar a todos que aceita a morte, sepultura e ressurreição de Jesus Cristo para si, simbolicamente morrendo para o pecado e ressurgindo para uma vida nova em Cristo, recebendo-o como seu próprio Senhor (como era de Davi).
Para perdão dos seus pecados – o perdão é concedido imediata e gratuitamente aos que se arrependem e recebem para si a obra redentora de Cristo. Mesmo os que O condenaram e O levaram à cruz podiam ter esse perdão ao obedecer a essas duas condições.
E receberão o dom do Espírito Santo – Além disso, o Espírito Santo lhes é dado logo em seguida.
Este maravilhoso perdão e concessão é estendido a todos quantos o Senhor, nosso Deus, chamar. E Ele chama a todos.
13 E outros, zombando, diziam: Estão cheios de mosto.
:14 Então Pedro, pondo-se em pé com os onze, levantou a voz e disse-lhes: Varões judeus e todos os que habitais em Jerusalém, seja- vos isto notório, e escutai as minhas palavras.
15 Pois estes homens não estão embriagados, como vós pensais, visto que é apenas a terceira hora do dia.
16 Mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel:
17 E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; e os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, os vossos mancebos terão visões, os vossos anciãos terão sonhos;
18 e sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e eles profetizarão.
19 E mostrarei prodígios em cima no céu; e sinais embaixo na terra, sangue, fogo e vapor de fumaça.
20 O sol se converterá em trevas, e a lua em sangue, antes que venha o grande e glorioso dia do Senhor.
21 e acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.
22 Varões israelitas, escutai estas palavras: A Jesus, o nazareno, varão aprovado por Deus entre vós com milagres, prodígios e sinais, que Deus por ele fez no meio de vós, como vós mesmos bem sabeis;
23 a este, que foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, vós matastes, crucificando-o pelas mãos de iníquos;
24 ao qual Deus ressuscitou, rompendo os grilhões da morte, pois não era possível que fosse retido por ela.
25 Porque dele fala Davi: Sempre via diante de mim o Senhor, porque está à minha direita, para que eu não seja abalado;
26 por isso se alegrou o meu coração, e a minha língua exultou; e além disso a minha carne há de repousar em esperança;
27 pois não deixarás a minha alma no hades, nem permitirás que o teu Santo veja a corrupção;
28 fizeste-me conhecer os caminhos da vida; encher-me-ás de alegria na tua presença.
29 Irmãos, seja-me permitido dizer-vos livremente acerca do patriarca Davi, que ele morreu e foi sepultado, e entre nós está até hoje a sua sepultura.
30 Sendo, pois, ele profeta, e sabendo que Deus lhe havia prometido com juramento que faria sentar sobre o seu trono um dos seus descendentes -
31 prevendo isto, Davi falou da ressurreição de Cristo, que a sua alma não foi deixada no hades, nem a sua carne viu a corrupção.
32 Ora, a este Jesus, Deus ressuscitou, do que todos nós somos testemunhas.
33 De sorte que, exaltado pela dextra de Deus, e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis.
34 Porque Davi não subiu aos céus, mas ele próprio declara: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita,
35 até que eu ponha os teus inimigos por escabelo de teus pés.
36 Saiba pois com certeza toda a casa de Israel que a esse mesmo Jesus, a quem vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo.
37 E, ouvindo eles isto, compungiram-se em seu coração, e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, irmãos?
38 Pedro então lhes respondeu: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para remissão de vossos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo.
39 Porque a promessa vos pertence a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe: a quantos o Senhor nosso Deus chamar.
40 E com muitas outras palavras dava testemunho, e os exortava, dizendo: salvai-vos desta geração perversa.
Atos, capítulo 2, vers.13 a 40